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Des Cult: The Noite

| Sally | | 120 comentários em Des Cult: The Noite

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Assim como fiz com o novo “Agora é tarde” do Rafinha Bastos, esperei uma semana para escrever sobre o “The Noite” do Danilo Gentili. Um programa de estreia é muito pouco para se avaliar uma atração. A opinião aqui escrita nada tem a ver com a simpatia e admiração que eu tenho pelo Danilo Gentili, até porque também tenho simpatia e admiração pelo Rafinha e isso não me impediu de descer o sarrafo nele e naquele programa sem vergonha que ele está fazendo.

Confesso que fiquei um pouco decepcionada com as críticas que saíram sobre o programa por sua falta de conteúdo. Algumas apenas narraram o que aconteceu na estreia: fulano entrou no palco, sicrano fez uma piada, etc. Isso não é uma crítica, é uma narrativa, desnecessária por sinal. Eu sei muito bem o que aconteceu, eu vi o programa! Queria ler uma CRÍTICA, uma opinião sobre o que foi apresentado. Custa, imprensa? Pelo visto custa.

Outra parcela generosa das notícias focou apenas no ibope: “Programa de Danilo Gentili alcança X pontos de audiência”. Gente… o “The Noite” é tão mais do que números de audiência… Ok, cravar seis pontos à uma da manhã de fato é algo admirável, vencer a Globo também, ficar em primeiro lugar geral então, nem se fala. Mas ainda assim, está longe de ser o ponto alto dessa grata surpresa que Danilo e sua equipe prepararam para o telespectador. O mérito maior do “The Noite” pode ser definido por uma palavra: ACERTO.

Não importa se faz o seu estilo ou não, não importa se você faria diferente ou não, não importa se você esperava outra coisa ou não: eles acertaram naquilo que se propuseram a fazer. Deu certo, deu muito certo. Durante o programa temas polêmicos são abordados sem medo, temas que, se tratados no tom errado, poderiam causar mal estar, constrangimento e polêmica. Mas Danilo e sua equipe conseguiram conferir leveza e humor, desarmando o telespectador ao partir da premissa de não se levarem a sério, de mostrar que rirem de si mesmos em primeiro lugar. Quando você ri de si mesmo, qualquer risada que dê dos outros fica menos bélica. Um humor leve, agradável e simpático prepara o terreno para o que eles realmente querem falar, amansando o telespectador que já está de coração aberto quando pequenas verdades são apontadas.

Óbvio que o mérito é de toda a equipe, mas não tem como não fazer um elogio especial para o Danilo, pois por mais que algo seja bem escrito, em ultima instância, o determinante é a forma como é dito. E Danilo acertou o tom, com naturalidade. Não pareceu forçado em momento algum. Apenas me pareceu um pouco nervoso no primeiro programa, coisa que considero natural em qualquer estreia. Aliás, considero até simpático estar nervoso, ele é humano, ele é falível, ele tem sentimentos mundanos como todos nós. O “amadurecimento de palco” do Danilo desde o CQC até hoje impressiona. Poucas pessoas na TV conseguem passar essa impressão de que estão fazendo algo que gostam, que estão se divertindo com isso, que estão entre amigos em uma brincadeira prazerosa. Você não diz que ele está ali trabalhando.

É assim que eu senti o programa “The Noite”. Como se fossem um grupo de amigos que estão se divertindo muito com o que estão fazendo. Um clima bom, de coleguismo, de união. Ninguém querendo brilhar mais do que ninguém, cada um com seu espaço, cada um querendo contribuir para fazer um programa bacana. Gente feliz, gente em harmonia. Pode até ser que não sejam, mas passam uma impressão muito verdadeira de serem. O clima do programa é mágico, e acredito que ali esteja o segredo do sucesso. Naquele clima, até piada de papagaio levanta o astral de quem está assistindo, pois quando quem faz se diverte de verdade, o telespectador sente e entra no clima. Em tempos de competição feroz, de facada nas costas e de brigas cada vez mais feias por holofotes, reconforta ver um grupo tão unido.

Além da verdade que eles passam, da honestidade de estar fazendo o que gostam e se divertindo com isso, a parte técnica também deve ser elogiada. Não tenho a menor qualificação para falar de câmera, luz, som e outros detalhes, mas posso dizer que visualmente o programa está muito agradável, sinal de que não houve erros. Porque telespectador percebe equívocos, por mais que não saiba identificar exatamente onde está o erro, nós sentimos quando algo está estranho ou não está agradável. Ao ver o programa a gente não lembra que existe um iluminador ali trabalhando, nem um técnico de som. Sinal de que correu tudo como deveria: natural.

Talvez a única parte técnica que eu possa arriscar a opinar seja o roteiro. Ahhhh o roteiro… que coisa mais bacana o roteiro do “The Noite”! Sabe por quê? Porque não parecia que tinha roteiro. Tudo tão natural, tão bem sequenciado, tão adequado ao perfil do elenco que a gente chega a esquecer que em uma sala, durante semanas, um grupo de pessoas quebrou a cabeça pensando no que dizer e como dizer. Parabéns ao Chefe dos Roteiristas, Alex, por mais esse acerto. Um roteiro dinâmico, criativo, irreverente, porém sem ser forçado. Um roteiro engraçado que, apesar de alguma ousadia, conseguiu fugir daquele nefasto estereotipo que adoram jogar nas costas do Danilo: “o polêmico”. Polêmico nada! Foi engraçado, divertido e em alguns momentos até ousado para o que são os limites da TV aberta, mas no tom certo, sempre permeado pela premissa de não se levar a sério, de brincar com tudo, para amansar o filtro com o qual o telespectador vai ouvir cada frase. Genial.

Cavaram uma mina de ouro acertando o tom desse programa. Em um momento onde tudo ofende, onde tudo é motivo para patrulha do politicamente correto, a equipe do “The Noite” achou um recurso, um tom, uma forma de falar coisas que, dentro da dinâmica daquele grupo, dentro da construção daquele programa, não ofende. Isso é abrir uma frestinha da porta da liberdade de expressão, até então fechada pela patrulha chata, e histérica dos ofendidos. E acertaram a fórmula de primeira!

Isso, para mim, tem um valor que chega a ser histórico. Transcende o programa em si e passa a ser uma questão social, quase que antropológica: alguém conseguiu burlar os chatos que patrulham a opinião e, com um verniz televisivo, alguns recursos visuais, alguma enfeitada no pavão, vai ser capaz de falar coisas que estão presas nas nossas gargantas e ninguém mais falava, por medo ou por incapacidade de encontrar uma forma de dizê-las sem ofender. E por isso, Alex e demais equipe do roteiro, muito obrigada. Isso abre um precedente valioso na TV brasileira. Muito obrigada MESMO.

A Direção também foi impecável. Marcelo Zaccariotto e sua equipe também são os responsável por esse acerto do tom do programa. Uma atração dinâmica o suficiente para prender a atenção de quem trabalhou um dia inteiro e ainda está acordado até a uma da manhã. Um olhar atento vê que cada escolha ali, desde o ângulo da câmera, até a edição, foi carinhosamente pensada. A orquestra é boa, mas o maestro soube reger como ninguém. Aliás, parece que essa orquestra foi feita para esse maestro e vice-versa. Reflexo de pessoas que se conhecem bem e se gostam trabalhando juntos. Fica a impressão que um olha para a cara do outro e sabe o que ele está pensando ou o que vai dizer.

Murilo Couto e Léo Lins, impecáveis, como sempre. Dizem que os bons cantores são aqueles que cantam com naturalidade, sem que o público perceba que há muito treino e esforço para conseguir aquela voz. Pois é o que eu sinto em relação a Murilo Couto e Léo Lins, o humor flui natural. Eu visualizo os dois se portando da mesma forma em uma mesa de bar, na casa de um amigo ou no “The Noite”. Eles parecem muito confortáveis fazendo humor, algo que se costuma chamar de “dom”. Fica muito claro que quando eles fazem piada o resto do elenco ri de verdade, ri achando graça, e não aquela risada fake de quem está compondo o cenário. O que transparece para o telespectador é um ótimo entrosamento e diversão genuína, verdadeira. E nós, telespectadores, gostamos disso: de autenticidade, de verdade. Juliana, uma querida, como sempre, capaz de com a maior doçura do mundo ofender a mãe alheia e a gente ainda achar ela uma fofa.

O Ultraje também merece nada além e elogios. Muito bacana a forma como interagem, hora como banda, em perfeita sintonia, fazendo piada através da música que escolhem para tocar, ora de forma individual, cada um com suas características marcantes. Eles transitam do individual para o coletivo e do coletivo para o individual com uma naturalidade e facilidade invejável. O Roger até que maneirou no cabelo na primeira semana… O que dizer? Eu gosto quando o Roger ousa no cabelo! Eu gosto quando o Roger ousa no cabelo e quando ele fala sobre o PT. Eu acho que o Roger deveria ganhar um programa similar a aquele que o SBT tinha muitos anos atrás, onde se falava da semana do Presidente, com total liberdade para falar o que ele quisesse sobre a Dilma e o PT. Um sonho distante, quem sabe um dia, na internet? Obs: É impressão minha ou o Mingau emagreceu?

Mesmo quem acabou de chegar fez bonito. Diguinho Coruja me ganhou logo na primeira fala, com seu sonoro “foda-se”. Desempenhou muito bem seu papel e tenho certeza de que vai crescer dentro do programa. Bônus: ele nunca fez Zorra Total, seu curriculum é bem mais limpinho do que o do seu antecessor. Os estagiários também prometem bons momentos. É o que acontece quando o alicerce é sólido: a gente sabe que só vem coisa boa, porque quem cria e quem executa é bom.

Agora eu gostaria de mandar algumas pessoas à merda. Porque tem gente que merece ser mandada à merda. Primeiro gostaria de mandar à merda a a Folha de São Paulo e sua notícia babaca “Fábio Porchat salva Danilo Gentili”. Se o programa só se sustentou por cauda do Porchat, porque chegou a ganhar da Globo e ficar em primeiro lugar na audiência em outros dias? Vão à merda. Desejo mandar igualmente à merda todos os que criticaram o programa supondo que ele seja uma cópia de outros existentes. Talk show é talk show, não tem como fugir muito do formato. Não é plágio. Seria como dizer que um modelo de carro está copiando o outro porque também tem quadro rodas. Por fim, mando à merda aqueles que de alguma forma compararam outros trabalhos do Danilo, como o DVD Politicamente Incorreto, com o programa. Meus Queridos, duas palavras para vocês: TV ABERTA. Não dá para fazer de tudo na TV aberta, basta dar uma olhada no resto que vocês verão que o “The Noite” está fazendo até demais para os padrões.

Também quero mandar à merda a Band, que está se comportando como uma esposa traída que faz de tudo para infernizar o ex-marido, que já está com outra: Vá à merda, Band. Está feio demais, chega desse papel de corno, chega de processar o Danilo. Ocupem-se de corrigir aquela bosta que está o programa do Rafinha Bastos em vez de se preocupar tanto com o “The Noite” e aprendam a valorizar os bons profissionais que tem. Reduziram salário, reduziram pessoal e tentaram cortaram o programa de sexta-feira? Perderam ótimos profissionais. Band: quem planta merda colhe bosta. Colham a bosta calados e parem de enche o saco.

Por fim, um desabafo. O “The Noite” certamente está incomodando e vai incomodar muita gente. Não é todo dia que alguém bate a audiência da Globo. A gente sabe que prego que se destaca é o que ganha martelada. Fiquem espertos, eu não estranharia se em breve começarem a surgir boatos ou tentativas veladas de ataques à popularidade da equipe, principalmente do Danilo. Sinceramente? Eu nem me preocupo muito, porque quando se ataca pessoas inteligentes, há grandes chances dessas pessoas pegarem o ataque e conseguirem reverter a seu favor. Mas mesmo assim, Desfavor está de olho. Mexeu com o Danilo, mexeu com o “The Noite”, mexeu com a gente. Grandes merda mexer com a gente, não somos famosos e não mandamos nada, mas tamos aí para fazer barulho juntos caso precisar…

Parabéns a toda a equipe do “The Noite” pelo programa redondinho, fluido, divertido, leve e com momentos de ousadia, para os padrões televisivos atuais. Parabéns ao SBT por saber reconhecer e recompensar um talento, por arriscar e por investir naquilo que foge ao lugar comum. Parabéns ao brasileiro por deixar de lado o humor de bordão, o humor torta na cara, o humor Toque de Merda da Globo e se permitir o “The Noite”. Todos os elogios que eu já fiz no texto sobre o “Agora é Tarde” continuam valendo. Vocês continuam sendo uma flor que nasceu no meio do estrume. Vocês me mostraram o que eu julgava impossível: um programa de TV aberta com humor inteligente. Todo sucesso é pouco. Obrigada.

Para deixar a sua opinião sobre o The Noite, para dizer que independente do programa ver o arrogante do Jô Soares tomando uma trolha e perdendo a hegemonia não tem preço ou ainda para dizer que em algum lugar, Rafinha Bastos chora em posição fetal: sally@desfavor.com


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