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Cadê o seu deus?: Estupro Evangélico.

| Sally | | 120 comentários em Cadê o seu deus?: Estupro Evangélico.

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Um caso em especial inspirou esta coluna. Para quem não sabe, foi preso no Rio de Janeiro um pastor evangélico chamado Marcos Pereira, e não foi pelo habitual estelionato e sim pelo crime de estupro. Não um, mas vários. Que se tenham certeza, ao menos seis, mas a polícia está investigando mais de 20 casos diferentes recheados de provas. Este é um lado das igrejas evangélicas que muitos não conhecem. Geralmente os crimes sexuais são ventilados apenas na Igreja Católica, mas acontece muito com evangélicos também. Talvez até mais.

A coisa funciona mais ou menos assim: o pastor tenta convencer o fiel (que pode ser homem, mulher ou até mesmo uma criança) de que a pessoa está possuída pelo demônio. Depois lhe diz que ela precisa participar de um “ritual” para retirar esse demônio do seu corpo, sem explicar muito bem do que se trata. O ritual é realizado na própria igreja ou até mesmo na casa do pastor. Ele vai fazendo com que a pessoa tire a roupa, vai tirando a roupa com argumentos medonhos como se despir de tudo que é material e começa a tentar fazer sexo com a pessoa. Se a pessoa resiste, ele diz que quem está resistindo é “satanás” e usa de violência física para consumar o ato, com o pretexto de “não deixar satanás impedir a purificação”, ou seja, pretensamente para o bem da pessoa.

Não são um ou dois casos, é algo que vem acontecendo em larga escala. Só eu já ouvi oito relatos diferentes. Infelizmente não é o tipo de coisa que venha a público, pois a maioria das vítimas tem vergonha de contar ao mundo o que aconteceu quando se dão conta de que foram estupradas. Aquelas que não se dão conta não vem a público pois estão convencidas que foi um ritual necessário para seu bem. Mas, como tudo praticado em larga escala, uma hora a coisa vaza. E está começando a vazar. Honestamente, espero que esse caso puxe muitos outros.

O pastor Marcos Pereira é um homem de fala eloquente, tem poder de convencimento, tanto é que possuí um apartamento avaliado em nada mais nada menos que oito milhões de reais em um dos endereços mais nobres do Rio de Janeiro. Haja lábia para conseguir juntar tanto dinheiro, não é mesmo? Fica fácil manipular um brasileiro médio, sem instrução, sem perspectiva, doido por uma solução milagrosa e rápida para seus problemas. Nesse caso específico, a polícia afirma que o pastor vem praticando estupros desde 1998. Você deve estar se perguntando porque uma pessoa pratica crimes há mais de dez anos e fica impune, porque ninguém denunciou.

Por medo. O pastor Marcos Pereira tinha ligações diretas com a facção criminosa Comando Vermelho, da qual recebia dinheiro em troca de esconder ou abrigar bandidos, armas e drogas dentro da igreja quando necessário. O pastor também está sendo processado por outros crimes, como homicídio, por exemplo. Curiosamente pelo menos um dos quatro homicídios pelos quais é processado envolve uma fiel que estava tentando denunciar abusos sexuais cometidos na igreja. Sim, ele mandava matar quem o incomodava ou desafiava. Talvez por isso ninguém tenha conseguido efetivamente fazer uma denúncia desde 1998. Mas, como eu disse, quando você repete um comportamento sistematicamente, a longo prazo as chances dele vir à tona são maiores. Nesse ponto, a internet foi uma ferramenta de grande importância. Hoje, se você está sendo vítima de um crime, pode abrir o site do Ministério Público do seu estado e relatar ali mesmo o que está acontecendo, sendo o caso, até de forma anônima.

Dentre os relatos colhidos pela polícia envolvendo esse caso, um me surpreendeu em especial. Uma moça que conta ter sido estuprada durante os oito anos em que frequentou a igreja, tendo os estupros iniciado quando ela tinha apenas 14 anos. A própria polícia chegou a desconfiar do relato, porque vai, quem é que voltaria a um lugar onde foi estuprada voluntariamente? Mas, meus queridos, basta uma passada de olhos pela nossa coluna “Ei, Você” para mensurar a mentalidade do brasileiro médio. É bem capaz que uma brasileira média, ignorante, desamparada, sofrida, chegue a acreditar que se trata de um ritual para retirada do demônio. Infelizmente, é não apenas capaz, como também provável.

O pastor Marcos Pereira soube fazer seu nome na mídia, era um homem “de bem” aos olhos da sociedade. Por exemplo, combinava com bandidos do Comando Vermelho vários factoides midiáticos, uma espécie de Ego do Sistema Penitenciário. Armavam uma rebelião em presídio e chamavam ele para “intermediar”, de forma a que tudo acabe bem graças às palavras do pastor. Atualmente, o pastor se encontra no complexo penitenciário de Bangu e não pode mais intermediar rebeliões, no máximo, inicia-las. Mas muitos outros que estão fazendo o mesmo continuam soltos.

Não é um caso isolado. É algo comum, mas pela natureza do ato e pela vergonha que acarreta em quem descobre a fraude, não é muito divulgado. Junte-se à vergonha da vítima a alta influência que esses pastores tem (poder de convencimento, bons contatos, dinheiro, etc) e perceba como as vítimas realmente não tem para onde correr. Você e eu vivemos em trechos da sociedade onde supostamente impera o livre arbítrio e o discernimento, mas em uma comunidade pobre, onde o pastor está no mesmo nível de Deus, comprar briga com um pastor é ter a comunidade toda voltada contra você. Sem contar que, pela natureza do ato, periga ainda da mulher perder o marido, o namorado e expor em muito seus pais e seus filhos. Não é todo mundo que encara esse tipo de coisa.

Vítimas que insistem em se rebelar tem a sociedade contra elas. Tem um pastor fazendo um discurso afirmando que aquela pessoa está possuída pelo demônio de forma irremediável e que todos devem se afastar dela. Tem os bandidos locais batendo na sua porta, porque, meus queridos, bandido e pastor evangélico andam de mãos dadas, são farinha do mesmo saco. Desafiar, denunciar, é um risco de vida em todos os sentidos. Tanto é que as denúncias costumam partir não das vítimas, e sim de suas mães, pais ou maridos que ficam tão revoltados com o ocorrido que já não se importam mais em ter aquela pequena comunidade contra si nem em correr risco de morte.

Daí eu pergunto: CADÊ O SEU DEUS? Cadê o Deus para o qual essas pessoas se dedicam tanto, que permite estupros sistemáticos, sucessivos e a longo prazo dentro de um templo criado para louvá-lo? Onde está um Deus que faz com que um estuprador possa comprar um apartamento avaliado em oito milhões de reais? Ele foi preso? ESSE foi, mas milhões de outros continuam na ativa. E, se me permitem, mesmo sendo preso, acho um absurdo que tenha desfrutado de tantos bons anos de riqueza e luxo. Teve todas as condições propícias para perpetrar abusos e estupros por muitos anos. Que tipo de Deus dá armas a filhos da puta? Só se for um Deus tão filho da puta quanto eles, o que não é de todo um absurdo, afinal, Deus o fez à sua imagem e semelhança, não é mesmo?

Sempre tem quem diga que Deus escreve certo por linhas tortas ou que Deus tem propósitos maiores que nós não entendemos. Tem razão, eu não entendo porque algum Deus pode utilizar um estupro como ferramenta para algum propósito maior. Não tinha outro meio não? Uma pessoa sendo estuprada por quase uma década, submetida a medo, mentiras e sujeição não me parece tolerável a nenhum pretexto. Se existe algum Deus que se valha disso como ferramenta para alcançar algum “bem maior”, mil desculpas mas eu jamais vou adorá-lo. Muito pelo contrário. Aliás, se existe algum Deus que permite que isso aconteça independente do motivo, mesmo sendo tão poderoso, eu quero mais é que ele se foda, porque no mínimo, é um sádico filho da puta.

Mas esse é o mal da maior parte das religiões: querer justificar as injustiças para trazer conforto ao homem. “Deus quis assim”, “Foi uma provação que você teve que passar”, “Foi fruto dos seus atos em encarnações anteriores”, etc, etc. Variações do mesmo tom que levam ao conformismo, que levam a pessoa a se foder e ainda agradecer por esse privilégio. “Estupro é coisa do homem, não é coisa de Deus”, alguns dirão. Ok, e onde estava esse Deus quando permitiu que um homem com essa índole alcance o sucesso e tenha todas as ferramentas para violentar, torturar e matar tantas mulheres? Cabeça não é só para fazer escova progressiva, é para pensar também. Reflita se esse seu Deus faz sentido.

Também vai ter quem diga que isso aconteceu porque estas mulheres louvavam o “Deus errado”. Francamente? Não é argumento. Que tipo de Deus castiga com estupros quem se equivoca e adere a uma religião supostamente equivocada? Que tipo de Deus prioriza a forma em vez da intenção, do sentimento, das boas ações? Só uma criatura monstruosa castigaria assim um ser inferior que está demonstrando nada além de boa vontade. Deus não criou o ser humano assim, limitado e ignorante? Agora vai jogar contra ele por ele ser nada além do que Ele criou?

Neste exato momento, milhões de mulheres e crianças em todo o Brasil estão passando por isso. Assustadas, confusas, fazendo sexo com alguém que não foi sua escolha; iludidas, ludibriadas, intimidadas. Isso está acontecendo, é uma realidade. E está acontecendo em larga escala, de forma silenciosa. Países com IDH de chorar de vergonha estão proibindo a instalação de igrejas evangélicas oriundas do Brasil, enquanto que o próprio país que as criou não as reprime e ainda lhes dá incentivos fiscais.

“Mas Sally, você sempre disse que era contra qualquer tipo de censura, agora vai mudar de ideia? Onde está sua coerência?”. Censura nunca. Mas existem formas de coibir esses estelionatários. Cobra impostos altos de igrejas e de seus sacerdotes, por exemplo. Isso não é censura e certamente vai ajudar a acabar com esse caça-níqueis que é igreja evangélica hoje em dia. Façam campanhas de conscientização. Investiguem a sério e prendam os criminosos. Abram precedentes judiciais de indenizações milionárias para quem for vítima de estelionato de caráter religioso. Como estas, poderia dar dezenas de sugestões não de censura, mas para desencorajar ou dificultar o estelionato religioso que se instaurou de vez no país.

Mas não, no Brasil se passa a mão na cabeça de evangélico. Ainda impera aquela presunção de bondade com quem se diz evangélico. Imagina se este caso narrado tivesse acontecido com um Pai de Santo? Imagina a reação! “Eu sabia, esse povo não presta”, “Eu sempre disse que eles eram perigosos!” ou ainda “Tinha é que proibir esse negócio”. Boicotariam tudo ligado a Candomblé ou Umbanda, teríamos mil campanhas contra essa religião em redes sociais e pais até proibiriam seus filhos de frequentarem esses lugares. Candomblé viraria sinônimo de estupro em um piscar de olhos. Entretanto, quando acontece com “igreja de gente branquinha”, tapam o sol com a peneira e fazem parecer que são casos isolados. Mas não são. Informe-se, converse, procure saber e você verá.

Você que se diz temente a Deus, se pergunte que porra de Deus permite de alguma forma que isso ocorra. Seu Deus não pode intervir? Não tem poder suficiente para castigar pessoas assim? Para cada pastor preso tem mais mil praticando estupros, não foi obra de Deus a prisão desse escroque e sim do homem. Sério mesmo que você acredita em um Poder Divino que cague tão solenemente para seus seguidores a ponto de recompensar quem decide se devotar a seu culto com estupros sucessivos? Olha, esse Deus deve ser o maior sucesso de marketing de todos os tempos, pois qualquer outro estabelecimento onde ocorra um estupro, o cliente não volta.

É inconcebível que algo assim aconteça. Sob pretexto algum seria facultado a um ser divino, poderoso e superior consentir uma coisa dessas com um de seus seguidores. Um ser superior que permite que isso ocorra não merece a sua admiração, muito menos seu esforço.

Todo mundo fala mal de igreja evangélica mas… o que você tem FEITO a esse respeito? Falar mal não vai mudar o mundo. Faça um favor à sociedade e FAÇA alguma coisa a respeito, da mesma forma que todo mundo faria se a bola da vez fosse uma religião discriminada tipo Candomblé. É hora de fazer a caveira de religiosos, de massificar as críticas, de associar sua imagem com criminosos, que, a bem da verdade, todos são porque no barato são estelionatários que tomam dinheiro das pessoas prometendo algo que não podem entregar.

Faça sua parte, de forma declarada ou anônima. Use dois minutos do seu dia para jogar merda em igrejas evangélicas. Faça denúncias, jogue uma pedra no telhado, dê publicidade aos crimes de pastores, ponha fogo em uma igreja. Faça o que desejar, mas faça algo. Porque só falar não resolve e se nada for feito, em oito anos periga que tenhamos um Presidente da República evangélico.

Eu faço a minha parte. Por favor, façam alguma coisa também. Eles são muitos mas são burros.

Para dizer que você vai é virar pastor, para tentar fazer parecer que a criminosa sou eu ou ainda para me mandar a sua denúncia e me ter como sua advogada DE GRAÇA até colocar seu pastor atrás das grades e tirar até o ultimo centavo dele: sally@desfavor.com


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