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República Impopular do Desfavor: Origens.

| Sally | | 337 comentários em República Impopular do Desfavor: Origens.

Apesar do Desfavor existir há muitos anos, este é o primeiro aniversário da sua independência, da criação da República Impopular do Desfavor. Durante semanas quebramos a cabeça pensando em qual seria a melhor forma de comemorar nosso primeiro aniversário como República Impopular e depois de um brainstorm de onde saíram as coisas mais bizarras que vocês podem imaginar, chegamos a uma conclusão: quem vai ditar a temática da comemoração são vocês. Isso mesmo, um lampejo de democracia, vamos permitir que os leitores opinem, nos comentários, sobre quais temas querem nos ver falar. QUALQUER TEMA. QUALQUER COISA. Começando a partir de hoje e valendo até sexta da semana que vem.

O primeiro texto que será escrito com base nas sugestões é o Ele Disse, Ela Disse de segunda feira. Lembrem-se: esse tema tem que ser apresentado na forma de uma pergunta. Nos pedir para falar “sobre traição” não serve. A sugestão de tema deve ser feita na forma de pergunta, coisas como “Você acha que é possível perdoar uma traição e manter uma relação saudável depois disso?”. De terça a sexta, admitimos qualquer tema, podendo estar especificada a coluna ou não. Quero dizer, podem dizer apenas o tema, a gente adequa ele à coluna mais pertinente. Podem ser dadas mais de uma sugestão por pessoa ou por dia, bem como nós podemos acatar mais de uma sugestão de uma mesma pessoa. Sugestões anônimas também são bem vindas. A sugestão do Desfavor da Semana, que será postado no próximo sábado, deverá ser feita postando o link da notícia que vocês acham que merece estampar a coluna. Se quiser, pode explicar porque aquilo é um desfavor para você, se não quiser, basta o link.

Caso você goste da sugestão dada por outro leitor, pode reforçar o pedido dele fazendo a mesma sugestão. Talvez a gente olhe com mais carinho para uma sugestão reforçada por uma maioria. Se ninguém sugerir tema algum, a gente escolhe o tema e danem-se vocês.

Como tudo que fazemos aqui, isto é um experimento social que vai nos dizer muito sobre cada um de vocês, além de colocar à prova nossa versatilidade. Não há trollagem por trás desta semana temática. Quando é trollagem a gente não avisa, mas também não nega. Não tenham medo, é isso aí que está sendo apresentado e nada mais: vamos atender aos pedidos de tema de vocês. Uma semana feita de acordo com a vontade dos leitores.

E como as comemorações começam hoje, escolhi um tema que acho que pode ser do interesse dos leitores mais antigos: um texto contando nossas origens, desde o primeiro momento que tive contato com o Somir até o nascimento do Desfavor e sua evolução. Muitos aqui acompanharam todo esse processo bem de perto e lembrarão de muita coisa. Se errei em algum detalhe cronológico, me perdoem. Estamos falando de cinco, seis anos atrás, muita coisa já se confundiu na minha cabeça cronologicamente falando. O que importa são os fatos, e eles estão todos aqui. Divirtam-se.

 


ORIGENS

Por Sally

Várias vezes citamos eventos do nosso passado de forma fracionada, mas nunca explicamos exatamente as origens do blog, desde o primeiro momento. Hoje, para comemorar o aniversário do Desfavor, vim aqui contar como tudo começou.

Eu havia acabado de passar por uma cirurgia muito invasiva e com tempo de recuperação total estimado em dois anos. Tinha sido avisada que sair de casa nos primeiros meses nem pensar. Mais: não era recomendado ficar deitada o dia todo, teria que ficar preferencialmente sentada. O que faz uma pessoa numa situação dessas? Na época, abria um Orkut. Eu, como sempre, me recusei a participar e a entrar no Orkut, mas, devido a esse prognóstico terrível de meses sem sair de casa, decidi que era melhor do que nada. Porque antes desses meses sem sair de casa, vieram meses sem sair do hospital, o que significa que eu já havia lido tudo que fosse possível e não me restavam muitos lazeres que pudessem ser praticados sentada, na minha casa.

Foi lá a babaca, meio contrariada, abrir uma conta no Orkut. Com o tempo percebi que devido à minha personalidade repulsiva, o nome verdadeiro não funcionaria ali, daí migrei para um nome falso. Mas tempo livre é uma merda, em pouco tempo percebi que me divertiria mais se criasse três personalidades diferentes: uma para pancadaria (Ally), uma para posar de pessoa comum (Sally) e uma para pagar de vadia (Kelly). Lá estava eu, administrando 3 perfis diferentes e fazendo minha pequena bagunça particular.

Quem mais me deu alegrias foi a minha vadia, a Kelly. Era um tal de homem casado deixar depoimento passando telefone e pedindo conhece-la melhor… e Kelly aceitava todos os depoimentos, “sem querer”, claro. Vira e mexe vinha uma esposa xingar a Kelly. Impressionante as coisas e as informações que consegui flertando com a Kelly, homem é bicho bobo. Chegaram a criar uma comunidade chamada “Eu vi a Kelly na webcam”, sendo que a Kelly nem existia. Quando eu entrei lá e li os detalhes que os homens contavam, disse com todas as letras que eu era um fake e que aquilo tudo era mentira, apagaram a comunidade. Daí eu mesma fiz questão de abrir minha própria “Eu vi a Kelly na webcam” e voltou a encher de gente. Nos tempos em que o Orkut ainda era ativo, Kelly me ajudou a descobrir muita coisa, inclusive onde estavam os bens de muitas pessoas que eu estava atuando em processos e escondiam os bens para não ser penhorados. Sim, Kelly me permitiu muitas penhoras, me rendeu muito dinheiro. Não era do dia para a noite mas… eu tinha todo o tempo do mundo para conversar com os meus alvos. Eu tinha meses e meses de ócio e não era muito difícil ganhar a sua confiança.

Para vocês terem uma ideia da imbecilidade dos usuários, mais tarde eu tornei pública a senha para o MSN da Kelly em uma comunidade minha, que tinham em média cem meninas. Todas elas tinham o MSN da Kelly e todas elas entravam quando queriam. Criamos um tópico só para rir das babaquices que obtínhamos nos MSN: desde fotos de homens casados pelados até endereços residenciais, números de telefones e teve um imbecil, nunca me esqueço, que passou o numero da sua conta bancária. Kelly foi um grande alerta para todos sobre como é possível conquistar a confiança de uma pessoa virtualmente se você aparentar ter afinidade com ela e concordar com tudo que ela fala. No fundo, aquelas pessoas só queriam atenção, só queriam ser ouvidas. Infelizmente muitas agendaram encontro com a Kelly e quando chegaram ao local um traveco que atendia por “Kelly” as esperava. É o risco que um homem casado que flerta na internet corre: ser punido por pessoas desocupadas.

Com o perfil da pancadaria, a Ally, acabei ganhando de presente uma moderação de uma comunidade grande, chamada Piores Conselhos Possíveis. Dava trabalho aquilo lá, mais de cem mil pessoas tocando o zaralho. Mas, para quem tem tempo livre… E foi através dessa comunidade que conheci elos de ligação com a comunidade que me levaria até o Somir. Minha fama de porradeira já tinha se espalhado e como um porco cheira o outro, não demorou para que eu me junte com a banda podre do Orkut. Em pouco tempo eu entraria em uma comunidade de propriedade daquele que hoje vocês conhecem como Deja, onde conheceria o Somir.

A comunidade era basicamente feita para entrar e ficar xingando as outras pessoas que estavam lá, uma antítese muito bem sacada das comunidades que estavam na moda, onde as pessoas entravam para elogiar os participantes. O objetivo era ser agressivo. Um perfil em especial me chamou a atenção: Tiago Somir. O rosto de um rapaz com sorriso maroto e uma história triste. Tiago Somir sofria de um tipo raro de câncer e muita gente permitia que ele fizesse e falasse qualquer merda por causa disso. Tiago Somir estava morrendo de câncer e se sentia no direito de ofender e tripudiar de todos, inclusive em seus comentários. Comecei a brigar com Tiago Somir quando ele começou a abusar das coisas que me falava. Ele era meio arisco, meio mentirosinho, meio misterioso. Ele e o Deja, que por sinal fechavam um com o outro em uma duplinha bem gay estilo Batman e Robin. Sabe o tipo de pessoa que você não pode acreditar em uma palavra do que diz? Eram eles na época.

A implicância com Tiago Somir se intensificou. A pancadaria rolava solta. Quanto mais eu via que eles não tinham limites, mais gostava daquilo. Tiago Somir era dono de uma comunidade chamada “Lambaeróbica pornográfica”, o que me fazia implicar com ele o tempo todo repetindo a mesma frase: “rebola para mim!”. Eu o desafiava e ele dizia que se eu adicionasse no msn ele rebolaria para mim. Após algumas semanas de ameaças, de fato o adicionei. Para começo de conversa, a imagem dele no msn era um cu com olhos. Imediatamente reclamei e disse que não falaria com um cu com olhos. A grosseria agora também seria via msn. Trocávamos foras e pensamentos politicamente incorretos. E sim, ele chegou a me mandar um vídeo rebolando e… sim, era horrível.

Quando percebemos, estávamos falando todos os dias. Um hábito que surgiu do nada, sempre na mesma hora. E em algum momento no meio do caminho a dinâmica mudou, não apenas Somir e eu, mas outros como Deja e Lindamar nos unimos e começamos a bater nos outros, além de bater uns nos outros. Citei o Deja e a Lindamár porque eram as pessoas mais próximas, com quem eu tinha mais afinidade e, na minha opinião, os mais engraçados e hardcore do grupo, mas muitos outros participavam. Fizemos dezenas de experiências antropológicas no Orkut e em quase todas a resposta era a mesma, ao menos para mim: o ser humano é uma merda hipócrita e burra, por um motivo ou por outro. Com o tempo fomos nos refinando, avaliando cada grupo, cruzando mais uma linha na fronteira dos Intocáveis. Desocupada? Certamente. Desocupada e entrevada em casa, mas acreditem ou não, foi uma das experiências que mais me enriqueceu em matéria de ser humano. Aprendi muita coisa sobre o previsível comportamento humano. Aprendi como tirar as pessoas do sério via internet. Aprendi como fazer as pessoas se sentirem confortáveis e desabafarem comigo. Aprendi muita coisa que me foi muito útil na minha vida profissional. Foi depois disso que realmente comecei a ganhar dinheiro.

Um exemplo rápido para que vocês entendam: depois de muitos experimentos aprendi que se você diz algo a alguém de forma clara e direta a pessoa tende a desconfiar. Porém se você de alguma forma solta uma “pista” sobre determinado assunto que seja o suficiente para a pessoa depreender o que você quer que ela pense, aquilo se torna uma certeza. Por exemplo, se queria convencer um juiz de que o réu estava tendo um caso com uma das testemunhas, jamais afirmava isso. Soltava de forma que pareça acidental indícios que façam o juiz chegar a essa conclusão sozinho. As pessoas adoram se achar super inteligentonas e se sentem envaidecidas quando “descobrem” alguma coisa sozinhas. E preferem acreditar que “descobriram” sozinhas porque são inteligentonas do que perceber que foram enganadas ou induzidas com informações plantadas. Ganhei muito processo com essa e outras coisas que aprendi nos meus experimentos sociais.

Nesse ponto, eu já havia criado mais um perfil: “Rafael Pilha, ex-polegar, ex-drogado e ex-telionarário”. Um perfil grotescamente fake, com coisas como “prato preferido: pilha” e fotos com legendas muito desrespeitosas. Ainda assim, pessoas que conheciam o Rafael Ilha vinham falar comigo como se fosse um perfil verdadeiro, algumas vezes inclusive deixavam depoimentos meio particulares. Amei de cara a dinâmica e Pilha virou minha arma secreta, pois meus outros perfis estavam mais do que manjados. E foi com Pilha o grande divisor de águas do meu relacionamento com o Somir. Foi com o Pilha que eu ganhei o respeito dele.

Não lembro exatamente o motivo da discussão, mas Somir estava fazendo pouco de pessoas com câncer com um de seus perfis. Entrei com meu perfil e disse a ele que achava que ele estava pegando pesado demais e que inclusive eu estava me sentindo incomodada com aquilo, pois estava saindo de uma cirurgia para retirada de um tumor. Somir ficou meio chocado, meio sem saber o que dizer. Logo depois entrei com o Pilha e me xinguei de fresca escrota e coisas muito piores, incentivando o Somir a me cobrir de porrada. Somir parecia confuso entre me bater (instinto básico) ou deixar o assunto morrer (adequação social). Coloquei o Pilha para me xingar sem parar e fiquei brigando comigo mesma para ver a reação do Somir. Ao final, depois de colocar o Somir em diversas saias-justas e analisar o comportamento dele, mostrei a ele o que havia feito e disse que fiz para testá-lo, para estudar suas reações. Uma pessoa normal nunca mais falaria comigo. Por sorte, Somir não é uma pessoa normal.

A reação dele foi um misto de putez por ter sido enganado e uma certa admiração, porque na época ele era, junto com o Deja, o espertão do Orkut. Ninguém enganava eles. Dali para frente o Somir passou a me respeitar. Eu não era apenas um perfil com um cachorrinho no avatar, eu era filha da puta o suficiente para passar a perna nele e usar o meu próprio tumor para sacaneá-lo. Foi quando as nossas conversas no msn cederam lugar a diálogos mais civilizados em vez das ofensas habituais.

Além das atividades coletivas (nunca vou esquecer a intervenção na comunidade “Funk Carioca”), Somir e eu começamos a desenvolver projetos em dupla. Pegávamos comunidades com determinado público alvo e víamos como eles reagiriam a situações de pressão, de medo, de compaixão, etc. Comunidades que julgávamos que mais ninguém teria coragem de testar. Com o tempo, cada grupo foi ficando muito previsível para todos nós. Era como mapear o ser humano. Como eu disse, aprendi muita coisa observando a reação das pessoas naquela época. Desde mães de crianças com deficiência (vocês cagariam tijolos se vissem os prints que a gente tem e o que elas falam quando acham que estão entre pessoas que estão vivendo o mesmo drama que elas… lê-se de tudo, menos “anjos de luz”) até empresários bem sucedidos. Fizemos experimentos em tudo quanto era canto. E o resultado sempre era o mesmo: filhos da puta hipócritas e burros. Dava até uma descrença do ser humano, mas como eu continuava aprendendo e o que eu aprendia me beneficiava em muito, inclusive na minha profissão, fomos em frente.

Tudo ia bem, até que não foi mais. O grupo começou a ter problemas, transtornos e complicações em função de relacionamentos amorosos. Acho que teve um certo período onde todos nós estávamos sofrendo alguma cagação em função de pessoas que tinham ou queriam ter um relacionamento conosco e sufocavam cada membro do grupo de uma forma diferente. A discórdia pairava no ar. Uma coisa meio Yoko Ono coletiva pairava no ar. Conversando com o Somir no MSN, falamos muito a esse respeito, sobre como as pessoas se relacionam ou querem forçar os outros a se relacionar de forma neurótica e sufocadora, coisa que inclusive acontecia conosco também. Como era uma questão meio que generalizada naquele momento, resolvemos fazer o que a gente sempre faz quando tem um problema: debochar dele.

O meu perfil da Sally, a menina normal, virou Sally Somir e ela foi promovida a esposa de Tiago Somir para viabilizar esse “projeto”. Abrimos uma comunidade chamada DR FOREVER, que ao contrário do que a maioria pensa, não é “Doutor Forever”, é “Discussão de Relacionamento Forever” para tripudiar de casais que vivem em constante DR. Era um embrião do Desfavor. No começo, postávamos textos basicamente de um casal discutindo, abordando problemas ligados a relacionamento, pensamentos machistas e feministas e até mesmo historinhas envolvendo outros personagens. O que era para ser um easter egg, uma piada interna nossa, acabou ganhando seguidores. Pessoas que nunca vimos antes iam até a DR Forever para ler as nossas postagens e pediam mais. Sim, infelizmente muita gente se identificava com o casal neurótico Sally e Somir. As pessoas não entendiam que aquilo era uma caricatura grotesca de algo que abominávamos em relacionamentos e super se identificavam.

Nesse ponto, nossas conversas no msn estavam quase que 100% sinceras. Começamos a levar o casal Sally e Somir para outras comunidades e nelas fomos conhecendo pessoas bacanas, como por exemplo a Suellen. Até na minha comunidade Somir, Deja e Lindamár entraram. Como homem não poderia entrar. Somir então abriu o Paint, passou um batom e blush na foto do Tiago Somir e criou o perfil da Somira, a irmã do Somir, passando a participar da comunidade. Deja tinha um perfil feminino que ninguém desconfiava ser real e Lindamàr era nossa Miss.

Sally era um sucesso discutindo neuroticamente com o Somir. Por mais que eu tentasse fazer ela chata, muito chata, muito pau no cu, chovia mulher me dando apoio e dizendo que agia da mesma forma. Dava medo. O esquema da comunidade também estava sendo aplaudido: feminismo, calcinha power e desabafos. O que a gente tinha criado para ser um deboche estava sendo socialmente aclamado. Ficamos meio perdidos, é muito chato agradar quando você queria desagradar. E no meio dessa brincadeira toda, surgiu uma aposta: não lembro como, eu disse que seria capaz de enganar o Deja e fazer ele acreditar que eu era a Lindamar. Somir disse que não, que ninguém enganava o Deja. Eu disse que eu iria, mesmo que isso me desse trabalho. Por sinal, acho que o Deja não sabe disso até hoje.

Resolvi que iria plantar um easter egg muito escondido para que o Deja “achasse”, de modo a que ele pense que foi um descuido meu e que ele descobriu sozinho. Para isso, pedi ao Somir que crie um blog qualquer para mim, para que eu escreva um texto onde “sem querer” desse uma escorregada e jogasse uma referência que fizesse o Deja achar que eu era a Lindamar. Somir criou um blog chamado “Sally Surtada”, fundindo as duas coisas que estavam dando certo no momento: feminismo e DR. Me mostrou o blog e disse que estava pronto, que eu poderia escrever o tal texto-isca.

Fiz um texto qualquer merda, com o único objetivo de servir de pano de fundo para uma revelação implícita de que eu seria a Lindamar com a única intenção de sacanear o Deja. Sim, esse era o nível de dedicação que a gente tinha para sacanear um ao outro. Para minha surpresa, as pessoas acharam aquilo e gostaram. E pediram mais. Ignorei por algum tempo, mas as pessoas não apenas pediram mais como ainda criaram uma comunidade para mim no Orkut: “Eu leio Sally Surtada”. Tinha um numero respeitável de membros. Então, já que estava ali mesmo, decidi passar alguns dos textos que eu havia criado com o Somir no Orkut para lá, até porque tínhamos muitos desafetos e nossas comunidades viviam sendo apagadas porque os ofendidos nos denunciavam em massa. Então, até para não perder tudo que estava escrito quando a comunidade fosse apagada (aconteceu tantas vezes…), colei as coisas mais importantes no blog, como backup.

Dobrou o número de pessoas. Elas deixavam comentários, mandavam e-mails… e porra nenhuma do Deja achar aquela referência à Lindamar. Daí eu cheguei a uma conclusão: o Deja viu e estava rindo por dentro, porque ELE era a Lindamar, coisa na qual eu acreditava incondicionalmente até poucos dias atrás, quando ele me disse nos comentários aqui do Desfavor não ser verdade. Só sei que o Sally Surtada começou a bombar e o Somir começou a me mandar escrever de verdade. O problema é que tinha muito pouco de verdade naquele blog, era sacrificante escrever naquele tom “surtado”, porque essa não era eu. Lembro que tive que escrever um texto sobre como é idiota o homem que fica jogando vídeo game, logo eu, jogadora compulsiva. Tava puxado. Foi quando surgiu a ideia de transformar a MINHA comunidade cujo nome EU CRIEI, em blog. Eu não queria, Somir não queria, mas a ideia de escrever apenas uma vez por semana deixando o resto dos dias para outras pessoas me animou.

A gente conversava muito sobre o assunto e a gente sabia o tipo de pessoa que havia ali. Não eram más pessoas, mas não eram pessoas com as quais tínhamos afinidade. Muita mulher, algumas muito novinhas, muito mimimi. Inclusive nessa época se deu um mimimi vergonhoso com o nome da Suellen em um período onde eu estava afastada da moderação da comunidade que me deixou tão enojada, que decidi nem voltar. Não só não voltei como abri mão da comunidade. Enfim, topamos um blog com pessoas que sabíamos não ter afinidade de pensamento e de ideologia achando que poderíamos conciliar as coisas. Evidente que ia dar merda, e deu. Graças a Gezuzi Godzila não demorou muito para dar merda.

Uma nobody que não lembro o nome postou um texto dizendo que era “perda de tempo” (ou algo do tipo, também não lembro) alfabetizar os filhos em outro idioma que não o português, um texto recheado de patriotismo cagado e muitos erros de português e concordância. Achei fraquinho, como quase todos os textos e deixei a minha opinião nos comentários: disse que não concordava, expliquei com educação porque não concordava e fechei com “francamente, este texto é um Desfavor”. Choro, histeria em massa, pessoas ofendidas, pessoas me dizendo que se criticássemos umas às outras os patrocinadores não iriam gostar, etc. Não suporto vitimização, sério mesmo, é algo que eu não consigo tolerar. Talvez por isso filtre quem me cerca na base da porrada, assim afasto de mim as vítimas logo de cara. Pedi para sair na mesma hora em que a moça se disse ofendida e alegou estar sendo “massacrada” e pedi que apaguem todos os meus textos. Fiquem com a politica de elogios para agradar patrocinadores, fiquem se elogiando falsamente como moeda de troca para assegurar que seu texto também será elogiado, aquilo não era para mim desde o começo. O mais curioso? Uma falava mal horrores da outra para mim em off. Não teve UMA, UMA ÚNICA que não tenha metido violentamente o cassete em todas as outras. Típico de gente mimimi.

Somir ficou pesaroso, não pela saída, mas porque via algum potencial nos nossos textos. Em uma conversa de msn ele queria me convencer a voltar a escrever no Sally Surtada e eu disse que aquilo eu não aguentava mais. Só escreveria se fosse em um projeto novo só com ele e com mais ninguém. O projeto era complicado: textos diários. Muita gente nos disse que não poderia ser feito, que não teríamos folego nem para um ano. Ele topou criar um blog comigo nesses moldes e tentar fazer o que era considerado impossível. Inicialmente o blog se chamaria PROCESSA EU, já que a gente vinha de anos de pessoas nos ameaçando de processos, processos por sinal que até hoje nunca vieram. Mas Somir achou que o título não seria muito atrativo, publicitariamente falando. Fizemos um brainstorm e depois de citar dezenas de nomes veio O nome: Desfavor. A palavra que causou tanta polêmica no blog anterior, a palavra que nem existe no dicionário (como oposto de favor). Uma palavra de nossa autoria. Nada traduz melhor a gente: somos um Desfavor à sociedade.

Nasceu então um blog que nada mais seria do que uma compilação organizada de tudo que a gente já fazia, anos atrás, no Orkut: falar mal de quem é mito (processa eu), surto de raiva contra homem (sally surtada), opiniões extremamente impopulares (flertando com o desastre), histórias ficcionais (des contos), opinião sobre futebol (des portes), divergências nossas (ele disse, ela disse), informação (desfavor explica), informação jurídica (em direito), esculhambar uma merda que acabou de acontecer e repercutiu (desfavor da semana), etc, etc. A gente continua fazendo a mesma merda, só que agora está catalogada em uma ordem coerente e agora a gente tem prazo para apresentar cada texto. E sim, vira e mexe a gente dá uma sacudida com algo diferente, como também costumávamos fazer.

Muita coisa teve que dar errado para que a gente chegue até aqui: doença que me obrigou a ficar em casa, briga com outras pessoas, ameaças, encheção de saco. E quer saber? Como valeu a pena! Para todos aqueles que, mesmo com boas intenções, vieram dizer que era IMPOSSÍVEL manter um ritmo de postagem diário por muito tempo: CHUPA! CHUPA E ENGOLE, Desfavor completando quatro anos, firme e forte rumo ao quinto. Até quem não gosta da gente tem que dar o braço a torcer que quatro anos de postagens diárias tendo uma vida em paralelo mercê aplausos. Podemos ser dois filhos da puta que não valem o que cagam, mas a gente fez o impossível.

Para dizer que a gente é mais fodido da cabeça do que vocês imaginavam, para duvidar que isso aqui seja realmente tocado por apenas duas pessoas ou ainda para deixar sua sugestão de temas para as postagens da semana que vem mostrando que você não tem medo nem ficou com trauma de todas as vezes que já te trollamos: sally@desfavor.com


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