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Desfavor da semana: Relegado.

| Desfavor | | 29 comentários em Desfavor da semana: Relegado.

ds-relegado

A 30 dias do início da Copa do Mundo, o país concluiu menos da metade daquilo que se comprometeu a fazer para o Mundial. De 167 intervenções anunciadas, apenas 68 estão prontas, ou 41%. Outras 88 (53%) ainda estão incompletas ou ficarão para depois da Copa. Onze obras foram abandonadas e não sairão do papel. FONTE

E que a notícia seja só um exemplo. O conjunto da obra brasileira, além de inacabado, é vergonhoso. Desfavor da semana.

SALLY

Esta semana tivemos um marco na contagem regressiva para a Copa do Mundo: 30 dias que antecedem o início da palhaçada. Decidimos então fazer um balanço geral sobre as promessas não cumpridas, os vexames, os legados e os preparativos para a Pior Copa das Copas. Brasileiro não tem memória? Não faz mal, eu sou argentina, eu lembro de tudo.

Lembra do trem-bala que ligaria Rio a São Paulo? Ele seria fundamenta para o deslocamento, pois já se sabia que os aeroportos, mesmo com todas as obras, não supririam a demanda. Pois é, desde o Governo Lula que se assegurou que o trem-bala ficaria pronto, ou seja, estamos falando de mais cinco anos atrás. Lula inclusive chegou a ridicularizar os pessimistas que questionavam se ele realmente sairia do papel. Pode “googlar”, tem notícia tanto de Lula como de Dilma garantindo que na Copa de 2014 existiria um trem-bala ligando Rio a São Paulo. Pois é, trem não tem. Mas, sejamos justos, bala tem aos montes tanto no Rio como em São Paulo…

E por falar em aeroportos, a gente já imaginava que nem todos eles estariam com as obras 100% prontas até a data da Copa, apesar do Brasil ter sido anunciado como sede com uma antecedência fora do normal (2007) e ter muito mais tempo para se preparar do que outros países. Mas o quadro atual mostra que a coisa é ainda pior do que imaginávamos: NENHUM aeroporto está pronto. NENHUM. Apesar de toda a antecedência com a qual o país recebeu o anúncio de sede, apesar dos milhões gastos, NENHUM aeroporto está pronto para o evento.

Os estádios, que são algo mais do que fundamental, também deixaram a desejar. O Itaquerão, ou Diferenciadão, se preferirem, que vai abrir os jogos, não vai ficar pronto a tempo. Não vai ter como colocar a cobertura no estádio, por exemplo. Dilma ridicularizou quem duvidava que o estádio fosse ficar pronto… quem é ridículo agora? Quem duvidou de algo que efetivamente ACONTECEU ou quem tentou desmerecer a desconfiança alheia revestindo-a de conspiração? Quer saber? TOMARA QUE CHOVA e todo mundo se molhe pra caralho nessa merda de abertura da Copa, que por sinal, vai ser embalada com uma música de merda que faz a gente sentir falta de Waka-Waka.

Teve também faniquito de soberania contra a FIFA, que igualmente teve que ser dobrado e enfiado no próprio rabo. Quando o secretário-geral da Fifa, Jeròme Valcke cansou de tanta incompetência e foi a público dizer que disse que o Brasil merecia um chute no traseiro por causa das falhas na organização da Copa, o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, teve um siricotico dizendo que não trataria de mais nada relacionado à Copa com ele pela falta de respeito, que era bom a FIFA ir arrumando outro interlocutor. Fuen fuen fuééééén… Poucos dias depois, ambos apareceram juntos, apertando as mãos, em uma vistoria às obras do Diferenciadão. Essa foi a história do Brasil: mulher de malandro da FIFA. Foi esculhambado (não sem razão) publicamente durante todo o processo e enfiou o galho dentro.

Lembra que também tinham prometido que a competição seria organizada com recursos da iniciativa privada, e que dinheiro público não seria gasto? Lulinha e Dilmão chegaram até a se ofender, perguntando indignados “Vocês acham que eu gastaria dinheiro PÚBLICO para isso?”. O então ministro do Esporte, Orlando Silva, prometeu que não haveria “um centavo de dinheiro público para os estádios”. Pois adivinha só de onde veio mais de 90% do dinheiro que está bancando esta festa? Do seu, do meu, do nosso bolso. A Copa de 2014 foi feita com dinheiro público. Até a presente data, aproximadamente 8 BILHÕES DE REAIS, mas esse número vai subir vertiginosamente, pois as obras que serão realizadas em cima da hora, que não são poucas, serão dispensadas de licitação, por causa da “urgência”, e justamente por isso serão muito superfaturadas. Sabem qual foi a justificativa que o Governo deu para gastar OITO BILHÕES DO SEU DINHEIRO com uma festa para a qual você não foi convidado? “Não conseguimos mobilizar a iniciativa privada”. Não fizesse a Copa, então.

E já que estamos falando em dinheiro, quando a FIFA escolheu o Brasil para ser sede desta Copa, também fez uma estimativa do quanto seria necessário em matéria de investimento. Com aproximadamente 1 bilhão de dólares dava para montar uma boa Copa do Mundo. Um mês antes de começar, o Brasil já gastou OITO BILHÕES DE REAIS e eu arrisco dizer que esse número pode até dobrar no mês que vem. Oito bilhões que poderiam estar construindo escolas e hospitais, mas, segundo Ronaldo Travequeiro, não se faz Copa com hospitais. Quem é ele para falar? Também não se faz suruba com travecos, e no entendo, ele inovou.

Muito se falou do “legado” que essa Copa deixaria para a população. Pois bem, nem metade das obras de mobilidade foram concluídas, e as que foram, parecem ter sido coladas com cuspe, porque já estão apresentando problemas. O legado que a população está ganhando é um trânsito infernal por causa de obras atrasadas e realizadas sem nenhum critério lógico. Os transportes públicos continuam a mesma bosta, a segurança pública também. O “legado” vai ser o de sempre: uma cidade maquiada durante um mês, onde nos entornos do local do evento haverá um policiamento atípico e ostensivo, que desaparecerá assim que o último jogo acabar. Para piorar tudo, Lula ainda abriu a boca esta semana para dizer que “é babaquice” querer um metrô nas proximidades do estádio, porque o brasileiro está acostumado a andar.

Dizia-se também que esta Copa aumentaria o turismo, não apenas durante a Copa, mas em definitivo. Será? Jornais internacionais passaram o último ano estampando todo tipo de manchete desmoralizante sobre o Brasil. Jornalistas voltando desesperados para seus países civilizados, dizendo que se recusam a cobrir a Copa. O único efeito concreto que pode ser sentido são os preços disparando, tudo ficando mais caro. Porque os hotéis não estão com lotação esgotada e as passagens aéreas estão encalhando.

Também disseram que seria bom para o comércio, pois com a chegada de turistas, aumentariam as vendas. Só não disseram que, por não ter conseguido cumprir o cronograma de obras de mobilidade urbana, seriam obrigados a decretar feriado e fazer o comércio fechar para que o trânsito da cidade não vire um caos. Conclusão: o que seria lucro para o comércio se transformou em um pesadelo. Só no Rio, estima-se um prejuízo de cerca de 20 BILHÕES por causa dos feriados.

Se a gente fosse apontar todas as promessas não cumpridas, esta postagem teria mais de dez páginas. Estas são ALGUMAS. E esse filho feio tem pai: o PT. Sério que vão entregar o país novamente nas mãos de quem fez tanta merda? Eu entendo o argumento de que não tem ninguém melhor, mas chega a ser contraproducente não punir alguém que faz tanta besteira só porque não tem nada melhor.

Para relembrar mais promessas não cumpridas, para se emputecer ainda mais depois de ler estes textos ou ainda para dizer que a promessa não cumprida que mais te doeu foi “Não vai ter Copa”: sally@desfavor.com

SOMIR

Depois do resumo dessa ópera desafinada feito por Sally, sinto-me livre para falar mais sobre o que faz o Brasil confirmar vez após vez o nosso habitual pessimismo. Não é nenhum feito mediúnico ter cantado a bola da incapacidade de se fazer tudo o que foi prometido desde o começo. Quem não faz em 500 com certeza não faz em 5.

Quem acompanha o desfavor desde o começo sabe que não estamos dando uma de “profetas do acontecido”. Se de fato o presidente em exercício naquele momento influenciou nossas previsões, um tanto de experiência de vida a mais me permite expandir a análise do porquê termos falhado com os prazos mesmo com tantas circunstâncias ajudando. Havia tempo hábil, havia verba para viabilizá-las (os bilhões e bilhões gastos com estádios não me deixam mentir) e até mesmo mão de obra, mesmo que mal qualificada.

O que deu errado? Bom, a corrupção contribuiu, falamos há tempos por aqui da tática de atrasar obras de propósito para poder contratar os “amigos” por qualquer preço sob a desculpa da urgência. A navegação desastrada da situação nos mares políticos também contribuiu, afinal, tudo o que não se precisa nessa hora é adversário buscando defeitos no esquema de desvio. Obras atrasadas artificialmente, todo mundo querendo um pedaço desse bolo de dinheiro público… não tinha como escapar.

Mas… foi muito tempo para atrasar. Esse tipo de safadeza em outras culturas acabaria entregando as obras no máximo atrasadas. Chegamos ao ridículo de esperar quase uma década para perceber que não dá tempo! Coloco mais uma variável no problema: a cultura da promessa. Ela está intimamente ligada com a do “jeitinho”, uma fortalecendo a outra, ambas parasitando a mesma riqueza nacional.

O Brasil é um país desigual e atrasado, mas, puta que pariu… como é rico! Natureza, recursos, população, área… dos países gigantes, nenhum é tão homogeneamente explorável quanto o Brasil. Talvez seja uma analogia entre índios e colonizadores de novo: quem já nasce em berço esplêndido não se desenvolve da mesma forma que quem precisa lutar por tudo o que tem. Quinhentos anos depois, e não é que a ideia de que não precisamos realmente fazer alguma coisa continua em voga?

Promessas tomam o lugar das realizações na “alma brasileira”. O país do futuro vem do passado. O prospecto de que quando realmente quisermos vamos virar potência mundial inquestionável gera uma falsa sensação de segurança. A promessa do legado da Copa já era o suficiente, desde o começo. Afinal, se não saísse no prazo seria só um contratempo, muitas oportunidades ainda existirão… certo?

A promessa é tão valorizada que é centro de qualquer campanha política, seja o que for, tem que entrar no clima de “amanhã seremos” para ser bem visto pelo brasileiro. E aqui eu provavelmente vou diferir da maioria de vocês: eu acredito, de verdade, que mesmo políticos da estirpe do Lula querem mesmo que todas as suas promessas se cumpram. Aposto que eles também ficam decepcionados com esses fracassos. Explico: não estou falando de fazê-las por preços justos ou de não lotear os bens públicos para os amigos, estou falando de obras que reelegem se forem completadas. E, porra, por mais fisiologista que seja o político, satisfação do povo é um excelente subproduto de seus golpes.

Essa cultura de promessa é tão arraigada que mesmo quem faz de tudo para atrapalhá-la acredita nela! Valcke avisou recentemente para os turistas que pretendem vir para cá que o Brasil não é a Alemanha, mais uma colocação perfeita do senhor chute na bunda. Não só pelos motivos óbvios, mas também porque na terra do chucrute a mentalidade do povo está mais direcionada à realização do que à promessa. Alemães podem ser tão corruptos quanto brasileiros, mas quando se deriva satisfação de fazer ao invés de prometer, as coisas funcionam melhor.

Prometer mais do que fazer não é exclusividade dos políticos, essa mentalidade escorre até o mercado de trabalho. Falta de treinamento é um fator importante, mas não é só por isso que atrasa-se tanto. Se a promessa é boa, o brasileiro tem uma leniência incrível com incompetência. Se fôssemos orientados pelo resultado, mesmo com as manobras sujas para (i)licitar de última hora ainda sim teríamos muito mais do que 45% de obras completas.

A lentidão e a incapacidade seriam punidas muito mais cedo. Não está seguindo o cronograma, cai fora. A fiscalização do andamento das obras seria muito mais séria e difundida. Agora todo mundo está achando um absurdo, mas nos últimos anos foram poucos que colocaram o dedo na ferida. Engolimos a promessa e estamos cobrando só a promessa mesmo… sem termos participado do processo como um todo. O brasileiro só quer ver pronto! Só quer a promessa!

O bando de safados e incompetentes dos altos escalões falharam? Claro. Mas eles são representantes do povo. Todos falhamos. Entendo perfeitamente que essa falha foi enfiada goela abaixo da maioria da população, mas este parágrafo não é sobre apontar para alguém em específico, é a constatação do fracasso. Quando eles lá em cima falham, colocam todos nós no mesmo barco. Dizer que #naovaitercopa agora é querer parar um trem bala com as mãos. É melhor do que nada, mas ainda é submissão à promessa (fantasiosa) de outrora.

E se o mundo faz piada com nossa incompetência, é importante lembrar que piadas costumam ter um fundo de verdade. Prometeu, não cumpriu? Brasil-sil-sil!

Para dizer que promete não deixar o mesmo acontecer no Rio (SPOILER: Já aconteceu.), para falar que 41% é 40% a mais do que você esperava, ou mesmo para reclamar que o Desfavor da Semana estão virando Não Disse?: somir@desfavor.com


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