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Des Contos: Numa fria.

| Sally | | 12 comentários em Des Contos: Numa fria.

SEMANA DOS FRACOS: Continuando a saga de Sallilah e Somirberg, infiltrados no Partido Nazista para criar um Estado Judeu com aluguel barratinha, apresentamos as cartas enviadas por Sallilah durante o desenvolvimento da Segunda Grande Guerra.

JUNHO 1941

O bastardinho mesticinho austríaco chegou mais longe do que nós imaginávamos. Mas seus dias estão contados, nós tivemos uma ideia brilhante. Logo ele, que falava tão mal de comunistas, quando sentiu o cu piscar foi correndo fazer amizade com eles. CAGÃO! Isso vai lhe custar a vida.

Ninguém sabe, mas eu sei porque estava escutando atrás da porta: não tem nem dois anos ele assinou um tratado de não-agressão com a União Soviética. Lembro bem pois quando ouvi o nome “Molotov-Ribbentrop” pensei no quão egocêntricos esses filhos da puta eram, afinal, tratado que é tratado leva o nome do lugar onde é assinado e não o nome de pessoas! À época fiquei revoltada: falava mal de comunistas mas por baixo dos panos assinava acordo com eles. Só depois de uma longa conversa com Somirberg é que percebemos a oportunidade que tínhamos nas mãos.

Por algum motivo Adolf decidiu se resguardar e firmar um pacto de não agressão com os comunistas, era óbvio que ele estava cagado nas calças de medo dos soviéticos e do seu poderio bélico. Naquela madrugada em que assinaram o tratado em segredo ficaram horas dividindo a Europa, decidindo quem ficava com qual país. Onde já se viu Adolf dividir alguma coisa? Sim, era um sinal claro que ele estava com receio. Ele pressentiu o perigo. Era hora de agir e meter o dedo na ferida que ele mesmo identificou.

Pensando nisso, começamos a buzinar no ouvido de Adolf sobre os perigos dos comunistas. Bastaram poucos dias de lavagem cerebral na cabeça da mula austríaca para conseguir despertar sua fúria: eu lhe dava recados falsos e contava boatos inventados de modo a indispô-lo com a União Soviética e Somirberg incitava-o a tomar uma atitude. Gente insegura é assim, fácil de insuflar. O problema é que foi cedo demais. Inicialmente calculamos que seriam necessárias no mínimo quatro semanas, mas o animalzinho se convenceu rapidamente. Isso seria um problema, pois se ele resolvesse atacar de imediato havia uma pequena chance de sucesso. Para ter certeza absoluta do seu fracasso queríamos vê-lo atacando no inverno, com meio metro de neve. Era preciso atrasar os planos, mas não podíamos permitir que ele desistisse de romper o tratado.

Para garantir que o ataque alemão se daria no inverno, diminuindo as chances de sucesso, falsificamos uma carta daquele italiano maluco pedindo ajuda em uma pancadaria que supostamente estaria acontecendo na Albânia e na Grécia. Era um pedido de socorro desesperado: “Não consegui tomar a Grécia e temo que vá perder a Albânia se você não me ajudar”. Isso obrigou Adolf a deslocar suas tropas para ajudar o italiano, atrasando o plano contra os soviéticos. E o pior: ele é tão burro, mas TÃO BURRO, que nos demos ao luxo de assinar BONITO em vez de Benito na carta falsificada e ele nem percebeu. Ahhh… os easter eggs… Certamente no futuro alguém perceberá, afinal, as pessoas não são burras… mas por hora, foi engraçado.

As tropas alemãs que foram socorrer o italiano se surpreenderam quando chegaram à Albânia e à Grécia e não encontraram nenhum conflito, mas, para ficar bem com seu líder, informaram que lutaram bravamente e derrotaram os inimigos. Olha só… trollagem coletiva! Nada como ganhar pontos com seu chefe sem precisar trabalhar! Evidente que em um futuro isso será descoberto, afinal, Adolf é burro mas o resto do mundo não é. Por hora, apenas Somirberg e eu sabemos da mentira. O importante é que o fato das tropas alemãs terem desviado seu percurso atrasou o ataque aos soviéticos em algumas semanas e agora eles vão congelar seus cuzinhos na neve se quiserem brigar com o povo lá de cima.

DEZEMBRO 1941

Fodeu. Não sei como, Adolf está metendo o pau nos soviéticos. Entrou rasgando em Smolensk e fez estragos em Kiev. Estamos tão apavorados que Somirberg e eu engolimos nosso orgulho e entramos em contato com alguns amigos parentes que se encontram nos EUA pedindo por ajuda. Recorremos primeiro a sua irmã, Somiraberg, que respondeu com o seguinte telegrama “No poder ajudar. Guerra ser boa parrra meu lojinha de armas”. Recorremos a outros parentes e amigos e a resposta era sempre a mesma: lamentavam muito, mas amigos amigos, negócios à parte. A guerra estava sendo lucrativa para muitos judeus e eles tinham interesse que ela continue. Essa pica era só nossa e teríamos que resolver tudo sozinhos.

Chocada com a falta de solidariedade do nosso povo, que sempre se disse tão unido. Quando mandei uma carta a um dos melhores amigos de Somirberg mentindo que ele estaria preso em um campo de concentração e pedindo ajuda ele disse que ia mandar “uma cinzeirrra bem bonita para guardar Somirberg”. Claro que um dia todos saberão o bando de canalhas filhos da puta materialistas traidores e egoístas que são os judeus, afinal, as pessoas não são burras, mas por enquanto eles continuam posando de povo unido. Que hipócritas! Mal posso esperar para a história desmascarar esses cretinos!

JANEIRO 1943

Pior do que a filhadaputagem do nosso próprio povo foi a carta que interceptei hoje: os soviéticos pediram para aquele pau mandado búlgaro intermediar uma reedição. Estão levando um pau tão grande que chegaram até a oferecer de presente vários territórios, dentre eles a Ucrânia. É uma puta oferta, até porque existe um projeto ainda no papel de uma usina muito promissora por lá. O jegue austríaco não podia saber sobre esta proposta, caso contrário aceitaria um acordo de paz. Agora nossa tarefa era dupla: manter a guerra e fazer com que a Alemanha perca.

Em um ato coreografado, derrubei “sem querer” os óculos de Adolf que estavam em cima da mesa no chão. Sim, ele usava óculos, mas evitava usá-los em público pois achava que era um sinal de “fraqueza”. Conseguiu esconder isso de todos por muito tempo. Claro que um dia será notório que ele usava óculos, afinal, as pessoas não são burras, mas por hora, era segredo. Mesmo quando os usava em sua casa, se recusava a admitir que tinha qualquer problema de visão, dizia que era algo “preventivo” para “vista cansada”. Não pegava bem que ele não fosse perfeito. Eu já tinha observado que ele não enxergava nada sem os óculos, mas ficava calada.

Infelizmente os óculos não se partiram ao cair no chão, o que me obrigou a pisá-los com força. Ainda assim não se quebraram, por isso tive que chutá-los “sem querer” dizendo “Oh, como sou desastrada, me desculpe!”. Quando finalmente consegui quebrar aquela merda de óculos, entreguei a carta a Adolf. Ele abriu a carta e tentou ler. Era evidente que não estava conseguindo ler porra nenhuma. Fez-se um longo silêncio. Ele não admitiria ser incapaz de ler sem os óculos.

Somirberg perguntou se ele lhe permitiria ler também e quando foi autorizado começou a ler xingar: “Desgraçados! Estão tripudiando e ridicularizando a Alemanha! Malditos! Temos que acabar com eles!”. Adolf rangia os dentes e a veia na sua testa começou a saltar. Somirberg xingava mais e mais sem revelar o conteúdo da carta, dando margem para que Adolf imagine o que de pior lhe viesse à cabeça e terminasse com aquilo dando um murro na mesa e convocando uma reunião urgente. Fiz um joinha para Somirberg e me retirei.

Até o final de sua vida Adolf desconhecia o que estava escrito naquela carta, mas o que quer que ele tenha achado que fosse, fez recusar o acordo de paz quando finalmente ficou sabendo dele, através de terceiros. Era isso que importava. Claro que um dia a verdade viria à tona, afinal, Adolf é um burro mas os historiadores não. Mas até lá, estaremos todos seguros em Surinameberg.

AGOSTO 1944

A coisa saiu melhor que a encomenda.

A ira da suposta carta ofensiva fez com que a anta austríaca ordenasse ataque total e imediato. Ninguém entendeu nada, pois havia uma estratégia traçada para se prevenir contra o inverno rigoroso e pretendiam avançar lentamente. Adolf não quis nem saber, mandou que todos ataquem imediatamente e pediu para que o foco prioritário fosse a cidade de Stalingrado, homenagem a Stalin. Pura pirraça. Duas palavras: se foderam. Picolé de alemão. Sim, Adolf fora finalmente derrotado na Batalha de Stalingrado

A queda de Adolf está sendo interessante de assistir. Confesso que continuo colocando remédios em sua comida que lhe causam os mais diversos tipos de efeitos colaterais. É divertido vê-lo se queixando aos médicos sem que seja possível identificar qualquer doença. Ele está com fama de hipocondríaco… Claro que em um futuro descobrirão que havia uma pessoa brincando com a sua saúde, afinal, ele é idiota mas o resto do mundo não. Por hora, todos debocham de sua hipocondria e seus médicos já nem escutam mais suas queixas.

Nosso problema atual é outro: como ele está enfraquecido, o número de atentados contra nossa mulinha austríaca não para de crescer. Não podemos deixar que ele morra em um atentado, caso contrário corremos o risco que ele saia como um herói, um mártir ou coisa do tipo, principalmente se o atentado partir de um judeu. No mínimo, vai gerar a sensação de “estamos quites”. Nem pensar! Temos que sair dessa história com um débito para que sejamos indenizados com nossa nação própria. Estamos de saco cheio desse clima de merda da Alemanha, queremos algo mais tropical.

Nosso plano era claro: fazer Adolf cagar esse pacto de não-agressão para que ele leve um pau dos soviéticos e seja visto como um covarde traidor perante o mundo todo. Os vencedores escrevem a história, de modo que quando ele fosse derrotado seria pintado como vilão e por consequência nós, os judeus, seriamos ainda mais vítimas aos olhos do resto do mundo. Poderíamos dizer que não havia mais condição de morar em um país como a Alemanha, que nos banhou em sangue e pleitear o modesto estado do Suriname para reconstruir nossas vidas: Surinameberg.

Além disso, já estava notório que Adolf havia matado quase 17 milhões de soviéticos em campos de concentração contra apenas 6 milhões de judeus! Nós não éramos mais as vítimas principais e isso poderia atrapalhar muito nossos planos. Se os soviéticos metessem um pau na Alemanha, eles estariam historicamente vingados e em um primeiro momento não seriam tão vítimas. Claro que com o tempo todos saberiam que no Holocausto morrerem muito mais soviéticos do que judeus, afinal, as pessoas não são burras, mas até lá já teremos garantido o Surinameberg!

Até a presente data conseguimos evitar mais de 40 atentados. Queremos vê-lo morrer indignamente, coisa que não deve demorar muito, devido ao Mal de Parkinson que o assola já em estágio consideravelmente avançado. Confesso que faz mais de um mês que eu só o alimento com sopa. Eu disse que foi recomendação do médico, mas na verdade Somirberg e eu gostamos de assistir escondidos ele se sujando todo ao tentar empunhar a colher com firmeza.

ABRIL 1945

Para tentar evitar que o tremelique austríaco morra em um atentado e limpe sua imagem, decidimos tirá-lo da Alemanha. Colocamos uma peruca e um vestido e embarcamos com ele para o Suriname, deixando um desafeto nosso, Alicatobreg, preso em um bunker em Berlim que sabíamos ser cotado para um atentado. Dito e feito: bombardearam o bunker. Questão de tempo até descobrirem que é apenas um homem qualquer com as roupas de Adolf e um bigodinho colado, afinal, as pessoas não seriam burras de reconhecer um morto por seu bigode ou suas roupas, não é mesmo? Mas, como eu disse, até lá estaremos todos em segurança em Surinameberg.

Agora que não há mais impedimentos, resta mobilizar nosso povo e começar a preparar a nova nação. Esperamos conseguir mobilizar os judeus já no próximo mês para migrar em massa para o Suriname. Agora o pior já passou, sinto que mais nada pode dar errado! Adolf? Vamos mantê-lo como nosso criado. Talvez ele não possa executar muitas tarefas mas sem dúvida vai espanar os móveis com primor…

Para contar quantas referências históricas implícitas você achou e descobrir quantas você não viu, para parabenizar por conseguirmos ofender todos os envolvidos na história ou ainda para não comentar e esperar ansiosamente pela próxima postagem previsível e escatológica: sally@desfavor.com


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