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Des Contos: Castigo.

| Somir | | 6 comentários em Des Contos: Castigo.

A noite fria e chuvosa se encarrega de espantar transeuntes da rua. Dentre os carros estacionados nas proximidades de um famoso clube local, um se destaca por uma fina linha de fumaça esbranquiçada escapando de um dos vidros traseiros.

LAMBRETA: Você só pode estar brincando!
CHAMINÉ: O quê?
LAMBRETA: Como assim o quê? Você está fumando dentro do carro!
CHAMINÉ: Mas eu estou soltando a fumaça para fora! Abri um pouco do vidro, olha!
MANCADA: Adianta muito! Vai empestear o carro do mesmo jeito!
CHAMINÉ: Está com medinho da sua namorada te dar bronca, é?
LAMBRETA: E desde quando ele tem namorada?
CHAMINÉ: Esse não é o carro dela?
LAMBRETA: Hahaha! Ele me disse que era da tia dele! É aquela do olho de vidro?
MANCADA: Não importa de quem é o carro! Não pode fumar aqui dentro!
CHAMINÉ: Porra, mas lá fora não dá! Não percebeu que está chovendo?
LAMBRETA: O vício é seu! Se vira! Essa fumaça saindo do carro vai chamar atenção!
MANCADA: E vai ficar cheiro!
CHAMINÉ: E vai ficar cheiro… *fazendo voz afetada
LAMBRETA: Apaga essa merda logo!
CHAMINÉ: Tá, tá…
MANCADA: Quanto tempo a gente vai ficar aqui?
LAMBRETA: Até a garota sair de lá.
MANCADA: Já estou ficando de saco cheio disso…
CHAMINÉ: Prefere se arriscar a não fazer?
MANCADA: Não disse isso, mas é chato ficar esperando.
LAMBRETA: Liga para a sua pirata para o tempo passar mais rápido.
MANCADA: Vai à merda!
CHAMINÉ: Hahaha… Coff… Coff…
MANCADA: Você ainda está fumando?
CHAMINÉ: Está quase acabando! Calma!
LAMBRETA: Apaga!
CHAMINÉ: Última tragada… Penúltima…
MANCADA: Eu vou fazer você engolir essa bituca!

Mancada se volta para o banco traseiro, mas é contido por Lambreta.

LAMBRETA: Deixa pra lá, ela está saindo. Coloquem os capuzes!
CHAMINÉ: Pronto! Joguei fora!
MANCADA: Vai logo então!

Lambreta puxa o casado por cima da cabeça encapuzada e sai do carro apressado em direção a um grupo de pessoas saindo do clube. Revelando uma pistola automática, rende o bando e separa uma bela jovem, que conduz forçosamente até o veículo.

LAMBRETA: Vai, vai!

Mancada pisa fundo no acelerador. Chaminé acolhe a garota no banco traseiro, colocando uma mão em cima de sua boca e a outra ao redor de sua cintura.

MANCADA: Segura ela firme que vou ter que passar por uma rua movimentada agora!
CHAMINÉ: Acho que ela está em choque.
LAMBRETA: O que foi?
CHAMINÉ: Ela não está se debatendo nem tentando gritar.
LAMBRETA: Melhor pra gente. Mas não se distrai.

Vários minutos depois, eles chegam a um barracão semi-abandonado no fim de uma estrada rural em péssimas condições. Lambreta sai e abre a garagem. Nenhuma viva alma em quilômetros. Já dentro e com o carro desligado, Mancada e Lambreta se preparam para ajudar Chaminé a tirar a garota pela porta traseira.

LAMBRETA: Nem precisava de mordaça, ela continua quietinha.
CHAMINÉ: Pronto, sai logo. *empurrando a garota para fora
MANCADA: Coloca ela aqui nessa cadeira.

Sem esboçar reação contrária, a garota é amarrada e vendada numa cadeira velha em meio a um salão praticamente vazio.

CHAMINÉ: Pode tirar o capuz?
LAMBRETA: Agora pode.
CHAMINÉ: Finalmente! *acendendo um cigarro
MANCADA: A gente vai entrar em contato antes?
LAMBRETA: Não, tem que esperar a hora certa.
CHAMINÉ: Porra, eu acho que ela ficou traumatizada… Não está nem fazendo cara de pânico.
LAMBRETA: Deixa comigo.

Lambreta se aproxima da garota amarrada.

LAMBRETA: Você está me ouvindo?
GAROTA: *acenando que sim com a cabeça
LAMBRETA: Se você e os seus pais cooperarem, vai tudo ficar bem, ok?
GAROTA: *chacoalhando como se estivesse chorando
LAMBRETA: Agora que eu digo que vai ficar tudo bem ela chora?
MANCADA: É psicológico. Chama Síndrome de Estou Como.
LAMBRETA: Síndrome de Estou Como?
MANCADA: É…
LAMBRETA: Hahahaha…

A garota parece chorar com ainda mais força.

MANCADA: Olha o que você fez!
LAMBRETA: Chorar não mata. Ela vai ficar bem. E para o seu governo, é Síndrome de Estocolmo!
MANCADA: Isso não faz sentido!
LAMBRETA: Sua burrice não faz sentido!
MANCADA: Vê se me respeita, Van…
LAMBRETA: NÃO!
MANCADA: Foi mal… Lambreta. Mas esses apelidos são estúpidos. Por que eu sou o Mancada?
LAMBRETA:
CHAMINÉ: Eu acho que ela não está chorando.
LAMBRETA: Hã?
CHAMINÉ: Parece que ela está é…
MANCADA: Rindo…
LAMBRETA: Você está achando graça do quê, sua maluca?

A garota começa a fazer sinais com a cabeça.

MANCADA: Será que ela quer alguma coisa?
CHAMINÉ: Tira a mordaça. Mesmo se ela gritar, ninguém vai escutar.

Mancada retira a mordaça dela.

GAROTA: Finalmente. Bem que me disseram que tinham contratado três patetas…
LAMBRETA: Do que você está falando?
GAROTA: Sabe quando disseram a vocês que eu era filha do dono de uma rede de supermercados?
MANCADA: O que está acontecendo?
GAROTA: Meu pai é mesmo um empresário, e também trabalha na área de comércio… Mas não é de nada legal.
LAMBRETA: Não tenta me enrolar. Eu peguei a pessoa certa!
GAROTA: Verdade. Quando meu amigo fez o contato com você, passou a minha foto e disse onde eu estaria. Ele só mentiu o meu nome.
MANCADA: Amanda Medeiros Bonfim?
GAROTA: Elise Farias.
CHAMINÉ: Farias?
MANCADA: Empresário do comércio?
LAMBRETA: Ilegal?
ELISE: Está tudo sob controle. Vocês poderiam me soltar agora? Meus pulsos estão ficando marcados.
CHAMINÉ: A gente sequestrou a filha do chefe do tráfico da cidade!
MANCADA: No que você estava pensando? E ainda ME chama de Mancada?
LAMBRETA: Não… eu não sabia… é um truque!
ELISE: Olha na minha bolsa então.

Lambreta pega a diminuta bolsa de Elise, caída no banco traseiro do carro. Dentro, esmagada entre maquiagem e itens de higiene pessoal íntima, um documento confirmando a versão da sequestrada.

LAMBRETA: Não é possível. Não é possível…
ELISE: Pensem, meus queridos. Fui eu que encomendei esse sequestro. Vocês não precisam se preocupar… Eu tenho tudo planejado.
CHAMINÉ: E agora?
ELISE: Agora vocês me soltam. Não dá para continuar o plano amarrada e vendada.
MANCADA: Eu não quero morrer…
CHAMINÉ: Porra, não começa a chorar!
MANCADA: Eu não estou chorando…
CHAMINÉ: Desamarra?
LAMBRETA: Estou pensando.
ELISE: Se ajuda, eu preciso entrar em contato com alguém para evitar que ele conte para meu pai quem são vocês e onde estamos nesse exato momento.
LAMBRETA: Hã?
ELISE: Plano B. Tem um localizador na minha bolsa. Hoje em dia não se pode confiar muito nas pessoas, não é mesmo?
MANCADA: Eu te solto! Eu te solto! Mas não manda me matar!
LAMBRETA: Mancada, calma!

Mancada desamarra Elise, que prontamente tira a venda e segue até sua bolsa, caída no chão ao lado do carro. De dentro, retira um minúsculo aparelho disfarçado de absorvente íntimo. Ela parece apertar alguns botões em sequência.

ELISE: Pronto. Estamos seguros por enquanto. Sabia que homem nenhum ia ficar mexendo nisso…
LAMBRETA: Mas por que nos contratar para te sequestrar assim?
ELISE: Se vocês tivessem a mínima ideia de quem eu sou, aceitariam?
CHAMINÉ: Nunca!
ELISE: Nós vamos pedir dois milhões em dinheiro vivo. Vocês ficam com dez por cento, como já estava combinado.
MANCADA: A gente não vai morrer? *segurando o choro
LAMBRETA: Larga de envergonhar a gente, Mancada!
ELISE: Vamos fazer a ligação. Papai vai querer falar comigo… vou preparando minha voz de assustada…
CHAMINÉ: Tá aqui o celular que a gente ia usar.
ELISE: Dois… Nove… Meia… Diz para entregar na esquina da Laranjeiras com a Figueiras. É território da concorrência, mais seguro para a gen… Está tocando. *entregando o celular para Lambreta
LAMBRETA: Alô?
(…) Nós pegamos sua filha!
(…) Sim.
(…) Dois milhões.
(…) Espera… *entregando o celular para Elise
ELISE: Papai? Eles não me machucaram ainda mas eu estou com muito medo…
(…) Sim, eu vou aguentar firme.
(…) Não, não está frio aqui no galpão, e… peraí… como você sabe que eu estou num galpão?

Chaminé se aproxima de Elise. Mancada começa a pegar as cordas caídas no chão. Lambreta toma o celular de suas mãos. Os três sorriem.

ELISE: O que está acontecendo?
LAMBRETA: Sim senhor. Pode deixar que eu digo. *desligando o celular

Chaminé e Mancada começam a amarrá-la novamente.

ELISE: Me solta! O que está acontecendo?
LAMBRETA: Seu pai me pediu para te avisar duas coisas…
ELISE: O quê?
LAMBRETA: Que você tem potencial, e que você está de castigo.

Para dizer que só gosta dos contos porque evita as outras postagens que eu faço, para dizer que entendeu Chaminé e Mancada mas tem medo de perguntar sobre o Lambreta, ou mesmo para dizer que reviravolta sem dicas não tem mérito (será?): somir@desfavor.com


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