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Desfavor Bônus: Estude!

| Sally | | 142 comentários em Desfavor Bônus: Estude!

Estou sentindo umas presenças NORMAIS E ACIMA DA MÉDIA por aqui nos últimos tempos. Porque não, em tempos de inclusão, escrever um textinho para eles? Meus Amores, este texto é para vocês, que me despertam aquele sentimento de afeto…

Eu sou de uma geração que foi sacaneada pela realidade: quando era pequena, tempos em que não existia internet nem facilidade de obter informações, sempre ouvia de todo mundo: “Estude, estuuuude porque estudar é a única forma de ser alguém na vida”. E foi o que eu fiz, desde os tempos do colégio, sempre estudei muito. Estudei o que tinha que estudar e estudei coisas que não precisava, para compreender melhor as pessoas e o mundo.

Porém nos últimos anos cruciais para minha formação o mundo mudou. Mudou rápido, mudou praticamente de uma hora para a outra. A informação, que antes tinha que ser garimpada em enciclopédias e bibliotecas em atos trabalhosos e demorados começou a abundar na internet. O mercado de trabalho se transformou. A elite não era mais quem detinha a informação, porque a informação estava ali, a um clique de qualquer um. A elite começou a ser quem tinha contatos. Ninguém me avisou que as coisas seriam assim e eu sempre fui muito ruim no quesito contatos. Não sou uma pessoa sorridente nem educada o bastante para ser massivamente querida. Muito pelo contrário.

Eu não tinha contatos, e creio que não sou boa nisso até hoje. Eu odeio gente, gente me irrita. Tendo a achar quase todas as pessoas burras e desinteressantes e não consigo disfarçar isso em contatos sociais. É um defeito, eu sei. Cresci com uma certa arrogância equivocada, pensando que se você for muito bom no que faz, não precisa de favores, de empurrãozinho, de amizades para subir na vida. Talvez isso tenha sido verdade na década de 80, mas hoje em dia certamente não é. Os contatos valem mais do que o conhecimento, a balança virou. Quem de nós não conhece uma pessoa que não é estudiosa, não é brilhante, não é sequer esforçada mas está melhor do que a gente por ter bons contatos?

Durante muito tempo me senti traída. Você se mata de estudar e só porque não tem vocação social acaba perdendo para pessoas menos qualificadas porém mais simpáticas. E por “simpáticas”, entenda-se pessoas falsas que tem estômago para fingir gostar e se divertir com quem interessa. Lutei contra isso por muito tempo, me aborreci muito e me senti muito sacaneada. Até passei por um período mais raivoso onde cheguei a dizer que estudo não valia nada. Mas o mundo continuou a dar voltas, eu amadureci e percebi um pequeno detalhe que até então não tinha visto.

Apesar de não garantir a vida profissional e financeira de ninguém, estudo continua sendo bom, estudo te dá poder, te diferencia da multidão. Justamente por ter essa facilidade de informação na internet, que em um primeiro momento desvalorizou o estudo, a pessoa estudiosa está voltando a ser valorizada. É como um movimento pendular: estudo não valia nada porque estava tudo a um clique, mas com o tempo se percebeu que informação de internet é dúbia, sem credibilidade e exige um embasamento no assunto e senso crítico para ser filtrada. O estudo ressurge das cinzas, desta vez como artigo em extinção, visto que essa Geração Google não sabe estudar desde o berço e terá bastante dificuldade em aprender, devido a seu imediatismo e hiperatividade.

Por isso eu vim aqui escrever este texto, para te dizer que ESTUDE. Não me refiro ao conceito limitado de estudo, de fazer dever de casa do colégio ou de tirar boas notas na faculdade. Me refiro ao hábito de buscar se aprofundar em informações que de alguma forma podem ser úteis para a sua vida. O estudo facilita a sua vida de uma forma que quem não estuda não pode nem conceber. Quer melhorar algo que você já faz? Estude, estude que você vai ver como em pouco tempo você será uma das pessoas mais qualificadas nesse assunto. Ninguém estuda hoje em dia, logo, quem estudar um pouquinho ao menos, já se destaca.

Não consegue estudar? Não sabe estudar? Relaxa, no começo é difícil mesmo, mas o estudo, se cultivado como hábito, deixa de ser um sacrifício e passa a ser um prazer, pode confiar nisso. Quando você vai percebendo o quanto o estudo facilita a sua vida, a vontade de estudar aumenta. E não, não me refiro a ganhar dinheiro, porque nem tudo na vida é ganhar dinheiro. Me refiro a ganhar qualidade de vida e lidar melhor com os seus problemas e com outras pessoas. Upgrade mental, benéfico em qualquer área da vida, sem resultados imediatos na sua conta bancária com significativos resultados a longo prazo. ESTUDE.

Muita gente descarta o estudo das suas vidas porque sabe que não é necessário estudar, hoje em dia, para ganhar dinheiro ou ser bem sucedido profissionalmente. É verdade, infelizmente. Mas existem centenas de benefícios que o estudo pode te proporcionar se ele for encarado como um meio para se aprimorar. Um exemplo simples: estude seu parceiro. Quem tem o hábito de estudar, quem sabe estudar, pode se dedicar a estudar seu parceiro e com isso conhece-lo melhor, evitando brigas e permitindo uma avaliação real da sua compatibilidade. Quais são as preferências, os gostos, os hábitos. Qual foi a formação dele, a religião, a ascendência étnica. Qual é a profissão, qual é o carro e qual é o filme favorito. Não importa a profundidade da informação e sim a forma como você vai catalogar isso na sua mente. Pesquise pessoas. Você vai se surpreender com o poder que isso te dá sobre elas.

Você tem um hobbie? Algo que gosta de fazer regularmente e gostaria de fazer ainda melhor? Estude. Estude as origens, estude o que as pessoas que são referência nessa atividade falam, estude as noções de física ou química ou o que quer que seja que influenciam na atividade. Não é só a prática que leva à perfeição, a compreensão e o estudo são obrigatórios para melhorar seu desempenho no que quer que seja, desde cozinha até uma partida de golf. Estude aquilo que te dá prazer, nada como compreender os detalhes daquilo que a gente gosta.

Muito da birra com estudo vem do colégio, quando somos obrigados a estudar coisas que não nos interessam e que, em uma visão limitada, são coisas que “nunca mais vamos usar na vida”. Na verdade, essas “coisas que nunca mais vamos usar na vida” são fundamentais para um desenvolvimento cerebral pleno, para criação se sinapses que nos permitem ver o mundo e analisar os problemas sob diversos pontos de vista. E sim, mais cedo ou mais tarde essas coisas acabam sendo necessárias, ainda que de forma indireta. Aprender coisas novas é musculação cerebral, ainda que essas novidades sejam aparentemente “inúteis”. O fato do cérebro fazer força para entender algo por si só já basta para te deixar mais capaz.

Superada essa fase do colégio, que muitos consideram um estupro mental, você pode se dedicar a estudar o que você quiser. Estudar algo de seu interesse pode ser mais prazeroso do que você imagina. Como eu disse, é uma musculação cerebral: no começo é difícil e exaustivo, mas com o tempo vai ficando fácil e gratificante. Muita gente para no começo pois a tendência moderna são pessoas imediatistas e impacientes, mas aqueles que persistem são bem recompensados. Não é porque está difícil que tem que parar no começo. Todo começo é difícil, supere isso.

Estude. Mesmo que no começo você tenha que pegar bem leve. Escolha um assunto que te fascina e estude cinco ou dez minutos por dia sobre ele, lendo no seu tempo. Cinco minutos por dia é um projeto viável. Da mesma forma que ninguém chega na academia já levantando 400kg, ninguém começa a estudar já lendo (uma leitura de qualidade) por 4h. É um processo lento e é normal que a pessoa não consiga um rendimento fenomenal de primeira. O erro consiste em, ao não conseguir esse rendimento fenomenal, entregar os pontos e dizer “Tá vendo? Esse negócio de estudo não é para mim”. É sim, mas deve ser iniciado gradualmente.

Comece com cinco minutos. Quando estes cinco minutos se tornarem fáceis, mesmo que isso demore semanas, aumente para dez minutos e persista. Só leia enquanto seu cérebro compreender e apreender (no sentido de reter) o que está lendo. Quando chegar a aquele ponto onde você lê por ler, lê para cumprir meta sem apreender o que está lendo, pare. Uma boa dica é ler um parágrafo, fechar o livro (ou o computador) e repetir com as SUAS palavras o que foi dito ali. Ou então repetir como se quisesse explicar aquilo que leu para uma criança de cinco anos, de forma bem didática. O processo de explicar algo é uma das formas mais eficientes para reter informação na sua mente. Falar difícil é fácil, o que é realmente difícil é ler algo e saber repeti-lo de forma fácil para um ouvinte. Poucas pessoas conseguem.

Se você não tiver nenhum assunto do seu interesse em particular, procure aprender uma coisa nova todos os dias. Não tem tempo? Duvido. Para ver novela, para jogar joguinho e para fazer outras coisas que não acrescentam todo mundo tem tempo, né? Estudo é como escovar os dentes ou tomar banho, você TEM QUE reservar uma hora do seu dia para isso. Os benefícios compensam o esforço. Leu um assunto que te chamou a atenção no jornal ou na revista? Estude para compreender melhor. Quer aprender a se maquiar como uma capa de revista? Estude. Quer virar o melhor jogador de um jogo? Estude. Mesmo que muitas das fontes que você leia não sejam das melhores, se você estudar muito vai aprender a filtrar as informações verdadeiras das falsas.

A partir do momento em que você aprende a estudar, aprende a ler cada parágrafo, compreendê-lo e explica-lo para quem não tem a menor noção do assunto, amplia o uso do seu cérebro. Você se torna mais inteligente, não apenas pela informação que entrou, mas também por ter majorado o uso do seu cérebro. Não parece, mas aquelas informações estarão ali arquivadas e, quando você menos esperar, serão linkadas de forma automática em situação triviais, te permitindo decisões mais inteligentes, mais rápidas e mais eficazes. É um ganho global que não pode ser obtido de nenhuma outra forma que não no estudo.

Queira estudar. Ponha na sua cabeça que este é um puta diferencial e que você vai ser mais esperto que os outros se o fizer. Aproveita que o campo está fértil: como quase ninguém da nova geração sabe estudar, quem estudo só um pouquinho já se sobressai. Não descarte o estudo porque “não precisa para ganhar dinheiro”. Precisa para estar acima da média, para viver melhor e para lidar melhor com os problemas. Pense no estudo como uma caderneta de poupança de inteligência: nos primeiros meses não vai fazer muita diferença, mas ao longo dos anos pode salvar a sua vida.

Não importa quão fútil o assunto seja, ESTUDE. Quem estuda qualquer merda sempre ganha com isso. Quer estudar como cozinhar melhor? Estude! Quer estudar sobre futebol? Estude! Quer emagrecer? Estude! O mecanismo de estudar por si só já vai abrir muitas portas e tornar sua vida mais fácil e completa. Não, não é papo de intelectual, é uma melhora palpável que você pode, inclusive, usar para o mal: se dar bem, passar a perna nas pessoas, manipular pessoas e conseguir inúmeros benefícios em causa própria. Estudo é poder.

Meu pedido para que as pessoas estudem não se confunde com aquele pedido que eu recebi, na década de 80, de “estudar se quiser ser alguém na vida”. Na verdade, o que quero dizer é “estude se quiser ser melhor do que os outros”. Ser melhor do que os outros, ser “acima da média” (de verdade) vai trazer inúmeros benefícios, quem sabem até econômicos. Basta saber fazer uso disso. Queira ser melhor do que os outros, é isso que faz diferença no mundo e não fazer filho. Deixe sua marca no mundo estudando, porque estudo não caga, não chora e não vai para a creche.

Com a facilidade de informação o estudo se transformou. Não há mais monopólio da informação por uma elite, mas sim o monopólio da interpretação da informação por uma elite. Poucas pessoas sabem ler e compreender um texto, ter senso crítico, detectar contradições, questionar o conteúdo e depois explicar tudo isso para um interlocutor. Não, não é dom, é prática. Pode começar a tentar que em questão de tempo você chega lá. E vai ficando cada vez mais fácil com o tempo. Comece hoje. Estude.

Para perguntar porque merdas estou nivelando o tema do texto por baixo, para se beneficiar do texto em silêncio de modo a não pagar de ignorante ou ainda para me chamar de nerd: sally@desfavor.com


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