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Des Cult: Filmes de terror.

| Sally | | 265 comentários em Des Cult: Filmes de terror.

Falemos novamente sobre medos. Para minha surpresa, medo dá ibope. Tanto quanto escatologia, sexo e brigas. Mais um para os “favoritos” no quesito “temas”. Não, a gente não ganha nada se houver mais ou menos cliques (reparem a falta de patrocinador ou coisa do tipo), mas quando o número de comentários aumenta eu fico feliz por puro amor ao debate. Sim, eu assim sou tão baratinha.

Desta vez vamos falar de um medo que todo mundo tem ou já teve: medo provocado por algum filme. Que tipo de filme te assusta ou te assustou? Quem nunca teve um filme do qual se pelava de medo na infância? Sim, os filmes que te assustam ou te assustaram podem dizer muito sobre você. Ou não. Mas é bacana de se discutir mesmo assim.

Os filmes que dão medo podem ser divididos em inúmeras categorias. Escolhi alguns critérios aleatórios que achei mais didáticos para fins de debate. Vamos lá.

Tem os filmes do demo, onde o vilão é de fato o diabo, declaradamente. Não tem jeito, por mais ateia que eu seja, o Demo é um clássico. Mesmo que você não acredite nele, ele está no inconsciente coletivo e provoca alguma reação. Um exemplo clássico é “O Exorcista”, que mesmo sendo mais velho do que eu considero ser um filme assustador ainda nos dias de hoje. A cena da Regan descendo as escadas feito uma aranha, em ponte, é algo admirável para 1973. Pena que depois fizeram diversas continuações cagadas e estragaram a história. Uma coisa é ler em um livro sobre as origens do demônio, outra é ter um filme onde as pessoas ficam repetindo “Pazuzu” sem parar. Ficou ridículo. Outros exemplos são “O Exorcismo de Emily Rose”, “Damien”,“Stigmata”e “O bebê de Rosemary”. Também pode ser inserido nessa categoria(se você for muito cagão) “O advogado do diabo”

Por sua vez, temos filmes de terror onde o vilão é o ser humano mesmo, gente aterrorizando gente, como “O Iluminado”, “Cabo do medo”, “O massacre da serra elétrica”, “Carrie, a estranha”, “O albergue” e “Turistas”, que no caso, é brasileiro aterrorizando gringo. Talvez alguns incluam o Dr. Hannibal Lecter e sua trilogia nessa categoria, mas desde a primeira vez em que vi os filmes não me pareceu aterrorizador e sim reconfortante ver alguém sangrando as tripas dos mal educados.Eu ia citar “Pânico”, mas depois de “Todo mundo em pânico” nem mesmo uma cagona de carteirinha como eu consegue ter medo desse filme! Gente aterrorizando gente me assusta no geral e acho que assusta a maior parte das pessoas com mais facilidade do que eventuais monstros, pois dá aquele desconforto de conseguir se visualizar no lugar da vítima.

Em um meio termo entre mortos e vivos, há filmes onde o inimigo é carnal mas não é humano. Uma espécie de um mix das duas categorias anteriores. São os clássicos filmes de zumbis como “Madrugada dos mortos”, “ResidentEvil”, “Eu sou a lenda”, “A coisa”, “Cemitério maldito”, “Fome animal”. Normalmente filme de zumbi não é muito assustador, costuma ser cultuado mais como um clássico, como uma obra de ficção. Ou então completamente desprezado, se você não for nerd. Confesso que senti medo em “Madrugada nos mortos”, mais por toda a questão antropológica de como o ser humano não está preparado para uma merda dessa proporção.

Existem também os filmes com monstros assassinos que mostram a cara mas que não são nem humanos nem zumbis. São uma espécie de “super-humanos” do mal, como por exemplo o famoso Freddy Krueger do filme “A hora do pesadelo”. É um fulano deformado que nasceu de um estupro coletivo dentro de um manicômio e te ataca nos seus sonhos se você dormir. Perfeito para crianças que já tinham alguma ressalva com a hora de ir para a cama, é chutar o pau da barraca do trauma: “se eu dormir o Freddy Krueger vai me pegar, não posso dormir”. Parabéns aos envolvidos, metade dos. Tem também o Jason, assassino que usa uma máscara de hóquei, ataca com um facão e para mata-lo precisa de mais regras e burocracia do que para comprar um carro. Tem ainda o Mike Myers, do filme Haloween, que é igualmente trabalhoso de matar, mas conseguiu render bons sustos no forçado Haloween 20.E nem adianta me dizer que eles são humanos, esses porras não morrem!

Outra categoria são os filmes onde o vilão não aparece, é uma espécie de “sujeito oculto”, uma insinuação em aberto. Esperto fazer um filme assim, pois cada um preenche as lacunas deixadas pelo filme com aquilo que mais lhe causa medo de forma inconsciente.Confesso que esse tipo de filme me causa muito medo até hoje. O suspense, a insinuação, a agonia… É o tipo de filme que geralmente as pessoas se cagam de medo ou então são completamente indiferentes, oito ou oitenta. Exemplos clássicos: “Os outros”, “Atividade Paranormal” (ou como disse o Somir em um surto de mau humor: “a galinha gigante”) e “As Bruxas de Blair” e “A Vila”. Filmes feitos basicamente para você ficar tenso o filme todo esperando que alguma merda aconteça a qualquer momento. Adrenalina, sustos e zero custos em efeitos especiais. Uma sacada inteligente.

Alguns filmes não tem um vilão em si, apenas mostram o contato dos vivos com um nobody morto de menos prestígio e fama que o Demo. Mesmo sendo entidades menos importantes, muitas vezes basta para gerar algum que outro cu piscando. São exemplos filmes como “Sexto sentido”, “Poltergeist”, “O orfanato”, “Hellraiser”, “O Chamado”, “Horror em Amityville” ou “It”. Detalhe que na maior parte dos filmes onde se evocam espíritos, mortos ou whatever é usado um “Ouijaboard”. Isso me causa desconforto desde pequena, pois mesmo na mais tenra idade eu já percebia os indícios de como somos tupiniquins e subdesenvolvidos. Enquanto eles usam Ouijaboard a gente faz uma coisa tosca com um copo! Vergonha e precariedade até na hora de evocar o outro mundo! Lembro que uma vez me chamaram para fazer a tal brincadeira do copo e eu perguntei se teria o tabuleiro Ouija. Me explicaram que seria um copo virado de cabeça para baixo com umas letrinhas desenhadas em um papel. Eu me recusei a fazer porque achei as instalações precárias (e olha que eu deveria ter uns oito ou dez anos de idade). Escrota de nascença.

Tem também aqueles com monstros declaradamente irreais mas que aterrorizam os protagonistas dos filmes, como “Alien”, “Predador” (investigando se é o Ronaldinho Gaúcho, mas até segunda ordem é irreal), “Cloverfield” e tantos outros que tem por aí. Geralmente não provocam medo, são vistos mais pelos efeitos especiais, alguns até os classificam como filmes de ficção. Se baseiam mais na destruição de bens do que de vidas, por isso apenas pessoas extremamente materialistas como o Somir sofrem e choram ao ver carros e apartamentos sendo destruídos.

E tem ainda aqueles que eu considero os piores: o terror involuntário. Filmes que não foram feitos pensando em provocar terror, mas assustam pra caralho, principalmente crianças. O meu filme de terror involuntário de estimação é aquela porra do “Marcas do Destino” (Mask, em inglês), sobre um menino chamado Rocky Dennis com uma deformidade facial. Arrisco dizer que meu ódio da Rede Globo (que não tem absolutamente nenhuma relação com política, não custa lembrar) nasceu ali. Parabéns a todos os envolvidos na brilhante escolha de passar FUCKIN´ MARCAS DO DESTINO na Sessão da Tarde, viu? Eu chorava até quando via as chamadas do filme.A propósito, se você for sádico (e todos vocês são se não não estariam no Desfavor) pode ver uma fotinho do verdadeiro Rocky Dennis, que inspirou o filme. Mas tirem as crianças de perto do computador antes, se não seu filho vai crescer tão traumatizado que periga ele acabar escrevendo um blog sobre cu, merda e outros assuntos inconvenientes.

Até hoje me lembro a sensação de acolhimento que senti quando achei a comunidade “Eu tinha medo de Rocky Denis” no Orkut. Claro que durou pouco, assim que mostrei para o Somir ele fez um fake com a cara do Rocky Denis e entrou ali para atormentar quem tinha medo…uma menina da comunidade chegou a dizer que chorou de medo. Enfim, outros filmes desta categoria são “O Homem Elefante”e “Goonies”. Sim, porque teve toda uma geração se cagando de medo do Slot, um monstro que parecia o Amaral. Ah, tinha um horrendo que passava no SBT, chamado “Porque eu?” de uma mulher que sofria um acidente de carro e ficava toda deformada, inclusive sem boca, que o Silvio Santos fazia questão de frisar ser “uma história rewal”. Esta porra também me causou umas taquicardias, mas pelo menos ele teve a decência de passar o filme à noite.

Há filmes onde o “vilão que assusta” é um bicho. Geralmente são bem toscos e não assustam nem criança. Atribuem sentimentos humanos a animais e criam situações que desafiam as leis da natureza. Apesar de que em algumas crianças podem criar uma sugestão traumática, conheço pessoas que ficaram com algum receio do mar depois de ver “Tubarão”. Outros exemplos são “Cujo” (único filme onde eu torci para o cachorro morrer no final), “Os pássaros”, “A sombra e a escuridão”, “O ataque dos vermes malditos” (verme é bicho, certo?) e “A mosca”, “Piranhas”, “Anaconda”, “Pânico no lago”, “Aracnofobia”. Mais comum que causem mal estar quando a pessoa nutria anteriormente alguma repulsa pelo animal em questão.

Em alguns casos o gerador do medo é um boneco. Também é algo muito improvável sentir medo com um boneco, mas por algum motivo insistem nisso. Exemplos clássicos: “O brinquedo assassino”, “Jogos mortais” e há quem diga que “Gremlins” conta como filme de terror. Até onde eu sei ninguém sentiu medo desse filme, o pior que eu já vi foi uma criança aos berros enquanto davam banho no seu Buldogue Francês achando que ele iria se reproduzir. Compreensível.

Temos os clássicos: qualquer Drácula, qualquer Frankenstein, qualquer Múmia, Fantasmas da Ópera, Corcundas de NotreDame, O médico e o monstroe similares. É chato porque não tem o fator surpresa, todo mundo conhece a história e como ela termina, sem contar que são filmes baseados em boas obras literárias, e vocês sabem, o livro é sempre melhor do que o filme. Apesar de que no Brasil quase ninguém lê mesmo, então capaz de nem sentirem esse baque. Vira e mexe fazem umas regravações desses clássicos com uns toques modernosos hediondos. Assusta no sentido do quanto o “cerumano” consegue cagar uma bela obra clássica.

Ah, quase ia esquecendo de outro grande tormento: filmes de terror (voluntários ou não) envolvendo ETs. Difícil para mim julgar, já que me cago de medo de ETs de todas as formas que um ser humano pode se cagar. Então, até a “musiquinha de chamar ETs” do filme “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” me causa mal estar.Lembro de ter muito medo de filmes chamados “As vezes eles voltam”, “Intruders” e “Fogo no céu”. Mas quem sou eu, até aquela autópsia fake de um ET passada pelo Fantástico me desestabilizou emocionalmente… E sim, eu senti medo em “Sinais”. E sim, eu me cago de medo mas continuo vendo esse tipo de filme, eu tenho esperança de que vai chegar o dia em que estarei suficientemente calejada e vou parar de sentir medo. A confirmar.

O fato é que aquilo que nos assusta ou nos assustou diz muito sobre nós, afinal nossos medos refletem de alguma forma nossa vulnerabilidade. Fique atento não apenas aos seus medos como também ao medo dos seus desafetos, você não imagina como isso pode ser útil em um embate declarado ou em uma guerra fria. A maior parte das pessoas comete o erro de atacar o desafeto (de forma declarada ou não) tomando por base os SEUS medos pessoais e não os da vítima. Isso é duplamente ruim, pois além de não surtir efeito, se a pessoa for esperta ela depreende que esse é o seu medo e mete o dedo na sua ferida. Saber identificar seus próprios medos e os medos alheios é meio caminho andado para acabar com outra pessoa em caso de guerrinha psicológica.

Não acredito que exista uma pessoa que nunca tenha sentido medo de nenhum filme durante toda a sua vida. Seria pedir demais que vocês contem de quais filmes tinham ou tem medo nos comentários?

Para dizer que não tem medo de nada e com isso mostrar a maior de todas as vulnerabilidades, para dizer que só vai passar nos comentários com a intenção de descobrir os filmes que assustam o Somir ou ainda para se juntar a mim na infância atormentada por “Marcas do Destino”: sally@desfavor.com


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