Des Contos: Castigo.
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A noite fria e chuvosa se encarrega de espantar transeuntes da rua. Dentre os carros estacionados nas proximidades de um famoso clube local, um se destaca por uma fina linha de fumaça esbranquiçada escapando de um dos vidros traseiros.
LAMBRETA: Você só pode estar brincando!
CHAMINÉ: O quê?
LAMBRETA: Como assim o quê? Você está fumando dentro do carro!
CHAMINÉ: Mas eu estou soltando a fumaça para fora! Abri um pouco do vidro, olha!
MANCADA: Adianta muito! Vai empestear o carro do mesmo jeito!
CHAMINÉ: Está com medinho da sua namorada te dar bronca, é?
LAMBRETA: E desde quando ele tem namorada?
CHAMINÉ: Esse não é o carro dela?
LAMBRETA: Hahaha! Ele me disse que era da tia dele! É aquela do olho de vidro?
MANCADA: Não importa de quem é o carro! Não pode fumar aqui dentro!
CHAMINÉ: Porra, mas lá fora não dá! Não percebeu que está chovendo?
LAMBRETA: O vício é seu! Se vira! Essa fumaça saindo do carro vai chamar atenção!
MANCADA: E vai ficar cheiro!
CHAMINÉ: E vai ficar cheiro… *fazendo voz afetada
LAMBRETA: Apaga essa merda logo!
CHAMINÉ: Tá, tá…
MANCADA: Quanto tempo a gente vai ficar aqui?
LAMBRETA: Até a garota sair de lá.
MANCADA: Já estou ficando de saco cheio disso…
CHAMINÉ: Prefere se arriscar a não fazer?
MANCADA: Não disse isso, mas é chato ficar esperando.
LAMBRETA: Liga para a sua pirata para o tempo passar mais rápido.
MANCADA: Vai à merda!
CHAMINÉ: Hahaha… Coff… Coff…
MANCADA: Você ainda está fumando?
CHAMINÉ: Está quase acabando! Calma!
LAMBRETA: Apaga!
CHAMINÉ: Última tragada… Penúltima…
MANCADA: Eu vou fazer você engolir essa bituca!
Mancada se volta para o banco traseiro, mas é contido por Lambreta.
LAMBRETA: Deixa pra lá, ela está saindo. Coloquem os capuzes!
CHAMINÉ: Pronto! Joguei fora!
MANCADA: Vai logo então!
Lambreta puxa o casado por cima da cabeça encapuzada e sai do carro apressado em direção a um grupo de pessoas saindo do clube. Revelando uma pistola automática, rende o bando e separa uma bela jovem, que conduz forçosamente até o veículo.
LAMBRETA: Vai, vai!
Mancada pisa fundo no acelerador. Chaminé acolhe a garota no banco traseiro, colocando uma mão em cima de sua boca e a outra ao redor de sua cintura.
MANCADA: Segura ela firme que vou ter que passar por uma rua movimentada agora!
CHAMINÉ: Acho que ela está em choque.
LAMBRETA: O que foi?
CHAMINÉ: Ela não está se debatendo nem tentando gritar.
LAMBRETA: Melhor pra gente. Mas não se distrai.
Vários minutos depois, eles chegam a um barracão semi-abandonado no fim de uma estrada rural em péssimas condições. Lambreta sai e abre a garagem. Nenhuma viva alma em quilômetros. Já dentro e com o carro desligado, Mancada e Lambreta se preparam para ajudar Chaminé a tirar a garota pela porta traseira.
LAMBRETA: Nem precisava de mordaça, ela continua quietinha.
CHAMINÉ: Pronto, sai logo. *empurrando a garota para fora
MANCADA: Coloca ela aqui nessa cadeira.
Sem esboçar reação contrária, a garota é amarrada e vendada numa cadeira velha em meio a um salão praticamente vazio.
CHAMINÉ: Pode tirar o capuz?
LAMBRETA: Agora pode.
CHAMINÉ: Finalmente! *acendendo um cigarro
MANCADA: A gente vai entrar em contato antes?
LAMBRETA: Não, tem que esperar a hora certa.
CHAMINÉ: Porra, eu acho que ela ficou traumatizada… Não está nem fazendo cara de pânico.
LAMBRETA: Deixa comigo.
Lambreta se aproxima da garota amarrada.
LAMBRETA: Você está me ouvindo?
GAROTA: *acenando que sim com a cabeça
LAMBRETA: Se você e os seus pais cooperarem, vai tudo ficar bem, ok?
GAROTA: *chacoalhando como se estivesse chorando
LAMBRETA: Agora que eu digo que vai ficar tudo bem ela chora?
MANCADA: É psicológico. Chama Síndrome de Estou Como.
LAMBRETA: Síndrome de Estou Como?
MANCADA: É…
LAMBRETA: Hahahaha…
A garota parece chorar com ainda mais força.
MANCADA: Olha o que você fez!
LAMBRETA: Chorar não mata. Ela vai ficar bem. E para o seu governo, é Síndrome de Estocolmo!
MANCADA: Isso não faz sentido!
LAMBRETA: Sua burrice não faz sentido!
MANCADA: Vê se me respeita, Van…
LAMBRETA: NÃO!
MANCADA: Foi mal… Lambreta. Mas esses apelidos são estúpidos. Por que eu sou o Mancada?
LAMBRETA: …
CHAMINÉ: Eu acho que ela não está chorando.
LAMBRETA: Hã?
CHAMINÉ: Parece que ela está é…
MANCADA: Rindo…
LAMBRETA: Você está achando graça do quê, sua maluca?
A garota começa a fazer sinais com a cabeça.
MANCADA: Será que ela quer alguma coisa?
CHAMINÉ: Tira a mordaça. Mesmo se ela gritar, ninguém vai escutar.
Mancada retira a mordaça dela.
GAROTA: Finalmente. Bem que me disseram que tinham contratado três patetas…
LAMBRETA: Do que você está falando?
GAROTA: Sabe quando disseram a vocês que eu era filha do dono de uma rede de supermercados?
MANCADA: O que está acontecendo?
GAROTA: Meu pai é mesmo um empresário, e também trabalha na área de comércio… Mas não é de nada legal.
LAMBRETA: Não tenta me enrolar. Eu peguei a pessoa certa!
GAROTA: Verdade. Quando meu amigo fez o contato com você, passou a minha foto e disse onde eu estaria. Ele só mentiu o meu nome.
MANCADA: Amanda Medeiros Bonfim?
GAROTA: Elise Farias.
CHAMINÉ: Farias?
MANCADA: Empresário do comércio?
LAMBRETA: Ilegal?
ELISE: Está tudo sob controle. Vocês poderiam me soltar agora? Meus pulsos estão ficando marcados.
CHAMINÉ: A gente sequestrou a filha do chefe do tráfico da cidade!
MANCADA: No que você estava pensando? E ainda ME chama de Mancada?
LAMBRETA: Não… eu não sabia… é um truque!
ELISE: Olha na minha bolsa então.
Lambreta pega a diminuta bolsa de Elise, caída no banco traseiro do carro. Dentro, esmagada entre maquiagem e itens de higiene pessoal íntima, um documento confirmando a versão da sequestrada.
LAMBRETA: Não é possível. Não é possível…
ELISE: Pensem, meus queridos. Fui eu que encomendei esse sequestro. Vocês não precisam se preocupar… Eu tenho tudo planejado.
CHAMINÉ: E agora?
ELISE: Agora vocês me soltam. Não dá para continuar o plano amarrada e vendada.
MANCADA: Eu não quero morrer…
CHAMINÉ: Porra, não começa a chorar!
MANCADA: Eu não estou chorando…
CHAMINÉ: Desamarra?
LAMBRETA: Estou pensando.
ELISE: Se ajuda, eu preciso entrar em contato com alguém para evitar que ele conte para meu pai quem são vocês e onde estamos nesse exato momento.
LAMBRETA: Hã?
ELISE: Plano B. Tem um localizador na minha bolsa. Hoje em dia não se pode confiar muito nas pessoas, não é mesmo?
MANCADA: Eu te solto! Eu te solto! Mas não manda me matar!
LAMBRETA: Mancada, calma!
Mancada desamarra Elise, que prontamente tira a venda e segue até sua bolsa, caída no chão ao lado do carro. De dentro, retira um minúsculo aparelho disfarçado de absorvente íntimo. Ela parece apertar alguns botões em sequência.
ELISE: Pronto. Estamos seguros por enquanto. Sabia que homem nenhum ia ficar mexendo nisso…
LAMBRETA: Mas por que nos contratar para te sequestrar assim?
ELISE: Se vocês tivessem a mínima ideia de quem eu sou, aceitariam?
CHAMINÉ: Nunca!
ELISE: Nós vamos pedir dois milhões em dinheiro vivo. Vocês ficam com dez por cento, como já estava combinado.
MANCADA: A gente não vai morrer? *segurando o choro
LAMBRETA: Larga de envergonhar a gente, Mancada!
ELISE: Vamos fazer a ligação. Papai vai querer falar comigo… vou preparando minha voz de assustada…
CHAMINÉ: Tá aqui o celular que a gente ia usar.
ELISE: Dois… Nove… Meia… Diz para entregar na esquina da Laranjeiras com a Figueiras. É território da concorrência, mais seguro para a gen… Está tocando. *entregando o celular para Lambreta
LAMBRETA: Alô?
(…) Nós pegamos sua filha!
(…) Sim.
(…) Dois milhões.
(…) Espera… *entregando o celular para Elise
ELISE: Papai? Eles não me machucaram ainda mas eu estou com muito medo…
(…) Sim, eu vou aguentar firme.
(…) Não, não está frio aqui no galpão, e… peraí… como você sabe que eu estou num galpão?
Chaminé se aproxima de Elise. Mancada começa a pegar as cordas caídas no chão. Lambreta toma o celular de suas mãos. Os três sorriem.
ELISE: O que está acontecendo?
LAMBRETA: Sim senhor. Pode deixar que eu digo. *desligando o celular
Chaminé e Mancada começam a amarrá-la novamente.
ELISE: Me solta! O que está acontecendo?
LAMBRETA: Seu pai me pediu para te avisar duas coisas…
ELISE: O quê?
LAMBRETA: Que você tem potencial, e que você está de castigo.
Perdendo em La Bombonera
Siago Tomir não se aguenta em si por ver o seu time na final da tão sonhada Libertadores, depois de ter passado dramaticamente como um trator sobre o time de Neymar, Ganso e cia.
Ele está crente que finalmente vai ter oportunidade de revidar todas aquelas provocações de seus conhecidos palmeirenses, são paulinos, bem como os modinhas santistas, que apesar da controversa derrota nas semifinais ainda continuam se achando a última bolacha do pacote.
A final, da qual nosso companheiro alvinegro tanto se gaba antes do primeiro jogo começar, é contra o glorioso Boca Juniors, que foi ganhador de seis edições do torneio, estando na peleja na tentativa de igualar o número de títulos do Independiente.
Mas Siago Tomir não desanima. Se o Corinthians foi capaz de vencer os tão badalados “meninos da vila”, era porque a hora do grandioso Timão tinha chegado. Nem mesmo o fato do primeiro jogo ser em La Bomboniera desanima nosso louco fanático, que acredita que caso o time consiga um empate na Argentina, vai ter condições perfeitamente de decidir no Pacaembu e finalmente sagrar o tão sonhado título.
Tomir, sem a menor noção do perigo, fala para a Sally que quer ir para Buenos Aires assistir o jogo no estádio, sendo que a mesma desaconselha. Por sorte, o lote de 2000 ingressos disputado a tapa pela fiel corinthiana acaba sem que Tomir possa comprar o seu.
Ao fim, resta assistir o jogo na TV e a possibilidade de quem sabe acompanhar o último jogo no Pacaembu. Tomir liga a TV totalmente confiante de que vai dar tudo certo, cantando “Salve o Corinthians, o Campeão dos Campeões”, sem sequer saber o que aguardava.
Neste momento, alguns sem noção resolvem ligar no celular do Tomir para encher o saco, sendo que com tanta aporrinhação, ele acaba desligando o aparelho tentando assim manter a “tranquilidade” (se é que isso é possível, pois ele está se beliscando por não acreditar que o Corinthians está na final da Libertadores) no jogo que a esta altura já está nos cinco minutos do primeiro tempo.
Ao começar a notar melhor o jogo, Tomir fecha a cara, todo apreensivo, vendo que o time de camisa azulada (o Boca Juniors) tá sempre no campo de ataque, enquanto que o Corinthians se vira como pode na defesa.
No correr dos 19 minutos do primeiro tempo, o time argentino vence a marcação e faz 1 x 0 sobre o Corinthians, sendo que neste momento o Tomir abre suas preces na esperança de que o time reaja e ao menos consiga um suado empate.
Mas apesar de uma tentativa aos 28 minutos (que vai chutada pra longe do gol) o Corinthians não consegue chegar no gol argentino, sendo que as jogadas do Corinthians não conseguem vencer a forte marcação dos hermanos.
Tomir ainda assim não desiste e assiste todo o truncado jogo do primeiro tempo na esperança de que o resultado mude. No intervalo, pega uma água por não aguentar de tanta tensão, bebendo um pouco e jogando o resto em sua cara suada.
Ele está tenso, mas espera que no segundo tempo, com o técnico passando as estratégias na tentativa de vencer a marcação argentina o time possa finalmente entrar nos eixos.
Passam-se 20 minutos do segundo tempo e… NADA! Continua 1 x 0 pro Boca Juniors e nada parece indicar que o Corinthians vá empatar o jogo. Ao contrário, parece mais provável que o Boca faça 2 x 0 do que a possibilidade de o Corinthians empatar.
O técnico, já nervoso com o time que não consegue fazer resultado, resolve partir para as substituições, usando suas três opções nos 15 minutos seguintes, mas ainda assim, o quadro não muda e Tomir, já nervoso, fica tentando pensar se o Corinthians vai conseguir mesmo reverter o resultado no Pacaembu.
Aos 37 minutos do segundo tempo, num lance fortuito, o Boca faz 2 x 0 e Tomir fica completamente nervoso a ponto de bater na TV por conta disso… Depois vem o choro e a comoção, sendo que Tomir, a cada tentativa do Corinthians, que finalmente começa a vencer a marcação argentina, possa diminuir, tornando a parada no Pacaembu mais fácil.
Sem resultado… O jogo acaba 2 x 0 para o Boca. O Corinthians fica na dependência de ganhar por 3 gols para se sagrar campeão da Libertadores, mas ainda assim, Tomir não desiste e continua acreditando na vitória no Pacaembu, ainda que tal decisão final seja dramática e sem nenhuma garantia de vitória para o time deste fiel torcedor.
Quem mandou não ser burro!
Não entendi onde quis chegar, Alano…
E tem quem diga que não é possível viajar sem sair do lugar. Dorgas mano. Chaminé seria porque ele fuma? Mancada, porque só faz e diz besteiras? Lambreta porque realmente passou a perna em quem achava estar por cima ? Sei lá, as vezes a mente do ser humano pode ser bem perturbada…
Paz e Amor _\ | /_
Fanfa, desculpa perguntar, mas por um acaso você se chama Leo?
Eu tenho medo de perguntar sobre o Lambreta.