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Desfavor da semana: Passa o ouro!

| Desfavor |

O Brasil caminha a passos largos para uma performance pífia nas Olimpíadas. Nos esportes individuais e coletivos. Como a RID está banida dos jogos olímpicos, o espírito esportivo ficou do lado de fora.

Desempenho vergonhoso, chororô e ainda por cima financiado com dinheiro público? Desfavor da semana.

SOMIR

Sim, o investimento, mesmo se não fosse desviado para inúmeros bolsos sedentários, ainda sim não seria lá grandes coisas. Sim, brasileiro se preocupa basicamente com futebol e acompanha “por cima” os outros esportes só quando é Olimpíada.

Não estou dizendo que é fácil chegar na maior competição esportiva do mundo e ganhar de todo mundo. Os atletas penam. Não tem estrutura de treinamento, não tem adversários de nível nas imediações… tudo bem. Mas tem coisa errada com o esporte tupiniquim não conseguir nem mesmo chegar perto de metas pra lá de conservadoras baseadas na edição anterior.

Daqui a quatro anos vem a Olimpíada do Rio (que o Andrew Jennings – aquele jornalista da BBC que adora expor o Ricardo Teixeira e o Havelange – já disse que foi comprada na cara dura pelo governo brasileiro…) e se é isso que tem para apresentar, vai passar vergonha. O país sede tem vaga garantida em tudo quanto é esporte… E se com necessidade de índice olímpico para entrar já está assim, imagina a turma que entrar de alegre.

Claro que é um problema de investimento, mas também tem um fator cultural muito importante aqui. Perceberam o chororô interminável de atletas perdendo em suas modalidades? Todo mundo fazendo drama, pedindo desculpas, achando o fim do mundo ter perdido. Nem duvido que vários desses atletas estejam mesmo arrasados por não levar uma medalha para casa, mas isso não quer dizer que seja a reação que se espera de um atleta de alto rendimento.

Americano sai da prova que perdeu mordido porque não ganhou. Chinês sai com medo de ir para o “paledón”, brasileiro sai chorando e pedindo perdão. Porra, perdão? Perdão não se contabiliza no quadro de medalhas. É a mentalidade do “se eu pedir desculpas fica tudo bem” misturado com o ainda presente complexo de vira-lata do brasileiro. Todo mundo fica esperando medalha, mas quando perde, não pode cobrar porque a pessoa enfrentou muitas dificuldades e se esforçou…

Sem cobrança por rendimento, fica essa coisa meia-bomba de cobrar apenas “espírito olímpico”. Razoável esperar raça e força-de-vontade dos atletas, mas não é só isso que resolve. Se falta técnica ou treinamento, não adianta só se esforçar. Atleta de alto nível precisa sair do Brasil para treinar, precisa buscar técnico estrangeiro, precisa disputar torneios longe da América do Sul (Tirando o sul-americano de futebol, tango e mascar folha de coca, os brasileiros não disputam com ninguém.) para ter alguma noção do que vai enfrentar num mundial ou Olimpíada.

Aí o Brasil manda para a Olimpíada um bando de esforçados só para fazer número e dá no que dá. Se é para enfiar dobrado assim, é até mais lucro pegar o dinheiro usado para esses atletas de baixo rendimento fazerem turismo em Londres e investir mais em CAPACITAÇÃO ESPORTIVA. Não é só ensinar o moleque a saltar em cima de uma caixa de areia, é mostrar para ele que tem um abismo de diferença entre praticar esporte para se manter saudável e praticar para colocar medalhas de ouro no peito.

E botar na cabeça de um país que esse papo de ir para uma Olimpíada com o objetivo de fazer figuração e conseguir umas medalhinhas é coisa de país minúsculo.

Tudo bem que a China faz uma espécie de reedição de Esparta com seu projeto olímpico: Tirando crianças das famílias ainda cedo e arrebentando elas de treinamento. Mas é feito com um planejamento claro e inequívoco de ganhar TUDO o que aparecer pela frente. O atleta é criado para disputar em alto nível ou dar espaço para quem o faça.

História de vida sofrida só fica realmente interessante quando o atleta vence as dificuldades. Vida de merda quase todo mundo tem, ter desempenho muito abaixo da média dos outros profissionais quase todo mundo consegue. Se o atleta se pinta como alguém que só se esforçou, podia ser ele ou qualquer outro Zé Ruela.

Se esses “exemplos de superação” tivessem mais gente fungando em seus cangotes doidos para tomar suas vagas, conseguir índice olímpico e estar de corpo presente nas provas não seria mais o suficiente para representar o país. A diferença de investimento é enorme, eu sei, mas não custa lembrar que as seletivas dos americanos para escolher quem vai para as Olimpíadas tem um nível altíssimo e boa parte dos atletas brasileiros não passariam.

É gente lutando por performances que os coloquem entre os maiores candidatos de ganhar medalhas. São aqueles segundos ou centésimos de segundos que separam um bom atleta de um atleta de alto desempenho. Brasileiro parece que acha bacana ter recorde sul-americano e se manter nesse nível. O Cielo teve que se mandar para os EUA para sentir pressão e continuar treinando pesado. Imagina se ele tivesse ficado, estaria batendo recorde de Pan e sendo “esperança de fazer uma final” que nem tantos outros nadadores. O nível é outro.

E se não vai formar atletas de alto nível, pra que ficar gastando dinheirama com Olimpíada? Manda só os com chance de chegar numa final e guarda o resto para mandar jovens promessas para fazer torneios internacionais de renome. Atleta (principalmente os mais novos) fica mordido quando percebe que tem um abismo de distância para os tops da categoria. Ser estrela no clube e esperança de medalha no Pan ao invés de almejar bater recordes mundiais e vencer os grandes é a receita da porcaria da performance tupiniquim em 2012.

Esforço é importante, mas não é tudo.

Para não dizer nada: somir@desfavor.com

SALLY

O importante é competir? Se não conseguir um bom resultado não tem problema? É isso que você ensina para seu filho na pracinha ou no campeonato do colégio. Mas não podemos tratar da mesma forma um campeonato de bairro e atletas PROFISSIONAIS. Sabe o rigor com o qual você é cobrado no seu trabalho? Pois é, esse é o rigor com o qual atletas devem ser cobrados: não são melhores nem piores do que ninguém, são PROFISSIONAIS e como tais tem que encarar cobrança por resultado e por postura.

Além de serem PROFISSIONAIS, tem um agravante: eles usam dinheiro público, dinheiro pago por mim e por você para treinar, para viajar, para competir. Tudo isso em um país em que faltam escolas e hospitais. Então, mandar um atleta que fica em 51° e vê-lo super satisfeito com a colocação deveria despertar, no mínimo, um desconforto. Vai desculpar, mas mandar gente totalmente sem chances de vencer ou de ficar sequer entre os vinte primeiros colocados COM NOSSO DINHEIRO é má gestão de recursos públicos. A pessoa que não tem qualquer chance que pague do seu bolso ou do bolso de alguma empresa particular essa empreitada.

Em QUALQUER trabalho realizado por uma PROFISSIONAL existe um grau de cobrança. Natural que atletas, que são PROFISSIONAIS, sejam cobrados, sobretudo quando se fala em erros e não apenas em rendimento ruim: atletas desclassificados por não respeitar regras se sentem no direito de xingar com palavrões pesados pessoas que os criticam. Como pode? Se eu perco um processo por uma falha técnica qualquer, como por exemplo perder um prazo e meu cliente perde a causa, eu vou entender se ele e os envolvidos vierem me criticar. E eu, Sally Somir, opto por não me tornar acessível a qualquer um e por isso não uso Twitter. Quem opta por ter um Twitter e se tornar acessível a qualquer um que saiba lidar com as implicações disso sem perder a postura e sair ofendendo. A própria pessoa abriu essa porta.

O que dizer dos nossos ginastas, com resultados risíveis, deixando vazar na internet um vídeo onde se masturbam para a câmera e tomam bebida alcoólica já no correr das olimpíadas? Você pode pensar “Eles são jovens, coisa de garoto”. Desculpe, mas se masturbar e mostrar para o mundo todo não é coisa de “jovens”, é coisa de gente sem limite e sem noção de privacidade, que não respeita sua família. Além disso, mesmo que eles sejam “jovens” e que isso pudesse ser uma justificativa, alguém deveria estar supervisionando estes jovens, certo? E aí, SADIA, vai continuar injetando dinheiro para que moleques que não ganham nada possam se masturbar e beber em Londres? SADIA, PATROCINA EU, que preservo minha privacidade e presto ALGUM serviço à sociedade! Sério mesmo, a SADIA se queimaria menos se colocasse o “d” do Desfavor nas suas embalagens.

Perder acontece. Principalmente com o Brasil, que perdeu quase tudo essa semana, mas a derrota em si não é o problema. Nem mesmo nós somos tão escrotos de pensar que se não ganhar é um merda que não vale nada. Não. É um merda que não vale nada se for até lá e não der o seu melhor. Se em vez de se concentrar e se focar ficar twitando, ficar se masturbando e filmando, ficar bebendo etc. É disso que estamos falando. Mas esses Intocáveis Olímpicos tratam logo de se fazer de vítima e gritar “Somos seres humanos!”, como se o que a gente critica fosse o simples fato de perder. Ou é uma prova de falta de caráter distorcer as coisas assim para se safar das críticas ou é uma prova de burrice e incapacidade de compreender um texto. Ambos muito ruins. Ambos me fazem pensar que não merecem dinheiro público.

Outro comportamento reprovável: a comemoração brasileira e inclusive da imprensa quando algo dá errado na organização dos jogos em Londres. A imprensa está apontando erros (alguns muito forçados e até imaginários) com uma satisfação ímpar. Meus queridos, o fato de que Londres está cometendo uma série de erros não faz do Brasil melhor. Muito pelo contrário, se fosse eu, o cu piscaria: se um lugar com infraestrutura como Londres está tendo dificuldades, imagina como vai ser aqui no Rio! Parem de rir e apontar o dedo para os outros, porque daqui a quatro anos é no cu de vocês que a trolha vai entrar. Um pouquinho mais de humildade, porque o Rio é pouca merda para se dar ao luxo de rir de Londres.

Em contrapartida a mesma imprensa que é implacável com Londres passa a mão nos atletas brasileiros até dizer chega. Ostentam a história triste de cada atleta. Adivinha? No mundo todo tem atleta com história triste para contar, algumas até mais tristes do que as dos atletas brasileiros: guerra civil, fome e muito menos infraestrutura para treinar. Além disso, como eu já disse, o problema não é perder em si. Uma derrota dando o melhor de si, com postura e dignidade não é demérito para ninguém. O que não pode é cagar nas regras, ficar na puta que pariu de colocação e achar bonito ou não levar a sério a competição e fazer palhaçada escarnecendo do dinheiro público que lhe foi confiado. É evidente que muitos dos atletas brasileiros não estão focados, não estão levando a serio nem dando seu melhor.

Esta crise é reflexo de algo mais generalizado, acredito que se estenda a todos os profissionais. Ninguém quer se aprimorar, ninguém investe além do necessários. As pessoas fazem o basicão, o medíocre, o que basta para ganharem seu dinheiro. Difícil alguém buscar a excelência, um plus, ser um top de linha. Daí temos vexames como atletas que ignoram as regras e são desclassificados ou então moleques que bebem e se filmam em situações inadequadas. Postura pra que? Eles conseguiram chegar nas Olimpíadas sendo assim, melhorar pra que? Tentar se superar pra que, se no Brasil você “já é um vencedor” por ter se classificado? Essa mentalidade atrasada é uma merda e empurra as pessoas para o comodismo.

Você vê na cara do atleta quando ele realmente tentou, quando ele realmente queria. Eu vi isso na cara do Cielo quando ele ficou com o bronze. Ele me passou a impressão que não foi para lá fazer oba-oba, ele ralou, ele deu o melhor de si, ele não estava satisfeito “apenas por estar lá”. É assim que todos deveriam ser, se não por sua própria consciência, pelo dinheiro público que os banca. É pouco? É ruim? DEVOLVE, ENTÃO! Não gosta da pressão? Não vai ser atleta, pratica o esporte nas horas vagas e faz uma faculdade! Mas deixa a gente avisar: pressão tem em qualquer atividade PROFISSIONAL.

Chega dessa merda de bancar moleques irresponsáveis com dinheiro público. Chega de bancar gente que vai “para ganhar experiência” sem a menor chance de medalha, dinheiro público não pode ser para dar experiência a atleta! Tá faltando muita coisa no país para se dar ao luxo de bancar “experiência” para um atleta! Chega dessa merda de PROFISSIONAIS não quererem ser cobrados. Tem atletas do mundo todo com muito menos infraestrutura e muito mais dificuldades se superando e ganhando, os atletas brasileiros estão muito mimadinhos e acomodados atrás da desculpa de falta de patrocínio e de serem “humanos”. Chega, não cola.

Em tempo: depois reclamam que ninguém quer patrocinar. Pudera, né? Que empresa quer ligar a sua imagem a punheteiros que ficam bebendo durante a competição ou a arrogantes que ficam xingando pelo Twiter? Não tem que patrocinar esses merdas mesmo não!

Para comentar em outra postagem, para comentar por e-mail ou ainda para comentar no e-mail do Somir já que ele é o responsável pela falta de comentários: sally@desfavor.com


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