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Desfavor Convidado: Um mago sem destino. (6)

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O Somir se reserva ao direito de implicar com os textos e não publicá-los. Sally promete interceder por vocês.

Desfavor Convidado: Um mago sem destino

Capítulo 3 – Flecha do tempo Parte 1

Mister Crowley se levantou, foi até um armário mais ao fundo e pegou uma garrafa e dois copos:

_Whisky? – perguntou para Raul.

_Não, obrigado.

Crowley balançou o copo, cheirou-o e bebeu o Whisky em um único gole. Após encher o copo novamente, disse:

_Após o rompimento da Grande Fraternidade, fui procurado por um grande mago que se dizia ser imortal. Naquele tempo eu era jovem como você e me dedicava a abrir portais para outras existências, o que acabou chamando a atenção desse mago poderoso. Porém os portais que eu abria eram apenas temporários, meros vislumbres de um universo paralelo e o que aquele homem queria era muito mais do que isso. Ele queria encontrar uma pessoa que realmente conseguisse transitar entre os universos paralelos e eu não era a pessoa certa para isso.

Ele bebeu o segundo copo e encheu-o de novo:

_Eu estava ansioso para provar meu valor como novo membro da Fraternidade Negra e me ofereci para ajudar aquele homem na procura pela pessoa certa. Antes porém, seria necessário que eu descobrisse um método de conseguir transitar entre os universos paralelos e assim me tornar um “imortal” como ele. Ele me explicou que haviam apenas uma maneira de se conseguir isso: morrendo.

_Mas estando morto, como iria continuar vivo? – perguntou Raul.

Crowley bebeu o terceiro copo e respondeu:

_Aí é que está o segredo, você não precisa morrer para estar morto. Aquele homem me explicou que eu deveria invadir a consciência de alguém e convencer aquela pessoa a se matar enquanto eu estivesse no controle. Porém, deveria ser um suicídio involuntário, ou seja, nada de cortar os pulsos, se enforcar ou algo do gênero. A pessoa invadida deveria morrer por prazer, caso contrário a minha consciência estaria destinada a um limbo psíquico.

Visivelmente embriagado, Crowley encheu um quarto copo:

_A saída foi usar todo meu poder para abrir um novo portal e apostar na sorte. Eu precisava encontrar alguém maluco o suficiente que deixasse minha consciência livre para dominá-lo e eu achei essa pessoa na figura de um roqueiro. Acontece que naquele exato momento ele e um amigo estavam abrindo um portal para um demônio, então aproveitei a brecha para entrar na consciência dele sem que ele percebesse. Achando que aquilo era efeito da magia que estava praticando, o roqueiro não se importou de ter sua mente invadida por um desconhecido. Pelo contrário, ele até gostou.

_Que estranho, se fosse comigo nunca permitiria algo assim. – disse Raul.

Mister Crowley bebeu o quarto copo e com dificuldade voltou a sentar:

_Aquele roqueiro vivia drogado e bêbado, sua mente já estava fraca quando eu entrei, então quase não sofri nenhum tipo de resistência. Se fosse uma mente mais saudável e firme, com certeza eu teria mais dificuldade. Aproveitei essa fraqueza para colocar meu plano em ação e juntos afundamos cada vez mais na bebida. Em contrapartida, eu contava segredos mágicos que ele aproveitava na forma de canções que começavam a fazer sucesso. A fama e a bebida transformaram o roqueiro em um trapo e ele acabou morrendo de pancreatite causada pela bebida e eu estava livre para ser imortal, mas…

_Mas?

_Mas um contrato com o demônio sempre tem suas linhas miúdas e quando voltei para a minha realidade meu corpo estava decrépito e doente, já que o meu tempo original continuou passando sem que eu percebesse. Eu não conseguia me mover, me levantar e nem falar direito, mas também não conseguia morrer e me livrar daquela situação deplorável. Porém, encontrei uma saída.

_Qual?

_O portal que eu havia aberto com o roqueiro continuava lá, mesmo ele estando morto e resolvi entrar por ela. Descobri que aquela abertura se desdobrava para todas as outras vidas daquele rapaz e assim descobri minha imortalidade vivendo na consciência infinita de uma única pessoa.

_E como sabe que essa experiência deu certo?

_Para responder essa pergunta te farei outra, onde acha que estamos?

_No seu escritório.

_Mas qual a localização exata desse local?

_Não sei, Londres?

_Londres?

_Pelo menos foi o que vi pela janela do corredor antes de entrar aqui.

_Interessante,.. Agora vá até aquela janela, abra a cortina e me diga o que vê.

Raul se levantou, foi até a cortina que cobria a janela e abriu-a. O que viu deixou-o de boca aberta, pois do outro lado da janela ele via a si mesmo de costas parado na frente daquela mesma janela. Raul olhou para trás e viu apenas Mister Crowley sentado, sua poltrona vazia e uma porta fechada ao fundo. Então Raul olhou novamente pela janela e olhou atentamente para o reflexo invertido daquela mesma sala com Mister Crowley sentado, a poltrona vazia e ele de costas olhando para a janela. Raul deu dois passos para o lado e foi seguido com alguns milésimos de segundos de atraso pela imagem da janela, balançou os braços e foi seguido novamente. Por fim, ainda confuso, fechou a cortina e voltou para sua poltrona:

_Como é possível? – perguntou.

_Não é óbvio? Nós estamos dentro da sua cabeça, nesse exato momento. Toda essa sala foi criada por sua mente subjetiva e aquilo que viu através da janela é a sua mente objetiva.

_Eu não entendo…

_Quando você entrou pela porta secreta na Caverna, na verdade você estava entrando em portal dentro de si mesmo. Nesse exato momento, naquele universo original, você deve estar em pé, parado, olhando embasbacado para as sombras dançantes na parede. Aposto que nesse detalhe das sombras você prestou atenção.

_Sim…

_Maldito Platão quando ele revelou isso para o mundo…. Enfim, esse tipo de portal como esse que você passou, só foi possível porque em uma das realidades que passei, aquele roqueiro tinha uma irmã com poderes plenos para abrir portais. Convencê-la a abrir um portal para mim foi fácil e finalmente me vi livre daquela única consciência. Então comecei a transitar por todas as consciências da Terra e minha única limitação era não ter um corpo físico só para mim, mas quando se é onisciente, isso acaba se tornando desnecessário.

_Os magos brancos não fizeram nada para conter o seu poder?

_Fizeram sim e ganharam de mim em muitas realidades, mas em algumas ainda levo vantagem e tenho total controle sobre algumas coisas quando entramos no meu campo de poder.

_Como assim?

_Bem, apesar de aqui ter sido criado pela sua mente, quem tem o controle das coisas sou eu.

_E isso significa?

_Significa que posso te prender aqui pela eternidade se eu quiser ou te matar agora mesmo.

Raul começou a se desesperar, finalmente percebendo a armadilha em que havia caído.

_Calma. – disse Mister Crowley. _Antes de qualquer atitude da minha parte, eu preciso que você me dê uma resposta.

_Que resposta?

_Aonde está sua irmã?

_Claro que sabe, está aí em algum lugar, basta procurar.

_Ela sumiu quando éramos crianças, eu acabei de te contar.

_Isso é o que você acha que aconteceu, não necessariamente o que tenha acontecido. Vamos ter que cavar fundo para encontrar a verdade, para isso chamarei um velho amigo meu. Mary, venha cá.

Imediatamente a porta se abriu e Mary entrou por ela:

_Pois não, Mister Crowley?

_Mande chamar o Ivo, nós vamos levar nosso convidado para ver as sombras mais de perto…

Continua…

Chester Chenson


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