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Ele disse, ela disse: Cena armada.

| Desfavor | | 33 comentários em Ele disse, ela disse: Cena armada.

As leis sobre porte de armas na República Impopular do Desfavor ainda não foram decididas. Sally e Somir enxergam a questão de forma diferente, principalmente no aspecto de segurança pessoal. Os impopulares estão livres para sacar suas opiniões em meio a este duelo.

Tema de hoje: Andar armado é mais seguro que andar desarmado?

SOMIR

Não. Sensação de segurança tende a não se traduzir muito bem para segurança efetiva na vida real. Não vou negar que em algumas situações é mesmo melhor ter uma arma, mas me parece que há um exagero na mentalidade popular sobre a prevalência dessas situações.

Como de costume, nesta coluna tratamos de um espectro bem mais amplo do que uma ou outra pessoa específica. Quando se faz uma pergunta como a que gera a discussão de hoje, temos que considerar que estamos falando do cidadão médio. Mesmo que não seja uma discussão sobre segurança pública. É segurança pessoal, eu entendo isso.

Mas mesmo assim, seria enganoso considerar apenas uma pessoa com treinamento, porte legalizado e estrutura emocional suficiente como portadora dessa arma. Assim como também não vou dar uma de esperto e sugerir que todo mundo portando uma arma vai ser um maluco de pavio curto que atira às cegas ao primeiro descontento.

Existe um meio termo onde podemos trabalhar, um que nos permite perceber as falhas mais sérias da ideia de que armas são necessariamente uma medida para aumentar segurança pessoal.

A primeira, e provavelmente mais séria, é que uma pessoa armada acaba se sentindo mais segura mesmo. Ter ao alcance das mãos uma ferramenta capaz de incapacitar qualquer outro ser humano se usada de forma minimamente correta é um poder que não pode ser ignorado. Mas como diria o Tio Ben: “Com grandes poderes vem grandes responsabilidades”.

Esse cidadão médio, base da análise que teço aqui, tem algo que frequentemente seus adversários em situações… adversas… não costumam ter: Algo a perder, ou a consciência de ter algo a perder. Isso gera uma resposta emocional que só mesmo gente muito bem treinada (e selecionada, porque não é todo mundo que tem estrutura emocional) consegue tratar com eficiência.

Tomar a decisão de mostrar ou não sua arma é bem complicado. Se você escolher a alternativa errada, pode acabar levando um tiro ou mesmo atirando em alguém que efetivamente não lhe trazia perigo. São duas variáveis que pesam muito na vida de quem tem algo a perder. Ansiedade e medo são duas máquinas de criar péssimas decisões.

Como estamos falando de segurança pessoal, vou pular a parte onde matar ou ferir uma pessoa gravemente pode foder com a sua cabeça (a vida não é filme, mas… estamos na internet e todo mundo é fodão…).

Vamos considerar apenas as possibilidades de você puxar a arma na hora errada e ser punido diretamente por isso. A dúbia sensação de poder de ter uma arma vai obrigatoriamente mexer com o seu leque de possibilidades numa situação crítica. E isso não é uma coisa boa na maioria das vezes.

Digamos que você está sendo assaltado numa rua escura. O mais óbvio é que o assaltante esteja armado (armas ilegais e baratas estão por tudo quanto é canto), e o mais óbvio é que para ele seja melhor pegar o seu dinheiro sem deixar um corpo no chão. Na situação mais comum, puxar uma arma muda a dinâmica da situação de forma a torná-la muito mais perigosa. E no caso mais raro do assaltante estar com a intenção de te matar (e é mais raro SIM, obviamente, basta cruzar estatística de roubo e de assassinato, oras!), ainda sim você vai depender de que ele não atire primeiro, ou mesmo que você não erre se conseguir se adiantar.

E vamos lembrar que essa coisa velho-oeste de um contra um não tem a menor obrigação de acontecer… Não é incomum que outra pessoa armada esteja dando cobertura para quem está te ameaçando. Você pode ser a porra do Charles Bronson e ainda sim não conseguir derrubar dois antes de levar uma azeitona na testa (ou no bigode, se for mesmo o Bronson).

E mesmo se você ficar quietinho, ainda corre o risco do bandido em questão achar a sua arma. Se ele SONHAR que você é policial, adivinha o que acontece? Aliás, alguns podem até ficar putos por você não mencionar logo ou entregar a arma junto com os pertences. O simples fato de portar uma arma te tira a presunção de vítima simples da cabeça de quem está te ameaçando. Você está comprando um risco maior, numa situação onde nem usou a arma…

O que eu digo aqui é que na maioria das situações onde é factível puxar uma arma para defesa pessoal, você efetivamente aumenta a sua probabilidade de levar a pior usando uma arma. E não é garantia nem mesmo se a arma for sua única chance de sobrevivência. A sensação de segurança de estar precavido para a probabilidade mais rara também resulta em perigos maiores nas probabilidades mais comuns.

A matemática não fecha com o argumento que armas de fogo trazem mais segurança. Se você comparar as mortes por armas de fogo em países sem controle estrito de armas com os que o fazem de forma séria, vai ver que não existe vantagem de segurança. E não estou comparando Brasil com Noruega, estou comparando dois países como Estados Unidos e Inglaterra. Não tem evidência prática que andar armado torna a vida do cidadão médio mais segura.

E para quem não sabe, nem mesmo nos EUA o direito de carregar armas foi planejado como medida de segurança pública. É uma medida de segurança contra o próprio governo, que em tese teria mais receio de se tornar ditatorial com uma população armada. Não caiam nessa balela. Os países com menor número de homicídios e violência urbana no mundo controlam armas com mão de ferro.

Mas ei, o importante é “sentir”. Pensar é para os otários! A sensação de segurança da arma precisa de condições muito específicas para se solidificar em melhor opção possível. A forma mais segura de agir na maioria das situações de atrito onde uma arma pode ser utilizada não é puxar o gatilho… é evitar o confronto e voltar para casa.

Argumentar que armas deixam as pessoas mais seguras por causa de situações pontuais extremas, IGNORANDO que na maioria do tempo é menos seguro, não só é um desrespeito horrível com a lógica matemática que rege as probabilidades; como também é irresponsabilidade, considerando que todo mundo quer se sentir mais seguro, até mesmo quem é incapaz de lidar com a responsabilidade de ter uma arma. Cidadão puxa arma depois de levar fechada no trânsito, cacete!

Para dizer que eu estou errado porque numa situação extrema e muito menos provável do as que enfrentamos no dia-a-dia ter uma arma te dá uma probabilidade um pouco maior de sobrevivência (e me ver te ignorar totalmente…): somir@desfavor.com

SALLY

Vamos compreender o tema proposto: andar armado é MAIS SEGURO DO QUE andar desarmado? A única questão debatida é a segurança. É possível inclusive que você conclua que sim, é mais seguro, porém, contudo, todavia, não compensa para você. Muitas vezes abrimos mão da segurança por outros fatores. Não estou perguntando se você quer andar armado, não estou perguntando se você anda armado, não estou perguntande se você acha que aquele seu vizinho com QI de bonobo deve andar armado. Estou perguntando se a pessoa que anda armada está mais segura do que a que anda desarmada.

Sim, andar armado é mais seguro do que andar desarmado. Da mesma forma que passear na rua com um cão de 50kg é mais seguro do que passear com um chiuaua (ou sem nada). Estar armado não te impede de eventualmente virar uma vítima, porque nada impede, mas com certeza pessoas armadas já se safaram de boas enrascadas por estar armadas. Só que isso não vira estatística, é o 5% que dá errado que estampa manchete de jornal.

Cada vez que um pai de família enche de tiros um filho da puta que estava entrando no seu quintal para assaltar a sua casa não se computa para fins estatísticos. Cada vez que transeunte dá um tiro em um homem que arrastava uma mulher para um beco escuro não se computa para fins estatísticos. Mas se em qualquer caso der errado e quem portava a arma morre, vira manchete e é tratado como regra geral, como exemplo do quanto aquela arma não é segura e causou uma morte.

Vamos ser sinceros? O Brasil é um país que cobra da classe média a mesma porcentagem de imposto que cobra ao Eike Batista, onde uma pessoa entrega anualmente o valor de CINCO MESES DE TRABALHO integral (sim, sete meses de trabalho do seu ano vão para o seu bolso, cinco para o do Governo) e ainda assim não oferece segurança pública, ao menos não nas grandes cidades. Alguém vai querer me convencer de que um grande centro urbano recheado de desigualdade social é mais seguro quando você não está com uma arma na cintura? Nem tente, volte para Mauá e vá vender artesanato e conversar com gnomos.

Fique claro que não estou propondo matança, estou dizendo que andar armado é mais seguro. Não sou favorável a sair dando tiro nos outros para fazer valer a lei. Quer levar meu relógio? Quer levar a minha bolsa? Leva, pode levar. Eu trabalho e compro tudo mais uma vez, mesmo que me custe muito. Mas existem casos, que no Rio de Janeiro não são exceção, onde a pessoa quer levar a sua vida independente de qualquer outra coisa. Neste caso, onde a opção que o outro te oferece é morrer, quem está com uma arma de fogo na mão está mais seguro, pois tem ALGUMA chance.

Você acha que isso não existe? Você acha que uma pessoa sob efeito de alguma droga pesada como crack tem noção ou consideração com a sua vida? Você acha que mesmo que uma pessoa não pretendesse te matar a coisa não pode sair do controle e uma desgraça acabar acontecendo? Fato: o risco de morte ronda qualquer ato de violência urbana. Igualmente fato: se você estiver armado estará em igualdade de condições, caso contrário, estará em desvantagem.

Atentem bem para a argumentação, não estou sugerindo que as pessoas se armem. Eu não ando armada. Poderia. Mas não ando porque me conheço e sei que eu não tenho preparo emocional para usar uma arma apenas como proteção. Estaria mais segura se andasse armada? SIM. Mas no meu caso, correria igualmente o risco de matar um escrotinho filho duma égua numa fila de banco e me daria um trabalhão, por isso prefiro abrir mão de segurança. Em bom português: não ando armada porque sou maluca e descontrolada, não porque não julgue estar mais segura com uma arma na mão.

Daí sempre tem quem diga que o primo do amigo do tio do Fulano andava armado e mesmo assim foi baleado e morreu. Sim, armas não são infalíveis. O que ninguém conta é quantas vezes antes de morrer o sujeito escapou da morte por causa da arma. Também não comentam que muitas vezes a pessoa mesmo desarmada leva um tiro no meio dos cornos, sem que uma arma de fogo seja o motivador da morte. O que esperar de algo pelo qual a Rede Globo faz campanha? Minha gente, se a Globo fala que desarmamento é bom, é evidente que é uma merda. E não é discurso de comunista não que eu abomino esse tipo de “hiponguice”, é questão de bom senso.

Arma não é uma falsa ilusão de segurança, arma dá segurança. Algumas vezes falha, como tudo nessa vida, mas isso não apaga o sucesso. Países tidos como civilizados onde há violência urbana (por um motivo ou por outro) permitem e muitas vezes até incentivam o porte de arma. Eu poderia ganhar esta discussão só falando dos altos índices de casos de estupro que ocorrem no Brasil, boa parte praticados por pessoas desarmadas. Quantas mulheres poderiam não ter sido estupradas se estivessem armadas? Isso ninguém questiona. E só para não parecer uma histeria regional, em Campinas, terra da Madame aqui de cima, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informam que uma mulher é estuprada a cada 36 horas. Você acha que elas estão mais seguras desarmadas?

O que acontece é que neguinho faz tudo nas coxas no Brasil. Então quando quer se armar, compra um 38 (revólver de atirar em sogra e em amigo), vai para o sítio e atira em umas latinhas e pronto. Se acha o Senhor das Armas. Daí quando se apresenta uma situação se emergência, o cidadão com aquele conhecimento rudimentar e aquele armamento de merda sofre o um revertério, é morto e todos culpam a arma. Culpem o idiota que não fez um curso de tiro decente, que não comprou uma arma apropriada, que não tomou todas as precauções necessárias para que o fato de estar armado tivesse o máximo de efetividade.

É como se eu te perguntasse o que é melhor, ir trabalhar de ônibus ou de carro, e você, por ter um fusquinha 68 azul calcinha que pifa toda semana me dissesse que é melhor ir de ônibus porque seu carro falha, quebra, perde o freio… Ora, não é ônibus que é bom, é o seu carro que é uma merda. Uma arma boa utilizada por uma pessoa exaustivamente treinada como deve ser alguém que porta uma arma deixa a pessoa mais segura, apesar de implicar em alguns riscos. Uma arma de merda usada por um imbecilóide com cérebro do tamanho da cabeça de um alfinete é apenas um risco, como qualquer coisa feita por um imbecilóide com cérebro do tamanho da cabeça de um alfinete. É o seu caso? Não né? Então arma te deixa mais seguro.

Para fazer do meu texto uma questão política, para fazer do meu texto uma questão pessoal ou ainda para fazer de mim saco de pancada e levar um choquinho para aprender a ficar na moral: sally@desfavor.com


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