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Eu, desfavor: Que desfavor!

| Sally | | 285 comentários em Eu, desfavor: Que desfavor!

Ao longo de quatro anos de Desfavor acabaram surgindo algumas saias-justas em função desse lado oculto da minha vida. Segue uma compilação dos momentos mais vexatórios que a minha tentativa de anonimato já me proporcionou. Vocês acham que o único ônus do Desfavor é o risco de processo e o tempo gasto? Não, tem mais, tem muito mais. Essa vida dupla faz mal aos nervos e destrói relacionamentos!

Certa vez estava esperando alguns colegas de trabalho em um café para uma reunião informal e enquanto eles não chegavam, abri meu notebook de uso pessoal e aproveitei para escrever uma coluna para o Desfavor. Acontece que o notebook tem a bandeira da RID colada na parte de fora.

Quando meus colegas chegaram, fechei o notebook e o coloquei de pé em um canto escondido da mesa. Quero dizer, escondido para os meus amigos, pois as pessoas que passavam podiam ver. Papo vai, papo vem, se aproxima um rapaz desconhecido:

RAPAZ: Oi, dá licença? Desculpa eu perguntar, mas você é a SALLY?

Olhei com cara de “não sei o que você está falando”, disse que eu não era a Sally, virei de costas e o ignorei para que ele não possa falar mais nada. Meus colegas acharam curioso mas não se importaram. Lá pelas tantas, vejo o rapaz conversando com outros rapazes e apontando para mim. Meus colegas também perceberam. Um outro rapaz do grupo veio até a mesa:

RAPAZ 2: Você É a Sally sim!

Perguntei que palhaçada era aquela, botei o rapaz para correr e o grupo continuou de longe me olhando, apontando e comentando. Para meu estranhamento, meus colegas, que eram muito sacanas, não me sacanearam. Tenha medo quando pessoas muito sacanas não te sacaneiam. Ficou um constrangimento no ar.

No dia seguinte, no trabalho, uma amiga minha veio me falar que havia “boatos” com meu nome. Ela parecia constrangida demais para dizer sobre o que se tratava. Quando a apertei, ela disse que meus colegas estavam na internet tentando achar um suposto “filme pornô” que eu teria feito sob o codinome de “Sally”. Confesso que fiquei aliviada, se procurarem por filme não vão achar nada, já por blog…

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Eu tenho uma agenda só para o Desfavor, onde anoto o meu cronograma de postagens, os feriados nacionais e os temas que acho interessantes para escrever. Faço isso primeiro porque a organização do Somir é essa maravilha que vocês conhecem, então, se eu não for organizada, a coisa não anda. Mas também faço isso porque durante o dia acabo tendo várias ideias para postagens e se não anotar na hora depois esqueço.

Os temas das postagens nem são tão batom na cueca, pois são palavras-chave. O foda mesmo são as semanas temáticas, que tem que ser muito bem divididas para dar certo: cada dia tem um cronograma que deve ser abordado para fechar certinho com a postagem do dia seguinte, já que Somir e eu alternamos as postagens em dia de semana temática e um não sabe o que o outro vai escrever.

Conclusão: ando com a porra da agenda para cima e para baixo. Recentemente calhou dessa agenda cair da minha bolsa sem que eu perceba na casa de um amigo meu. Evidente que ele acabou lendo alguma coisa, tanto é que depois que ele devolveu a minha agenda (deixou na portaria da minha casa sem nem olhar para a minha cara), nunca mais me atendeu, me procurou ou me respondeu. Vou transcrever algumas páginas para vocês:

DIA EXCLUSÃO SOCIAL

Meus:

– Xavier (cadeirante fdp)
– Uóxitu (pobre preto e ladrão)
– Salim (judeu pão duro)
– Leopoldo (idoso pau no cu)
– Fernadinho (mongo)

Vencedor votação: JOSÉ MAYER DE SUNGA

(faltam os cinco do Somir)

Estrutura:

Leopoldo caga nas calças
Xavier fdp agressivo(não consegue chegar ao banheiro e caga nas calças também)
Uóxitu rouba Salim
Fernandinho encoxa todo mundo

Lembrete: José Mayer de Sunga tem que morrer até quinta para a votação final fechar

Outra página da minha agenda:

SEMANA DOS FRACOS

AMANHÃ:

– Hitler chega ao poder
– Judeus idiotas não querem sair para não perder seus bens
– Incentivo a começar a matar judeus

QUARTA E SEXTA: SOMIR

QUINTA:

– Declara guerra contra a URSS
– Sabotagem da rendição
– Morte do falso Hitler

Obs: Hitler é tão burro que não percebe o plano nem mesmo no final

Não sei ao certo até hoje se meu amigo não fala mais comigo porque achou que eu sou maluca de escrever esse tipo de coisa sem contexto em uma agenda ou se ele descobriu o Desfavor. Desconfio que nunca mais nos falaremos.

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Conhecer os leitores é um capítulo a parte. Uma vez marquei com uma pessoa maso método de identificação falou. Estávamos em um ambiente público e não tínhamos como nos identificar. A pessoa pegou um papel e escreveu “SALLY?” e levantou feito um cartaz na minha direção. Outra vez combinei de me encontrar com uma pessoa e mandei ela me reconhecer pelo sapato, fui ao shopping com o sapato mais espalhafatoso que tinha e mandei “procurar por um sapato roxo inadequado”.

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Uma vez estava almoçando com uma amiga e tinha um casal brigando na mesa ao lado. A discussão estava acalorada e o sujeito disse “Isso não é ideia sua, isso é coisa daquelas merdas que você fica lendo, daquela Sally mal amada! Já te falei para parar de ler essa merda!”. Não aguentei e gritei um “EEEEEIII!” olhando para ele. Todo mundo ficou me olhando e eu me toquei da merda. Disfarcei dizendo “Não grita com a menina, seu mal educado! Não suporto ver homem gritando com mulher!”

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Uma vez uma pessoa de um alto posto de chefia do meu trabalho recebeu o texto “Bastidores” por e-mail (por algum motivo ficam repassando esse texto por e-mail). Ao ler dois parágrafos já identificou que era tudo muito parecido comigo. Imprimiu o texto, me chamou na sua sala, me fez sentar e me fez ler o texto todo. Eu li o texto, gelada. Quando acabei de ler, a pessoa falou: “Confessa!”.

Eu já estava abaixando a cabeça e respirando fundo para dizer que eu era a autora disso e do blog e pedir demissão, quando a pessoa continuou “Confessa que essas suas tiradas engraçadas você copiou desse texto!”. Eu sorri e disse: “Confesso. Você me pegou, copiei mesmo!” e fui saindo de fininho.

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Uma vez estava na fila de uma lanchonete acompanhada de alguns amigos e escuto alguém gritando “SALLY! SALLY!”. Fiquei na minha, porque devem existir Sallys reais no mundo, provavelmente era com outra pessoa. Um tempo depois escuto: “SALLY SOMIR! SALLY SOMIR!”. Sai rapidamente e um dos meus amigos me perguntou o que estava acontecendo. Eu só tive tempo de gritar “DIARRÉIA!” e corri para o banheiro feminino mais próximo.

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Uma vez um professor da academia me chamou em um canto e começou um diálogo que me apavorou:

PROFESSOR: Eu queria te fazer uma pergunta
SALLY: Faça
PROFESSOR: O que é “Desfavor”?
SALLY: Oi?
PROFESSOR: DESFAVOR
SALLY: O que que tem?
PROFESSOR: O que é?
SALLY: *roendo as unhas
PROFESSOR: Vai dizer que você sabe o que é!
SALLY: Sei
PROFESSOR: E não está querendo me explicar?
SALLY: Eu não tenho que te explicar nada
PROFESSOR: Mas eu estou pedindo!

Fiquei enrolando o quanto podia e quando finalmente eu ia começar a falar do blog ele me diz

PROFESSOR: Eu queria saber porque tem essa palavra em uma sentença de um processo que eu ganhei, sabe? Fala “condenação em DESFAVOR de” e como você é advogada eu achei que você saberia, mas já vi que não sabe. Eu disse “Realmente, não sei, preciso estudar mais” e saí de fininho.

Foi a primeira vez na vida que fiz papel de burra e fiquei feliz.

Para dizer que quando me encontrar vai fazer questão de gritar “SALLY!”, para dizer que agora entende porque eu não abordei o Skylab ou ainda para dizer que uma hora a casa vai cair: sally@desfavor.com


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