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Desfavor da semana: Mais desfavores.

| Desfavor | | 34 comentários em Desfavor da semana: Mais desfavores.

ds-maismedicos

São tantas as notícias ao redor desse caso que vamos colocar só os links:

“Parecem empregadas domésticas”. FONTE

Hostilizados, mas pagando bem… FONTE

Trabalho escravo. FONTE

Espanhola achando que vai aprender. FONTE

Novela, Alexandre Pires e Michel Teló. FONTE

Síndrome de Havana. FONTE

Mais médicos, mais um desfavor da semana.

SOMIR

No Brasil a gente sempre espera alguma combinação embaraçosa de despreparo do poder público e reação popular hipócrita, mas a forma como as coisas escalam para uma surrealidade tragicômica de folhetim televisivo nunca nos deixa sem algum grau de surpresa (negativa). A cada capítulo, faz menos sentido, mas mesmo assim os ânimos continuam esquentando. Até, é claro, começar a próxima novela.

Dessa vez o governo de “Dilmão Rumo à Reeleição” aproveitou um momento de clamor popular para levar adiante um projeto no mínimo polêmico sobre a contratação de médicos estrangeiros para completar os deficientes quadros da saúde pública nacional. E como quase tudo o que é calcado no oportunismo, faltou planejamento: O país recebeu uma dose de uma droga experimental vendida como solução comprovada e está torcendo, apenas torcendo… que os efeitos colaterais não sejam tantos assim.

Não sou muito fã dessa coisa de fazer qualquer coisa só para dizer que se está fazendo alguma coisa, mas é inocência acreditar que há muito espaço para pioras no atendimento do segurado público no que tange a saúde pública tupiniquim. O povão saiu às ruas há alguns meses pedindo ALGUMA solução, o governo fez justamente isso: Faltavam médicos, os locais não pareciam dispostos a se embrenhar por áreas mais abandonadas desse continental e desigual país… Trazer médicos estrangeiros pode não ser uma solução ideal, mas é com certeza alguma solução.

Brasileiro se amarra em reclamar de como seu país está na merda, mas detesta quando tem que sentir o cheiro. Uma espécie de orgulho nacional bizarro extremamente dependente da ilusão de grandeza potencial: Pode estar tudo errado, mas isso aqui é o país do futuro (há uns cinco séculos) e o status de grande potência está ali na esquina, só esperando para ser alcançado. Serem lembrados de que a situação está periclitante por incompetência própria sempre gera reações raivosas.

Entre não fazer porra nenhuma e trazer médicos estrangeiros, por mais desastrado que seja o processo, empregar os gringos parece o melhor das opções. O médico que não fala português e foi treinado em condições ainda mais limitadas que as dos nossos privilegiados que conseguem vagas nas faculdades de medicina ainda sim é melhor do que o que simplesmente não está lá (ou os que só batem ponto e voltam para suas clínicas particulares e/ou gabinetes políticos).

Dure isso o quanto durar. Porque está ficando claro que os estrangeiros vieram para cá sob falsas premissas. Tudo bem que estão vindo para cá os mais desesperados dos países livres e os que a ditadura cubana pode entregar, mas novamente, o processo todo foi planejado e executado em condições emergenciais… Muitos vão perceber aonde estão se enfiando e pular fora. Se nesse meio tempo derem conta de tratar os problemas de saúde mais simples, frutos diretos do subdesenvolvimento de um país escrotamente desigual, já terão feito muita coisa.

Esses estrangeiros não estão vindo para cá fazer cirurgias complexas em ricos e famosos, estão aqui para tratar doenças e acidentes típicos de áreas abandonadas pelos serviços públicos básicos. Enfermeiros bem treinados já dariam conta de boa parte desse trabalho se eles ao menos estivessem lá! A vida real não é um episódio de House, onde sempre é uma doença com nome quilométrico e apenas meia dúzia de casos confirmados. Não estamos lidando com uma epidemia de ebola, e sim com milhões de pessoas sem NINGUÉM para ver quando tem um problema de saúde banal e facilmente tratável.

A classe médica brasileira, assim como a classe médica de tantos outros países desse mundo, é elitista. O agravante por aqui é a falta de qualidade do ensino público que pende a balança em favor dos que nasceram no berço certo na hora de disputar as concorridíssimas vagas nos cursos de medicina. É uma gente que com raras exceções não tem nem trato social básico para lidar com a parcela mais carente e marginalizada da população. Ridículo que médicos que se RECUSAM a trabalhar nos locais onde os estrangeiros serão alocados façam tanto drama assim.

Soberba de quem acha que pode resolver qualquer problema apenas por existir. Identidade nacional do país do (eterno) futuro. Se fosse esse remotamente o caso aqui, não teríamos casos REPETIDOS de gente tomando sopa por via intravenosa. Os médicos não estão lá. Os pacientes se aglomeram desesperados em filas! Isso é hora de abaixar a cabeça, reconhecer o sistema falido e começar a trabalhar para resolver.

Tinha solução MELHOR que trazer refugos e refugiados? Claro. Iam fazer? Olhe ao seu redor e seja sincero. Esse arroubo de xenofobia não só é maluquice como macaquice. E olha que eu comemorei quando o Hugo Chávez foi se tratar em Cuba…

Para dizer que estudou oito anos para fazer o seu diagnóstico, para reclamar que eu sacaneei pouco os médicos cubanos, ou mesmo para falar que em país onde Unimed é um passo acima da saúde pública não tem solução mesmo: somir@desfavor.com

SALLY

O brasileiro médio está faniquitando porque estão trazendo médicos de fora. A classe médica também. Confesso que por não ser médica não me sinto no direito de emitir uma opinião definitiva sobre o assunto, pois muitos detalhes só vê quem está do lado de dentro, quem conhece a profissão. Se algum médico quiser me ajudar a ver um novo ponto de vista nos comentários, estou aberta ao debate. Por hora, até onde minha visão de leiga alcança, penso da seguinte forma: é contra? Beleza, veste um jaleco e vai morar em Moçoró do Cu do Mundo e atender pacientes lá, porque pessoas estão morrendo HOJE por falta de médico. Não quer morar em Moçoró do Cu do Mundo? Então cala a boca.

O grande desfavor da questão, a meu ver, é justamente o menos aparente e menos discutido: existem lugares TÃO MERDAS, MAS TÃO MERDAS que nem por DEZ MIL REAIS POR MÊS uma única pessoa em todo um país de proporções continentais se dispõe a ir para lá. Quão merda tem que ser um lugar para que uma pessoa desempregada ou mal empregada (sim, existem médicos desempregados) recusem dez mil reais por mês? Muito merda. Não custa lembrar que uma das cidades que está hospedando médicos de fora é Salvador… hahaha. Gente, é muito grave isso! Pessoas desempregadas, endividadas, recusando dez mil por mês. Eu conheço gente que preferiu perder o emprego do que ter que se mudar para esses lugares. Que país de bosta, repleto de lugares de bosta! Que vergonha internacional que existam lugares tão horrendos que façam um desempregado preferir o endividamento do que se mudar para lá ganhando dez mil!

Mas enfim, esse não parece ser o foco central da polêmica, apesar de eu ainda achar que é sobre isso que devemos refletir. Falemos então do foco central: brasileiro médio hostilizando os médicos que chegaram. Não concorda com a contratação? (veste um jaleco e vai morar em Salvador, filho da puta!), quer hostilizar alguém? Que tal hostilizar o culpado, o Governo que os contratou? Precisa ir hostilizar os coitados dos médicos que estão ali na (falsa) esperança de uma vida melhor e vieram para o Brasil enganados por uma imagem que viram em novelas? Depois querem continuar sustentando a farsa de que este é um povo cordial, hospitaleiro. Mermão, não estão roubando o emprego de ninguém não! Os infelizes estão vindo convocados, convidados, para onde NENHUM MÉDICO DE TODO O BRASIL topou ir, e ainda por cima estão ganhando menos por isso, já que parte do valor vai para o governo cubano, o que por sinal, é mais um desfavor. Aliás, só para constar, em Salvador, os médicos estrangeiros estão em hotéis e os cubanos em um alojamento militar, do qual não podem sair.

Não contentes em hostilizar, ainda tem o preconceito. Uma jornalista do FUCKIN’ RIO GRANDE DO NORTE perguntando se eram médicas mesmo, dizendo que as cubanas tinham cara de “empregadas domésticas” e que “coitada da nossa população”, pois mereciam “médicos com cara de médicos”. Nome e sobrenome: Micheline Borges, porque gente assim tem que ter nome e sobrenome divulgado. Primeira questão: uma pessoa do RIO GRANDE DO NORTE falando sobre layout de alguém. Talvez ela, em sua arrogância não perceba que, mesmo sendo algo socialmente abominável, provavelmente muita gente diria o mesmo sobre a aparência dela do Espírito Santo para baixo. Segunda questão: aparência serve de que para um médico? Mede competência? Não tem o que fazer além de ficar controlando a aparência alheia? E, só para induzir a uma reflexão, o que aconteceria se algum estrangeiro recebesse brasileiros que foram CONVIDADOS a trabalhar no seu país dizendo que brasileira tem “cara de empregada doméstica” e coisas do tipo? Os brasileiros iriam fazer um ES-CÂN-DA-LO. Povo que bate quando quer, mas chora quando recebe um peteleco, muito nojo do brasileiro médio!

Essa contratação está um show de horrores: médicos proibidos de deixar seus alojamentos (contrataram médicos ou escravos?), a brasileirada média “achando” um monte de merda, os coitados dos médicos vindo ENGANADOS. Alguém já viu a propaganda enganosa ilustrando o Brasil de uma forma convidativa que foi feita para trazer essa gente? As pessoas acham que estão vindo aqui para APRENDER, tipo um aperfeiçoamento, um plus na graduação. Não sabem que vão ser jogadas na puta que pariu em hospitais que muitas vezes nem gaze tem.

O que dizer do tratamento discriminatório “a nível” governamental destinado aos médicos cubanos, quando comparado ao resto dos médicos? Tudo isso coroado pela declaração do Ministro Gilberto Carvalho dizendo que acha justo que o governo cubano fique com parte do pagamento desses médicos! Ao que tudo indica, os médicos cubanos receberão apenas 25% do valor de dez mil reais e o resto vai para o governo de Cuba. ONDE ISSO É JUSTO? Se fosse um país com governo de direita, estariam chamando-os de exploradores capitalistas! Mas não, quem está no poder são os Camaradas. Taí o Brasil achando lindo e contribuindo para essa exploração. Só eu estou com as bochechas queimando de vergonha? Na hora de dizer que Cuba é exemplo porque todos tem bom ensino todo mundo bate no peito, na hora de falar sobre a conta que se cobra disso ninguém diz nada.

Eu sei que a solução ideal seria que todos os hospitais e que todas as cidades do Brasil fossem habitáveis e que médicos, ao menos UM no meio de toda uma população, topassem se mudar para os locais que precisam. Eu sei que o ideal seria que cada cidade pudesse formar e qualificar seus próprios médicos também. Mas o Brasileiro Médio parece não saber. Ele trata a falta de médicos como uma fatalidade, como uma coisa que simplesmente aconteceu, brotou, como se não fosse responsabilidade de ninguém, como se os médicos tivessem todos morrido em um grave acidente. Porque merdas não começam a olhar para o passado e tentam descobrir de onde veio esse buraco de falta de médicos? Porque não hostilizam os verdadeiros responsáveis pela coisa ter chegado onde chegou? Porque podem anotar aí, do jeito que os profissionais de diversas áreas estão desprestigiados e mal pagos, não vai demorar para terem que importar outros profissionais do exterior.

E, puta que me pariu, vamos parar de tratar a questão (seja contra, seja a favor) com uma ótica EXCLUSIVAMENTE política? ESQUEÇAM O PT, POR CARIDADE, EU PEÇO: ESQUEÇAM O PT. As pessoas não param de falar do PT, seja para defender, seja para atacar. EU NÃO AGUENTO MAIS OUVIR FALAR DO PT. Não gosta do PT? Eu também não gosto. Não vote mais neles nem nos aliados (Vote Pilha, é o que vai sobrar), mas parem de fazer do PT o argumento para tudo! A realidade atual é: tem gente morrendo por falta de médico em muitas cidades brasileiras e estas cidades são tão horrendas e inabitáveis que desempregado se recusa a ir para lá mesmo recebendo dez mil reais por mês, esqueçam política por um segundo, o que vamos fazer a esse respeito? Diante desta realidade, crua e urgente, o que vocês sugerem? Obrigar pessoas a ir para onde não querem? Campos de concentração médicos? Implodir as cidades? Quem critica, poderia me dar uma solução para AMANHÃ? (vestir um jaleco e ir trabalhar no Hospital da Bahia seria uma bela prova de coragem, este local quase me matou uma vez, na outra foi o Aliança, parabéns aos hospitais de Salvador!).

Quem vai sofrer, como sempre, é o povo. Porque por mais que eu admita que esta solução é uma merda necessária, ela está longe de ser a ideal. Médicos muitas vezes sem a necessária qualificação ou familiarização com aparelhos modernos (sem bem que dificilmente tenha algo moderno em hospital público), médicos que nem português falam (conversar com o paciente é para os fracos, os fortes fazem diagnóstico apenas com exame e foda-se o paciente) e um gasto enorme trazendo profissionais de fora, além do atestado de incompetência de precisar fazê-lo são uma pequena amostra dos contras da empreitada. Parabéns a todos os envolvidos, que passaram décadas sucateando a saúde pública, desviando verba, desprestigiando o profissional de medicina e cagando na cabeça do povo. Taí o que vocês conseguiram. E muitos dos “pais” desse filho feio estão vindo a público para criticar a contratação de médicos estrangeiros!

Espero que em algum momento as pessoas acordem e comecem a discutir o que realmente tem que ser discutido nessa história: o que foi que aconteceu para chegarmos a esse ponto de precisar contratar médicos do exterior. Após identificar o que aconteceu tem que tentar corrigir os erros, inclusive em outras carreiras, para tentar impedir uma importação de profissionais de outras áreas. Que porra de país é esse que precisa importar médico mas tem dinheiro e infraestrutura para sediar Copa do Mundo e Olimpíada? Será que ninguém percebe a contradição, a discrepância, a inversão de valores?

Será que ninguém se revolta com tudo isso a ponto de achar que uma lixeira quebrada é MERDA, é detalhe irrelevante, perto do que estão fazendo com o país? Se tiver que quebrar um milhão de lixeiras, um milhão de agências do Itaú, para tirar os responsáveis por essa merda toda do poder, que assim seja. Porque SIM, manifestação com “vandalismo” enfraquece os que estão no poder, lamento informar. Continuem com pena do Itaú enquanto gente que realmente precisa da sua pena está de mal a pior e sendo ignorada, porque a sua revolta vai toda para quem quebrou uma lixeira. Vandalismo? O governo começou.

Nada pode ser pior do que o que está acontecendo neste momento no país, qualquer coisa é válida para tirar o poder destas pessoas. Sim, quebrar banco funciona, porque o banco pressiona para que o filho da puta que está no poder saia por causa do prejuízo que toma semanalmente. O que esses delinquentes fizeram com o país ultrapassou a corrupção, o descaso, a vergonha. É deboche mesmo. Se fosse possível tirá-los do poder pacificamente, eu também condenaria depredação, mas não é. Continuem com pena do Itaú, que eu continuo querendo ver o circo pegar fogo. Melhor isso do que essa carnificina silenciosa que fazem com a prestação de serviços públicos.

Para sentir vergonha de ser brasileiro, para sentir vergonha de defender o Itaú ou ainda para não saber se tem mais pena dos médicos brasileiros ou dos médicos estrangeiros que estão vindo enganados: sally@desfavor.com


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