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Des Contos: Enquanto isso…

| Somir | | 8 comentários em Des Contos: Enquanto isso…

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Enquanto isso, num banco de esperma…

MASCARADO: Quando você disse que queria invadir um banco, eu imaginei outra coisa!
MASCARADA: Foi bem mais fácil entrar.
MASCARADO: Não vou reclamar dessa parte… mas…
MASCARADA: O quê?
MASCARADO: Eca… esperma…
MASCARADA: Se tem nojo disso corta o saco fora!
MASCARADO: É diferente. Esperma é que nem peido.
MASCARADA: Cada um só aguenta o seu?
MASCARADO: Não, só tem graça quando vai na cara de alguém! Hahaha…
MASCARADA:
MASCARADO: Mas falando sério, não seria mais fácil só dar para ele?
MASCARADA: E você acha que eu não tentei?
MASCARADO: Ele ficou viado depois de rico?
MASCARADA: Não, a gente terminou um dia antes.
MASCARADO: Hahahah! Toma!
MASCARADA: Não tem graça! Não dá para adivinhar que o cara que você chutou ganharia na loteria no dia seguinte!
MASCARADO: Mas… o que adianta pegar isso congelado? Vai por no microondas antes de enfiar na…
MASCARADA: Claro que não, imbecil! Deixa que do plano eu cuido. Abre logo essa porta.
MASCARADO: Calma, o alarme é vagabundo, mas precisa desligar.

A mulher anda de um lado para o outro, visivelmente impaciente. À sua frente, o homem digladia-se com a agora exposta fiação do sistema de alarme local. Passados alguns minutos, ele faz sinal de positivo.

MASCARADO: Feito!
MASCARADA: Tá aqui anotado o nome dele, acha o freezer dele enquanto eu vou ver uma coisa na recepção.
MASCARADO: Eu vou ter que pegar? Nhééé… *cara de nojo*
MASCARADA: Ai minha santa paciência… está congelado, num vidrinho. Precisa desse nojo todo?
MASCARADO: Se alguém ficar sabendo disso, minha reputação está acabada… Ladrão de porra? Ninguém mais me contrata com um título desses!
MASCARADA: Quer ou não quer o pagamento?
MASCARADO: Posso pegar com uma pinça?
MASCARADA: Só acha onde está, eu pego!
MASCARADO: Tá bom.

Ela acelera o passo em direção à frente da clínica de fertilização, ele entra na sala onde ficam armazenadas as amostras. Passam-se mais alguns minutos, e a gatuna retorna.

MASCARADA: Achou?
MASCARADO: Aqui. *apontando de longe*
MASCARADA: Fresco! Vamos láááá… Jo… Jor… Aqui! Acha a do Eduardo Medeiros. Vão colocar o dele em mim.
MASCARADO: Não era mais fácil só dar para ele?
MASCARADA: Você já está me irritando… Acha logo!
MASCARADO: E… Edu… Eduardo… está aqui.

Ela faz a troca, colocando cara um dos recipientes com o esperma congelado onde queria. O seu acompanhante apenas observa, exibindo uma expressão de desgosto constante.

MASCARADO: Vem cá, não vai te atrapalhar ter feito a inseminação artificial?
MASCARADA: Não. Eu dei nome e documento falso aqui. Não vão achar a conexão. Pronto! Boa noite, nadadores… logo logo mamãe vai fazer vocês valerem milhões!
MASCARADO: Ainda achava mais fácil ter dado para ele…
MASCARADA: Vai você dar para ele então! Vê se eu não deixei nada aberto ou fora do lugar.
MASCARADO: Por que tinha… coisas… dele aqui?
MASCARADA: Quando marcamos o casamento, ele me disse que queria muito um filho, mas já tinha tido problemas ao tentar com a ex. Ele guardou umas amostras aqui para tentar… mas aí a gente se conheceu.
MASCARADO: Verdade… ele era casado antes. Você não acha que foi sacanagem com ele?
MASCARADA: Sacanagem foi largar aquele empregão que tinha para cuidar de uma porcaria de uma ONG para salvar cachorrinhos ou algo do tipo… Eu sou cara de se manter!
MASCARADO: Salvar cachorrinhos?
MASCARADA: Ou criancinhas… não lembro. Só sei que o nosso padrão de vida desabou. Vendeu apartamentos, carros, casa na praia…
MASCARADO: E como você sabe se ele não vai doar todo o dinheiro para os cachorrinhos… ou criancinhas?
MASCARADA: Por isso que eu tenho que andar logo. Se ele achar que é filho dele, não vai torrar tudo com besteira. Se tem uma coisa que o Jorge é é responsável. E é o sonho dele! Todo mundo sai ganhando.
MASCARADO: Menos as criancinhas.
MASCARADA: Ou cachorrinhos! E sabe do que mais? Você está julgando demais para um ladrão de aluguel! Não estou te pagando para dar lição de moral…
MASCARADO: Tá bom, tá bom… não está mais aqui quem falou.
MASCARADA: Vamos! Está tudo certo?
MASCARADO: Vai ser como se não tivéssemos colocado os pés aqui.
MASCARADA: Ótimo, não aguento mais essa máscara… Isso sufoca! *levantando um pouco a cobertura sobre a boca*
MASCARADO: Não! O acordo é que você não me veja e eu não te veja.
MASCARADA: Tá… tá…

Os dois saem do local tão silenciosamente quanto chegaram. Seguem num mesmo carro até um matagal nos arredores da cidade, onde o carro dela estava estacionado.

MASCARADA: Bom, o acerto vai ficar pelo nosso contato, certo?
MASCARADO: Isso. Boa sorte na quarta!
MASCARADA: Obrigada!

Na quarta feira seguinte, a mulher realiza o procedimento de inseminação artificial. Sucesso! Três meses depois, num laboratório próximo:

MULHER: Você vai ter que assumir!
JORGE: Tudo bem, Carla. Assim que chegar o resultado eu tomo todas as medidas cabíveis.
CARLA: A mãe sabe, viu? A mãe sabe!
JORGE: Olha lá, chegou. Pega lá, mamãe inseminada… *sorrindo*

Carla arregala os olhos para Jorge. Disfarçando rapidamente, ela corre até o balcão, onde a atendente deixara o envelope com o resultado. Ela o abre lentamente, visivelmente preocupada.

CARLA: E… é seu!
JORGE: Ha… hã?
CARLA: Não disse? É seu!
JORGE: Não é possível! Eu dei o errado…
CARLA: Você acha que eu não reconheceria sua voz, bandidão? Quanto você pagou para que alguém desligasse os alarmes e câmeras antes da gente chegar? Espero que não tenha sido muito… nosso filho precisa de bastante cuidado. *sorriso vitorioso*
JORGE: Mas…
CARLA: Você ficou com tanto nojo de pegar nos vidrinhos que nem percebeu quando eu desfiz a troca. Bem debaixo do seu nariz… Hahahahaha!
JORGE: Isso não é legal! Você me enganou…
CARLA: E você invadiu um banco de esperma. Vai assumir isso também?
JORGE: Vadia!
CARLA: Não é assim que se fala com a mãe do seu filho…

Carla nunca mais precisou trabalhar na vida. E todos foram felizes para sempre… Menos as criancinhas.

CARLA: Ou os cachorrinhos, acabei nunca perguntando…

Moral da história: Quem encara porra encara qualquer coisa…

Para dizer que achou a história muito gozada, para me xingar por ter te tirado a alegria de ter previsto o final, ou mesmo para dizer que eu deveria ter lido o texto de ontem: somir@desfavor.com


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