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Dés Potas: Já vai tarde.

| Sally | | 130 comentários em Dés Potas: Já vai tarde.

Os números oficiais (que são mais baixo que os reais) estimam que em média 25 pessoas se matam POR DIA no Brasil. Não sou eu quem diz, é o povo da UNICAMP. E para cada uma dessas almas competentes que conseguem se matar existem outras tantas que tentam e não conseguem, pois não tem competência para tal, porque até para se matar é necessário um mínimo de competência. Perguntem a plantonistas o numero de idiotas que se entope de remédios que não matam e chega no pronto-socorro apenas com uma baita diarreia ou o numero de idiotas que cortam os pulsos na horizontal e apenas levam uns pontos. Todos os dias estas pessoas que conseguem ou eu tentam suicídio atravancam o atendimento de algum pronto-socorro onde também existem pessoas lutando por sua vida, que não deram causa ao que quer que as esteja matando. O que o Governo vem fazendo? Aumentando os recursos em programas de prevenção ao suicídio, com o meu, com o seu dinheiro. Você acha isso certo? Se você acha isso certo, PARABÉNS, você é uma boa pessoa. Eu não sou, eu sou uma escrota, eu acho que dinheiro público tem que ser usado para melhorar a vida de quem QUER viver. Sim, eu perdi a paciência com o ser humano.

Sabe o que eu acho que deveria ser feito? Vender um kit “Já vai tarde” nas FUCKIN´FARMÁCIAS, composto por um coquetel de remédios que matem sem dor, sem sofrimento e sem erro, assim quem quer se matar tem meios de fazê-lo sem causar transtornos a terceiros e à sociedade. Gastarei quatro páginas me explicando e se, ao final, você chegar a titubear em concordar comigo ao menos em alguns pontos, chore. Você perdeu sua alma para o Desfavor. Você era uma boa pessoa e se deixou contaminar. É um caminho sem volta.

Como eu estava dizendo, a ideia seria um kit que a pessoa possa tomar e morrer sem dores, sem agonia, sem vomitar em si mesma, sem sobreviver e ficar com sequelas. Uma morte digna, rápida e indolor. Porque a partir do momento em que a lei me confere o direito de acabar com a minha própria vida (suicídio não é crime, apenas “suicidar” os outros é) eu posso pleitear uma forma digna de fazê-lo. Seres humanos tem direito a uma vida digna e a uma morte digna. Se eu decido que não quero mais viver, dá licença? A morte é uma opção pessoal. Até entendo essa vilanização do suicídio quando tinha pouca gente no mundo com baixa expectativa de vida e muita terra para trabalhar, mas hoje? Hoje suicídio é um ato quase que ecológico. Um a menos para consumir água, consumir carne e poluir o planeta. Nada mais justo que se tenha a opção de fazê-lo de forma segura e eficaz, já que a maior parte da população não tem conhecimento técnico para isso.

Não estou falando em incentivar o suicídio. Não quero comerciais na TV com a Fátima Bernardes sorrindo, segurando o kit e dizendo “Suicide-se já!”. Estou falando em dar essa possibilidade à pessoa que deseja se suicidar. Você acha que um kit desse aumentaria o numero de suicídios? Eu acho que não. Quem quer se matar tem instrumentos de sobra para fazê-lo em casa e os números da UNICAMP de 25 suicídios bem sucedidos por dia não me desmentem. Não é algo como drogas, que se você não puder comprar na farmácia vai ter um certo trabalho para conseguir por meios alternativos. Todo mundo tem fogão em casa e pode ligar o gás e colocar a cabeça dentro. Todo mundo tem faca em casa. Todo mundo pode ir na farmácia e comprar algum remédio que em excesso acabe com sua vida, tem uma lista deles no Google, é informação de domínio público. É fácil e acessível se matar. O que é difícil é se matar com dignidade, de forma rápida, sem sobreviver, sem dor e sem sofrimento. Isso sim requer conhecimento técnico.

Mas, MESMO QUE facilite a vida (ops! a morte) do suicida, eu tenho um contra-argumento de uma palavra: FODA-SE. A pessoa não quer se matar? Então porra, deixa ela se matar, mas que caralho! Francamente, o mundo anda superlotado demais da conta para a gente ficar fazendo malabarismos para prender aqui quem não quer mais estar aqui. A pessoa está doente, está sem discernimento? Interdita judicialmente, interna ou faz qualquer outra medida que lhe tire autonomia para que ela não possa comprar o kit, mas não tire o direito de quem quer morrer em paz, como uma escolha consciente, de conseguir sua morte digna. Até porque, como eu disse, quem quer realmente se matar, vai fazê-lo de forma caseira assim que você virar as costas. E ainda periga provocar uma sujeirada, matar gente inocente junto ou ainda não morrer e ficar com sequelas dando trabalho. Você acha isso bonito?

Sem contar o grande número de pessoas histéricas que dizem que vão tentar se matar ou de fato tentam só para chamar a atenção. O kit “Já vai tarde!” cortaria o mal pela raiz. Acabou essa putaria de cortar os pulsos e ligar para o ex chorando. A pessoa saberia que com o kit não tem erro. Quer se matar MESMO? Toma o kit. Não tomou? E chantagem barata. E francamente… uma pessoa que cogita se matar por um desgosto passageiro como terminar um relacionamento tem mais é que morrer mesmo, o mundo fica melhor sem esse tipo de gente I-DI-O-TA. Não sei se vocês perceberam, mas estamos rumando a passos largos para uma Idiocracia, ou começamos a eliminar os idiotas (no caso, deixar que eles se eliminem), ou em vinte anos estaremos regando plantas com Coca-cola. Se a pessoa não tem estrutura para suportar um mero desgosto inerente à vida, por caridade, permitam que ela se mate. É melhor para todo mundo!

Tem também toda uma questão humanitária. Por exemplo, se eu ficasse paraplégica, vai me desculpar, mas eu gostaria de me matar. Quando você está livre das amarras religiosas e de todo o pecado e karma que dizem ser se matar e encara a vida como “morreu = acabou” fica mais fácil tomar essa decisão. Não me interessa ser exemplo se superação e viver com metade do corpo paralisado, será que as pessoas me dão licença de fazer essa escolha? Não, não dão. As pessoas acham que porque EU, SALLY SOMIR, escolheria me matar significa que estou pregando a morte de todos os paraplégicos do mundo. Não estou, estou dizendo que PARA MIM, SALLY SOMIR, não compensa viver com as perninhas mortas. DÁ LICENÇA? Não, não dão. Se isso acontecer comigo eu não vou ter direito a uma morte digna, vou ter que morrer aos poucos, lentamente e provavelmente com dor, de forma caseira. Eu mereço poder decidir a forma como quero morrer. Eu mereço poder comprar algo que me ajude a concretizar essa decisão. Ainda tem o bônus de garantir de forma inequívoca que se esse blá blá blá de espiritismo for verdade eu não vou para o Nosso Lar. Tenho horror de um dia morrer e acordar naquele lugar pau no cu!

Mas não pode, sabe porque? Porque as pessoas são tão descontroladas, tão fodidas da cabeça, tão instáveis que se liberar um troço desse vem logo um medo que meio mundo se mate. DEIXA MORRER, CARALEEEEO! Deixa morrer e faz uma faxina no planeta, só fica nessa porra quem realmente quer muito e quem tem preparo emocional. Porque ficar segurando gente que está querendo desistir? Soa como egoísmo. Se a pessoa tem discernimento e não quer mais, deixa ir. Quem é você para ficar dizendo que a pessoa tem que continuar vivendo? Gente, dá um tempo, a pessoa tem o sagrado direito de se matar. Ninguém é obrigado a prosseguir… prosseguir… prosseguir… como se fosse a única opção. Não é. Nada de ruim vai te acontecer em “outra vida” ou no “pós morte” se você se matar, isso era discurso para manter mão de obra viva!

Evidente que uma coisa assim exigiria um sistema de controle bem planejado. Certamente você deve estar preocupado, porque controle em farmácia é pura ficção, o que não falta é farmácia vendendo anabolizante, remédio tarja preta e todo tipo de porcaria proibida em desacordo com a exigência legal. Mas porra, se a falta de controle for motivo para não vender remédio, nem antibiótico pode estar nas prateleiras. Suspende a venda de tudo então! Com um controle rígido à base de um mecanismo inteligente seria viável. Mas não, o Estado te deixa matar seu filho que está na sua barriga, muitas vezes sem o consentimento do pai da criança (seja pela pílula do dia seguinte, seja por qualquer outro remédio abortivo vendido em farmácias) mas a SUA vida, que só diz respeito a VOCÊ, não pode. Daí você está lá, todo Flavio Silvino, e tem que viver torto, cagando na fralda porque a vida é sagrada. Vai tomar no cu três vezes!

“Mas Sally, vai ter gente que no calor da emoção vai se precipitar e se matar por puro desespero”. Joguem perdas, eu acho que gente assim não merece viver. Não tem controle emocional para suportar os baques da vida? Literalmente: se mata. Mas vou te contar uma coisa: boa parte disso é papo furado. Se a pessoa soubesse que morreria mesmo, que não teria volta, que não teria como salvar, ela provavelmente enfiava o galho dentro e não tomava. E se tomar, já vai tarde. O mundo está abarrotado de gente sem preparo emocional, pessoas que nos paunocuzam e nos afetam com esse despreparo diariamente. Todos nós ficaríamos melhor sem elas. SIM, é isso aí, eu não tenho compaixão com quem tem duas pernas, dois braços, saúde e ainda assim decide se matar. Tem que morrer mesmo. Se eu fosse médica, nem socorria suicidas, só se não tivesse mais ninguém para atender. Se a pessoa decidiu que isso é o melhor para ela, seria arrogância da minha parte dizer que não. Só sabe quem está passando por aquilo.

Até que ponto manter gente disfuncional no mundo, gente que não quer estar no mundo, não causa mais mal à sociedade e às pessoas próximas do que a morte do elemento? Quem de nós não conhece uma família que estaria muito melhor se um elemento desequilibrado estivesse morto? Lógico que esse não é o tipo de coisa que se fale, aliás, não é o tipo de coisa que as pessoas sequer consigam admitir para si mesmas. Justamente por isso estou tocando no assunto, para te sacudir, para enfiar o dedo na ferida, para te levar a refletir. Porque causa tanto choque a ideia de que talvez seja melhor para todos os envolvidos que a pessoa esteja morta? Deixem de lado os pudores e o medo da reprovação social, vocês estão na República Impopular do Desfavor. Vamos abordar a verdade nua, crua e sangrando? O mundo fica melhor sem determinadas pessoas. Não podemos matá-las, mas se elas quiserem nos fazer esse enorme favor, porque impedi-las? E mesmo que sejam pessoas ótimas, cuja morte seja um desfavor para o mundo, se não querem mais estar aqui, quem somos nós para impedir ou dificultar o processo?

Como você se sentiria se não gostasse mais do seu parceiro(a), se na verdade, estivesse com asco dele, querendo terminar com ele mas tivesse que continuar com ele porque todos fazem um grande escândalo quando você fala em romper o relacionamento? Ser obrigado a se manter vivo em condições sofridas (e o sofrimento pode ser físico ou psicológico) é mais ou menos isso. Chega de encarar a morte como algo não aceitável, se matar é sim uma OPÇÃO. Não é “anti-natural” como dizem. Suicídio é uma opção, você tem o direito de decidir o quanto quer que a sua vida dure. É uma opção à qual muitos de nós preferem nunca recorrer, mas tem que ser uma opção. Egoismo, descontrole, burrice… chame o suicídio do que quiser, você não é obrigado a concordar com o suicídio em si e sim com o direito de uma pessoa de ter acesso a um medicamento que lhe assegure um suicídio sem dor, sem sofrimento e sem falhas. Você não é obrigado a se suicidar, apenas a tolerar que outros se suicidem se assim o desejarem. Mas não, além de controlar a vida alheia, as pessoas gostam de controlar a morte alheia também! Que saco!

Quem quer se matar, vai se matar. Se matar é fácil. Se matar é gratuito. A diferença seria que com o kit “Já vai tarde!” a pessoa teria a certeza de uma morte eficiente e sem sofrimento. Imbecilidades como gente morrendo na fila por atendimento no pronto-socorro porque um médico está ocupado costurando um suicida ou então um babaca que se joga da janela da sua casa e cai em cima de um coitado de um transeunte que não tinha nada com isso matando-o não iriam mais acontecer. Porque, vamos combinar, se a pessoa tivesse uma opção de pôr fim à sua vida com a certeza de não sentir nem sofrimento nem dor, dificilmente escolheria outros meios mais brutos. O kit “Já vai tarde” nada mais é do que reconhecer o sagrado direito que uma pessoa tem de se matar. Mas imagina que alguma igreja ia concordar com isso! Ninguém quer perder as ovelhas que bancam o BMW de seus sacerdotes e pastores! Por isso, e só por isso, a ideia do suicídio como opção é vilanizada e pintada como repulsiva! Pessoas escrotas querem que sobre gente infeliz no mundo, porque lucram com isso.

E, claro, não poderia deixar de faltar o argumento clássico… por favor, ler com voz de débil mental: “Você gostaria que seu __________ (nome de parente) tomasse um remédio desse e se matasse? Hein? Hein?”. Evidente que não, eu não gostaria. Mas acho que as pessoas tem que ter esse direito. Da mesma forma como eu não gosto de ouvir metade das imbecilidades que escuto e no entanto continuo achando que as pessoas tem o sagrado direito de expressar sua opinião. E quer saber? Eu não gostaria muito mais de saber que meu __________ (nome do parente) está vivendo por pressão social, quando o seu desejo real é por fim na sua vida. Se ele não quer mais estar aqui, então se mate. Eu terei que dar um jeito de lidar com isso.

Será mesmo que todo mundo que quer se matar está com algum problema psicológico? Será mesmo que todo mundo que quer se matar precisa de ajuda? Não creio. Chega de tabus, de medo, de religiosidade. Morte é uma opção de cada um de nós. E muitas vezes é uma opção válida e justa dentro da realidade daquela pessoa. Só quem pode saber é ela. Se algum dia acontecer algo grave o bastante para que eu reflita racionalmente e chegue à conclusão de que não vale mais a pena, não terei pudores em me matar. Não vejo isso acontecendo, salvo uma tragédia muito grande que me limite motora ou intelectualmente de forma irreversível, mas já adianto que se for o caso, espero contar com a ajuda de vocês. Se vocês me deixarem toda errada estilo Gerson Brener e insistirem em me manter viva assim, espero que cada um de vocês se foda muito na vida. Preciso urgentemente fazer amizade com algum médico para assegurar meu sagrado direito de morrer com dignidade e sem sofrimento se um dia for o caso… tem algum médico aí que gostaria de ser meu amigo?

E se você está pensando “Ai, Sally, não fala essas coisas que ATRAI”, faça um favor a nós dois: nunca mais volte aqui. Se falar atraísse alguma coisa, Somir passaria seus dias gritando “Dólar!”

Para dizer que não sabe o que pensar, para afirmar que me matará com o maior prazer ou ainda para começar a gritar “dólar” várias vezes por dia: sally@desfavor.com


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