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Flertando com o desastre: Reagindo.

| Somir | | 232 comentários em Flertando com o desastre: Reagindo.

O vídeo que abre esta postagem ocorreu na Suécia. Mesmo sem familiaridade com a língua inglesa (ou sueca), dá para perceber o que aconteceu: Religiosos raivosos cercearam a liberdade de expressão alheia, na base da intimidação mesmo. Tudo isso num país bem mais livre que o Brasil, por exemplo. Confesso que o que senti ao ver o ocorrido foi bem mais primal do que mera desaprovação. Foi raiva. Os terroristas estão vencendo.

Não sei o quão afiados os impopulares estão em questões de política internacional, mas até pouco tempo atrás os países escandinavos tinham fama de países até “chatos” de tão pacíficos, liberais e igualitários que eram. Apesar do frio desgraçado, eram oásis de civilização moderna e tolerância num mundo tomado por fanáticos, déspotas e populistas.

Não estou dando uma de Rudy Réptil com suas mulheres russas e pintando um quadro fantasioso sobre perfeição social estrangeira, aposto que suecos, noruegueses e afins tem sua parcela de corruptos, incompetentes e intolerantes, mas quando falamos de sistema como um todo, o deles funcionava.

Evidente que se compararmos o sistema deles com o brasileiro (ou mesmo o americano, para usar uma comparação mais… rica), escrever o verbo funcionar no passado parece exagero. As políticas sociais são muito melhores e mais bem implementadas, a civilidade geral do povo é maior, a renda está menos concentrada… todos elementos extremamente agradáveis para quem vive por lá.

Mas como não existem sistemas perfeitos, havia uma falha nessa política intelectualmente elevada de igualdade e aceitação por parte dos países escandinavos: Acomodar gente incapaz de entendê-las. Durante muito tempo, Suécia e Noruega foram verdadeiras mães para imigrantes miseráveis vindos de outras áreas da Europa e Ásia (Oriente Médio). Davam casa, comida, emprego… Tudo o que um Estado justo deveria fazer. Tudo o que os Estados originais dos imigrantes não faziam.

Dá para notar como fica interessante se mudar para um país desses, não? E foi isso que gerações e gerações de imigrantes de áreas predominantemente muçulmanas da região fizeram. As populações islâmicas estão aumentando consideravelmente não só na Escandinávia como em diversos outros países mais ricos da região. Resultado de imigração e reprodução, sabe como é… renda e estudo menores, quantidade de filhos maiores.

Imigrantes, ao contrário do que diz discursinho neonazista de meia-pataca, não são algo necessariamente ruim para um país. Muitos foram construídos com o suor e a dedicação deles, o Brasil mesmo é um exemplo de país que deve muito a quem resolveu se mudar para cá (sim, podia ser PIOR!). O problema principal da imigração nesse contexto europeu, é que o grupo mais vocal, numeroso e ativo é unido por laços religiosos e extremamente arisco aos costumes e políticas locais.

Há alguns anos, eu rolaria os olhos ao ouvir que um vídeo exibido numa universidade sueca teve que ser parado por causa de reação violenta de reacionários religiosos. Atualmente, não surpreende mais. A terrível verdade nesse assunto é que as coisas estão chegando nesse ponto pelo excesso de civilidade e condescendência de povos que já alcançaram um padrão social mais elevado. E sim, a elevação desse padrão é mensurável… Um país onde direitos básicos são respeitados alcançou um padrão maior de vida do que o país que apedreja mulheres que foram estupradas.

As comunidade islâmicas “modernas” tendem a não se misturar com a cultura local, preferindo se fechar em guetos e usar a força dos números para ir tomando pouco a pouco o território do país hospedeiro. E sempre que possível, explorando os recursos locais. Isso gera a babaquice galopante como a demonstrada no vídeo: Estudantes que provavelmente usam recursos públicos para se formar atacam uma das fundações de um país livre e moderno, que é a liberdade de expressão. Azar dos locais acostumados a lidar com os mais diversos discursos, tem que ser do jeito retrógrado deles ou o pau quebra.

Outro elemento presente no caso europeu é um trauma ainda bem recente do nazismo. Gato escaldado tem medo de água fria. Embora existam partidos e grupos nazistas espalhados por toda a região (alguns mais “honestos” que outros), a opinião pública tende a estar suficientemente vacinada contra esse tipo de nacionalismo intolerante. A merda é que a rejeição ao discurso neonazista acaba contaminando a opinião de quem acredita que os islâmicos estão abusando.

O mundo não se desenvolve no mesmo passo, e isso nada tem a ver com superioridade de determinada raça… De uma certa forma os europeus estão colhendo os frutos da sua política de colonização. Esse povo raivoso e atrasado é o resultado da exploração sistemática por séculos a fio. Mas o conceito de justiça poética parece bem menos interessante quando a noção de sociedade moderna começa a perder espaço para fanatismo.

E fanatismo não só do lado muçulmano. O maluco norueguês que matou mais de 70 jovens e adolescentes ano passado para passar uma mensagem contrária ao multiculturalismo é resultado dessa tensão. Não se pode culpar ninguém pelas atitudes de um psicopata escroto como Anders Breivik, mas pode-se entender como ele conseguiu encaixar sua paranoia num contexto atual para o país. O que tem de gente torta da cabeça por aí só esperando uma desculpa não é pouca coisa…

Para não parecer que estão dando chancela para quem está mais preocupado com a cor da pele do imigrante do que com ele está fazendo, políticos também não se mexem para botar freios nessa rejeição aos valores de liberdade e igualdade modernos que os grupos de imigrantes islâmicos estão desenvolvendo. Os religiosos que NÃO me desculpem, mas não tem UMA linha de sabedoria “positiva” nas regras religiosas que não estejam presentes nas leis de países democrático. E se uma Constituição de um país moderno e livre difere de uma escritura sagrada, pode ter CERTEZA que é porque a versão da escritura sagrada é fantasiosa, estúpida, antiética, imoral, intolerante ou tudo isso ao mesmo tempo.

Mas mesmo assim muita gente prefere seguir regras irracionais religiosas porque nunca tiveram chance de entender o porquê delas serem irracionais. Alguma figura de poder inflama o povão a achar que o mundo está piorando por causa do aumento da liberdade e da racionalidade, e o povão compra o discurso. E vocês sabem que liberdade e racionalidade são ameaças poderosas a qualquer religião.

Não deixa também de ser parte do ciclo humano entre posturas libertárias e reacionárias durante a história. Quando a repressão começa a ficar pesada demais, nos revoltamos e liberamos a população. Quando a liberação começa a mostrar a nossa carinha feia como espécie, o povo clama pela repressão de volta. Até não aguentar mais… e por assim vai. Parece que o maior medo da humanidade é perceber o que ela realmente é.

E é muito disso que está acontecendo, não só com os muçulmanos na Europa, mas com os cristãos na América. Eles estão mostrando a cara, mas pouca gente tem coragem de olhar. Através de leis e políticas públicas que permitem sua liberdade, tentam minar o próprio sistema do qual se beneficiam. Quebrar as fundações da própria casa é uma das definições mais claras de burrice.

Quando ficamos aqui no desfavor batendo na tecla de que o politicamente correto é um veneno para uma sociedade justa e igualitária, não estamos fazendo uma reclamação de classe média mimada, estamos apontando exatamente para onde está a cagada. E se as pessoas precisam de exemplos de como esse problema é real, que olhem para exemplos como o do vídeo desta coluna. Já conversei com alguns suecos pela internet (não foi em Stormfront ou qualquer lugar tosco desses) e eles revelam o que eu já desconfiava: Muita gente tem mais medo de parecer intolerante do que de sofrer cerceamento de liberdades por causa de muçulmanos malucos.

E como os fanáticos só não são tontos na hora de escolher países para se instalar, sempre escolhem democracias. Com o tempo o número deles começa a fazer diferença nas eleições, e eles começam a ter poder político efetivo. No Brasil, embora não exista a questão da imigração, reacionários religiosos estão ganhando cada vez mais força política. Eleições são decididas por eles, candidatos tem que abrir as pernas e negociar com evangélicos para conseguir se eleger… E se meter o pau nisso, é intolerante, né? É intolerância repudiar que intolerantes consigam cargos de poder? É absurdo que alguém não queira obedecer leis criadas por adultos que acreditam no Papai Noel com outra roupa?

Sinto muito dizer isso, mas está faltando reprimir a influência religiosa na política. Está faltando mandar intocável calar a boca e parar de choramingar por tudo que o “ofende”. A Europa logo logo vai lidar com as amargas consequências de achar que as coisas podem ser resolvidas na conversa amistosa. Porque se continuar levando numa boa, achando que o tempo vai aculturar fanáticos que se isolam da sociedade, das duas uma: Ou acabam obrigados a colocar véus na cabeça de todas as mulheres ou acabam cedendo aos igualmente escrotos nacionalistas e promovendo mais um banho de sangue.

Mas como o buraco é sempre mais embaixo, não é inteligente reprimir se valendo de violência, mesmo que seja verbal. Complexo de vítima é um catalisador potente de união e propósito, principalmente para grupos que dependem da ilusão de auto importância como os religiosos.

A forma mais eficiente de reprimir reacionários, seja lá qual for a religião, é desrespeitar suas crenças, mas nunca o ser humano. Isso tem fundamento histórico: Países com tradição secular poderosa como Inglaterra e França praticamente mataram o poder da Igreja Católica sem perseguir (muito) seus adeptos. Foi questão de esvaziar o significado das baboseiras proferidas pelos velhos virgens do Vaticano dando liberdade para as pessoas debocharem dos conceitos e espalhar o conhecimento científico.

Essa ideia de que devemos respeitar as crenças de todos FAZ MAL para a sociedade. Crenças podem ser abusadas por safados com sede de poder, porque sim, eu sei que muçulmanos na Suécia e evangélicos no Brasil são mais ou menos uma massa uniforme de gente usada por espertos sem uma gota de ética. Mas como evitar que essa massa comece a foder com conceitos como liberdade de expressão, igualdade entre os sexos, tolerância religiosa, sexual e democracia como um todo? Tirando o poder dos escroques manipulando a massa. Esvaziando o significado de suas palavras venenosas…

E isso se faz atacando a religião, a crença em si. Bater nos crédulos fortalece a crença, bater na crença enfraquece a crença. O crente fazendo discurso sobre os males da homossexualidade tem que saber sem sombra de dúvidas que está falando merda e que está fazendo papel de retardado frente aos seus pares mais civilizados. O direito de pensar de uma forma não deixa de existir, o que passa a acontecer é haver uma consequência para ostentar ignorância.

Os babacas do vídeo deram seu showzinho com a certeza da impunidade. Os suecos parecem bundões demais para mandar os ofendidos saírem de uma exibição que não gostaram… e isso tem consequências. Gente burra acredita DE CORAÇÃO que está certa quando arma barraco, e discordância silenciosa não tem efeito NENHUM nesse tipo de pessoa. O fanático muçulmano e o (em escala menos violenta, mas igualmente cretina) crente brasileiro não vão pensar mais sobre o assunto e perceber que erraram. Pensar é tratado quase como pecado por quem os manipula.

Tolerância com crença alheia é o caralho! Quando esse tipo de mentalidade vencida há milênios começa a interferir com os direitos de uma civilização moderna, é a crença que tem que cair fora.

Então, deixa eu fazer a minha parte: Se você acredita em qualquer forma de divindade pessoal que te diz o que fazer e te julga de acordo com sua devoção, você acredita em algo ridículo e infantilóide, além de estar atrasando e piorando a vida DE TODA A HUMANIDADE. Religião é um câncer, não tem nenhuma qualidade redentora. O que se podia ter aprendido com ela já se aprendeu e virou senso comum em sociedades avançadas.

Para admitir que também torceu para que os policiais passassem spray de pimenta em todos os revoltados, para dizer que tolera a minha visão intolerante, ou mesmo para defender sua religião ridícula (seja lá qual for): somir@desfavor.com


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