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Ele disse, ela disse: Meu herói!

| Desfavor | | 154 comentários em Ele disse, ela disse: Meu herói!

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Com o sucesso das adaptações cinematográficas dos últimos anos, os heróis de histórias em quadrinhos voltaram a chamar a atenção do grande público. Aproveitando essa deixa, Sally e Somir vão escolher qual deles mais merece essa atenção. Os impopulares não deixam essa página virar sem dar sua opinião.

Tema de hoje: Qual é o herói mais legal?

SOMIR

Deadpool. Mas primeiro, um quadro amarelo:

Eu gosto de quadrinhos, cresci lendo desde Mônica até Homem-Aranha como tantos outros de minha geração. Eu provavelmente pararia depois de uma certa idade e guardaria aquelas histórias e personagens na pasta “cultura pop” do meu cérebro como, novamente, tantos outros de minha geração… mas um belo dia eu vi uma revista chamada Heavy Metal numa banca de jornal. Depois de lê-la pela primeira vez, eu percebi que tinha muito chão entre as coisas que eu lia e os grandes artistas do gênero. A diferença entre Zorra Total e Monty Python, por assim dizer.

Fiquei mal acostumado. Poderia dizer John Constantine, Spider Jerusalem… porra, até mesmo o Groo! A verdade é que no final das contas você descobre que tem que seguir o artista e o escritor ao invés da personagem. Mas para não ser chato e despejar um monte de nomes para cima de quem não tem o mesmo gosto que eu, vamos com um que já é popular e tende a ficar cada vez mais conhecido.

Deadpool é um herói da Marvel que ainda não recebeu os devidos créditos nas adaptações para o cinema. Você já pode ter visto ele num dos filmes do Wolverine (fizeram uns 30, está num deles), mas ignore. Tem pouco ou nada a ver com a personagem dos quadrinhos. Deadpool é uma sátira dos heróis e principalmente dos anti-heróis. Se você nunca ouviu falar, imagine o filho bastardo do Homem-Aranha com o Wolverine, com todas suas características marcantes elevadas ao cubo!

Do aracnídeo ele herda o uniforme berrante e a postura. Não só pelas poses exageradas, mas também o senso de humor. E como já disse, de forma exacerbada. Deadpool não é só engraçadinho, ele é um completo inconsequente com suas piadas… Perde um braço, mas não perde a piada. Os quadrinhos dele são basicamente humor com tiros, sangue e desmembramentos, é a Marvel aprendendo a rir de si mesma. E por mais non-sense que sejam suas tiradas e as situações que ele se coloca, tem uma sátira inteligente por trás disso.

Deadpool não deixa de ser o olhar crítico sobre a sociedade atual. Insensível à violência, incapaz de prestar atenção, barulhento, egoísta, reclamão, preguiçoso… Os escritores estão apontando o dedo para os leitores e dizendo qual é o herói que mais combina com sua geração.

Do baixinho invocado ele tem seu poder. Deadpool regenera-se de forma ainda mais incrível que Wolverine. Mas esta coluna não é uma espécie de super-trunfo, os poderes dele importam pelo impacto que eles tem na personagem. Normalmente os heróis de quadrinhos são arquétipos muito bem definidos que por ventura tem super força, voam ou cagam lasers. Deadpool é completamente definido pelos seus poderes. É uma pessoa que foi lentamente perdendo a sanidade por causa de sua invulnerabilidade. Imagine se seu corpo fosse capaz de se recuperar de virtualmente qualquer ferimento, seja um tiro no braço ou uma decapitação! Assim como Deadpool, eventualmente o mundo todo acabaria te parecendo uma grande piada. Ele parece um maluco porque ficou maluco mesmo.

Dos heróis famosos, o único outro que eu acho mais ou menos humano é o Batman, e olha que isso só aconteceu depois do Frank Miller pegar a personagem e reinventá-la. Mas mesmo assim, Batman acaba se tornando genérico e plástico de tempos em tempos. Sem contar que o homem morcego tem o maior poder de todos: o do escritor. Batman faz qualquer coisa sem precisar de muita explicação. Tem tudo e sabe de tudo de acordo com a necessidade. O resto dos heróis “cinematográficos” tem a profundidade de um pires e isso nem deveria ser surpresa.

Deadpool é o tipo de personagem que está sempre pagando o preço pelo o que é, e apesar da invulnerabilidade típica do herói, as coisas dão errado para ele. Ele passa vergonha, ele perde batalhas (sem se vingar na edição seguinte, só perde mesmo)… Você sabe que ele não vai morrer, mas o poço vai ficando cada vez mais fundo e ele vai perdendo a cabeça nessa proporção. Eventualmente Deadpool está tão afundado na merda que dá uma vontade genuína de torcer por ele.

Sem contar que se Peter Parker acha que a vida dele é difícil, se mataria ao ver as condições de Deadpool. Ele vive numa casa horrível, acompanhado por uma governanta/escrava idosa (que ele chama de Alfred! Genial!) e cega e a maioria de seus conhecidos o detestam. Não tem Mary Jane para lamber suas feridas, se é que vocês me entendem. Além disso, eu ainda nem falei que ele é horroroso. Não no sentido de ter um nariz torto, mas no sentido de parecer uma vítima de queimaduras de 10º grau o tempo todo. Deadpool faz crianças chorarem.

Até por isso o mais próximo de uma namorada que tem é a Morte. Com letra maiúscula mesmo. A Morte é fascinada por ele porque não o consegue levar embora e ele é fascinado por ela porque não esconde que está doido para morrer e acabar logo com sua existência desgraçada. Parece dramático e cafona, mas é tudo feito com um senso de humor negro tão bacana (agridoce) que você começa a querer ver o casal finalmente unido. O principal problema da maioria dos heróis é que você não se importa de verdade com eles. Deadpool é alguém que você consegue achar um completo babaca (porque ele é) e querer ver se dando bem em questão de duas ou três páginas.

E antes que eu me esqueça, todo aquele fator “do caralho” de heróis que enfrentam bandidos e fazem coisas incríveis para ajudar outras pessoas está lá também. Deadpool é um mercenário por profissão, mas vira e mexe acaba envolvido em histórias de heróis mais tradicionais. Claro, ele mata os seus inimigos e não tem a menor vergonha de usar uma arma para ter vantagem, mas não vive numa narrativa confusa. Ele é anti herói, mas salva o dia do mesmo jeito. Além disso, ele costuma fazer coisas incríveis como dar um Shoryuken (aquele do Street Fighter) na namorada do Wolverine. Gritando Shoryuken!

E antes que acabe o espaço de vez: Deadpool quebra a quarta parede página sim, página também. Ele fala com o leitor, mas numa jogada esperta de tratar quem lê como se fosse sua consciência (ou uma voz maluca na sua cabeça). Quase sempre um quadro amarelo aparece com ele discutindo mentalmente o que está fazendo, inclusive até apontando furos na história e agindo como se você estivesse falando com ele. Deadpool faz humor “aleatório” durante seus diálogos e lutas, mas as piadas mais brilhantes costumam mesmo estar nessa “consciência amarela”.

Eu com certeza esqueci de mencionar mais coisas sobre ele, mas estamos no limite. Uma personagem dessas não se resume só a “vigilante rico” ou “alienígena”, por isso eu aposto que vou perder a discussão (as pessoas sempre preferem o conhecido – eu sei porque trabalho nessa área), mas se alguém acabar conhecendo a personagem pode perceber também que quadrinhos são MUITO mais do que os filmes bundas que estão saindo… Acho que já vou ter feito algum bem.
CHORE MAIS, PERDEDOR!

Para dizer que mesmo querendo ser acessível eu fui um elitista babaca, para dizer que quadrinhos sempre vão ser coisa de criança, ou mesmo para dizer que queria ter um quadro amarelo: somir@desfavor.com

SALLY

Qual herói é o mais legal? Batman.

Para começo de conversa, Batman não tem aquela carga karmica de outros heróis que nunca cogitaram ser heróis mas receberam de alguma forma um “dom” que canalizaram para salvar o mundo. Batman não tem super-poderes, é melhor do que isso, Batman tem DINHEIRO e COMPRA seus “poderes” com sua fortuna. Ele não foi picado por uma aranha radioativa nem veio de um planeta distante. Ele é rico, ele tem tempo livre, ele está a fim de dar umas porradas por aí. Batman é herói por escolha.

O fato de não ter um super-poder inato permite que Batman possa fazer tudo que o dinheiro pode comprar. Para sempre Superman vai ter visão de raio-x e voar, mas Batman tem possibilidades infinitas. Seu cinto de utilidades pode ter o que ele quiser, seu carro pode fazer o que ele quiser. Os poderes comprados pelo Batman evoluem à medida que evolui a ciência, Batman está sempre se modernizando e nunca fica monótono, pois está sempre comprando brinquedinhos novos. Sem contar que é muito fácil para quem nasceu com um “dom”, um super-poder: é só usá-lo. Batman não, Batman tem que inventar o que lhe pode ser útil e depois colocá-lo em prática. Batman precisa usar o cérebro.

Batman não tem o fator romance. Superman treme na base quando vê Lois Lane, o Homem Aranha é louco pela Mary Jane. Batman não. Batman tem lá suas peguetes, mas elas não lhe tiram o foco daquilo que ele realmente gosta e fazer: cacetar bandido. Não que eu seja contra histórias de amor, mas em matéria de herói, a mocinha é um ponto fraco. Sequestre a mocinha e você neutraliza a ação do herói. Além disso, quando você quer ver um herói em ação, quer ver tiro, porrada e bomba, não romance. Batman não paga pau para mulher nenhuma, essa é a postura de um verdadeiro herói: colocar sua “missão” como prioridade.

Batman não precisa se sujeitar a um falso emprego e a uma suposta adequação social. Não bate ponto no Planeta Diário fazendo um pseudo-jornalismo. Ele faz o que ele quer e foda-se se alguém desconfiar dele. Nem fodendo que Bruce se sujeita a um subemprego para compor um papel social. Ele não quer parecer normal aos olhos de terceiros, ele é rico, ele é escroto, ele é excêntrico e ponto final. Ele é dono de empresa, é respeitado tem dinheiro para jogar para o alto e em vez de casar e constituir família resolveu comoprar brinquedos caros para cobrir os outros de porrada. Tem como não amar? ISSO é um herói, não essa paumolescência que é o Homem Aranha ou esse faniquito ambulante que é o Wolverine. Bruce tem uma combinação bombástica muito melhor do que voar ou soltar teia: dinheiro + cérebro.

Ele faz o que quer, inclusive dar uns pega em inimiga, como fez com a Mulher Gato. Batman é o José Mayer dos quadrinhos: escroto, não é bonito, mas misteriosamente pega geral. Bruce pega mas não se apega, só a criadagem mora com ele. Mulher não interfere na sua determinação de punir quem ele acha que deve ser punido, essa é sua prioridade. É um Hannibal de preto, é o dinheiro a serviço da satisfação pessoal de foder com quem ele acha que merece uma trolha. Eu invejo o Batman.

Talvez ele seja o único herói pelo qual as mulheres se sentem atraídas tanto quando está a paisana, tanto quando está na sua fantasia. Superman, por exemplo, é o Amiguinho Que Nunca Come quando é Clark Kent. Só desperta suspiros quando mete aquela cueca ridícula por cima das calças. As mulheres orbitam tanto em torno de Bruce como em torno de Batman, apesar de não haver qualquer relato de Bruce ser especialmente bonito e, a julgar pelos atores que já o interpretaram no cinema, não deve ser mesmo: Michael Keaton com sua carinha de Pedro Bial dos EUA ou Christian Bato na Minha Própria Mão Bale, com seu aspecto sujo e oleoso não me deixam mentir.

Batman é antissocial, pontos para ele. Não fica de papinho tentando se integrar, naquele complexo de rejeitado na adolescência que molda um adulto desesperado por aprovação. Age sozinho, quando muito com a ajuda do mordomo, não foi sua mamãe nem sua vovó quem fez seu uniforme, ele é autosuficiente. Batman também não tem pudores, se tiver que matar, mata sem chororô, ao contrário de uns e outros que se limitam a imobilizar e prender. Se é para fazer, ele faz o pacote completo. Batman fabrica mais presunto que a Sadia. E que disso ninguém depreenda que eu seja a favor de grupos de extermínio, estamos falando de ficção. Na FICÇÃO ele é o personagem mais interessante.

Batman nada mais é um mocinho com cara de vilão, com roupagem de malvado. E, vocês sabem, os vilões são sempre mais interessantes porque os vilões podem tudo. Batman não tem as limitações éticas, morais ou preocupação com a opinião alheia, ele é aquilo mesmo, e azar de quem não gostar. Ele talvez seja o único mocinho que, assim como os vilões, pode tudo. Não venham me dizer que Wolverine pode tudo, porque ele é um descontrolado faniquiteiro sem qualquer condição emocional de conseguir o que quer. Batman e seu combo dinheiro + cérebro supera em muito os demais “agraciados” com poderes inatos ou adquiridos.

Se você é politicamente incorreto, se você é contra fazer social para ser aceito, se você acha um pé no saco romance permeando história de super-heróis, Batman é o cara. Se não, vai torcer por um babaca que usa a cueca por cima da calça ou um nerd cujo mérito foi tomar uma picadura. E para quem acha que as histórias do Batman não tem uma moral que ensine algo como os outros, tem sim: se você for rico e inteligente pode sair à noite matando quem você quiser que vai ficar impune. Batman é sabedoria pura, cada vez mais atual.

Para perceber que hoje é dia nerd nos comentários e passar amanhã, para me humilhar falando e heróis que eu nunca ouvi falar ou ainda para reclamar que eu destruí seu amor pelo Super Homem: sally@desfavor.com


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