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Ele disse, ela disse: Em cisma.

| Desfavor | | 37 comentários em Ele disse, ela disse: Em cisma.

Sally e Somir concordam em alguns pontos quando a questão é ciúme. Mas quando uma questão vem á tona, ambos ficam bem possessivos sobre seus pontos de vista: O caso da pessoa com quem você está ser cantada por alguém do mesmo sexo. (homem cantando homem acompanhado por mulher, mulher cantando mulher acompanhada por homem) Ela continua achando absurdo, ele… nem tanto.

Tema de hoje: Cantada do mesmo sexo incomoda menos num casal hetero?

SOMIR

Sim. Falo do ponto de vista de quem só consegue imaginar de forma prática uma mulher cantando minha namorada. Seriam muitas camadas de presunção para falar por uma mulher nessa situação; e apesar de Presunção ser meu sobrenome (junto com Perigo), não acho que vá ser de grande valia chutar tanto.

O que não me impede uma argumentação mais generalizada, mas tomarei o cuidado de mencionar quando estiver num território mental mais… masculino. Existem sim peculiaridades na mente de homens e mulheres, e é bobagem fingir que é tudo igual.

Pois bem, apesar das diferenças, quase todos temos algo em comum: Competitividade. A competição entre pessoas talha praticamente toda a nossa sociedade desde… desde que ela existe. Aqui não é nem mérito de se isso estar certo ou não, é uma constatação. Pessoalmente eu gosto dessa ideia “junguiana” de que competição é mais veneno do que remédio, mas sejamos práticos. Ela existe e se manifesta das mais diversas formas.

Uma extremamente comum e relevante para este texto é o ciúme. Aquela sensação deliciosamente egoísta e desconcertante de querer uma pessoa só para você. Sim, seres mais iluminados costumam ser menos ciumentos, mas este texto claramente não é para eles. Vamos nos concentrar em nós, os ciumentos. O problema do ciumento começa quando a competição entra. Não é (pelo menos não deveria ser) medo de perder, é a impáfia do desafiante, os momentos de tensão, é o confronto que você não provocou…

É importante entender como a competição é algo bem mais primal do que achar que sua namorada vai sair correndo com o(a) primeiro(a) que demonstrar interesse nela, tem a ver com um dos princípios básicos de um relacionamento: A pessoa escolheu você. Você sempre parte da posição do “atual campeão”. Ser desafiado numa briga por uma criança hemofílica e o Mike Tyson são duas coisas bem diferentes. Balela dizer que o grau de ameaça é irrelevante para o quanto alguém dando em cima de sua mulher te incomoda, isso é papo de quem quer disfarçar neurose de princípio (Oi, Sally!).

É pela competição. E competição pode ser mensurada. Tanto que aqui mesmo já criticamos mulheres malucas que ficam com ciúme de videogame, carro e objetos inanimados. Ciúme começa a ficar ridículo rapidamente se a “outra parte” não gera uma competição razoável. Presumindo que a pessoa que esteja com você seja heterossexual, a competição gerada pela cantada homossexual só tem espaço para se desenvolver em neurose dentro da sua cabeça. Manter uma postura firme e não gostar que deem em cima de sua mulher (desde que numa medida saudável) denota que você a valoriza e que não está disposto a largar o osso. Ficar encanando com qualquer coisa, procurando inimigos até na sombra… isso é exagero.

Como saber se a pessoa quis te valorizar ou se ela é maluca e briga só por brigar? A pessoa pode estar simplesmente seguindo uma cartilha: Demonstre ciúme EM TODAS as situações para fingir que se importa. Se o padrão de ciúme que Sally defende te parece mais “humano”, lembre-se que um psicopata poderia simulá-lo com perfeição e passar a mesma mensagem. Ciúme de tudo é robótico.

Ciúme tem variação de intensidade sim. É perfeitamente razoável ficar muito menos incomodado quando a pessoa passando a cantada não gera um sentimento de competição adequado. Se for assim, daqui a pouco vai ficar com ciúme do cachorro que lambeu o pé dela! Pra que se prestar a esse papelão?

Sem contar que dar a mesma atenção para uma cantada “não competitiva” te tira aquele prazer de ver sua mulher dando de ombros e basicamente dando o golpe de misericórdia no(a) pobre coitado(a) que tentou desafiar seu reinado. Tem muita graça ver sua namorada dando fora nos outros, e é deliciosamente melhor se isso vem naturalmente e não resultado de cara feia e pressão da sua parte. Que tal se permitir aproveitar seu status?

A premissa deste texto não sugere que a cantada vai ter algum efeito, isso nunca entrou em discussão, não é medo de perder, reintero. É só pelo ato de passar a cantada. O ato em si é menos incômodo se vier de uma pessoa que simplesmente não tem a “aparelhagem” para sequer começar uma competição. É que nem entrar na jaula com um coelho e agir como se estivesse vendo um tigre! Não registra, não faz sentido.

E agora, o lado… machista da coisa.

Não é exatamente um pesadelo imaginar sua namorada flertando e ficando à vontade com outra mulher (desde que essa outra seja bonita). Eu sei que tem um componente machista de enxergar mulher como inofensiva, que não existe competição para o “pinto de ouro” e tudo mais, mas se fosse para escrever para agradar quem lê, eu nem estaria aqui. Funciona assim na minha cabeça, deve funcionar de forma parecida com muito homem por aí.

O fetiche de duas mulheres se pegando não é tão comum à toa! Já escrevi sobre isso numa coluna relacionada não faz tanto tempo, então nem vou me estender demais. Hoje em dia temos cada vez mais garotas “fazendo graça” que são bissexuais, e com virtualmente nenhuma reclamação masculina… Até porque descendo nos menores denominadores comuns do cérebro masculino, a programação instintiva diz que ganhamos o jogo social quando formamos um harém. A expectativa (muitas vezes furadíssima) de conseguir fazer sexo com mais de uma mulher ao mesmo tempo funciona num nível muito próximo daquele que define nosso senso de competição. Acho babaquice exigir que mulher aceite ou corrobore com isso, monogamia é escolha e se a pessoa diz que quer, que assuma a responsabilidade e cumpra com isso.

Mas que a “inconsciência” do harém costuma pintar mais rápido um quadro na cabeça de muito homem antes do ciúme bater, costuma… Agora sim, podem me chamar de porco machista e ignorar essa dica valiosa, como sempre.

Para dizer que estava concordando até meu pinto começar a escrever, para reclamar que tem ciúme até da privada do seu namorado e que eu não tenho direito de te recriminar, ou mesmo para racionalizar o irracional e achar que está certa: somir@desfavor.com

SALLY

Uma cantada de uma pessoa do mesmo sexo no seu parceiro dói menos? Para que não pairem dúvidas: se você for hetero, se um homem cantar seu namorado, incomoda menos do que se uma mulher cantar seu namorado? OU se você for hetero, se uma mulher cantar a sua namorada, dói menos do que se um homem cantar a sua namorada? (inverta se você for gay). NÃO, não porra, e quem acha o contrário está sendo inseguro e não ciumento!

Quem acha que uma cantada de uma pessoa do mesmo sexo do seu parceiro dói menos não está se incomodando com a falta de respeito, com o abuso, com a cara de pau. Está pensando primordialmente no risco de perder o parceiro: “meu namorado não gosta de homem, então pode passar cantada sem problemas, porque não vai tirá-lo de mim”. Oi? Quão medíocre é isso? Se você parte da premissa que ALGUMA cantada oferece um risco para o seu relacionamento, não sei o que merdas você ainda está fazendo com essa pessoa!

O que me incomoda nas cantadas é a falta de respeito, o abuso de saber que uma pessoa está comigo e ainda assim passar por cima de mim e assediar esta pessoa. Foda-se se é homem, mulher, hermafrodita, gordo, magro ou anão. É a atitude que incomoda, não o layout da pessoa. Quem se incomoda mais com o layout do que com a atitude é inseguro. A falta de respeito está na atitude em si e não no fato da pessoa ter ou não ter um pênis! Se a pessoa sabe da minha existência ou até mesmo se eu estou parada ali ao lado do meu parceiro, é um tremendo de um abuso passar uma cantada nele, não importa quais sejam as características físicas de quem está flertando!

Se, na sua cabeça, quanto mais atraente for a pessoa mais putez gerar a cantada, está na hora de rever os seus conceitos. Tá com medinho que uma simples cantada tire seu parceiro de você? Que bosta de relacionamento frágil é esse que você construiu? É aquela história de roubar um real ou roubar um milhão de reais, o que importa é o roubo em si e não a quantidade. Não é porque um ser humano tem pênis que ele pode dar em cima do meu namorado sem que eu me importe, aliás, Somir sabe muito bem disso. Na verdade, talvez me seja até mais desagradável: “Porra, porque merdas esse viado está pensando que o meu namorado é viado”. Além do abuso, ainda levanta uma preocupação extra!

Se uma supermodelo chegasse perto de um namorado meu e piscasse para ele lambendo os lábios eu ficara puta da vida. Se uma tetraplégica chegasse perto de um namorado meu e piscasse para ele lambendo os lábios, eu ficaria igualmente puta da vida. Se um gay chegasse perto de um namorado meu e piscasse para ele lambendo os lábios eu ficaria igualmente puta da vida. Tá todo mundo de sacanagem com a minha cara! Estão me fazendo de idiota da mesma forma, na mesma intensidade. Desculpa mas não tem como eu achar bonito alguém dando em cima do meu par.

Só porque eu sei que não tem a menor chance de tirarem a pessoa de mim não diminui a minha putez, já que eu parto da premissa que nunca ninguém tem a menor chance de tirar a pessoa de mim e que minha putez de funda na falta de respeito e não no medo. Não entendo essa postura “se eu sei que não representa ameaça, pode dar em cima”. Não, porra, não pode dar em cima de quem está comigo. Mesmo que tenha pênis, mesmo que tenha duas cabeças, mesmo que pese 500kg, mesmo que NADA. É falta de respeito dar em cima de uma pessoa que está comigo, principalmente se eu estiver presente. Ponto final. É a afronta, a baixaria, a falta de bom senso o combustível que alimenta a putez. Se a sua putez é alimentada pelo medo, tem algo errado aí. Não é saudável estar em uma relação onde se tem medo de perder o parceiro por causa de uma cantada. Ou a relação não é sólida e profunda o bastante ou você não é seguro o bastante.

E aposto que o Somir vai vir novamente com esse papinho de “mulher com mulher é lindo”. Francamente, dividir a pessoa amada, seja com mulher, com pastor alemão ou com uma cenoura não entra na minha cabeça. Homem que acha divertido ver lésbica dando em cima da sua mulher trata sua mulher como mero objeto sexual, como fetiche. Vai desculpar, mas em uma relação que se propõe a ser monogâmica (e as dele se propõe a isso) é desmerecer a parceira e o relacionamento gostar de ver alguém dando em cima dela. Eu não sou um brinquedo para que meu namorado se divirta vendo alguém dar em cima de mim. Isso quebra as regras de uma relação monogâmica. Se esse é o esquema, então porra, que se deixe claro que não há monogamia em vez de enganar o outro.

Eu queria ver se alguma mulher achasse super sexy ver um viado dando em cima do seu namorado… como ELES iriam reagir? No mínimo achariam doentio. Vai você dizer para o seu namorado que seu sonho sexual é ver ele transando com outro homem (mas use um capacete, ok?). É ridículo, simplesmente ridículo que homem ache de alguma forma bacana mulher dando em cima da sua mulher mas se ofenda com a ideia do contrário. Não cola, não adianta falar de biologia, de instinto, de cultura. Não cola. Se você se propõe a uma relação monogâmica, alguém dando em cima do seu parceiro é uma afronta, é uma falta de respeito e se você preza pelo seu parceiro, jamais vai achar aquilo agradável ou ao menos “menos desagradável”.

FODA-SE quem está dando em cima do seu parceiro, foda-se se representa uma ameaça ou não, foda-se se o seu parceiro nunca vai querer nada com a pessoa. A falta de respeito com VOCÊ é exatamente a mesma. E esse é o foco: a falta de respeito com VOCÊ, e não focar nele (“ele pode gostar”, “ele pode me trocar”, “ele pode achar ela bonita”). Porra, parem de pensar primeiro no outro, caralho! A prioridade é VOCÊ. Pesando em uma balança um falta de respeito com você e o medo de perder alguém, a falta de respeito tem que pesar mais!

Daí você pode estar pensando “Mas Sally, eu não acho falta de respeito comigo alguém dando em cima da minha namorada na minha frente”. Ok, você é bizarro, mas eu respeito. Só que nesse caso devemos ter coerência, se você não acha falta de respeito dar em cima na sua frente, tanto faz se é homem ou mulher, certo? Porque achar que se for homem é falta de respeito mas se for mulher tudo bem é fazer da sua namorada um brinquedinho sexual compartilhável quando isso te convier. Feio, muito feio tratar alguém assim quando você cobra da pessoa uma relação monogâmica. Pense nisso.

E a menos que você seja um BICHO, regido por normas territoriais, hormônios e instintos (e quando te convém, você NÃO É, logo, não seja seletivo), esse argumento de outro macho rondando seu território não cola. Você mija pelos cantos da casa? Não, né? Então você já conseguiu superar essa etapa evolutiva. Não a evoque quando te convém.

Para concordar com o Somir sem conseguir explicar o porque, para dizer que não se importa que ninguém dê em cima dos seus parceiros ou ainda para exteriorizar uma Síndrome de Estocolmo e dizer que está sentindo falta de ser xingado: sally@desfavor.com


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