Skip to main content

Plantão Vinagre: Sergio Cabral.

| Sally | | 99 comentários em Plantão Vinagre: Sergio Cabral.

planto-vinagre-06

Ao contrário da maior parte das cidades do país, Rio de Janeiro ainda continua sendo palco de sucessivos protestos. Ontem aconteceu mais um, na porta da casa do Governador Sergio Cabral. Não teve grandes novidades, mas a inverdade das informações passadas pela imprensa me obrigaram escrever este texto. Acho revoltante demais deixar passar o que eles estão dizendo como única versão dos fatos.

Algo que todo carioca sabe: nosso amiguinho Serginho Nariz de Talco Cabral está no limite. Dopadão full time, e não apenas pelo pó e álcool de costume. Ele anda tão dopado que mais parece o Bernie do filme “Um morto muito louco”, as pessoas praticamente o carregam e levantam seu bracinho para que ele acene. Por conta dessa situação psiquiátrica tensa, Serginho vem desobedecendo os aconselhamentos de sua assessoria e continua reprimindo de forma agressiva qualquer manifestação no entorno de onde ele estiver. Todo mundo já percebeu que isso só faz com que manifestantes voltem, e voltem, e voltem. Menos ele. E tenta camuflar seu descompensamento emocional tentando vender uma imagem de manifestantes como “baderneiros”, “arruaceiros” e “saqueadores”. Pena que quem estava lá tem voz para contar sua história graças à internet, né Cabral?

Ontem não foi diferente. Um grupo de aproximadamente duas mil pessoas se reuniu pacificamente nas proximidades do prédio de Sergio Cabral, como vem fazendo nas últimas semanas. Pacificamente MESMO, a ponto de sentarem no chão e oferecerem comida e suquinho para os policiais. Ao contrário do que vai ser noticiado hoje, não houve nenhuma tentativa de vandalismo, agressão e muito menos manifestante pixando carros ou incendiando lixeiras. Houve o de sempre: Sergio Cabral, chorando em posição fetal, dando faniquito para tirar aquelas pessoas dali imediatamente, de qualquer jeito. O resto vocês já imaginam: mais de 20 bombas de gás lacrimogêneo jogadas em pessoas que estavam SENTADAS oferecendo lanche aos policiais, porrada e muita confusão. Daí para frente sim houveram agressões mútuas. Também… depois de uma covardia dessas, você não retribuiria a gentileza?

Observem o seguinte detalhe, que certamente o brasileiro médio não vai ter QI para detectar: na hora da confusão, na hora em que o pau comeu, “faltou luz” exatamente naquele ponto da rua. Ninguém explicou como, ninguém explicou porque. Mas a gente explica: por ordem do Sergio Alcoólatra Cabral, as luzes são desligadas, para que a polícia possa fazer as atrocidades que quiser e principalmente para que a polícia possa acusar os manifestantes de “vandalismo”, de ter começado a agressão, sem que ninguém tenha como filmar ou provar nada, já que a rua estava escura. Dito e feito: muita gente espancada, muita gente machucada e o que vai sair na imprensa é que manifestantes estavam ateando fogo em lixeiras e pixando carros. Atentem que eu estou escrevendo este texto antes das notícias saírem na imprensa, na quarta-feira à noite. E podem contar, o que vai sair é isso.

O que de fato ocorreu e vem ocorrendo: quando vem a ordem de cima para dispersar as pessoas a qualquer preço, a porrada come sem motivo algum. Os manifestantes, que estavam pacificamente parados, são pegos de surpresa, muitos se machucam seriamente por não antever a agressão ou a bomba chegando. Ao serem atacados desta forma, eles correm desesperadamente, segundo seus instintos: alguns para fugir, outros para se defender. Quem corre para fugir vai em direção a lojas, prédios ou locais que possa se abrigar. A polícia vai atrás, soltando bomba, dando tiro. Fatalmente alguma dessas bombas acaba escaralhando a porta de algum comércio e as pessoas, por instinto, correm para se abrigar ali.

Hoje, quando a baixaria começou, o comércio já estava fechado. Convenhamos que uma pessoa dificilmente teria força para romper uma porta de metal que protege o estabelecimento com suas próprias mãos. A polícia, em sua caça desenfreada pelos manifestantes, na clara intenção de machuca-los é que caga e anda para a propriedade privada e termina por detonar prédios, lojas e até shoppings. No que abre uma brecha, o povo entra para se esconder no desespero. Muitos são acuados e acabam fugindo, pois não é inteligente se entocar quando te perseguem com armas e bombas. Façam a matemática: uma loja ou um banco com as portas arrombadas, vazia (porque os policiais saíram correndo atrás dos manifestantes quando eles saíram da loja). Não vai ter quem tire proveito?

Obviamente que vai entrar gente para saquear. Normal. Brasileiro médio é isso aí mesmo. Só que o saque vai para a conta dos manifestantes. Quem já foi a manifestação no Rio de Janeiro sabe que no frigir dos ovos não tem tempo hábil para fazer um saque quando se está fugindo da polícia carioca. A pessoa corre pela sua vida e se der mole vai sair muito machucada. Os saques acontecem por causa da imbecilidade e despreparo da polícia, que acaba danificando portas e vitrines, virando as costas e indo embora. Aparecem oportunistas, mas nem sempre são manifestantes. Até porque, se fossem, seriam acuados e espancados dentro da loja. Improvável que alguém consiga correr com uma TV nas costas. Improvável que no meio de bomba e tiro alguém tenha a preocupação de quebrar uma agência do Itaú. As pessoas correm pela própria vida, os estragos normalmente vem da PM.

Mas, no dia seguinte, a TV mostra a agência do Itaú toda quebrada na capa do jornal, e o brasileiro médio engole. Aquele clássico de permear mentiras com verdades para gerar uma presunção falsa: “Disseram que a agência do banco foi quebrada e disseram que foram os manifestantes – realmente a foto indica que a agência do banco foi quebrada, logo, eles estão falando a verdade, logo, devem ter sido os manifestantes”. Só que não. Talvez um idosinho aqui, uma analfa ali, talvez alguns acreditem, mas por sorte a maior parte da população carioca está puta da vida demais para isso. Puta ao ponto de achar muito bem feito SE um manifestante fez algum saque. Então, quando você ler “Loja da Toulon é destruída por manifestantes”, pense se não eram pessoas tentando se esconder ou se não era gente que nada tinha a ver com manifestação, que apenas viu uma loja arrombada sem ninguém por perto. E cá entre nós, já se perguntaram que polícia é essa que bota para correr um milhão de pessoas no centro da cidade mas não consegue impedir que vinte façam um saque numa loja? Reflitam.

Sobre depredação, como eu disse antes, cada qual reage de uma forma a ataques físicos, que muitas vezes colocam em risco até mesmo suas vidas. Tem sim quem arranque lixeira para usar como escudo, quem pegue pedra do chão e atire na polícia em resposta às bombas e balas que recebem. Tem gente acuada que não fez nada e só quer sair dali, mas percebe que não tem qualquer chance da polícia deixar, e pega objetos para tentar abrir caminho, se defender ou até mesmo intimidar os policiais. Eu não hesitaria em pegar uma lixeira, tacar fogo e coloca-la como uma barreira que dificulte meu agressor chegar até mim. Na hora em que minha vida está sendo ameaçada, eu arrancaria qualquer coisa de qualquer lugar, porque diante do risco de vida, cago baldes para o patrimônio público. Até que ponto é depredação? No meu Código Penal, isso se chama Legítima Defesa.

Outra coisa que merece uma observação: “grupo mascarado”. Já vi PM a paisana usando aquela máscara “V de Vingança”, alias, tem estoque delas em batalhões de polícia do Rio PORQUE, alguém saberia me explicar? Já vi puta usando essa máscara no meio da rua. Já vi bandido usando. Já vi manifestante usando e fazendo mau uso sim, mas nem sempre necessariamente quem está mascarado é manifestante. E nem sempre quando a imprensa conta que algo foi ato praticado por mascarados de fato foi praticado por mascarados. Cuidado com esse papo de máscaras, é um artifício útil para vilanizar manifestantes. Quem está mascarado pode ser qualquer um, inclusive policiais a paisana tentando minar a credibilidade do movimento popular.

Mais uma vez repito: ainda que você não acredite em uma palavra do que eu digo, ainda que tudo seja ato única e exclusivamente de manifestantes (e não é!), eu acharia compreensível. Eu também faria se estivesse sentada e começassem a me jogar bombas e me bater sem eu ter feito nada. E provavelmente você também. Nada como se colocar no lugar dos outros. Eu incendiaria, eu bateria, eu quebraria. Se não tem lei que impeça policiais de me trucidarem de forma covarde, também não pode ter lei que me impeça de revidar como eu quiser. A suposta arruaça pode ser apenas Legítima Defesa, tudo depende como se conte a história. Se é para falar em arruaça, vamos falar de quem começa com ela? A polícia.

Sabe o que eu acho bacana? Os repórteres da Globo moram quase todos por ali e ao cobrirem os acontecimentos, não escondem a revolta pessoal egoística, numa vibe “um absurdo fazerem isso no MEU bairro”. Quando narram depredação em Senador Camará não esboçam qualquer revolta. Bairristas escrotinhos que nunca tem coragem de se posicionar em seu trabalho, se portam como crianças mimadas quando de alguma forma a revolta popular os atinge. Tenham vergonha na cara, se não a próxima cada alvo de manifestantes pode ser a de vocês!

Você pode estar se perguntando porque o carioca chegou ao ponto de tolerar saques e violência. Só quem vive no Rio sabe a quantidade de desaforo que se engole por semana. Não faz muitos dias, por exemplo, se descobriu que Cabral vai trabalhar de helicóptero. Ele é conduzido de carro, por seu motorista, até o heliponto da Lagoa e de lá pega um helicóptero até o Palácio Guanabara, em Laranjeiras. Se você não conhece o Rio, é um trajeto que leva não mais do que dez minutos de carro (me refiro à distância, não estou contando com o trânsito). Mas Cabral gasta uma fortuna para fazer o trajeto de helicóptero. E não é um helicóptero qualquer, é um helicóptero que, originalmente, estaria destinado a levar, em vez de um filho da puta, ÓRGÃOS PARA SEREM TRANSPLANTADOS. Mas Cabral se sente no direito de indisponibilizar esse helicóptero para não fazer um trajeto de dez minutos de carro. Diante desta realidade, não creio que exista alguma moral para criticar uma lixeira quebrada, uma pedrada em policial para se defender. Diante dessa realidade, o carioca acha menos pior uma depredação do que o Sergio Cabral.

Para quem não sabe, o Rio está um caos ainda maior do que o normal: metade da cidade em obras, trânsito caótico, a fraude das UPPs caindo por terra com muito tiro, violência e corrupção em comunidade supostamente pacificadas e um custo de vida exorbitante, que está obrigando metade da população da Zona Sul (lado rico da cidade) a se mudar para a Zona Norte (lado menos rico) ou para a Zona Oeste (lado brega da cidade). Os hospitais públicos literalmente não tem nem gaze, ao menos esta frase foi dita esta semana em dois dos maiores hospitais cariocas. O ensino continua vergonhoso, formando analfabetos em um esquema de aprovação automática conjugado com punição financeira para professores e escolas públicas que reprovarem alunos. E o aluguel mais caro do que em Paris. Praias poluídas, Lagoa Rodrigo de Freitas poluída, Aeroporto do Galeão todo quebrado, mais de 400 estupros por mês, inclusive em bairros nobres e o metrô mais caro do mundo abarrotado a ponto de homens ejacularem nas pernas de mulheres. Essa é a realidade do carioca, que as novelas da Globo não contam. Mostrar gente quebrando tudo fora de contexto é fácil, quero ver sentar e contar toda a história que levou a pessoa até aquele ato extremo.

Loja quebrada no Leblon de Manoel Carlos ou na Ipanema de Tom Jobim dá manchete de jornal, mas loja quebrada no subúrbio, barraco de morador invadido aos chutes ou policial estuprando menina na favela, nada disso vai para o jornal. Pancadaria em bairro chique do Rio, isso deve estar incomodando. Não foi a quitanda do Zé Ruela que teve sua porta quebrada, foi o Lidador, com seus caros queijos e vinhos. Vamos ver como reage a suposta elite carioca quando o quebra-quebra e o vandalismo ocorre na porta das suas casas e não nos morros e nos bairros pobres como de costume. Porque quando ocorre em bairro pobre e em favela, esta mesma elite carioca se posiciona de determinada forma. Vamos ver se são coerentes. Certamente não.

Para quem não sabe, semana que vem chega o Papa ao Rio de Janeiro. Já está agendada uma grande manifestação para segunda-feira, dia 22, em frente ao Palácio Guanabara (local de trabalho do Sergio Cabral), onde Serginho Aspirador de Pó e Dilmão vão receber Chicão. Acho justo. Um Estado supostamente Laico que gasta mais de 180 milhões dos cofres públicos para financiar a vinda de um líder religioso quando não há escola nem hospital para a população tem que ouvir uma resposta disso nas ruas. Mais: a porrada não vai poder estancar na frente do Papa, ao menos não desse Papa, a menos que queiram causar um incidente internacional.

O lado bom disso tudo é que os excessos da polícia carioca são tantos e tão grotescos, que já chamaram a atenção do resto do mundo. A Anistia Internacional mandou um recadinho para Cabral, que ele inicialmente negou ter recebido, mas depois teve que dar o braço a torcer: não estavam gostando do que estavam vendo. As atrocidades continuaram e a Anistia Internacional ficou puta por ter sido ignorada e resolveu infiltrar gente deles no meio dos manifestantes. Se eu sei disso, Sergio Cabral também deve saber, não creio que eu seja mais bem informada do que ele. Ainda assim, ele insiste na distribuição gratuita de balas para a população. Aguardem. Aguardem e peguem um saco de pipoca. Algo grande e lindo está prestes a acontecer. O Ministério Público também decidiu que vai acompanhar o trabalho da polícia de perto, e se bem conheço, não demora até a Defensoria Pública se fazer presente também, se é que já não está.

E Cabral continua ordenando truculência e repressão, mesmo sabendo que está sendo acompanhado de perto, inclusive por organizações internacionais. Não creio que isso acabe bem. O saldo até o momento é uma candidatura à Presidência da República (ou Vice) que até poucos meses era dada como certa indo ralo abaixo, mas acho que vem pior. Já sentindo a cabecinha da trolha entrar, na tentativa de apagar o incêndio e acalmar a Anistia Internacional, Cabral disse que os policiais vão receber um treinamento específico para lidar melhor com manifestações, bombas e cia, mas o que ele não conta são as ordens que dá aos berros ao telefone mandando tirar todo mundo “de qualquer jeito, nem que tenha que matar esses filhos da puta, é para passar por cima mesmo!”.

Não tem treinamento que seja útil quando as pessoas recebem esse tipo de ordem. Cabral deveria ter cuidado, é muito fácil colocar uma escuta, deixar um gravador ligado dentro de um cômodo ou até mesmo, quem sabe, ligar o gravador do celular na sala ao lado. Quando a pessoa grita fica facinho de gravar. E tem empregados dele que não andam muito satisfeitos com o patrão. Fica a dica, Cabral. Se emenda, ou gravação sua vai parar no Fantástico ou na Veja. Candidato branquinho e limpinho nas próximas eleições só o Aécio, de resto só estão autorizados o Serra, que entra para perder e algum antiestético do PT, provavelmente a Dilma. Falando nisso, só para fazer uma fofoquinha: fortes indícios de que o câncer do Lula tenha voltado. Vai ser negado, mas fiquem de olho.

Quem está rindo à toa é o nosso “Tudo”, Eduardo Paes. Desde o episódio em que mandou seus seguranças imobilizarem um cidadão que reclamava da sua administração e deu-lhe um soco na cara, ele vem sendo hostilizado, inclusive pela imprensa. Agora parece que os truculentos comandos de Sergio Cabral e de sua polícia Pit Bull ofuscaram a babaquice rotineira de Paes. Sergio Cabral é o alvo preferencial e “Tudo” está finalmente tendo um pouco de paz. Por enquanto. Mas também para ele tem uma surpresinha Capa de Revista guardada. Esses próximos meses vão ser agitados.

Nunca pensei que fosse dizer isso, mas… muito orgulho do carioca, que não amoleceu com a vitória da Copa das Confederações, que teve coragem de levar protestos para bairro de rico e que vai ter coragem de protestar contra o gasto exorbitante de dinheiro com a vinda do Papa. Já estava realmente na hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Aguardo e torço por uma mega manifestação daquelas de matar ou morrer na vinda do Papa, de modo a que, se possível, ele veja a truculência nada cristã dos políticos e da polícia carioca e de modo a que o mundo todo veja a covardia que está sendo feita no Rio de Janeiro.

Chicão, abrir mão de papamóvel blindado nesse clima em que a cidade se encontra é furada, viu? Reflita.

Para dizer que agora que sentiu o gostinho quer uma semana só sobre manifestações contra o Papa, para questionar seu ateísmo se o câncer do Lula tiver realmente voltado ou ainda para dizer que eu me excedi e que em algum lugar minha fonte chora em posição fetal: sally@desfavor.com


Comments (99)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: