Dés Potas: Liberou geral.
| Somir | Dés potas | 7 comentários em Dés Potas: Liberou geral.
Atenção: Dés Potas é uma coluna que compreende suas limitações, mas mesmo assim não se entrega sem lutar. Basicamente, sugerimos grande mudanças sociais implementadas de forma ditatorial com o único objetivo de resolver todos os problemas do mundo. Hoje quero explorar a ideia de um mundo com liberdade de expressão absolutamente irrestrita. Absolutamente mesmo.
Apesar de frequentemente usarmos termos como “patrulha de pensamento” para criticar essa mania de querer amordaçar quem não se conforma com o politicamente correto, não é como se o conceito fosse realmente estranho às leis que regem TODOS os países desse mundo. Planejar, divulgar ou glorificar crimes “práticos” é o suficiente para te colocar numa cadeia em basicamente qualquer canto do planeta. Claro que os específicos variam de lugar para lugar…
Agora, vamos ao decreto: Não existem crimes que não atentem diretamente contra integridade física ou ao patrimônio alheio. Pensar, falar, fotografar, filmar, distribuir ou qualquer outra forma de expressão humana SEM fins lucrativos (ha, este ditador pensa antes de ditar) está livre de qualquer sanção legal. Indefinidamente. Conceitos como honra e dignidade pessoal passam a ser de responsabilidade exclusiva individual.
Imagino que nos primeiros meses após algo desse nível for imposto ao povão, vai ser meio complicado evitar uma guerra civil mundial. Se não acontecer, vai ser apenas uma bagunça gigantesca. E mesmo que ela aconteça, caso não elimine a humanidade de vez e as tropas leais ao ditador mundial consigam manter o regime, o sol nascerá mais uma vez e começaremos a ver as benesses desse plano tão drástico.
Logo no começo, o mundo não entraria em colapso. Seres humanos são criaturas de hábitos e tendem a gostar mais da ideia de serem aceitos pelo grupo do que propriamente se expressar (vide todas as redes sociais). Existem vantagens para quem sabe jogar o jogo da hipocrisia social, e elas não se desfazem do dia para noite. Sacos continuarão a ser puxados e Lucianos Hucks da vida continuarão sendo admirados pelas massas bestificadas. A pose continua.
Mas não para sempre. Quando boa parte do povo entender que não existem repercussões legais para o que expressam, aí sim começa uma era caótica da comunicação humana. Para o bem e para o mal. Os preconceitos virão à tona numa velocidade impressionante. Pessoas serão atacadas e criticadas merecendo ou não. Boa parte da sujeira que fica debaixo do tapete nos dias de hoje vai poluir todo o ambiente.
Parece horrível, e por um tempo é para ser mesmo. Uma liberação absoluta da liberdade de expressão é uma espécie de intervenção/terapia de choque para toda a humanidade. Esse ponto crítico é justamente aquele onde finalmente se descobrirá o que realmente ofende e revolta as pessoas. Porque sem a oportunidade de enfiar um processo oportunista numa celebridade, sobra apenas o esforço necessário para se defender. Se ele vale a pena ou não… Uma relação de custo e benefício calcada em elementos subjetivos como honra, dignidade e senso de justiça.
E pior, sem ninguém para segurar sua mão no processo. Se o que uma pessoa expressou te incomoda, você vai ter que resolver. E vamos lembrar que os outros crimes continuam existindo. Ninguém pode te impedir de revidar uma piada com um tiro, mas com certeza isso aumenta suas chances de ver o sol nascendo quadrado por vários anos. A opinião de alguém vale isso? Talvez uma boa conversa, uma boa vingança (legal) ou uma boa retirada estratégica valha muito mais a pena no caso.
Seria realmente um momento problemático para charlatões, corruptos e todos os tipos de parasitas que dependem de mordaças legais para continuar sobrevivendo. O rei vai ficar nu. A questão que fica é se vamos ter muita gente percebendo isso… Provavelmente demora, mas a liberdade de dizer a verdade sem limitações arbitrárias de um sistema montado para beneficiar quem já é poderoso tende a criar uma pressão insustentável se pensarmos no longo prazo. Não adianta mais ter dinheiro e poder para transformar o pensamento alheio em crime.
Ok, mas nem tudo é festa. As minorias (inclusive as minorias “estatisticamente falsas” como as mulheres) vão apanhar bastante no começo. Todo grupo que puder ser atacado com sons e símbolos vai sofrer. Mas, até quando? As grandes evoluções sociais humanas não estão intimamente ligadas à protecionismo legal. Gente mais bem alimentada, mais bem estudada e mais bem de vida em geral tende a reduzir drasticamente o seu repertório ofensivo. Não é medo de lei, é uma compreensível diminuição no interesse por “cuidar da vida alheia”.
Quem realmente sobrar berrando impropérios preconceituosos contra minorias vai acabar sofrendo o mesmo processo de insignificância intelectual que entidades como a Ku Klux Klan e a Westboro Baptist Church já sofreram num país onde tem liberdade de expressão garantida como os EUA. Quem fala merda demais por tempo demais vira barulho de fundo num mundo cada vez mais instruído.
Não sendo crime, quem achar válido misturar sua identidade pessoal com essas opiniões raivosas que se esbalde! O mundo civilizado não vai pactuar com isso. Fale o que quiser, aceite as consequências. Não vai ser pelo crime de pensar, vai ser pela burrice demonstrada. Pune-se o que realmente deve ser punido. Opinião divergente constrói, ela sempre deve ser garantida… Assim como o direito de uma pessoa ou entidade não querer mais se misturar com quem não tem opiniões e visões do mundo suficientemente compatíveis.
Vai achando que é festa se dizer nazista num país como o Brasil, por exemplo, vai. Com o tempo, não vai ser uma lei que vai fazer um racista esconder o que pensa e agir de acordo, vai ser o bom e velho bom senso de saber o que está acontecendo no mundo ao seu redor. E mais importante, todo aquele clima de “mártir da verdade” vai perder seu valor. Se cidadão acha de verdade que eliminar um grupo específico de seres humanos vai resolver os problemas do mundo, não tem mais ninguém proibindo-o de falar.
O problema deixa de ser algo convenientemente impossível de vencer como a fúria do Estado e vira mera questão de convencer mais gente. E boa sorte com isso! Quando o maluco preconceituoso perde nos dias atuais, bota a culpa no sistema injusto com ele. Se ele pode falar, aí a falha é pessoal ou do argumento em si. Muita gente que nunca pensou direito no que acredita e prega veladamente vai se ver obrigada a encarar sua desilusão olho-no-olho. Pensar liberta.
Claro, temos toda a questão de calúnias, ofensas e injúrias desaparecendo do mapa. Qualquer um vai pode espalhar o que bem entender sobre qualquer um sem consequências legais… Vai gerar problemas para muita gente, mas num mundo onde tudo pode ser dito, vai começar a ficar cada vez menos relevante. A não ser que existam formas de comprovar ou reforçar as acusações, vale tanto quanto as outras bilhões de declarações raivosas e/ou humilhantes que surgirão concomitantemente.
Eventualmente, vai ser um saco ter que se preocupar com cada uma delas. Meio o que já acontece com essa onda de exposição em situações íntimas na internet: Choca cada vez menos, parece armação por fama cada vez mais. Podemos vencer o trio “crime verbal” simplesmente saturando o mercado de interesse na vida alheia. E ainda vale toda aquela coisa de responsabilidade pessoal: Do outro lado da ofensa/acusação tem uma pessoa que pode dizer absolutamente tudo o que quiser. Vale a pena?
E sim, eu também sei que conteúdos terríveis ganharão muito mais visibilidade. Mas vamos lembrar: Divulgar não é crime, mas produzir ainda vai ser (mesmo que ato de tirar a foto ou vídeo não seja, o crime real ocorre e é ele que vai ser punido). E mesmo quem tentar vender conteúdo que não produziu ainda vai ficar barrado pela regra de não ter fins lucrativos. Eu até tenho uma teoria bem impopular para tratar pedófilos que funcionaria bem neste modelo de liberdade de expressão irrestrita: Virtualização. Que explorem versões em bits e bytes ao invés de pessoas reais.
Convenhamos que castração (mesmo que química) só funciona com quem se sente muito mal com sua parafilia ou com quem já não tem outra escolha. Mantê-los distraídos e isolados em universos virtuais pode reduzir o ímpeto de praticar e ainda gira a economia (inferno, aqui vou eu)! Mesmo que você tenha uma compreensível raiva do tipo, o modelo atual não funciona bem o suficiente. Esta ditadura se preocupa com resultados…
E isso vale para inúmeros outros tipos de impulsos antissociais e desvios psicológicos que colocam pessoas de carne e osso em risco: Tanta gente joga a vida fora lutando com monstro virtual em jogos… o ímpeto humano de fuga da realidade é uma ferramenta explorável. Enquanto existirem travas e mais travas sobre o que uma pessoa pode explorar “na sua mente”, não conseguiremos descobrir quantos desses desajustados podemos confinar em simulações e dramatizações (só é crime se for verdade) de seus desejos e fantasias.
O Estado financia o projeto, e em troca consegue um cadastro completo sobre essas pessoas. Quem criar uma conta no “Tortura Covarde Online” ganha de brinde uma entrada no sistema da polícia. Novamente: O sistema atual não resolve bem essas questões. O número de estupros está subindo de forma assustadora nos últimos tempos (e sim, eu sei que é mais por causa de gente tendo coragem de denunciar, mas o número é absurdo de qualquer jeito)!
Resumindo: Liberdade de expressão irrestrita não só força as pessoas a lidar tanto com o que falam e ouvem como também permite um lento e necessário amadurecimento do adulto médio nessa era digital. Com o bônus de permitir tratamentos realmente inovadores para vários dos elementos problemáticos da sociedade.
Não tem como dar errado. Quer dizer, a não ser por uma guerra civil mundial fora de controle… Mas não se faz uma omelete sem quebrar alguns ovos, não?
Bullyin é útil. Quando eu era criança os meus próprios pais me diziam pra eu devolver de igual pros colegas. Agora que ta proibido ficam os mimadinhos querendo processar todo mundo. Tudoviadynhu que não aguenta critica nem piada.
Seria bom que existisse ao menos 1 dia no ano que isso pudesse ser possível.
Somir já tem meu voto garantido !!!
ADORO Des-potas. Minha coluna favorita do Desfavor. Pena que é só uma vez por ano… =D
Eu gostei bastante do texto, mas não entendi como entraríamos em uma gerra civil mundial. Uma vez que, pelo o que eu entendi, o estado não garantiria mais direito como honra, mais ainda garantiria direitos como integridade física.
Mas se todo mundo começasse a lutar ao mesmo tempo…
Gostei dessa proposta de bullying generalizado. Os sobreviventes certamente farão um mundo melhor. Os que não sobreviverem não farão falta.
A parte de deixar as pessoas de cabeça podre se realizarem no mundo virtual já foi explorada no filme O vingador do futuro. Aquele maluco/visionário da Virgin que vai levar pessoas ao espaço já deve estar testando algum tipo de protótipo pra isso.
Teve também aquele filme (ruim) “Gamer”, que mostrava esse tipo de coisa.
Achei a ideia a respeito da pedofilia sensacional!
A hipocrisia em aceitar que o ser humano, não todos é claro, mas muitos, são depravados, masoquistas, psicóticos entre outras coisinhas, é o que piora a situação, até porque a maioria esconde esses “desejos secretos”; Mas se as pessoas que tratam sobre esse assunto, assumissem que isso existe inevitavelmente e não há como… digamos… “curar” quem é assim definitivamente, ou pelo menos não imediatamente, e nem descobrir quem tem essa mentalidade antes dele/dela manifestar em algo/alguem, talvez fosse possível evitar a pessoa de prejudicar alguém e mesmo assim se revelar ao mundo, ou seja, fazendo mais ou menos algo como isso, dando a pessoa essa experiencia que ela quer, mesmo que virtual, e assim como disse o Somir, de quebra descobrimos quais são os “desejos secretos” de cada um desses maniacos de “cabeça podre”que tem soltos por ai. E não digo isso só sobre assassinos, estupradores, e esses crimes mais pesados, digo sobre todos os tipos de comportamentos violentos e ou criminosos, inclusive tem um tipo de realização virtual que já existe e está aos montes por ai, são os chamados “Haters”, que não teriam coragem de xingar, ameaçar ou bater em alguém pessoalmente, mas em comentários afora pela internet, xingam e ameaçam mais que um lutador de briga de rua, mas na vida real são mais pacatos que um gatinho. Não que xingar seja crime inafiançável, mas também não é digamos… bonito, principalmente se for por algo sem importancia alguma! Na verdade foi só um exemplo, pois tem gente que adora ser hater e fica satisfeito por pelo menos poder xingar alguém sem o risco de ter que sair correndo ou apanhar.