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Ele disse, ela disse: Distância familiar.

| Desfavor | | 28 comentários em Ele disse, ela disse: Distância familiar.

A maioria das famílias acaba se reunindo em ocasiões especiais. A maioria dos casais tem alguma reclamação da família do outro. E quando filhos são adicionados nessa equação, começa o problema discutido nesta coluna. Sally defende que um pode bloquear o acesso dos filhos à família alheia, Somir acredita que a merda não pode ser desfeita tão fácil. E os impopulares aproveitam para reclamar das famílias de namorados, namoradas e afins…

Tema de hoje: Pode-se vetar o acesso de um filho à família do parceiro?

SOMIR

Não é uma boa ideia. Até mesmo porque apesar de toda carga de instintos e experiências que um adulto carrega, sua criação molda boa parte de sua personalidade até o fim da vida. Ilusão achar que uma família bagunçada não vai estar impressa na personalidade da mulher (vale para os dois casos, mas vou usar mulher porque é mais simples de escrever, sem contar que seria bem gay usar no masculino…), e por tabela, no que os filhos vão acabar absorvendo.

O mundo seria um lugar bem melhor se tudo saísse do jeito que eu quero. Infelizmente, bilhões de pessoas pensam assim (eu de ditador do mundo? seria lindo e vocês sabem disso, mesmo que não admitam) e não se vai muito longe na vida sem alguns acordos mutuamente benéficos. Enquanto você acha a família da sua mulher um bando de malucos, ela acha basicamente a mesma coisa da sua. E em vários casos, os dois estão certos.

O acordo de um casal com filhos normalmente passa por expor os fedelhos à influência potencialmente enlouquecedora de seus parentes, sem dar preferência clara a nenhuma. Pode não ser a única solução viável, mas com certeza é a mais eficiente na média da humanidade.

Numa decisão que envolve duas partes conflitantes, dificilmente a decisão mais justa vem de um ou de outro. E no caso desse casal, quem é a voz da razão que define o que realmente vale como família “danosa” à criança? Esse mundinho está cheio de gente chucra que acha que certo e errado são conceitos absolutos que existem em qualquer lugar além de suas cabeças. Não basta querer acreditar que vetar o acesso da criança à família do parceiro seja uma boa coisa, tem que ter motivos sólidos, comprováveis.

Vai se basear no seu valioso senso de quem você gosta ou não? É bom chamar o pessoal que escreveu o Estatuto da Criança e do Adolescente, porque temos claramente aqui um exemplo de quem sabe com certeza o que é bom ou ruim para uma criança.

SPOILER: Gente que você acha chata pode parecer um herói para uma criança. A sogra chata é a vovó da criança, e não vai tratar o(a) fedelho(a) da mesma forma que te trata. O parente distante que enche os cornos e começa a dançar feito um macaco epilético pode ser uma das coisas mais engraçadas que uma criança já viu na vida. A véia esclerosada que fala palavrão não vai traumatizar de forma alguma uma criança… Criança ama palavrão, lembram? “Eu comecei a me drogar porque ouvi um tio meu dizendo ‘caralho’… Tentei me matar umas cinco vezes depois disso…”.

Estamos vivendo numa era onde as pessoas caíram nesse golpe da mídia e da publicidade dizendo que todo mundo é especial e que TUDO é motivo de medo. Seu pequeno remelento não vai deixar de ser um cientista famoso porque a família da sua mulher criava climão em festas de natal, vai deixar de ser porque você conversa sobre BBB dentro de casa… Toda criança tem potencial de mudar o mundo, mas é mais frágil que um lençol de cristal? Coerência passou longe, hein?

As discussões desta coluna tendem a considerar elementos médios, sem casos extraordinários (como minha CARA adora usar quando está desesperada para ganhar). Portanto, é razoável acreditar que nenhuma das famílias se reúne num sanatório e que não tenhamos nenhum caso de pedófilos ou assassinos seriais dividindo a mesa com seus filhos. Sem risco “real” para a criança.

Tratando por essa média, o impacto real na criança das reclamações médias dos pais sobre a família de seus cônjuges é muito pequeno para validar uma medida drástica dessas. Criança não costuma enxergar problemas sutis na relação entre os adultos, aliás, costumam deixar passar até mesmo coisas graves se não geram clima pesado nas reuniões.

Os adultos tendem a tratá-la de forma mais doce, ela tem contato com outras crianças, e francamente… ainda não se importam com dramas da vida adulta de gente burra como Enveja. Foda-se que a sogrona fica te alfinetando, a criança não tem nada a ver com isso. Muito usar criança como desculpa para ver gente que você não gosta muito. Cresça a assuma a responsabilidade de ter um filho. Filho é sentença e tem que cumprir.

E vento que venta lá… Se você pode proibir o acesso da outra família, ela pode proibir o acesso da sua. Vamos lembrar que não temos motivos realmente grandiosos para começo de conversa. Se não houvesse um esforço da parte dos dois para chegar num ponto médio, nem um décimo das crianças desse mundo teria acesso às famílias “estendidas” de seus pais.

Eu passo longe de ser uma pessoa “família”. Não acho bacana essa coisa de índio de viver todo mundo junto e grudado, acredito no valor da saudade, mas é importante ter a noção de que para a criança a família que você enxerga pode parecer bem diferente. Normalmente é a época da vida onde seus parentes mais te tratam bem, onde as portas estão sempre abertas e você se sente valorizado só por existir. Criança tem apoio genético para ser bem tratada por adultos, bobagem desperdiçar.

Sem contar que criança acaba convivendo muito com os pais, com pessoas PAGAS para cuidar dela e com outras crianças no dia-a-dia. A família é uma oportunidade dela ver adultos agindo “ao natural”. Ver adultos reais, mesmo que fazendo merda, ajuda a balancear o caminhão de influências irreais que ela vai receber da mídia enquanto cresce. Entendam que essa merda de fazer toda menina achar que é uma princesa pop-star amada por todos é um golpe da indústria da aspiração para ensiná-la querer que tudo caia no seu colo e a consumir muito para nunca ficar satisfeita (e vale para os meninos também, o mundo emboiolou total…). A vantagem de enxergar aquela tia mal-amada enchendo o saco de todo mundo é que isso balanceia as coisas.

E como eu passeei demais por assuntos paralelos, resumão: Não se deve cortar o acesso de uma criança à família do parceiro na maioria dos casos. Primeiro porque você já escolheu uma pessoa daquela família para conviver com a criança. Além disso, os motivos do pai ou da mãe tendem a ser completamente alheios ao que uma criança realmente percebe nas relações familiares. Crianças não se tornam maníacas traumatizadas por causa de uma rusga familiar passageira e os adultos tendem a tratá-la milhões de vezes melhor do que o pai reclamante. E para fechar o caixão: Tire tensão familiar de uma criança e divirta-se com um adulto alienado e despreparado para enfrentar o mundo real.

Para me chamar de homem de família, para reclamar que a gente passa muito tempo falando de filhos que nem pretende ter, ou mesmo para perguntar se família muito religiosa também vale na categoria de “risco real” para a criança (evidente): somir@desfavor.com

SALLY

Quando você não suporta a família do seu parceiro, tem o direito de vetar o acesso do seu filho a estas pessoas, ainda que em comemoraçõres esporádicas? Sim, se achar que é o melhor para seu filho. Mil desculpas, mas contato com uma família de merda com pessoas de merda é pior do que contato nenhum com a família.

Existem pessoas que pensam na família como uma instituição sagrada que deve ser preservada a qualquer preço, mesmo que para isso se precise ser hipócrita, mesmo que para isso se precise mentir e engolir sapos. Eu não consigo pensar assim. Não acho que a gente deva manter contato e/ou união familiar a qualquer preço. Você acha neguinho um bando de fdp? Então tem direito de vetar o acesso a seu filho.

Sou favorável à necessidade de acordo recíproco entre um casal para decisões importantes: se a mulher engravidar, acho correto só ter o filho se o homem quiser. Se um dos dois não suporta determinada(s) pessoa(s), esta pessoa não deve frequentar a casa do casal, por mais que o outro goste desta pessoa. Dentro dessa linha de pensamento, o acordo comum se estende aos filhos: se não for de comum acordo, prevalece o não.

Se um dos parceiros tem motivos fortes o suficiente para não suportar a família do outro e achar que a família do outro pode ser uma influência negativa a ponto de prejudicar a criança, pode sim vetar o direito à família fdp ter acesso à criança. Sinceramente, não sei porque tanto drama, crescer sem família perto soa mais com uma bênção do que como um problema. Repito: expor o filho a uma família escrota pode ser mais prejudicial do que privá-lo de uma família.

Por mais que suas vozes retardadas nos levem a acreditar o contrário, crianças não são 100% estupidas. Elas podem não ter muita capacidade de se expressar ou percepção total do que se passa, mas crianças sentem quando há algo errado, sentem o clima de hostilidade e a troca de farpas no ar. Não vejo razão para expor uma criança a uma situação hostil onde Papai ou Mamãe claramente estarão fingindo e sendo hipócritas.

Ainda que a criança não preceba o climão (morro afirmando que criança percebe), em algum momento ela vai saber o que o Papai ou a Mamãe acham daquela família. Acho mais doloroso crescer achando que a família é linda e um dia descobrir que tudo aquilo que se viveu por anos foi uma puta mentira, um fingimento imbecil dos pais e que há ódio, discórdia e filhadaputagem acontecendo naquela relação familiar. É assim que se constrói uma sociedade hipócrita.

Além disso, a criança mora com os pais. Ninguém finge 100% do tempo, ninguém consegue estar no modo hipocrisia social o tempo todo. Em algum momento a mamãe ou o papai vai acabar soltando uma crítica, talvez nada delicada, à família do parceiro. Daí a criança vê aquilo e aprende que odiar uma pessoa da família mas sorrir na sua frente e fingir que não a odeia é normal. Eu não acho normal e não gostaria que meu filho ache.

Sinceramente, um pai ou uma mãe tem o direito de escolher quem tem acesso ou quem não tem acesso a seus filhos. Se a mãe não suporta a família do marido ou o pai não suporta a família da esposa e se pretende “poupar” a criança disto, o melhor é poupá-la das brigas, barracos, hipocrisia, mentiras, falsidades e inrigas do que poupá-la do desgostar em si. Fingir que está tudo bem é ensinar a ser mentiroso, hipócrita e duas caras. Mais honesto dizer para a criança que não concorda com o que aquelas pessoas pensam e não acha que elas sejam boas para conviver e ponto final.

O parceiro cuja família está sendo cortada pode até protestar, mas, quer saber? Se deixou a coisa chegar a um ponto onde o outro tem tanto pavor a ponto de não querer que seu filho conviva com estas pessoas, fez por merecer. Família é igual a merda: cada um toma conta da sua e sem o menor prazer. Não cabe ao parceiro ou parceira se desdobrar para ser querido pela família de alguém, o infeliz que saiu dessa família é que tem que impor limites a aquela cambada de filho da puta para que tratem seu parceiro com dignidade.

Não acho absurdo privar uma criança do contato com a família de uma das partes. Não acho família uma instituição sagrada. O bem estar da criança sim é sagrado e só quem pode bater o martelo para decidir o que considera bem estar do seu filho são a mãe e o pai. Família não é sagrada, sagrada é a saúde mental do seu filho. Expô-lo a pessoas que sejam má influência, que metam o pau nos seus pais e que sejam mentirosos, manipuladores e venenosos sob pretexto de defender uma instituição é imbecil. Quem precisa de defesa não é a instituição familiar e sim a cabecinha de uma criança. Só seria absurdo proibir o filho de ver a família por uma picuinha.

Se uma mãe ou um pai chega ao ponto de bater o martelo e decretar que o convívio com aquela família é prejudicial para seu filho, suponho que a situação seja grave. Ninguém compra uma briga desse tamanho que gera tanta paunocuzação a toa. No mínimo uma pessoa que decreta isso tem bons motivos. E se um dos pais acha que é um bom motivo, quem sou eu para escolher como os outros querem criar seus filhos? Não é a situação idela privar a criança de contato com uma das famílias, mas muitas vezes, das merdas pode ser a menor.

Acredito que em casos extremos um pai ou uma mãe tenha o direito de fazer isso. Não por uma simples birra, mas sim por não suportar aqueas pessoas, por acreditar que aquelas pessoas são nocivas para seu filho. Provavelmente um dia o filho vai acabar agradecendo.

Para dizer que é melhor ouvir comentários nazistas e preconceituosos do avô do que não ver o avô, para dizer que é melhor conviver com uma tia que usa drogas declaradamente na frente de todos do que não conviver com a tia ou ainda para dizer que é melhor ser exposto a um tio com tendências à pedofilia cuja conduta é acobertada por toda a família do que não conviver com o tio: sally@desfavor.com


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