Somir Surtado: Je sais quoi.
| Somir | Somir Surtado | 45 comentários em Somir Surtado: Je sais quoi.
“Je ne sais quoi” é uma expressão francesa popularizada mundo afora como definição para aquele fator… diferente… que algumas pessoas tem tanto para ter sucesso no que fazem ou mesmo para angariar simpatia. Na tradução direta, “Jenêsequá” (ha!) nada mais é do que “Não sei o que”. Conseguimos definir que tem algo de especial na pessoa, mas é difícil apontar exatamente o que é. Pode ser desde o sorriso do Pilha enquanto é algemado pela polícia até mesmo a pose “messiânica” de Steve Jobs quando apresentava as criações alheias… São elementos difíceis de imitar pela dificuldade de definir o que ocorre ali. E por isso mesmo, péssimos exemplos.
E sim, eu sei que foi sacrilégio colocar Pilha e Jobs na mesma frase, admiramos o Pilha por aqui… Precisava de um exemplo bem abrangente. Quem não conhece o “folclore nacional” daqui não entenderia bem se falasse apenas do Mártir Transcendental da RID. Mas imaginemos ambos os casos com pessoas diferentes: Assim como a maioria das pessoas soariam malignas ou arrogantes se imitassem a expressão de Pilha diante da prisão, a maioria de nós pareceríamos completos imbecis – fraudes capitalistas – apresentando as porcarias que Jobs apresentava (como, aliás, é o que vem acontecendo). Tem gente nesse mundo que consegue subverter a reação alheia óbvia só por “estar lá”.
Oras, sorrir enquanto é preso é coisa de psico/sociopata e os produtos da Apple passam longe de merecer tanto confete assim. Tem coisa nessa vida que só dá certo na base do “je ne sais quoi”. E meu argumento aqui é apesar de ser um fator interessante no que configura o sucesso ou carisma, passa longe de ser o elemento definidor. Parece que temos cada vez mais pessoas fascinadas com a cereja do bolo ao invés do bolo propriamente dito. Querem colher os frutos do “não sei o que” sem saber “o que”.
E onde a natureza argentina de Sally exibe os problemas, a minha natureza mercenária enxerga as oportunidades. Na hora do vamos ver, o mundo ainda precisa de quem pensa, planeja, cria e executa… A massa de imbecis que consomem só para pertencer vai usar os serviços, obedecer as regras e comprar os produtos que são impostos por quem está prestando atenção no que está fazendo. Não é o Quem Indica que resolve problemas e dita padrões, é o Quociente de Inteligência.
Posso estar beirando ao pensamento conspiratório, mas não são os políticos e personalidade célebres que fazem as escolhas. Eles simplesmente hipnotizam a massa com seus “não sei o quês”. Tem gente muito bem preparada para mexer as cordas desses bonecos por trás do cenário. Gente que com boas e más intenções aprendeu a confiar em gente inteligente e focada para conseguir o que quer. Faça o que quiser, não vai ser um ex-BBB cheio de apoio popular que vai te formular um modelo econômico brilhantemente maligno como o em voga na maioria dos países desse mundo. Transformar valor em dívidas e pegar para si a administração delas? Quem inventou o sistema bancário moderno pode ter cagado boa parte do mundo, mas foi genial. Essa ideia só pode ser atribuída a alguém com algo na cabeça além de cultura popular geral.
Claro que eu estou dando um exemplo de brilhantismo usado para o mal, mas não nos esqueçamos de gênios que ajudaram a formular teorias e a desenvolver tecnologias que fazem da maioria do mundo hoje um lugar imensamente melhor de se viver do que há cem anos atrás. Lembrando que do começo do século passado pra cá nunca houve tanta evolução da humanidade em tão pouco tempo. Einstein, por exemplo, tinha um carisma muito acima da média de outros cientistas, mas ao mesmo tempo, apresentou na prática resultados muito acima de outros cientistas. “Não sei o que” serve muito bem como perfumaria, mas não vai tratar da limpeza de porcaria nenhuma.
Vivemos num mundo bem mais complicado do que parece na parte “prática”. Estruturas complexas nos fornecem desde alimentação até mesmo informação. Precisou de gente MUITO inteligente – geração após geração – para bolar um jeito de você pedir comida pela internet, por exemplo. E ainda precisamos de profissionais bem treinados e com o cérebro bem tratado para manter a estrutura. Porra, vocês tem noção de que seu computador está ligado porque tem quantidades avassaladoras de água girando uma turbina a provavelmente milhares de quilômetros de distância? Ter a informação não basta, precisa deixar ela realmente mudar sua perspectiva das coisas.
Babacas carismáticos, puxa-sacos profissionais, chefes imbecis… esse tipo de gente está infiltrada no sistema mas não é capaz de interagir com ele. Se sua contribuição para a humanidade foi lançar uma moda de corte de cabelo, você não tem interferência real no mundo. Chegar no topo da hierarquia de uma empresa sem saber o que fazer de verdade não faz de você nada além de um parasita. Uma hora o bicho se coça. Uma hora você vai ter que mostrar se é capaz de fazer diferença… e nessa hora o mundo depende de quem não está nesse barco da superficialidade.
É aí que a empresa fale, é aí que o governo cai, é aí que alguém precisa resolver. O problema é que muita gente capaz de fazer o necessário começa a acreditar que só existe o caminho do parasita. Que não existe reconhecimento para o esforço… oras, se você vai esperar reconhecimento de outros parasitas, deu azar! Eles estão ocupados demais fazendo só o que sabem/querem. Gente capacitada que vive de resolver problemas reais e que tem interesse em ir além do menor denominador comum não só reconhece valor como anseia por ele.
Faz tempo que se fala no Brasil sobre excesso de vagas de alta qualificação. Não tem inteligência emocional que dê conta de programar um sistema do zero. Não dá para projetar um avião só conhecendo as pessoas certas. E vou além, ninguém vai escrever um livro brilhante só porque tem um amigo numa editora… O mercado da mediocridade existe sim e é mais forte do que deveria, mas se formos analisar friamente ele não é mais do que um embuste criado para distrair as pessoas que não se encaixam no perfil de quem faz esse mundo funcionar.
Ninguém precisa escolher se vale a pena seguir um caminho intelectualmente honesto para o mundo precisar de quem dê conta de suas necessidades. A demanda existe, só que costuma estar disfarçada atrás de um mar de pessoas que não querem ou nem tiveram a oportunidade de preenchê-la. E por trás de toda esse necessidade de mão de obra qualificada, ainda tem a necessidade de gente que saiba decidir, que saiba usar seu poder para conseguir resultados concretos e dê a tão desejada direção para a massa seguir.
Quem não se sente parte desse perfil de bajuladores e conformistas não consegue viver da mesma dieta parasítica. Precisa de mais. Mais responsabilidade, mais poder, mais conhecimento, mais liberdade… Precisam ganhar a vida com o “sei o que”. Não vou ficar aqui definindo se é gostar de novela ou não te que faz entrar nessa categoria, até porque na verdade ela é facultativa e não garante nada sobre seu caráter. É a vontade de ir além do batido e do preguiçoso que deveria te dizer onde você se encaixa nesse mundo.
Sou muito avesso ao discurso “você consegue”, por isso não esperem nada do tipo. Estou apenas dizendo que tem lugar sim para quem não se rebaixa, mesmo que esse lugar não resulte diretamente em mais dinheiro. Quem entende mesmo dessa coisa de ditar os rumos do mundo sabe que entre poder e dinheiro, poder sempre é melhor. E quem já achou uma escapatória para essa confusão toda vai te dizer que acima disso só mesmo a liberdade de fazer e pensar o que quiser. Se o seu dinheiro está comprando carros e joias ao invés de poder e liberdade, ele vale tanto quanto uma Lamborghini numa estrada de paralelepípedos ou um diamante num assalto.
Como as pessoas medíocres tem objetivos medíocres, sobra espaço suficiente para quem entra no sistema não pela porta dos parasitas, mas pela de serviço. Nenhum demérito aqui, quem vai fazer alguma coisa de verdade tem muito mais valor. Os imbecis não vão conseguir manter seu status a não ser que ele venha de outros imbecis. E na hora do vamos ver, são as pessoas que se importam com seu próprio desenvolvimento e com ter uma função nessa jornada humana que vão dar conta do recado.
Talvez seja miopia causada por excesso de humildade ou excesso de convivência com os parasitas, mas muita gente capaz e bem preparada simplesmente não enxerga que opera em outro nível. Que a competição com os conformistas é uma distração desnecessária e que tem como dar a volta neles usando as ferramentas que desenvolveu durante a vida. Todo mundo deve conhecer o caso de alguém muito talentoso que acabou carregando nas costas gente incompetente a vida toda por não ter coragem ou mesmo visão de se posicionar acima delas. Gente que sabe fazer um trabalho como poucos e mesmo assim sustenta multinacional que caga e anda para ela…
Às vezes parece que elas acham que o lugar delas é com os parasitas. Inteligência costuma vir com o péssimo hábito de relativizar demais as próprias habilidades. Um pouco de arrogância vai bem! Abra uma empresa, faça um curso, fale o que pensa, pinte uma porra de quadro se é isso que você quer; se você não quer ser um parasita, não entre na disputa para saber qual deles fica mais gordo! Ou pelo menos não ache que está perdendo muita coisa por não participar desse jogo medíocre, bacana mesmo é ter poder ou liberdade de “coçar fora” um ou mais deles quando quiser.
O “não sei o que” não deveria ser objetivo, deveria ser um bônus. Quem sabe o que está fazendo sabe para onde vai. Tem outro mundo além desse, o mundo que importa.
P.S.: Como eu dificilmente vou poder responder comentários hoje, já digo que não, não é uma resposta ao texto da Sally e sim um texto inspirado no dela, tanto que muitas ideias batem.
É Somir… concordo com teu texto viu? Mais uma vez, me lembrou Foucaut no meio da leitura! Só que dessa vez referente àquele livro “arqueologia do saber”. É aquela coisa: o mundo pode até estar recheado de BMs e bastardinhos, mas, querendo ou não, ainda é “regido” por pessoas que sabem, que pensam, que planejam e executam! E quanto mais se sabe, mais poder você tem! Só basta saber usa-lo!
É nesse sentido que ainda alimento certa esperança na humanidade, isto é: pegando aquela ideia do pêndulo lá da Sally, na hora do vamos ver, na hora que todo mundo precisar pra valer de gente que saiba fazer e executar é que a balança se inverterá!
“Chegar no topo da hierarquia de uma empresa sem saber o que fazer de verdade não faz de você nada além de um parasita. Uma hora o bicho se coça. Uma hora você vai ter que mostrar se é capaz de fazer diferença…”
Esse é que é o problema, muitas vezes a pessoa não é de todo incompetente, ela sabe fingir bem, interpretar, e ter o mínimo pra passar que entende de algo que na verdade ele treinou muito pra “mostrar” que entende do assunto, e isso qualquer um pode fazer, ler um artigo explicando sobre física e falar como se entendesse algo, assim como um diretor de uma empresa pode ter trocentos assessores que mastigam tudo pra ele, e na hora ele apenas tem que ter a capacidade mínima de demonstrar os dados em um apresentação, mas ele muitas vezes não entende a fundo do assunto.
Eu inclusive gostaria da opinião de vocês, pois muitas vezes vemos pessoas ocupando cargos importantissimos em empresas, ou em governos, mas é perceptível que a pessoa não é um profundo entendedor daquilo, salvo raros momentos onde alguém entende de algo mas não está num bom dia, mas em geral vemos pessoas suarem pra fazer algo que deveria ser tirado de letra por alguém na posição dele. Querem um exemplo maior que um presidente da republica (Rilma Doussef), muitas vezes fazendo discursos rídiculos, e em debates muitas vezes não consegue concatenar idéias pra poder explicar ao público o que pensa!? Lembrem-se do vergonhoso “Porque a porta de saída, na verdade é uma grande porta de entrada…”, tem vergonha maior!? e também prova maior que pessoas incompetentes chegam a cargos altíssimos apenas com o QI (Quem Indica) e com um monte de assessores pra tudo que é assunto, pra que ela sempre se mantenha a par de tudo, dessa maneira até eu governo um país. Ou alguém acredita que ela tenha uma inteligencia excepcional que a levou ao cargo onde está hoje por mérito próprio?
Álias, esqueci de mencionar, que no Processa Eu Rilma Dousseff é apresentado de maneira bem explicada se ela é alguém competente e se teve algum mérito próprio em estar onde está hoje!
Pois é, desde o começo foi tudo na base do contato, apesar das muitas besteiras que ela fez. Você tem noção do que é um país onde você consegue chegar da Presidência da República SÓ com contatos?
É um absurdo sem tamanho, e extremamente desanimador.
Dilma foi plantada no planalto por capricho do #9dedos. O grande erro do pessoal do PT foi justamente colocar todos os ovos na mesma cesta, ficando reféns dos caprichos desse canalha.
Tenho aqui alguns pontos de discordância do Somir, justo por saber “o quẽ” está por detrás disso.
O diferencial em favor do Jobs era a imagem de “empreendedor” capitaneando uma corporação de forma “independente” “contra tudo e contra todos” aqueles que no geral tendiam a ir pelo rumo “confortável” de trabalhar no hardware e deixar o trabalho no software para terceiros. E é justo essa imagem que fazia a diferença no meio hipster.
Em favor do Pilha, tem aquele ar “are you kidding me?”, sendo que o próprio Pilha não deve ter levado a sério o fato de ter sido preso. (Provável que os interlocutores também cairam nessa)
E creio que aqui se subestima a inteligência dos “parasitas”, que no geral sabem muito bem o que estão fazendo. Desempenhar atividades produtivas demanda grande esforço, sendo que isso nem sempre vale a pena justamente pela produtividade não converter por si só em rentabilidade ou em resultado em favor da corporação e por consequência de sua própria posição na hierarquia.
O texto do Veríssimo (colocado nos comentários pelo W.O.J.) ilustrou bem na figura do Rudi aquela pessoa que apesar de ter certo know-how no que diz respeito ao consumo de alto padrão, NÃO SOUBE converter isso em algo profílico em seu favor, a despeito das oportunidades que bateram a sua porta, tendo sua visão muito enfocada no curto prazo e deixando de lado a sustentabilidade de sua posição.
No que diz respeito a transição da moeda emitida em metal precioso para a moeda emitida em papel lastreada em metal precioso e depois para a moeda fiduciária sem qualquer lastro definido, bem… É mais simples do que parece, tanto que a própria Lei de Gresham explica.
“Tem outro mundo além desse, o mundo que importa.”
Lindo texto.
Um ótimo texto, Somir. Restaurou minhas esperanças. Não que seja fácil, de fato não é, mas sempre acreditei que conhecimento é poder e que as novelas que deixei de ver e os BBBs que deixei de acompanhar não vão me fazer falta nenhuma na minha vida. Deixa eu aqui estudando e correndo atrás que uma hora, como disse a Sally, o pêndulo vira e eu quero só ver o que vão fazer com essas informações fúteis.
Vai soar como arrogante, egoísta, frio e cruel pra caralho o que vou dizer agora, mas se a gente for pensar friamente, quando mais eles perdem tempo com coisas que não fazem diferença na vida de ninguém e são puramente inutilidade e fofoca, só se focando nisso (ênfase no “só se focando nisso”, porque quem faz uma fofoquinha de vez em quando, vê uma novelinha ou acompanha o BBB quando tem tempo livre, mas não perde o foco do trabalho e do estudo tá de boas), mais a gente devia ficar contente e pensar “menos gente pra concorrer quando a maré virar e for favorável pra mim”.
Às vezes é melhor pra gente se isolar mesmo e procurar fazer um trabalho bem feito que ficar socializando com gente que o auge da vida é saber quantas pessoas Fulano beijou na última micareta, quem celebridade tal tá namorando ou no que vai dar a trama da novela. Claro que é normal que a gente se sinta meio deslocado e meio perdido, eu mesma já me senti assim várias vezes, mas olhando pra trás, sinceramente, não me faz falta nenhuma. Adoraria ter mais amigos e sair mais? Claro, mas antes só que mal acompanhado. No fim das contas, a gente não está perdendo nada ficando mais sozinho às vezes. Está é ganhando.
(Momento babaca off rs).
Nossa, belo texto. Muito inspirador. Veio na hora certa e te diz pra continuar na batalha, lutando e o que o esforço pode ser recompensado. Gostei mesmo.
Gente buscando a todo custo algum “jenesequá” ou são só BMs em seu habitat? Vocês têm que ver isso:
http://miranortevip.blogspot.com.br/2014/02/socyalite-karla-lima-comemora.html?m=1
Tudo quanto é site de fofoca e rede social está falando dessa mulher. Não sei porque desenterrar uma nobody e alavancá-la ao status de celebridade. Qual é o problema da mulher ser cafona? Isso é notícia? Mania de jogar holofote nas coisas erradas, essa mulher tinha é que morrer no anonimato!
Notícia realmente não é. Mas até que é engraçado…
Quem é essa? Onde isso é Vip/Socyalite? Que mulher horrorosa! Só tem pobre nessa festa, com comida de pobre e roupa de pobre! A pessoa sai da pobreza, mas a pobreza não sai da pessoa.
Não é ninguém, mas chamou a atenção por ser cafona. Francamente, se a gente for colocar um holofote em cada mulher cafona do Brasil…
Ela mora em roça? Porque essas cadeiras com fio de plástico só vejo na roça.
O melhor é a descrição da festa. Aí você lê e procura a informação na foto.
Sinceramente, não tenho a menor ideia nem o menor interesse em saber…
Verdade…
Hahahahahahahahahahahahaha…
Quem é essa porra de Karla Lima? Segundo channers e membros do bananal, essa deve ser depósito de porra de algum figurão cheio da nota.
Olhando melhor, nem isso… E uma maria buceta de classe comédia se achando a socYalite. Hahaha!
Bem, a Receita Federal adora esses tipos de notícias. Possui um departamento que passa o dia todo lendo notícias e sites de notícias, blogs e revistas de fofoca para vislumbrar possíveis sonegadores.
Legal saber disso…
Ostentação demais entrega. ;)
“Bem, a Receita Federal adora esses tipos de notícias. Possui um departamento que passa o dia todo lendo notícias e sites de notícias, blogs e revistas de fofoca para vislumbrar possíveis sonegadores.” Os caras desse departamento recebem adicional por insalubridade?
Caso não recebam, deveriam. O sujeito da Receita que disse trabalhar lá me remete à Columbine, Virginia Tech e Realengo…
Putz!
WAT!?!?!
Finíssimo….. wat?
Eu morro de velha e não vejo tudo nessa vida mesmo.
E quem não acha ela rhyca e phyna …. tudo enveja!
E a expressão toda já é consagrada como um substantivo:
“L’amour est ce je ne sais quoi, qui vient de je ne sais où, et qui finit je ne sais comment” (Madeleine de Scudéry)
(Tradução livre: o amor é este “não sei o quê”, que de onde vem não sei, e que termina não sei como”. À propósito, já enviei a tradução do texto do France Football…)
Obrigado, Suellen. Quero ler essa tradução…
Essa tradução seria especificamente de qual matéria? Não seria um tipo de dossiê da Copa do Mundo né? Recentemente surgiram boatos quanto a veracidade de uma matéria vinculada a France Football. As desconfianças parte de alguns esquerdopatas, mas não custa averiguar.
‘Peguei o artigo principal postado gentilmente aqui pelo Ex-Professor (intitulado “La Peur pour le Mondial”, da revista France Football) e o traduzi na unha. Havia outras duas matérias secundárias, uma sobre a amplitude térmica entre as cidades e outra dispensável com o Blatter, mas traduzi só o artigo principal. Já enviei pra Sally.
Obrigado Suellen. Gostaria que a Sally posta essa tradução aqui pra todo mundo ver. Mas se for preciso, peço pra me mandar por e-mail.
http://trivela.uol.com.br/o-que-france-football-realmente-fala-sobre-o-brasil/
Era sobre isso que eu alertava.
“O problema é que muita gente capaz de fazer o necessário começa a acreditar que só existe o caminho do parasita. Que não existe reconhecimento para o esforço… oras, se você vai esperar reconhecimento de outros parasitas, deu azar!
“A demanda existe, só que costuma estar disfarçada atrás de um mar de pessoas que não querem ou nem tiveram a oportunidade de preenchê-la.”
Sem dúvida. O problema é que para empreender é preciso compreender que o fracasso será algo persistentemente inerente ao caminho (nada garantido) ao sucesso, qualquer que seja sua natureza. Vejo pessoas com desejo de sucesso rápido e imediato logo de cara, como se desejando ganho de bolsa de valores com risco de um investimento de renda fixa, e sem quererem ser estigmatizadas por um revés sequer. Não dá.
Venho de uma família de empreendedores que foi à falência diversas vezes tentando escapar de um chefe BM, mas mesmo o ‘fracasso’ da família nos proporcionou uma educação tão boa para que os filhos a resgatassem, algo que jamais conseguiríamos se todos fôssemos trilhar o caminho seguro dos parasitas. Agora tento voltar a empreender, deixar de ser parasita, mas com plena consciência que posso me foder bonito logo ali na esquina.
Afinal, para cada whatssup, para cada facebook, um número infinito de start-ups irão sucessivamente à falência. E por que isso seria diferente com uma pessoa?
Tudo caminhou de forma que hoje todos anseiam pela liberdade mas não se dão conta de que na realidade essa liberdade acaba sendo a liberdade de frequentar o shopping, de esolher o carro, de se deixar escolher por uma empresa e de escolher uma roupa nova a cada mês.
O máximo de liberdade que a gente (os não BM`s) consegue exercer é desligar a televisão, dizendo não a estas escolhas cretinas que nos colocam, travestidas de liberdade.
somir você tem que parar de jogar bioshock
Adorei o texto, Somir. De verdade. Excelente contraponto ao texto de ontem da Sally – embora não deixe de concordar com ela – e ainda expondo um ponto de vista que faz muito sentido e que eu mesmo ainda não havia cogitado… Também acho que o tal do “jenesequá” – que pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal muitas vezes pela mesma pessoa – é inato, ou seja, se alguém já não nasceu devidamente “equipada” com o seu “jenesequá” não adianta tentar fabricar ou comprar um para si.
Ah! E lembrei deste texto do Luís Fernando Veríssimo:
Jenesequá: Uma Parábola
O milionário era um self-made man. Tinha se feito a si mesmo, o que eximia seu pai e sua mãe de qualquer culpa. Possuía a maior cobertura com piscina da zona sul (do Brasil), carros do tamanho de iates e iates do tamanho de navios. A cada minuto do dia, ele ganhava o equivalente ao orçamento de um município dos médios. Entrava em qualquer banco do país pisando num tapete de subgerentes. Os filhos nas melhores escolas, a mulher nos melhores vestidos. Tudo o que o dinheiro podia comprar.
Mas Ihe faltava, lhe faltava… faltava… ele não sabia o quê.
Nas suas organizações trabalhava um jovem de família antiga e tradicional mas que, devido às voltas do destino e da economia de mercado, perdera todo o seu dinheiro. Dessas famílias que antes produziam aristocratas rurais e hoje produzem secretários de embaixadas e relações-públicas. Você conhece a história. O milionário mandou chamar Rudi – seu nome era Rudi – e expôs a sua angústia.
“Tenho tudo o que o dinheiro pode comprar”, disse o milionário, “mas me falta não sei o quê.”
Rudi cruzou as pernas, puxou o friso impecável das calças entre dois dedos manicurados e sentenciou:
“Já sei. Lhe falta je ne sais quoi.”
lSSO.
O milionário pulou da cadeira. Rudi acertara na mosca. Ainda de pé, o milionário gritou outra vez:
“Isso! É exatamente o que me falta. Jenesequá. Eu quero que você me ajude a consegui-lo. Pago qualquer preço pelo jenesequá.”
“Qualquer preço”, claro, era um exagero. O milionário não chegara onde estava pagando qualquer preço. Rudi ganhou um pequeno aumento. Foi transferido do Departamento de Relações Públicas para um cargo de assessor da Presidência e instalou-se num discreto escritório, ao alcance do chefe, que ele imediatamente decorou com alguns objetos pré-colombianos do melhor gosto. O escritório. Não o chefe.
Rudi passou a aconselhar o milionário na sua conduta social. O que dizer, como segurar a faca, onde ser visto e com quem e com que gravata. O objetivo do milionário, estabelecido com a mesma firmeza com que traçava os planos de produção da sua indústria e os horários de visita a sua amante, era claro. Em seis meses queria ser citado na coluna do Zózimo, como o maior jenesequá do Brasil.
Mas o trabalho de Rudi não era fácil. O milionário não aprendia. Rudi, por exemplo, o aconselhava a comparecer a determinado vernissage.
– Já sei. Chego lá e compro tudo.
– Não. Examine bem os quadros, escolha um de tamanho médio, nem muito caro, que pareça ostentação, nem muito barato, que pareça avareza, e compre sem estardalhaço. Comente depois que foi atraído pelo vigor contido no quadro, sua força hesitante, como o expressionismo embrionário do jovem Van Gogh.
– Vigor contido, força hesitante, expressionismo do jovem embrião.
– Do jovem Van Gogh.
– Deixa comigo.
Mas o milionário chegava à exposição, entusiasmava-se com o movimento, com as roupas, os nomes presentes – todos com jenesequá e comprava tudo sem olhar. No dia seguinte as crônicas sociais comentavam a incontrolável ânsia de aparecer de certas pessoas que, misericordiosamente, permaneciam anônimas.
Foi depois de um jantar na cobertura do milionário em que, confuso com as recomendações do seu consultor sobre que vinhos servir com quais pratos, o anfitrião botou garrafas de Côte du Rhône tinto, brancos de Graves e rosês da Provence em cima da mesa e anunciou “Cada um escolhe o seu veneno e quem quiser guaraná também tem”, que Rudi ameaçou desistir. Não era mais possível. Só concordou em continuar quando o milionário Ihe prometeu um substancial aumento de salário. E ficou combinado que dali em diante Rudi acompanharia o milionário em todas as ocasiões, para evitar vexame.
Passaram a ir juntos a toda parte. E, em pouco tempo, freqüentando ambientes e convivendo com pessoas que o seu salário anterior proibia, Rudi tornou-se uma figura conhecida e admirada nas altas rodas da cidade. Para os outros, Rudi não era apenas um bem-sucedido homem de negócios, como provava o seu óbvio status dentro das organizações do milionário grosso, aquele – como era mesmo o nome dele? – Era um homem fino, inteligente, civilizado. Bastava ver como ele contornava, com tato e bom humor, as incríveis gafes do seu patrão. Começou a ser citado com freqüência nas colunas sociais. Suas frases de espírito eram repetidas. O corte da sua lapela era imitado. Todos concordavam: Rudi estava perdendo o seu tempo como um subalterno. Era um executivo nato.
Não demorou muito para ser convidado a dirigir um grande consórcio de empresas com capital estrangeiro, depois de maravilhar os donos americanos com a sua pronúncia de inglês e seu conhecimento de bourbons. Sua vida então passou a ser um anúncio de Hiltons. Só na decoração do seu escritório gastou toda a verba de RP das suas empresas, e em seis meses estava na rua, com indenização suficiente apenas para pagar a conta do patê.
Je ne sais quoi não faltava a Rudi. Faltava, faltava… Faltava ele não sabia o quê.
Ótimo texto Somir!
Também acredito que no meio de tanta imbecilidade, a inteligência e a visão diferenciada do mundo acabam encontrando valorização em algum momento.
O Leôncio diria… Fudêncio!!!!
Na verdade a expressão é “je ne sais PAS quoi” …
Não resisto…
O “pas” faz parte da versão original, mas não é exatamente o caso da adaptada… “Je ne sais quoi” vem de “Un je ne sais quoi”, com “o que” como substantivo.
Mas é claro, o “pas” não é negligível em francês mais formal.
Vivendo e aprendendo, né Somir!? :) Essa eu nao sabia, mas é sempre bom aprender coisas novas.
Eu comentei justamente porque meu marido (francês) usa essa expressão muito frequentemente e eu aprendi assim. Da mesma maneira que o “ne” se escreve mas não se fala usualmente (somente no francês formal) mas eu insisto em pronuncia-lo porque é assim que aprendi no convivio com ele… mas enfim, francês é mesmo muito complexo!
Parabéns pelo texto! :)
corrigindo: *foi assim que aprendi… meu texto esta’ cheio de problema de acentuaçao e de concordancia verbal, mas me perdoe, a minha cabeça da tilt de idioma as vezes.
Francês não é lá tão complexo assim como todo mundo pensa!