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Processa Eu!: Mozart

| Sally | | 104 comentários em Processa Eu!: Mozart

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É um grande desfavor cultuar um mito que funda sua competência em uma dádiva divina, quando em verdade seu mérito veio do bonito e honesto esforço pessoal. É nefasto que na escala de admiração o esforço pessoal seja destronado por explicações religiosas. É inaceitável uma piranha qualquer consiga reescrever a história e por fim, é nojento o processo de semi-divinização que se faz das pessoas quando elas morrem. Um músico de notável capacidade e desempenho? Sem dúvidas, mas ainda assim, uma fraude a seu próprio modo, um tremendo desfavor. Processa Eu: Mozart.

A aparência não era das melhores: baixo, muito magro, muito branco e com marcas por todo o rosto em decorrência de varíola. Sua orelha esquerda era deformada, por isso ele procurava escondê-la atras do cabelo. Uma papada e um nariz proeminente fechavam o pacote. Mal sabia ele que após sua morte ocorreria um embelezamento progressivo em suas feições, até culminar em um rosto com agradável pele lisa e nariz harmônico. Como pode a história errar tanto assim? Com a ajuda dos seres humanos. Assim que Mozart morreu, foi feita uma máscara do seu rosto para eternizá-lo, mas adivinha? Ela se “perdeu” e a imagem que temos dele hoje é bem mais estética do que a original. Fato: ninguém se dedica tanto a uma profissão ou hobbie a ponto de alcançar tamanha perfeição se pudesse estar comendo muita mulher. Para ter esse grau de comprometimento, evidente que era barango.

Mozart foi uma criança adestrada ferrenhamente pelo pai, uma espécie de Michael Jackson só que da música classica. Exaltam que foi um “gênio” que fez suas primeiras composições ainda criança, mas não contam a história toda, fazendo-o parecer um predestinado, um abençoado. Nada disso, dois fatores depunham a favor dele: hereditariedade (ele vinha de uma família de músicos, inclusive sua mãe tocava cravo quando estava grávida, ele literalmente nasceu ouvindo música) e muito treino desde muito pequeno, supervisionado por seu pai, um professor de violino disposto a fazer do filho um grande músico.

Por mais que se goste de retratar Mozart como um gênio com um dom divino, ele era apenas uma criança muito bem estimulada desde muito cedo e com uma propensão genética para a música. Um bom músico? Sem dúvida, mas ralou muito para chegar lá, de “divino” seu sucesso não tinha nada. Não obstante, seu pai, um homem muito religioso, se referia a ele como “um milagre que Deus fez nascer” e outras imbecilidades, jogando fora anos de treino, preferindo acreditar em um “presente divino”.

O demente do pai pensar assim tudo bem, o que me revolta é que esta imagem foi perpetrada por biógrafos e é comprada por muitos até hoje, gerando o desfavor social que faz muita gente achar que as coisas podem cair no seu colo “por vontade de Deus” sem esforço próprio. Não fode, uma criança cuja família já apresentava aptidão para aquela atividade treinada por profissionais desde os quatro anos de idade dez horas por dia fica boa em qualquer merda que faça. Deus é o caralho! Não precisa uma análise mais profunda para ver que o mérito era da dedicação e não divino.

Justamente por conta de tanto esforço e dedicação, Mozart teve uma infância bastante cruel, ensaiando muito, excursionando e se apresentando para nobres tal qual uma foca adestrada. Há relatos de que ele frequentemente chorava, dizia que queria ter tempo para brincar e que sentia falta da mãe. Dom? Não, não. Trabalho escravo de criança mesmo. Alguns biógrafos metidos a psicólogos concluem com muita facilidade que, por não ter desfrutado de sua infância, Mozart se tornou um adulto infantilizado, entretanto, tudo indica que era um merdão mesmo e esta imagem de eterna criança teria sido alimentada para esconder como era um sujeito mimado, arrogante e imbecilóide.

Mozart era anti-ateus ferrenho, ou seja, mala sem alça. Há relatos de que ele e seu pai por mais de uma vez iam às ruas paunocuzar pessoas que haviam desistido do catolicismo na tentativa de fazê-los voltar para a religião. Também se especula que fosse Maçon, organização na à época tinha força suficiente para alavancar carreiras e reescrever a história. Nos seus piores momentos teria sido bancado por pela maçonaria e não raro esta organização teria ajudado a divulgar seus trabalhos.

Casou com uma desclassificada chamada Constanze, uma perigute de época, que não sabia se vestir nem se portar e enchia sua cabeça de chifres. Na verdade, ele estava interessado na irmã da moça, mas a irmã, que era o que na época se chamava “uma moça direita” cagava e andava para ele, já que de fato ele era muito horrendo, muito fodido de dinheiro, beberrão e instável. Vendo que seu layout e personalidade repulsiva não lhe permitiriam muita escolha e que a irmã da sua pretendente era uma vadia que se insinuava vulgarmente para ele, Mozart se conformou com o prêmio de consolação.

Diversas cartas do seu pai relatam o desgosto de vê-lo se casar com a piranha do bairro, com uma vadia sem postura. Várias cartas escritas pelo próprio Mozart para sua esposa em períodos onde ele estava viajando mostram a falta e confiança sua preocupação com as roupas e modos piranhescos de sua mulher. Ela era vulgar, sem modos e porca. A casa deles era um lixo. Há relatos escritos dos mais diversos tipos de falta de higiene em uma época onde falta de higiene tinha um significado bem mais forte do que hoje em dia.

Mozart trabalhava como um freelancer, recebia por cada obra composta, o que lhe rendia certos períodos de perrengue, sobretudo em função da vida desregrada que levava. Essa aura de “o melhor do mundo” só veio com o tempo, após sua morte. Em vida, não era considerado isso tudo. Inclusive havia outros músicos com mais prestígio do que ele, como por exemplo Antonio Salieri, retratado como seu rival, como vilão, como inimigo. Pura mentira.

Salieri era contratado e recebia um salário fixo para ser O compositor da corte e diretor da orquestra do Teatro Municipal de Viena. Ganhava bem, ganhava fixo e seu cargo era o de maior prestígio no universo da música. Além disso a qualidade técnica de Salieri era excelente, ele não estava ali de favor ou por contatos. Enquanto Mozart contava moedas para comprar comida, Salieri dava aulas para alunos como Schubert, Liszt e Beethoven. Parece mesmo que uma pessoa assim invejaria um sujeito desregrado, fodido e descompensado como Mozart? Seria algo como dizer que Freddy Mercuri sentiu inveja de Rafael Pilha.

Mesmo quando foram colocados lado a lado, Mozart não conseguiu ofuscar Salieri. Muito pelo contrário. Há diversos relatos que a ópera Don Giovanni de Mozart teria sido ofuscada por Tartare, de Salieri e que Mozart ficou putíssimo da vida com isso. Se alguém tinha motivos para sentir inveja, era Mozart, e de fato sentia. Foram encontradas mais de uma carta onde Mozart se ressentia do sucesso de Salieri, falava mal dele com despeito e muitas vezes até o xingava por sua ópera ter mais “audiência”. Em compensação, nunca foi encontrada uma linha onde Salieri falasse mal de Mozart, muito pelo contrário, com frequência o elogiava. Mas, a história sempre fica mais interessante se for contada com uma pitada novelesca de intriga, inveja e conspiração, Milos Formam que o diga.

A verdade é que não existe nada, eu disse NA-DA, nenhum registro, carta ou documento que leve a crer que Salieri tinha alguma coisa contra Mozart. Muito pelo contrário, existem cartas escritas por Mozart onde ele faz comentários extremamente recalcados a respeito de Salieri. Ainda assim, o boato de que Mozart teria sido envenenado por Salieri é muito mais interessante do que admitir que ele morreu em função de uma doença de pobre somada a sua saúde detonada e à precariedade dos tratamentos médicos da época. Gente escolhida por Deus não deve morrer de uma doença de pobre e sim por um assassinato de cunho conspiratório. Só que hoje em dia, com dezenas de documentos a verdade veio à tona e se sabe que nada prova a tese do envenenamento.

Então porque insistem em alimentar essa rivalidade e colocar Mozart como gênio perseguido? Porque ele morreu, e desde sempre quem morre vira mártir. Até sua morte era um idiota beberrão que muitas vezes não tinha dinheiro nem para comer, depois da morte era um gênio que teria sido envenenado por um rival invejoso. Coitado do Salieri, ele jamais disse a famosa frase a ele atribuída, “Eu matei Mozart”, e mesmo assim levou a fama. Para contruir mitos muitas vezes é preciso arruinar vidas e reputações. O herói é sempre mais herói se houver um vilão para fazer contraponto.

Na verdade, quem odiava Salieri com vontade era a esposa de Mozart, Constanze vadia, que tinha uma picuinha pessoal com ele envolvendo vários barracos. Salieri não lhe dava atenção, mas sempre que podia ela brigava com ele, tentando desmerecê-lo e sabotá-lo para conseguir enfiar o marido no lugar. E como foi esta piranha a principal responsável por reescrever a históra de Mozart, adivinha se ela não aproveitou para meter na bunda do desafeto e queimá-lo para todo o sempe?

Após a morte de Mozart, sua esposa periguete desclassificada era a única a ter acesso a documentos, cartas e informações que embasariam uma biografia. Há correspondências escritas por ela afirmando que destruiu tudo que pudesse ser prejudicial à imagem dele para tentar, por consequência melhorar a imagem dela e valorizar suas obras. Havia interesse dela em criar um mito de modo a ganhar uns trocados não apenas com a música como outros pequenos investimentos, por exemplo, cobrar por visitações a sua casa e por informações sobre seu marido.

A irmã de Mozart também participou da brincadeira, afinal, quanto mais valorizasse o patrimônio da família, melhor. Quando perguntada porque seu irmão nunca conseguiu se firmar na carreira, ela o pintou como uma criança que nunca cresceu, como se sua infantilidade fosse a causa e não motivos mais prováveis como seus vícios, seu estilo de vida decadente e sua personalidade intratável. Esse relato plantou a sementinha errada que foi perpetrada por séculos, a imagem de “gênio infantilizado” que o exime da responsabilidade por ser o que era. Quem viu o filme “Amadeus” sabe do que eu estou falando. Um Mozart pimpão, carismático, simpático e infantilizado que em nada se parece com os poucos documentos históricos obtidos de outra fonte que não da sua esposa ou a irmã. Era um sujeito ruim, capaz de maldades, baixarias e puxadas de tapete. De criança não tinha nada.

Fato é que por sua própria incompetência ele vivia em dificuldades econômicas e não era muito respeitado. O desprestígio era tanto, que depois de morto, foi enterrado em uma vala comum, como um indigente. Se suas obras fossem mesmo tão sensacionais e fora do comum e se ele fosse tão querido, uma “criança grande”, será que isso teria ocorrido? Isso não se questiona, pois questionar uma unanimidade é pedir para apanhar. Questionar Mozart pinta um alvo na sua testa e não são todos que tem força e coragem para passear em praça pública sabendo que vão levar tiros.

A imagem de gênio que nasceu com um dom e foi injustiçado por inveja foi se consolidando. Mozart era um esforçadinho que teve um pai que o adestrou desde muito cedo para ser bom em uma única coisa: música. Será que qualquer criança média, vinda de família de músicos, se sofresse esse tipo de lavagem cerebral e fosse exposta a horas e mais horas de treinamento diário desde a mais tenra infância não teria a mesma capacidade? Há biógrafos que dizem que Mozart tinha “o dom”, como se fosse um escolhido de Deus, como se não precisasse estudar e praticar para chegar onde chegou. Não é verdade, suas primeiras composições foram bem ruinzinhas, numa vibe “cai cai balão” e ele foi sendo aperfeiçoado por seu pai, melhorandograças a uma infância totalmente dedicada à música que se resumia a muitas e muitas horas de estudo e prática.

Curioso que o próprio Mozart nunca se referiu a si mesmo como portador de um “dom” ou algo divino. Muito pelo contrário, não raro havia comentários recalcados exalando raiva sobre como um ou outro músicos eram melhores do que ele, não por modéstia, mas sim com despeito. Em uma das cartas ele pede ajuda para encontrar uma forma de roubar a composição de um músico que ele considerava brilhante, admitindo que ele jamais seria capaz de compor algo tão belo.

Mas isso não é típico de herói, isso não vende uma imagem boa. E neguinho queria lucrar em cima do morto, afinal, a família precisava comer. Graças a essa clara intenção de divinizá-lo, chegou a ser divulgada uma suposta carta escrita por Mozart onde ele falava da inspiração divina que usava para compor, falando também sobre Deus e equiparando o momento da composição com um sonambulismo. Só que foi comprovado que esta carta era falsa, comprovando-se também que fabricar mitos, além de ser algo muito rentável, também é muito antigo.

Engraçado que em vida o sujeito vivia sem dinheiro e com prazos para entrega de sua composições estourando, pois era um beberrão desregrado sem a menor disciplina. Mas, após sua morte, sua esposa periguete vendeu centenas de obras suas. Como assim? Estavam todas prontinhas e engavetadas? Ou será que ele, mesmo doente, teve ums surto de produtividade e deixou centenas de obras sobressalentes poucos dias antes de morrer? Evidente que não. Tudo indica que ela quis fazer algum dinheiro e, à medida que a imagem divinizada de “gênio invejado” de Mozart se consolidava, ela distribuia obras de outros compositores como sendo do marido, com preço inflacionado. Pois é, muita coisa que se atribuí a Mozart não deve ser de autoria dele. Há cartas que indicam supostas negociações dela com compositores sem fama encomendando obras para supostamente serem divulgadas como sendo de Mozart e em troca dividiria o lucro com eles.

E só para constar, Mozart não é unanimidade. Ocorre que quando se fabrica um mito todo mundo consegue ver a roupa do Rei e dificilmente alguém tem culhão de gritar que o rei está nu. Compositores reconhecidos como Berlioz meteram o pau, ele classificou as obras de Mozart como “todas iguais e tediosas”. Mas isso ninguém divulgou, porque qualquer crítica que se faça a um mito é inveja. É sempre inveja. Ou melhor, é ENVEJA. Longe de mim criticar Mozart musicalmente, nem tenho conhecimento técnico para isso. Minha intenção é mostrar como por questões circunstanciais ele foi para a história como mito. Se fosse de interesse à época, poderiamos estar todos cultuando Salieri.

A mitificação de Mozart teve mais a ver com questões circunstanciais do que propriamente com seu suposto “dom” e não reflete o reconhecimento que ele teve em vida, que foi muito pouco se comparado com a idolatria de hoje. Mozart era um fofoqueiro, um invejoso, um baixaroca, uma pessoa incapaz de administrar sua vida pessoal e seu trabalho, que frequentemente sujava seu nome descumprindo prazos ou fazendo obras medíocres em cima da hora só para ganhar algumas moedas. Gênio? Não, desculpe. Foi uma criança muito bem treinada que jogou fora uma baita oportunidade na vida adulta. Não tem muito para se admirar em uma pessoa assim.

Para me perguntar quem eu acho que sou para falar mal de Mozart e ouvir a resposta padrão: “a dona do blog”, para dizer que acha mais legal a versão conspiratória onde ele foi envenenado ou ainda para dizer que só conhece Mozart por causa do comercial do Cheddar McMelt: sally@desfavor.com


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