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Flertando com o desastre: Hopeless…

| Sally | | 51 comentários em Flertando com o desastre: Hopeless…

derpEu sei que comerciais de TV são matéria do Somir, mas meu enfoque não é na publicidade em si e sim na babaquice desnecessária que rodeia o evento e a minha crise de isolamento por ser repreendida pelos que me cercam ao expressar minha opinião.

Em um comercial de uma marca de lingerie (Hope) Gisele Bundchen ensina às telespectadoras que a forma correta de contar ao marido que estourou o cartão de crédito dele não é vestida, e sim usando uma lingerie e fazendo trejeitos que supostamente deveriam ter algo de sexy.

Daí surgiram diversas polêmicas. Alguns disseram que objetifica a mulher e é ofensivo, outros disseram que é uma brincadeira levada a sério demais e teve até uma coluna da Veja usando um argumento sensacional (como sempre), alegando que uma Ministra critica o comercial e que a explicação para esta crítica pode ser deprreendida pela foto da Ministra em questão, e em seguida expõe a foto dela ao lado de Gislele para contrastar o quão mais feia ela é.

Essa discussão toda nem me preocupa muito. Talvez o comercial nem seja degradante para a mulher, mas é feio. É uma coisa boba e ultrapassada que provavelmente vai queimar mais a marca do que divulgar. O que me surpreende é estar falando de uma marca grande e de uma modelo muito famosa. Porque enquanto apenas Cigano Igor (sim, este é o nome dele e ponto final) e Biafra se humilhavam e jogavam fora nada por uns trocados, eu até conseguia aceitar as justificativas do Somir, mas agora estamos falando de uma das maiores modelos (e pau no cu) da atualidade.

Provavelmente Gisele não tinha como prever a reação do público ao aceitar fazer este comercial. Por algum motivo ela achou que a exposição valia o risco. Fico me perguntando qual seria este motivo. Bem, dinheiro com certeza não é. Será que a fama está aos poucos se esvaindo e neguinha tá surtando e querendo ser centro das atenções para sempre? Olha, por mais consagrada que ela seja, ela náo é mais novidade, não é carne fresca. E como qualquer mulher com um filho pequeno, a maternidade respingou na carreira (eu disse respingou, não disse estragou).

Uma coisa é uma celebridade dar uma declaração impensada, soltar uma frase inconveniente em um momento de raiva ou até umas palavras desconfortáveios no Twitter. Somos todos humanos e todos surtamos e falamos merda vez por outra. Outra coisa muito diferente é aceitar estrelar uma campanha nacional que vai ao ar em horário nobre. Não é algo impulsivo e impensado, algo de momento. É cuidadosamente estudado, por semanas, até mesmo por meses. E mesmo após toda a reflexão, contrariando todo um discurso (que eu sempre soube ser falso) que ela tinha sobre mulheres, neguinha vai e aceita estrelar esta campanha.

De boba não tem nada, se não, jamais teria chegado onde chegou. Tem algum ganho secundário nesse comercial com vibe de piada de Escolinha do Professor Raimundo que a favorece. Não saberia dizer qual é, até porque, isso é matéria para que o Somir analise em na coluna Publiciotários. Em todo caso, para mim o pior desse comercial não é o banho de merda que Gilsele deu no seu nome. Existe algo ainda mais preocupante. Minha inadequação galopante com o consenso geral sobre o que é um papel feio e o que é bacana em uma mulher. Acho que meu prazo de validade expirou.

Vejamos, é um comercial para mulheres. Busca a simpatia das mulheres, a aceitação. Qualquer idiota sabe que a consumidora tem que se identificar com o que está relacionado ao produto. Ninguém vai fazer um comercial exaltando algo que a consumidora não sonhe ter ou ser, caso contrário, encalharia. Empresas grandes como a Hope não trabalham com achismo nem com amadores, devem ter realizado pesquisas consideráveis e concluido que este é o espelho da nossa sociedade.

Muito me preocupa que as mulheres de hoje se identifiquem com Gisele neste comercial. A mulher usa o cartão de crédito do marido, gasta o dinheiro do marido, ultrapassa o limite e quer se prevaler de um jogo de sedução para ser perdoada. Pense no contrário. Pense em um comercial que coloque a mulher como objeto visto do ângulo de um homem. Por exemplo, uma mulher pede o cartão de crédito do marido emprestado e ele diz que só empresta se ela pedir fazendo biquinho e usando calcinha fio dental e sutiã. Estaria todo mundo metendo o pau nesse comercial. Independente do que você pense do comercial da Gisele ou deste comercial imaginário, contra ou a favor, é preciso ter coerência.

E mesmo aquela que não é, pelo visto gostaria de ser. A mulherada gostaria de ter um marido que lhe ceda um cartão de crédito, gostaria de estourar o limite e gostaria de se eximir das consequencias e responsabilidades miando de lingerie. As mesmas que dizem que mulher rata de academia é burra e escrava do corpo. Alguém avisa a elas para afinarem o discurso? Mulher gorda miando de lingerie pequena só vai piorar sua situação. Feministas de ocasião, incoerentes. Na hora de ralar e manter um corpão acham que são feministas contestando a ditadura da beleza mas no fim do dia querem estourar o cartão de crédito do marido e se livrar na bucetada?

Para meu espanto, este é o perfil de mulhere que o setor de marketing da Hope estudou e concluiu ser o das brasileiras: a mulher que faz ou que gostaria de fazer esse tipo de coisa. O comercial é um reflexo do comportamento na vida real. Olha, do fundo do meu coração, eu teria muita vergonha de comprar com o cartão de crédito do meu marido, mais ainda de ultrapassar o limite de crédito e mais ainda de ir comunicar isso a ele miando de calcinha. Não, juro que não é moralismo nem feminismo, é RIDÍCULO mesmo, independente de questões culturais. É grotesco, é A Praça é Nossa. É medíocre, idiota, canastrão e mega-vergonha-alheia.

Daí em entrevista Gisele, que nunca foi uma mente brilhante, deu a pior das desculpas. Disse que quando a chamaram para fazer o comercial ela aceitou porque achou que fosse “uma brincadeira divertida”. Gente, ninguém duvida que o comercial é uma brincadeira, mas querer se safar alegando que “era brincadeirinha” não cola. Vê se alguém faz um comercial ofensivo a algum grupo e fica tudo bem porque diz que é brincadeira? Com algumas coisas não se brinca, não por serem sagradas, mas por ser brega, de mau gosto, por ser uma tentativa infantil e desesperada de chamar a atenção a qualquer preço. Imagina um negro fazendo comercial de desodorante e dizendo “Para mim tem que ser forte mesmo, porque vocês sabem, meu suor tem um cheiro horrível”. As demais pessoas com certeza condenariam, mesmo se ele explicitasse que era uma brincadeira.

Porque a Hope não faz inovações bacanas nas suas lingeries e chama a atenção das consumidoras com inovações bem vindas, como uma calcinha que combata celulite, um sutiã que aumente de tamanho com mecanismo que infla e desinfla ou uma maldita calcinha cor de pele que não seja broxante? Não tem. Então vamos chamar a atenção com Gisele ensinando a se safar de um surto de consumo na bucetada. Olha, meus parabéns pros publicitários que idealizaram esta bosta. Uma palavra para vocês: tutuntsss.

Além de ficar chateada em saber que o perfil médio da consumidora brasileira é o da mulher que acha válido gastar todo o dinheiro do marido e depois tentar compensar na bucetada, também me entristece perceber que isso é visto não apenas como normalidade, mas também como uma coisa espertona a se fazer. É bacanão você usar seu corpo para arrancar do seu marido mais dinheiro do que ele estava disposto a te dar. É o feminismo seletivo, o primo do católico não praticante. Na horas dos direitos, neguinho queima sutiã e bate no peito que quer direitos iguais, mas na hora do aperto todas viram mulezinha histerica que argumenta com a buceta. Odeio mulher que argumenta com a buceta, acho uma vergonha para a classe.

Olha, eu tô chegando a uma conclusão que venho amadurecendo desde que a Maria ganhou o BBB e a Joana Machado é a favorita da Fazenda: eu devo estar ficando velha e ultrapassada, porque na minha cabeça é tudo tão errado e reprovável enquanto que para a maior parte das pessoas é bacaníssima, que o problema deve estar comigo. Vai ver o novo pretinho básico é ganhar as coisas na bucetada. Vai ver que mostrar conteúdo está fora de moda. Alguém viu alguma dessas duas falar da profissão no reality? Se eu fosse a um reality (toc toc toc) ia falar de direito o tempo todo, dos direitos que as pessoas tem e não sabem, tipo um Em Direito Live.

Eu não acho aceitável (independente de qualquer passado) uma pessoa ir a um programa de TV que seu pai, sua mãe e seu avô estão vendo e tirar a calcinha na frente das câmeras e depois ficar se esfregando em um cara que conhece faz vinte dias e implorando para que ele a beije. Mas as pessoas acham bacaníssimo e me chamam de preconceituosa, assim como chamaram MauMau de um bando de coisas piores. “Ela ganhou porque fez tudo que tinha vontade, foi quem ela realmente é”. Olha, eu faço o que eu tenho vontade, mostro quem eu realmente sou e nunca tiraria a calcinha para o Brasil todo ver nem rastejaria na frente de todos aos pés de um Zé Ruela que eu acabei de conhecer. Vão todos à merda.

Eu não acho aceitável uma pessoa resolver as coisas no grito, xingar todo mundo para o Brasil ver, dizer que quer bater, matar, arrebentar, ficar lambendo o mamilo de um e o pescoço de outro, gritar que não vai dar, vai distribuir e ficar gritando que já ganhou muito carro e muito presente de homem na vida porque fez por merecer. Daí neguinho me chama de machista e me manda não julgar. ALOU? A pessoa que topa ir para um reality sabe que está se expondo a julgamento. “O que vocë tem com a vida pessoal dela? É vocë que namora com ela?”, não, mas tenho todo o direito de achar incorreto o que uma pessoa faz EM PÚBLICO. Assim como quem diz esta frase ficaria possesso se fosse SEU PARCEIRO protagonizando essas cenas. No cu dos outros é refresco, né? Mulher pode tudo agora. Só não pode pagar seu próprio cartão de crédito…

Agora esse comercial da Gisele veio para me consagarar como Mulher Obsoleta. Cabeças pensantes, descoladas, formadoras de opinião, estão todas achando lindo. Quando eu falo o que penso me olham como quem olha para um dinossauro ou para uma pessoa burra. Passo por preconceituosa, praticamente. Me sinto como aquelas idosinhas que começam frases críticas dizendo “No meu tempo…”.

Por mais que qualquer mulher já tenha pensado em se prevalecer de sua condição de mulher bonita para obter benefícios pecuniários junto ao marido ou de fato o tenha feito, até onde eu sei, ao menos se sabia que isto era vergonhoso. Agora não, agora é bacana. É aceitável. Joguem o cordão umbilical que eu quero subir de volta. Eu até começaria um longo discurso sobre como eu me sinto deslocada aqui e da minha vontade de voltar para Buenos Aires, mas não duvido nada que lá esteja a mesma merda. A globalização está cagando o mundo todo por igual.

Porra, é isso. Desculpa o desabafo mas eu acho esse comercial uma bosta, não por ser ofensivo à mulher e sim por ser ofensivo ao bom gosto, ao bom senso e ao discurso coerente de que mulher não deve depender de homem e não deve misturar sexo com dinheiro. Meu consolo? Eu sou mulher. Sou apenas um dinossauro ridicularizado pelas amigas moderninhas. Se eu fosse homem e tivesse que encarar esse tipo de mulher já estaria pensando em mudar de time.

Para confirmar que eu sou ultrapassada mesmo e que você já fez sexo várias vezes como forma de compensar dívidas pecuniárias, para dizer que as mulheres de hoje oscilam entre feminismo extremo e machismo extremo em questão de segundos ou ainda para dizer que tá cagando para o comercial e quer saber mais fofocas do Rock in Rio: sally@desfavor.com


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