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Flertando com o desastre: Barraco.

| Sally | | 31 comentários em Flertando com o desastre: Barraco.

QUEM VOCÊ TÁ CHAMANDO DE BARRAQUEIRA?Está tomando forma um novo conceito perigoso: o de que barraco é sinônimo de sinceridade e honestidade. Estou começando a notar um culto ao barraco, um perdão a qualquer bate-boca baixo nível sob a desculpa de que a pessoa que o protagonizou é sincera e fala tudo o que pensa. Pior: a pessoa que protagoniza o barraco está se tornando Intocável, principalmente se for mulher. Quem critica vira machista, escroto e censurador.

Bem, em primeiro lugar, falar tudo aquilo que se pensa não é sinceridade, é sincericídio. Principalmente quando existem outras pessoas presenciando o barraco. Quem barraqueia adora gritar “O problema é meu!”, mas se esquece que um barraco acaba interferindo na vida dos entes queridos que a cercam e muitas vezes até na sua profissão. Não ter maturidade e controle emocional de conter a língua, seja no modo de falar, seja no teor do que é dito, não é motivo para se orgulhar. Vejam bem, não quero aqui execrar quem o faz, todos nós somos seres humanos e em algum momento perdemos o controle, de uma forma ou de outra. Apenas quero dizer que me espanta como estão transformando o barraco em uma coisa boa.

A pessoa que faz um barraco ganha de brinde adjetivos como “muito sincera”, “muito verdadeira” e similares. Bem, eu sou muito sincera e muito verdadeira e não faço barraco. Não entendo de onde vem essa presunção. Para mim, quem faz barraco é muito descontrolado ou muito arrogante de achar que pode gritar com outra pessoa e não se prejudicar com isso, ou pior, que é foda o bastante para não se deixar prejudicar.

Mil desculpas, mas fazer um barraco é uma coisa feia. Acontece? Claro que acontece. Mas quando acontece o digno é sentir vergonha e arrependimento e não bater no peito e gritar “Falo mesmo!”. Barraco é algo vulgar, baixo nível, desnecessário e principalmente improdutivo. Você mostra ao outro o tamanho do desequilíbrio que ele provocou em você, dá provas cabais do quanto ele é importante e do quanto ele conseguiu te afetar. Fazendo barraco se dá poder a quem está discutindo com você. A pessoa percebe que teve o poder de te tirar do sério e, acredite, vai se divertir horrores com isso.

Uma pessoa acostumada a fazer barracos é um inconveniente ambulante. Ela tem o poder de fechar diversas portas não só para ela, como também para aqueles que andam com ela. Ainda assim, tem quem ande com a amiga barraqueira, porque será? Talvez porque ao andar do lado de uma barraqueira você acaba tendo a certeza que sobrará para você o papel de fina naquela dupla (ou trio, ou seja lá o que for). Talvez por comodidade, já que na ocorrência de qualquer imprevisto frustrante ou injusto você não vai precisar mover uma palha, porque a pessoa barraqueira vai quebrar o pau e acabar resolvendo a situação. Talvez porque algumas pessoas precisem de uma carga de violência (não no sentido de porrada) diária, é muito comum pessoas que cresceram em lares conturbados continuarem a procurar violência e conflitos em seus relacionamentos pessoais.

Enfim, existem inúmeros motivos pelos quais alguém escolhe andar com uma pessoa barraqueira, porém, acredito que todos eles orbitem em torno de um fator comum: é conveniente, por uma razão ou por outra. A pessoa barraqueira, coitada, é usada e parasitada sem nem ao menos sentir. Normal, afinal a pessoa barraqueira sempre tem uma falsa auto-estima elevada e se acha super amiga, super sincera, super legal e outros super alguma coisa. Quem se auto-elogia em voz alta com freqüência parece estar tentando se convencer do seu valor. Quem sabe seu valor não faz esse tipo de discurso.

Acredito que a pessoa barraqueira tenha uma baixíssima auto-estima. Só isso explica não ter o poder de se poupar de um barraco vexaminoso. Pois, quando alguém fala algo que de denigre e te desagrada, se você tem certeza de seu valor, não se aborrece até o ponto de perder a dignidade, gritando e xingando. O barraco é muito divertido de assistir, mas depois, não se enganem, todo mundo fala mal da pessoa barraqueira pelas costas. Ela vira motivo de chacota e de piada e tem o adjetivo “barraqueira” colado na testa para sempre. Esta será a referência que a denominará socialmente.

Atentem que eu não falo de casos pontuais, como por exemplo de uma pessoa que acordou em um dia de fúria e acabou brigando. Eu falo das pessoas que já tem um longo histórico de barracos. Por incrível que pareça, estas pessoas estão ganhando o status de Intocáveis, assim como os outros grupos dos quais já falei na postagem originária: negros, judeus, idosos, crianças, deficiente físicos e outros. Criticar uma pessoa barraqueira virou algo socialmente condenado e ato contínuo você provavelmente será acusado de inveja ou de ser apaixonado pela pessoa. Claro, a pessoa barraqueira é “tão maravilhosa” (suposta auto-estima falsamente elevada como mecanismo de defesa para uma real auto-estima baixa) que o único motivo pelo qual alguém pode estar falando mal dela é por inveja ou por ser apaixonado por ela. Chega a ser infantil, né?

Novamente repito para que não restem dúvidas: quer viver fazendo barraco? Beleza, a vida é sua. Não estou aqui dizendo que quem faz barraco tem que ser preso ou apanhar, estou dizendo que acho FEIO. Todos nós podemos protagonizar um barraco um dia. Só que quando acontece com pessoas educadas e seguras, elas sabem refletir e perceber que foi um ato vergonhoso e se policiar para nunca mais (ou nem tão cedo) repetir uma coisa tão feia. Porque as cabeças pensantes sabem que barraco acaba depondo contra o autor.

Claro que existem muitas cabeças não-pensantes (que infelizmente votam e fazem filhos, razão pela qual este país está uma merda) que acham que com um barraco darão uma bela lição em alguém: “Ele tá fudido, ele vai ver só o barraco que eu vou fazer!”. Gente, eu sinto muita pena quando escuto essa frase. Sabe aquela sensação de que a pessoa está muito perdida na vida? Dá vontade de pegar pelo braço e gritar “Minha Filha, seja lá quem for, não é tão importante assim para você se prestar a esse papel!”. Fazer um barraco é se humilhar muito, é fazer um papelão, é pagar de maluca descontrolada sem credibilidade.

Daí sempre tem uma pessoa burra que cai aqui com o mesmo argumento (três anos se passaram e ainda usam o mesmo argumento, haja paciência) dizendo “Ah é, queria ver se fosse com você! Você iria gostar se…” e repete o motivo que a levou a barraquear. Não, nem sei qual é o motivo, mas provavelmente eu não iria gostar. A questão é: existe um mundo de diferença entre não gostar e fazer um escândalo por não gostar. Uma coisa é não gostar, outra coisa é dar uma importância enorme e se ofender. Se tem uma coisa muito importante que eu aprendi ao longo dos anos com o Somir é como a gente se liberta quando para de se ofender com as coisas.

Não tem coisa mais brega do que se ofender. Levar a ferro e fogo, alimentar raiva, sofrer. Sério mesmo? Com isso você só consegue o que a pessoa queria. Ao declarar a pessoa como sua “inimiga” você dá um poder e uma importância enorme para ela. Não é inteligente cultivar esse tipo de sentimento, sem falar que é inútil e não faz bem. É preciso parar, respirar e refletir de onde vem essa necessidade, quase que compulsão, por estar sempre nessa postura bélica, sempre partindo para cima dos outros. De onde vem tanta raiva represada? Seria uma forma de canalizar uma angústia interna? Seria uma válvula de escape? Não importa, seja lá o que for pode e deve ser elaborada, sublimada ou qualquer que seja o termo que se queira usar.

Não consegue? Procure ajuda. Com ajuda profissional você consegue. Terapia, regressão, espiritismo, reza, macumba… não tenho preconceitos. O que quer que ajude a pessoa. Meu ceticismo aponta para a psicanálise como melhor caminho, mas isso é tão pessoal…

Infelizmente a sociedade está começando a recompensar quem faz barraco. Estamos involuindo. Agora é legal colocar o dedo na cara do outro e dizer “umas verdades” (porque a verdade daquela pessoa é sempre A verdade). É legal até a página dois. É legal quando a pessoa barraqueira coloca o dedo na cara de alguém que a gente não gosta, aí a gente delira e se sente de alma lavada, mas… e quando chegar a sua vez? E quando a barraqueira (ou uma barraqueira qualquer) der um show onde você é o alvo? Sério mesmo que as pessoas querem continuar batendo palmas para barraqueiras? Acho um total retrocesso recompensar falta de controle emocional.

Vai ver o mundo está tão entupido de gente falsa e mentirosa que hoje em dia as pessoas só tem certeza da sinceridade de alguém quando o interlocutor está fora de si quebrando um puta barraco, sem o controle emocional necessário para mentir. Será que é isso? Será que as pessoas só conseguem ver sinceridade no descontrole? Se for, é uma pena. Até porque, muita das vezes a pessoa barraqueira nem ao menos está sendo sincera, está dizendo coisas da boca para fora na hora da raiva, com as quais nem ao menos concorda.

Na minha opinião a pessoa que faz um barraco se suja toda de merda, da cabeça aos pés. Acho indigno, acho vergonhoso demais. Eu jamais ficaria ao lado de uma pessoa barraqueira, nem mesmo como amiga. Respinga em quem está próximo, sem contar que não tenho paciência para aturar alguém que, mais cedo ou mais tarde, vai vir de gritaria para cima de mim. Eu me amo muito para fazer isso comigo mesma. “Mas Sally, a pessoa pode ser barraqueira mas ser ótima amiga”. Sim, mas a pessoa também pode ser uma ótima amiga SEM SER barraqueira. Minhas amigas são todas ótimas amigas e jamais fariam um barraco.

Qualidades não compensam o fato da pessoa ser barraqueira. “Ah, mas é uma boa mãe”. Foda-se, existem boas mães que não são barraqueiras. “É uma boa namorada”. Mas pode ser uma boa namorada sem ser barraqueira. Aliás, vai desculpar mas eu DUVIDO e morro duvidando que uma barraqueira seja boa mãe ou boa namorada. As pessoas mais próximas são as que mais sofrem. Qualidade alguma justifica que você se sujeite ao convívio com uma pessoa que gera tanto conflito e briga. Já diria Meredith: Seriously? Conselho certeiro (cedo ou tarde, você vai me dar razão): isso não é vida. Nenhuma possível qualidade justifica viver ao lado de uma pessoa barraqueira. Pule fora assim que puder/conseguir.

O grande problema é que, geralmente, as pessoas que topam um relacionamento com uma pessoa barraqueira também são bem baqueadinhas e precisam desse tipo de coisa para complementar sua neurose ou para se sentir superior. Normalmente são pessoas também com auto-estima baixa, que acham (ainda que inconscientemente) não serem merecedoras de alguém “normal”, uma pessoa fina, educada e civilizada. Então, escolhem alguém “um pouco menos”, para se sentirem mais seguros. Uma pena.

Se essa palhaçada de camuflar barraco de sinceridade e honestidade continuar, não sei o que pode acontecer. Quando não era socialmente aceitável fazer barraco as pessoas barraqueiras já faziam aos montes, imagina agora que, aparentemente, haverão aplausos. Preocupante. Daí para começar a classificar quem não gosta de barraco como “fresco”, “mal amado”, “mal humorado” e similares é um pulo. Imagino que algumas pessoas estejam lendo este texto e pensando que eu sou uma baranga, pelo simples fato de dizer que acho indigno um barraco. E isso aí, sou uma baranga, invejosa e mal amada. Gente burra tenta ofender pensando em si mesma, naquilo que a ofenderia. Com isso não apenas não consegue ofender, como ainda expõe seu ponto fraco, permitindo que seja ofendida de volta com eficiência.

Fazer barraco é sim sinônimo de falta de educação. Se fosse um filho ou uma filha minha fazendo barraco para todo mundo ver eu morreria de vergonha e me sentiria incompetente como mãe. Fazer barraco é sim sinônimo de falta de postura e falta de preparo emocional. É BAIXARIA, indica que a pessoa é BAIXO NÍVEL. E gente baixo nível eu não quero nem para ser meu vizinho (*longo suspiro). Aliás, principalmente para isso. Vocês não sabem o inferno que é ter uma vizinha barraqueria.

É possível colocar limites nas pessoas sem fazer um barraco. É possível ser respeitado sem fazer um barraco. É possível qualquer merda sem barraco, o barraco não serve para nada, a não ser para queimar o filme de quem o faz.

Vamos parar de glorificar coisas erradas? Vamos parar de tirar onda com defeitos? Se você acha bonito dizer “Ontem bebi moooooito! Hahaha Nem me lembro como cheguei em casa” você é idiota. Se você acha bonito dizer “Falei Merrrmo, falei umas verdades na cara dele!”, você é idiota. Se você faz essas coisas, não quer parar ou não consegue parar e não procura ajuda, você é idiota.

GENTE BARRAQUEIRA É SIMPLESMENTE INSUPOSTÁVEL E INCONVIVÍVEL. O resto é romantização idiota.

Para tentar me ofender, para tentar usar o argumento “você gostaria que…” ou ainda para alegar que eu devo ser uma baranga, invejosa, mal amada e apaixonada por você: sally@desfavor.com


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