Skip to main content

Flertando com o desastre: Eduardo Paes.

| Sally | | 142 comentários em Flertando com o desastre: Eduardo Paes.

fd-eduardo-paes

Deixa eu fazer um apanhado sobre o Rio de Janeiro nos últimos anos, só para contextualizar…

Sobre segurança. Rio de Janeiro é uma cidade onde ocorrem cerca de 400 estupros por mês a qualquer hora do dia, inclusive estupro em transporte público (dentro de ônibus em plena luz do dia, no banheiro do metrô, no estacionamento do aeroporto, em van, etc) e em locais públicos de grande movimento (como por exemplo na praia do Leblon, o metro quadrado mais caro do Brasil, às 18h). Rio de Janeiro é uma cidade onde sair de casa após o por do sol a pé é um risco enorme evitado quando possível. Rio de Janeiro é uma cidade onde se você é assaltado, e apenas assaltado, chega em casa comemorando, porque não te sequestraram, porque não te bateram, porque não te estupraram, porque não te colocaram uma arma na cabeça e te obrigaram a leva-los até a sua casa, porque não te mataram. Só assalto é lucro.

Rio de Janeiro é uma cidade onde a polícia se confunde com o bandido, onde o policial frequentemente pratica extorsão aberta, te parando em uma blitz e jogando na cara dura um pacote de drogas dentro do seu carro e ameaçando te prender a menos que você pague uma boa quantia. A polícia carioca é burra, corrupta, ineficiente e usa tortura como método principal para obter o que quer, endossada pelo Poder Público, que está ciente disso e nada faz para coibir esta prática. A segurança pública é uma piada, apesar do valor abusivo dos impostos, não se pode nem ao menos andar com o vidro do carro aberto, porque as chances de ser assaltado são muito maiores das que qualquer pessoa normal possa imaginar.

Sobre infraestrutura. Eu poderia usar apenas duas palavras: Choveu, alagou. Mas vou me estender. Além desse “pequeno problema” de alagamentos que são fruto da total incompetência do Município por não manter as galerias pluviais desentupidas, tem também a questão da moradia. Rio de Janeiro é uma das cidades DO MUNDO com maior déficit habitacional e, ao contrário do que muito desinformado propaga, neguinho não sai construindo barraco em morro escondido. Na maioria das favelas cariocas, apesar das construções irregulares em áreas proibidas, há cobrança de IPTU, o que indiretamente autoriza aquelas pessoas a morarem ali. E quando chove metade dos barracos cai com tanta frequência que nem ao menos viram mais manchete de jornal.

No último verão, o calor foi tanto (várias semanas com temperatura batendo os CINQUENTA GRAUS) que não havia refrigeração que tornasse a cidade habitável. Os aparelhos de ar condicionado e diversos eletrodomésticos começaram a quebrar, um por um, em função da falta de luz e picos de energia e não havia mais para adquirir em lojas. Clínicas médicas, shoppings e outros estabelecimentos comerciais passaram por este terrível verão sem ar condicionado. Isso sem contar o aeroporto da cidade, que dia sim dia também tem pane no ar condicionado. Tem também o racionamento de energia e as crônicas faltas de luz em todos os bairros. Quem mora lá sabe que na noite de ano novo muita gente teve que se arrumar a luz de velas, pois faltou luz em metade do Rio de Janeiro. Uma amiga minha passou a virada do ano presa no elevador de seu prédio. As pessoas que perderam eletrodomésticos e computadores pelos picos de energia estão até hoje sem indenização.

Sobre educação. Escolas públicas são obrigadas a aprovar todos seus alunos, pois a escola que apresenta reprovação deixa de ganhar um bônus em dinheiro. Professor de escola pública ganha menos do que muita empregada doméstica e só vai receber uma ridícula quantia a mais se não reprovar ninguém. E mesmo que o cara queira ser herói e abrir mão do dinheiro fazendo a coisa certa, ao reprovar aluno A ESCOLA também perde subsídios, ou seja, professor que reprova é exonerado ou transferido para locais muito perigosos como punição. Cientes desta aprovação automática, os alunos fazem o que querem, pois o professor não tem poder de intimidação com a ameaça de reprovar. Alunos vão à escola armados. Espera, eu disse escola? Não, não. Muitas vezes é um container, sem ar condicionado, porque faltam escolas em diversos bairros. Alunos batem, ofendem e ameaçam professores a ponto de a cada dia TRÊS professores da rede pública pedirem exoneração e se o professor se atreve a colocar algum limite de forma mais ríspida, um grande escândalo acontece com direito a manchete de jornal porque professor “xingou” aluno.

Transporte. O trânsito é caótico. Esta semana o Secretário de Transportes do Rio de Janeiro informou, assim, como quem não quer nada, que este ano será o pior trânsito de toda a história do Rio de Janeiro. Você pode estar pensando que trânsito caótico muitas cidades tem, a diferença é que no Rio ficar parado dentro do carro é chamar assalto. Além disso, o Rio de Janeiro carece de estacionamentos. A região central, por exemplo, que concentra os grandes escritórios e comércio, simplesmente quase não tem estacionamento. Os que tem são caros, mas caros de verdade, coisa de dez reais por hora. Transporte público é caríssimo (quase quatro reais uma única passagem de ida de metrô), abarrotado, demorado e perigoso, vide estupro em van, no metrô e em ônibus, tudo no mês passado. As ruas são esburacadas, a sinalização é vergonhosa e se chover grandes chances de você perder seu carro. E chove bastante por lá. Ah sim, o atual transporte público é abarrotado e insuficiente, mas o Prefeito achou por bem retirar as vans de circulação em áreas onde não há outro transporte disponível.

Saúde pública. Não existe. Mas vamos aprofundar. Mesmo os maiores hospitais públicos do Rio de Janeiro atualmente estão com falta de médico, falta de material e com falta de equipamento. E quando chega um equipamento (aparelhos de tomografia, de ressonância e etc), neguinho vai lá e QUEBRA, propositadamente, para não ser o único hospital da cidade com aquele equipamento e ter uma caralhada de pacientes transferidos para lá. Já vi acontecer com direito a laudo pericial comprovando que havia sido quebrado propositadamente. Isso é recorrente, não estou de sacanagem. Pacientes com ferimentos graves se amontoam em macas ou até mesmo pelo chão nos corredores do hospital. É possível que uma pessoa baleada tenha que esperar quatro, cinco horas por atendimento. Todos os dias, eu disse FUCKIN’ TODOS OS DIAS, pessoas MORREM na fila, esperando por atendimento. Pessoas com fratura exposta são mandadas para casa sem tratamento porque naquele dia o ortopedista decidiu que não ia trabalhar.

As UPPs, como eu já disse em diversos outros textos, são uma fraude grotesca que qualquer morador de região pacificada confirmará na maior tranquilidade. Nas palavras de um conhecido meu que é policial, ele atua como “segurança de bandido”. O esquema é o seguinte: entra a UPP na comunidade mas o tráfico não acaba, continua rolando de uma forma mais discreta. O traficante local firma um acordo com o Poder Público e repassa uma porcentagem do lucro mensal e se comprometem a não fazer alarde. Em troca a força policial da UPP impede que outros traficantes invadam aquele morro, servindo como seguranças para o traficante ali instalado (para quem não sabe a guerra entre traficantes pelos morros era algo muito comum). Quem manda nos morros continua sendo o tráfico e eles nem ao menos se importam em esconder, vide a corrida “Desafio da Paz” realizada semana passada no Complexo do Alemão, com a presença do Secretário de Segurança José Mariano Beltrame. Para quem não viu, o vexame foi o seguinte: foi organizada uma corrida para comemorar a pacificação e a suposta extinção do tráfico no local, mas antes de começar a corrida, um tiroteio comeu solto, constrangendo todos os presentes. Depois de quase uma hora de tiros, que só pararam quando os traficantes quiseram, ficou bem claro quem manda ali.

Sobre violência, eu poderia passar dez páginas escrevendo, mas prefiro fazer uma analogia. Você conhece alguém que já se divorciou? Sua resposta deve ser sim, todo mundo conhece algum casal que se divorciou, geralmente mais de um. Pois é com esta mesma facilidade que o carioca responde “sim, sim, claro” quando lhe perguntam se conhece alguém vítima da violência urbana. Todo mundo conhece até mesmo mais de uma pessoa vítima da violência urbana. Morre mais gente no Rio vítima de violência urbana do que países que estão em guerra com outros países ou guerra civil.

Eu teria muito mais coisa por dizer. Poderia falar dos gastos exorbitantes e superfaturados para essa penca de eventos que serão realizados no Rio (é justo um Estado Laico usar milhões do contribuinte para receber o Papa e a JMJ?), das obras superfaturadas, dos acordos com grandes empreiteiros e grandes empresários e de toda sorte de mau uso do dinheiro público que se promove. Mas infelizmente o espaço está acabando e ainda não cheguei no ponto central do texto de hoje. Pois bem, cientes de que tudo isso que eu narrei até hoje é uma breve pincelada no estado caótico que a cidade se encontra, vamos ao que interessa.

Sábado, o Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (aquele que tem um caso com um coleguinha e o chama de “Tudo”) estava jantando em um caro restaurante japonês, sentado em uma mesa na calçada (coisa que não é permitido pela Prefeitura a estabelecimentos comerciais, mas tudo bem), quando foi avistado por um cidadão carioca. O cidadão, cujo nome faço questão de escrever com todo o orgulho do mundo, Bernardo Botikay, ficou bastante puto ao ver Paes se divertindo na maior tranquilidade e foi até ele lhe falar umas verdades. Eduardo Paes é aquele que quando teve incêndio em barracão de escola de samba liberou TRÊS MILHÕES DE REAIS em menos de 24h para que as Escolas de Samba refaçam suas fantasias, mas até agora não deu um centavo para as famílias vítimas do desabamento de um prédio comercial de alto padrão no Centro do Rio que funcionava com aval da Prefeitura e desabou do dia para a noite matando dezenas de pessoas, dentre elas uma amiga minha, Sabrina Prado.

Bernardo admite que se aproximou de Paes e o confrontou sem se preocupar em usar termos educados. Isso para mim denota normalidade, revolta inerente a quem paga mais caro do que pagaria para morar em Paris ou Londres e corre risco de vida todos os dias. Ele disse umas belas verdades a Eduardo Paes, algo que todo carioca deveria fazer. Porém em momento algum ele partiu para a agressão física. Apenas reclamou, ainda que em tom ríspido, o que é direito de todo cidadão. O que o Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, fez? Deu UM SOCO, UM FUCKIN’ SOCO na cara de Bernardo. Isso mesmo, exatamente assim. Foi e deu um murro nele, e quando ele ameaçou revidar, jogou os seguranças em cima. Valentão você, hein Paes? Bater nos outros e sair correndo para se esconder atrás de seguranças é bem coisa de quem dá o cu escondido mesmo. Covarde.

O Prefeito de uma das cidades mais famosas do mundo na atualidade simplesmente NÃO PODE agredir fisicamente um cidadão que reclama da sua administração. As pessoas estão loucas? Porque ninguém está parecendo achar isso grave. O Prefeito deu um MURRO NA CARA de uma pessoa que estava reclamando da sua administração. Oi? Se fosse em um país sério, este elemento estaria renunciando hoje mesmo, cheio de vergonha, para evitar coisa pior. Mas não, Paes continua lá, todo pimpão. Não pediu desculpas, se justificou. Quem pede desculpas assume o erro com humildade. Ele disse “Bati nele, não poderia ter feito isso MAS é que ele…” e começou a falar mal de Bernardo. Isso não é se desculpar, é se justificar. Além de tudo, esse bosta não tem Assessoria competente.

Outra coisa engraçada é ele dizer que foi gratuitamente ofendido. Paes: VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO ERRADO. Qualquer pessoa que te xingue tem bons motivos para fazê-lo, as reclamações não foram gratuitas, foram frutos de seis anos de uma administração vergonhosa, corrupta, filha da puta, suja, mentirosa, assassina e sobretudo cara para o bolso do contribuinte. Se quiser argumentar que isso não justifica que alguém te confronte no seu momento de lazer, pode até tentar. Eu discordo. Mas dizer que foi gratuito… desculpa mas nenhuma hostilidade partindo de nenhum carioca será gratuita. O que esperar de um filho da puta que encomenda o assassinato de um blogueiro que fala mal dele, tendo o descaramento de mandar executá-lo em uma das ruas mais movimentadas de Copacabana, em plena luz do dia? Tá se achando intocável, né Paes? Talvez sua sorte esteja começando a mudar. Cuidado.

Bernardo Botikay é meu novo herói. Uma ovelha que levantou a cabeça e reagiu, coisa que eu venho pregando faz tempo aqui: defenda-se! Se todo cidadão se portasse como ele, ou Eduardo Paes tomaria mais cuidado com o que faz, ou renunciaria, dando oportunidade para outra pessoa que talvez tenha um pouco mais de escrúpulos ou caráter conduzir a cidade. A gestão de merda, corrupta, desleal, debochada e ladra de Eduardo Paes foi um dos motivos que me fez sair do Rio de Janeiro no ano passado. Ele merece ouvir verdades onde quer que ele vá. Ele merece sofrer as consequências de suas escolhas inescrupulosas, canalhas, corruptas e nocivas para o povo carioca.

Sonhar não custa nada. Fica aqui meu desejo que este ato de Bernardo Botikay abra uma porta e o carioca se canse de ser uma ovelha passiva. Fica aqui meu desejo de longa data que o carioca comece a se defender, a hostilizar aqueles que o sacaneiam. Tomara que isso vire uma corrente do bem e que, onde quer que vá, Eduardo Paes tenha que escutar umas verdades. Tomara que dar um soco em um cidadão que paga seus impostos seja motivo para iniciar uma discussão sobre uma expulsão dolorosa e humilhante de Paes da Prefeitura. Tomara que Paes não tenha mais um minuto de paz quando colocar o nariz na rua.

Vai acontecer? Não vai acontecer. É mero desejo. Mas o simples fato de um único carioca ter culhões de se aproximar e falar umas verdades já alegrou meu final de semana. A reação covarde de Paes (vulgo “Tudo”) de bater e se esconde atrás dos seguranças só mostra quão canalha, cuzão, baixo e babaca ele é. INACEITÁVEL que um Prefeito dê um soco na cara de um contribuinte que está reclamando da sua administração, ainda que de forma ríspida. INACEITÁVEL. Boa sorte para a imprensa em tentar fazer o assunto parecer superável.

E não se esqueçam, na hora de confrontar Paes, evitem frases como “vai tomar no cu” ou “vai dar meia hora de cu”, porque isso ele já faz como amiguinho dele com nome de refrigerante faz tempo. Muita pena da esposa dele, que SABE e faz esse papel ridículo. Muita pena mesmo.

Tenho três pedidos a fazer:

  1. Quem encontrar com Eduardo Paes, por favor o ofenda, o confronte, o humilhe, mostre descontentamento, fale verdades. E filme com seu celular. Juro que eu dou uma boa quantia em dinheiro para quem me deixar postar um vídeo aqui ofendendo Paes com ele ciente disso. Pago bem mesmo.
  2. Não deixem o assunto morrer. Não deixem que a imprensa ou eventuais factoides abafem isso. Não deixem que Paes consiga minimizar o erro inaceitável que cometeu. Espalhem este texto, falem sobre o assunto, mantenham esta merda fedendo. É inaceitável, tratemos o assunto como tal,
  3. Alguém por gentileza me passa o endereço do Eduardo Paes? Bernardo Botikay está pedindo o endereço dele no Twitter e eu teria a maior honra do mundo de jogar na roda o endereço residencial deste filho duma puta… Juro que se me passarem coloco aqui em caixa alta. Não quero que esse sujeito tenha paz nunca mais na vida.

Sabrina, se por acaso você está em algum lugar, faça a gentileza de dar uma sacaneada sobrenatural neste filho da puta, por favor.

Para me perguntar porque eu continuo arrumando problemas para mim, para me relembrar que ele já mandou atirar em blogueiro uma vez ou ainda para aderir à nossa campanha e ofender ostensivamente Eduardo Paes se você o encontrar pessoalmente: sally@desfavor.com


Comments (142)

Deixe um comentário para Alexandre Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: