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Desfavor da semana: O mesmo capítulo.

| Desfavor | | 155 comentários em Desfavor da semana: O mesmo capítulo.

“O desenrolar dos primeiros passos da vingança de Rita (Débora Falabella) garantiram audiência recorde à “Avenida Brasil” na noite desta última segunda-feira (23).” FONTE

Na República Impopular do Desfavor ninguém liga para a trama repetitiva das novelas, o mesmo não pode ser dito de outros países. Quanto mais baixo o nível, mais alta a audiência. Desfavor da semana.

SOMIR

Para não cair no lugar comum de pessoas de bom gosto e dizer que nunca assisti essa novela, confesso que vi um bloco de um dos primeiros capítulos. Não foi exatamente uma escolha, mas aconteceu. Naquele momento, fiquei impressionado: Não pela história, até porque a trama é basicamente a mesma em todas.

Eu me interesso pela parte de direção de fotografia e direção artística em geral dos programas televisivos. Confesso que fiquei embasbacado com a qualidade visual. Tinha todo o jeitão de filme ou série (das boas) americana. Takes, cores, ambientes… Estava tudo bom até demais para o nível habitual de novela.

Poderia ser uma indicação que havia interesse na Globo de chegar a um outro patamar de excelência e assumir alguns riscos ao fabricar seu grande produto da grade de programação. Pequenos passos: Primeiro sobe o nível de produção, depois começa a pensar em qualidade de roteiro. Podia ser uma tábua de salvação.

Sem acompanhar a história, achei que esse salto de qualidade era responsável pelos primeiros relatos de sucesso na audiência. Ei, quem sabe o brasileiro começou a valorizar algo além da baboseira habitual? Ledo engano.

Quando mais a trama ganhava espaço na mídia e nas conversas das pessoas (seja nas ruas ou nas redes sociais), mais ficava claro que na verdade não passava da ruim e velha apelação barata em troca de índices mais polpudos no Ibope.

E não me venham dizer que me faltam subsídios para tratar sobre uma novela que não vejo. Cada peido dado pelas personagens da novela acaba divulgado como notícia da mais suma importância pelos meios de comunicação. E até pela linguagem arrastada “quase que obrigatória” que uma novela tem, normalmente os episódios podem ser resumidos em um parágrafo. Até quem não vê essa novela acaba encontrando material suficiente para entender o que se passa nela.

A audiência e os comentários aumentam na proporção da previsibilidade e preguiça apresentadas pelo roteiro. Até mesmo a qualidade visual já está sofrendo com uma queda acentuada. Quanto mais bidimensionais e escrotas as personagens agem, mais o povão vai ao delírio. Não me incomoda exatamente que outros seres humanos gostem de algo que eu não gosto, mas é o preço baixíssimo pelo qual o público está disposto a se vender num caso desses.

“Toma aqui… uma trama genérica de vingança com uma vilã caricata e bidimensional que vai acabar se ferrando no final…” Já escrevi antes e repito: A pior merda que pode acontecer com uma obra do tipo é se deixar levar pelo público. A escrotice e simplicidade das personagens poderia ter saído de praticamente qualquer uma das mentes dos telespectadores assíduos. É raso, óbvio e preguiçoso.

Sem contar a apelação óbvia de usar a famosa tara feminina de criticar outras mulheres como armadilha principal de atenção da trama. Isso não é exclusividade dessa novela, basta tentar lembrar de vilãs e vilãos famosos de novelas. Vai ser bem mais difícil fazer uma lista de homens do que de mulheres… E a cada novela a tendência fica cada vez mais solidificada.

Não consigo acompanhar o raciocínio de quem elogia mais uma novela genérica como algo de realmente diferente no ramo. Ela apela para fantasias clássicas da população sem alternativa ou hábito de trocar de canal. A Classe C se diverte quando a empregada vira o jogo contra a patroa…

Imagino o público de “Avenida Brasil” tendo que lidar com uma história como a de “Breaking Bad” (se ainda não viu/baixou, está perdendo), que te rouba a tranquilidade de saber quais são os papéis de herói e vilão episódio após episódio. Não, para o público de novela as coisas tem que ser explicadas com palavras curtas e sem muita sombra para interpretação.

Não é síndrome de colonizado, as boas séries americanas (e dá para colocar as inglesas no pacote) trabalham com ideias e personagens muito mais profundas do que uma novelinha como essa. Os fãs de séries tendem a criar teorias sobre os acontecimentos, os fãs de novela só conseguem fofocar. Tem a ver com o grau de instrução médio, mas também é culpa de quem coloca isso no ar. Tramas como as típicas de novelas tiram do espectador a chance de ir além disso.

Eu tenho minhas broncas com a turma do “só vejo se for dublado”, mas não se pode tirar a responsabilidade de quem produz e enfia goela abaixo do povo esse material bestificante. A excelência visual apresentada nos primeiros capítulos (e que pelo eu já vi, baixou consideravelmente) é sinal de que existe sim talento e capacidade no Projac para fazer coisa bem melhor. Não fazem porque não querem, não fazem porque do jeito que está dá dinheiro com publicidade e menções na mídia para reforçar a marca da emissora.

E a reação popular então… Pode-se medir a “profundidade” de uma pessoa baseada nos seus assuntos prediletos, quanto mais simplória uma pessoa, maior a sua tendência de focar em pessoas ao invés de ideias. Novelas cheias de personagens caricatamente vilanescas são um prato cheio para quem precisa da fofoca para não ficar sem o que falar na vida.

Novelas, nesse modelo atual, são uma droga. E eu estou usando os dois sentidos da palavra.

Para dizer que eu só estou com Enveja do sucesso da novela, para reclamar que assiste todos os dias e pode parar quando quiser, ou mesmo para dizer que pelo menos as memes são engraçadas (SPOILER: Não são.): somir@desfavor.com

SALLY

Não assistimos novela e temos preconceito declarado contra quem assiste. Infelizmente em algumas situações, mesmo que você não vá até a novela, a novela vai até você. É o que está acontecendo com essa bosta de novela chamada “Avenida Brasil”, que por algum motivo que eu desconheço (talvez a crescente ignorância do povo brasileiro) está sendo recorde de audiência e comentário onipresente entre muita gente.

Se você respeita seu cérebro e também não assiste novela, uma rápida sinopse para que você entenda as críticas que serão feitas: Mocinha = Nina, Vilã = Carminha. Carminha casou com pai da Nina (virando madrasta dela) quando Nina ainda era criança e sacaneou o sujeito até não poder mais com aqueles atos típicos de vilã: tomou o seu dinheiro, destratou Nina, o traiu e criou uma situação que culminou na morte do marido. Quando o seu então marido e pai da Nina morreu, Carminha resolveu se livrar da enteada e a jogou em um lixão para morrer, ainda criança. Mas Nina sobreviveu, cresceu e agora voltou para se vingar. A vingança de Nina é o fio condutor da trama, composta por um roteiro infantil, caricato e inverossímil.

Não parece nada de novo, afinal, madrasta má, mocinha que sofre e vingança não são temas inéditos. O problema é como a trama vem sendo conduzia e principalmente PARA QUEM.

Nina passou por cima de qualquer limite ético para se vingar. Para começo de conversa, ela está dando para geral: dá para o filho da Carminha, dá para o amante da Carminha e salvo engano teve um quase qualquer coisa com o marido de Carminha. Nina também suborna e chantageia as pessoas para conseguir executar sua vingança e coloca a vida da sua melhor amiga em perigo de vida no processo. E durante a execução da vingança mantem Carminha em cárcere privado, a humilha e chega a empregar punições corporais como cortar seu cabelo e obriga-la a trabalhar de forma escrava. Da forma como está sendo pintado, não causa repulsa, causa satisfação no público. “Ela merece!”. Bacana incitar este sentimento, hein? Nina virou a heroína de todos os fracotes abusados que não tiveram força para dar a volta por cima e tocar sua vida de desvinculando de quem cometeu algum abuso. Aí sim reside a força de uma pessoa: em não permitir que quem te sacaneou continue presente. Mas isso não daria uma boa trama.

Vejam bem, uma coisa é a gente aqui, que sempre admitiu que vale merda, avalizar esse tipo de conduta em uma postagem. Errado, ok. Porém não hipócrita. Além disso aqui a gente tem um filtro muito bacana chamado “quatro páginas” que repele 99% da população brasileira e estamos longe, muito longe de ser formadores de opinião. Muito pelo contrário. Outra coisa é uma empresa como a Globo, que adora falar que zela pela ética e pela não-violência expor esse tipo de comportamento em uma mocinha para um público descomunal que se juntar todo não se consegue nem 200g de cérebro. Eles mesmos sabem disso, não foi o Bonner quem disse publicamente que o telespectador médio tem o QI do Homer Simpson? Bota o Homer Simpson para ver todos os dias por mais de cem capítulos um programa onde a mocinha faz essas coisas e espere para ver no que dá. Estamos em um país onde pessoas batem nos atores que protagonizam papéis de vilão na rua. Fato: o povo não tem discernimento e deixa seu comportamento ser influenciado pela TV.

O que está acontecendo é justamente isso. Hoje uma amiga minha me liga para contar que na escola da sua filha uma “desafeta” da criança a agarrou e cortou seu cabelo repetindo frases que a mocinha da novela disse enquanto cortava o cabelo da vilã contra sua vontade. Claro que você deve estar pensando “Mas criança não deveria estar vendo novela!”. Eu concordo. Mas a gente sabe que a maior parte vê. A Globo sabe também, pois embute todo tipo de propaganda e publicidade, inclusive para crianças, antes-durante-depois. Mas não, eles exibem aquele aviso de recomendação etária e ignoram a realidade quando estão conseguindo audiência. Mostrar gente fazendo sexo meia noite no BBB não pode, mas mostrar gente falando um monte de palavrão e mocinha realizando um tipo bizarro de “tortura justificada” e saindo impune nove horas da noite pode.

Vejo muita gente ignorante começando a programar vinganças depois que começou essa novela. Se normalmente estas pessoas já são um macaco com uma navalha, depois desse incentivo oficial para vingança com direito a cometimento de crime hoje são um macaco com um sabre de luz. Sim, Nina, a mocinha, cometeu tantos crimes no caminho que só das cenas que eu (infelizmente) tive que ver para escrever este texto, já somariam mais de cem anos de cadeia se ela fosse condenada. Vocês acham que a mocinha vai para a cadeia no final? Duvido. Fica a mensagem da rede Globo: se você achar que está com a razão, não respeite os direitos humanos, não respeite a ética e não respeite a lei. Nada vai te acontecer.

E mesmo que supostamente a mocinha receba alguma forma de punição no final para tentar passar uma mensagem de que o crime não compensa, já será tarde, porque essa apologia à conduta criminosa de Nina já está causando estragos. Engraçado que quando Rafinha Bastos conta piada sobre estupro está fazendo apologia a crime, mas quando a mocinha da novela da Globo comete uma sequências de crimes de forma impune é licença poética ou mera ficção. Muito curioso esse dois pesos e duas medidas da sociedade. Se fosse o Rafinha Bastos com uma peruca encenando essa novela, já estava preso faz tempo: “extorquiria ela e o seu bebê!”. Obs: ainda estou rindo da cara da Wanessa Camargo e do chifre público que ela levou, só para constar.Que coisa, não? Rafinha Bastos “O Monstro sem Ética” trata a esposa com muito carinho e respeito.

Qual será o desfavor maior: o fato da Globo posar de empresa ética e estar fazendo uma merda desse porte sem que ninguém perceba a hipocrisia ou as pessoas que dão audiência e aplaudem a sucessiva falta de ética e atos criminosos da mocinha e depois clamam pela prisão de humoristas por muito menos? Acabou a coerência, pode tirar essa palavra do dicionário, porque ela não existe mais. A cara de pau é tanta que em um determinado dia o Jornal Nacional noticiou o cometimento de um crime em tom de reprovação e alguns minutos depois, no capítulo da novela, amocinha estava fazendo algo semelhante. Avisa para eles que existem regras impostas por leis para que uma emissora tenha o direito de estar no ar e veicular programas, e eles estão descumprindo boa parte delas.

Não, não prego a censura, apesar de que, em tese, a Globo não atende aos requisitos culturais e educativos para estar no ar. Mas quem atende? Então, por mim pode colocar uma mocinha esfaqueando filhotinhos de gato. Só prego a vergonha na cara de não posar de empresa ética e preocupada com a conscientização da população, porque não são. Estão deseducando a população sistematicamente e fazendo-a acreditar que você pode cometer sucessivos crimes e sair impune e que isso ainda seria socialmente justificado e aceito. Assumam-se uma empresa mercenária e parem de querer convencer que existe um mínimo resquício educativo nessa programação de merda.

E você, telespectador, pare de atrofiar seu cérebro com essas merdas. Existem outras formas muito mais inteligentes e dignas de lazer. Não sou esnobe, sou a favor do trash, da programação para apenas divertir. O que não suporto é o hábito preguiçoso de ver novela de merda, você é melhor do que isso. Gosta do formato? Vai ver seriado americano, que é uma novela bem feita. Eu sei que soa arrogante, mas a gente sabe que uma pessoa amadureceu e é inteligente quando ela olha um capítulo de novela brasileira e se irrita com aquilo.

Parabéns para a Globo que está enchendo os cornos de dinheiro às custas de incutir valores não apenas errados e imorais como ainda criminosos nessas cabecinhas ocas da maior parte da população. Espero que eles saibam bem as consequências do que estão fazendo.

Para dizer que não está assistindo a esta novela porque não tem o Jose Mayer (de sunga), para dizer que o maior desfavor é aquela música da abertura ou ainda para dizer que o que é estupro no BBB é brincadeira de criança na novela: sally@desfavor.com


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