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Desfavor Explica: Seu computador.

| Somir | | 38 comentários em Desfavor Explica: Seu computador.

comofaz?O mercado nunca falha em seguir alguns padrões. Como muitos outros produtos, o computador pessoal passou por fases como “coisa do capeta”, “novidade interessante”, “necessidade moderna”, “obrigação” e agora começa entrar na fase em que todo mundo já tem/usa. Não é à toa que as grandes fabricantes mudaram a estratégia de alardear que seus computadores são mais poderosos para dizer que eles são mais… bonitos.

Steve Jobs, ex-presidente da Apple e atual acumulador de células, é reconhecido mundialmente por ter revolucionado o mercado de computadores pessoais; mas do ponto de vista deste que lhes escreve, ele não fez nada além de perceber o ciclo do produto antes da concorrência. Se as coisas continuassem sendo vendidas apenas na base de suas vantagens práticas, o mundo seria obrigado a entender como funcionam os computadores. E convenhamos, é muito mais simples escolher o computador mais bonito. Lei do menor esforço.

(Não é Enveja, acho o Steve Jobs um cara muito esperto. Não gosto da viadagem que ele tornou o mercado, mas respeito sua habilidade de ficar bilionário sacando como as coisas funcionam muito antes que o resto…)

A minha previsão é que com o passar dos anos, as pessoas vão acabar entendendo muito bem o que fazer com um computador, mas vão ignorar totalmente como ele funciona. Isso é bom para os negócios, mas não sem consequências para o usuário final. Por mais avançado que tudo pareça hoje em dia, de uma certa forma a tecnologia que alimenta os computadores é basicamente a mesma há décadas.

Aquele primeiro computador que você usou, talvez com uma daquelas telas que só mostravam caracteres verdes num fundo preto, e um computador atual, rodando um jogo 3D de última geração… Sabem qual a diferença? O tamanho. A tecnologia dos computadores avançou na base da miniaturização. O computador de hoje corresponde basicamente a bilhões de computadores dos anos 80 espremidos sobre uma mesa, ou mesmo sobre o seu colo. A ideia é a mesma. Ainda é uma sequência de zeros e uns transformada em pontinhos luminosos na tela.

O que eu pretendo com este texto é destrinchar partes comuns à maioria absoluta dos computadores, sem linguagem técnica e sem presumir que você entende lhufas sobre o assunto. Entender como esse trambolho funciona pode te dar ótimas dicas sobre como comprar o mais indicado a você e principalmente como reagir se defrontado(a) com falhas. Este tipo de conhecimento tende a ficar cada vez mais raro em conversas informais, e aposto que mesmo que não apele a você agora, ainda vai te servir para economizar dinheiro e encheção de saco.

E para não perder a oportunidade de dar aquele ar “desfavor” ao texto, tenho que dizer que sempre enxerguei o interior de um computador como um grupo de mulheres histéricas trabalhando em um escritório. E por que mulheres? Funciona tudo muito bem até o primeiro chilique. Vamos fazer uma visita à sede da Personal Corporation?

PERSONAL CORPORATION

O seu computador (laptop e tablet também contam) é um conjunto de peças que trabalham em conjunto. O grande segredo é ter a maioria das peças em harmonia. Uma precisa da outra para funcionar direito. Uma peça muito vagabunda influi mais no resultado geral do seu computador do que uma caríssima. Isso se chama “gargalo”.

Tem muito computador por aí que já vem de fábrica com gargalo. Colocam uma parte (QUASE SEMPRE memória RAM) exagerada num conjunto tosco e vendem mais caro. Cuidado: Vai ser tosco do mesmo jeito. Nenhuma peça resolve tudo sozinha.

Hoje eu vou falar sobre o trio mais importante de qualquer computador: Processador, HD e Memória RAM. Futuramente tem mais.

PROCESSADOR

 

O processador é a presidente da empresa, além de cuidar praticamente sozinha da casa, do marido, dos filhos e do pouco de vida social restante. Ela passa praticamente todos os minutos de sua vida tomando decisões. É tanta gente dependendo dela que mesmo sendo muito rápida para decidir, ainda forma-se uma fila enorme na porta do seu escritório.

E por incrível que pareça, a fila é o pior problema. Decidir é o que ela mais sabe fazer, a partir do momento em que a pessoa entra no seu escritório, as coisas vão bem rápido. Só que ela só pode tomar uma decisão por vez. Imagine a confusão se todo mundo entrasse junto?

A gentalha se acotovelando na fila na porta de sua sala só pode sair depois de conversar com a Presidente Processador. E sintam a responsabilidade: Se uma dessas pessoas na fila ficar sem resposta, começa um efeito cascata de desencontros e desentendimentos que acaba dobrando o tamanho da fila logo a seguir.

E como já chegamos a um ponto da tecnologia onde é MUITO difícil tornar a tomada de decisões pela presidente mais rápida, a solução é resolver a fila. É por isso que os processadores atuais (os Pentiuns e AMD’s da vida) começaram a trabalhar com clones da presidente. Ao invés de uma sala, várias como cópias idênticas dela para tomar as decisões. O que também ajuda bastante quando uma resolve dar chilique e parar de atender as pessoas. O número de travadas nos computadores modernos diminuiu também por causa disso.

Um computador não funciona sem a presidente. A empresa nem abre as portas se ela não estiver trabalhando. E se por um acaso ela tiver que fazer muito mais trabalho do que pode, começa a ficar de cabeça quente e para tudo numa tacada só. Se o processador esquentar demais, o computador para. E mais do que TODO mundo na empresa, o ar condicionado (Cooler) da sala dela tem que funcionar impecavelmente. Se o cooler parar de funcionar, o processador esquenta rápido, MUITO rápido.

A capacidade da presidente de tomar decisões é medida em “Gigahertz”. Uma presidente que funciona a 2 GHz é mais rápida que uma de 1.8GHz. Isso é sim muito útil, mas não é mais a única coisa a se considerar atualmente.

Cada cópia da presidente numa sala própria é um “Core”. E cada core divide a fila, além de diminuir o stress das presidentes. Na maioria dos casos, é melhor ter um processador com mais cores.

Temos uma questão valiosa aqui: A presidente tem que funcionar, e basicamente só isso. Você não precisa de uma formada em Harvard para cuidar de uma empresa pequena. Se você não joga jogos pesados ou trabalha com vídeo e/ou 3D, não precisa gastar uma fortuna com essa peça.

Dica: A presidente deve ter sobrenome Intel ou AMD. Você vai se arrepender se contratar outras famílias.

HD

 

HD é a arquivista da empresa. Metódica e arredia a decisões rápidas, é ela a única que realmente se lembra das coisas na empresa. Solteirona e mal-amada, a arquivista pode ocupar todo seu tempo organizando um monstruoso arquivo escrito com todas as decisões da presidente. E como sabemos que a presidente não para de tomar decisões, chega uma hora que a sala da arquivista já não comporta mais tanto papel.

E como aumentar a sala não é uma opção, ela tem uma solução: Escreve tudo com lápis e apaga o que não for mais necessário para escrever de novo por cima. Não é o jeito mais bonito de fazer, mas resolve o problema.

E não é só isso. No começo é tudo muito bonito, tem espaço para colocar tudo o que é relacionado perto um do outro. Mas o espaço começa a minguar logo. Eventualmente a arquivista precisa guardar um relatório financeiro no meio do arquivo dos recursos humanos. Está guardado, mas começou a ficar menos intuitivo achar a informação. A arquivista tem que se lembrar de caminhos cada vez mais complexos para chegar na informação que quer. E isso demora.

Num computador, isso se chama fragmentação. Quanto mais tempo você usa um HD sem deixar a arquivista fazer a “desfragmentação” (ou seja, reorganizar a bagunça), mais demorado fica o processo de pesquisa.

Demorar pode ser um problema, mas perder arquivos é ainda pior. A arquivista pode ficar tão maluca com esse trabalho que eventualmente rasga as páginas enquanto apaga o texto para escrever o novo. Ela até dá um jeito colando com fita ou cuspe na hora, mas pode acreditar que aquela página vai dar trabalho extra a partir dali. O certo é parar um pouco a correria e “corrigir erros” nas páginas rasgadas. Se tiver que escrever algo numa página bichada com pressa, pode ferrar todo o processo e perder a decisão da presidente para sempre. Arquivos somem assim.

E como eu já disse, nenhum livro é jogado fora, suas páginas são apagadas e reescritas. Isso quer dizer que a maioria dos arquivos ainda deixa rastros depois de apagados. Pode ser um rastro de grafite ou mesmo a afundada que fica no papel, mas podem confiar que raramente um arquivo se perde logo após ser “jogado na lixeira”. Existem vários especialistas em recuperar o que a arquivista tentou esconder. Não é seguro, se é que vocês me entendem…

O tamanho da sala da arquivista é medido em Gigabytes (GB), e mais recentemente em Terabytes(TB). Um TB equivale a mil GB. Ou seja: Um HD de 1TB é maior que um de 800GB. Quanto maior melhor, mas tenha em mente que pouca gente realmente precisa de tanto espaço.

A velocidade com a qual a arquivista consegue correr pela sala em busca do arquivo é a “RPM” do HD. Um de 7200 é mais rápido que um de 5400. Isso é importante, evidente. Mas tem uma outra coisa no HD, chamada “Buffer”. O buffer é a ante sala do depósito, onde a arquivista pode receber os pedidos de outros funcionários e deixar os arquivos que acabou de separar. Quanto maior o buffer, maior o local. Você também vai querer mais espaço para isso. Um buffer de 32mb é melhor que um de 16mb.

Tente sempre priorizar velocidade (RPM e Buffer) em detrimento de espaço (GB ou TB).

Estão ficando cada vez mais populares os HD’s com a sigla SSD. Eles funcionam de forma diferente, são mais rápidos e bem mais caros. Se você não for entusiasta de tecnologia, ainda não é hora de comprometer orçamento com isso. Ano que vem veremos como a coisa se desenrola.

MEMÓRIA RAM

 

A RAM é a secretária. Ela faz a ligação entre presidente e arquivista. Nossa secretária pensa muito rápido e basicamente faz tudo funcionar. Infelizmente, ela tem um caso sério de memória de passarinho. Se ela olhar para o lado enquanto fala com você, esquece totalmente o assunto. Por isso é muito bom que o trabalho dela seja basicamente correr de um lado para o outro com pastas de arquivos. Pouco espaço para distração.

O que não quer dizer que problemas não aconteçam. E muitas vezes não é culpa dela. Se a fila na sala da presidente estiver criando confusão, ou mesmo se a arquivista não for capaz de trabalhar rápido, ela fica parada, com cara de tacho, esperando alguma coisa acontecer. A memória RAM é tão rápida quanto o sistema permite. Por isso não adianta apenas ter uma secretária rápida feio o Usain Bolt, ela tem que ter espaço para correr e algum lugar para chegar.

Se a secretária ficar presa esperando presidente ou arquivista fazerem alguma coisa, a empresa toda fica esperando. Ou funciona todo mundo, ou não funciona ninguém. Pensando nisso pensou-se numa grande solução que já virou padrão nos computadores recentes: Ao invés de uma secretária correndo muito, duas correndo um pouco menos. É o que se chama de “Dual Channel”. Memória RAM funciona muito melhor em pares (e mais recentemente, em trios, o “Triple Channel”). Se uma ficar enrolada, a outra continua trabalhando. Sem contar a vantagem de que a espera cai pela metade. Ninguém precisa mais esperar uma secretária fazer todo o caminho para ter algo o que fazer. As duas correm sempre em sentidos opostos. Entregou um trabalho, recebe outro.

Você vai querer pelo menos duas secretárias na empresa. A RAM já é medida em Gigabytes (GB), e quanto mais melhor, evidente. Mas lembre-se: Duas de 2GB são melhores que uma de 4GB. Lembra que no mínimo sua empresa tem duas salas da presidência? Faz sentido ter uma secretária para cada.

E sem querer explicar muito, lembrem-se dessa regra: Mais que 4GB de RAM só faz diferença se o sistema operacional (Windows, por exemplo) for 64bits. Essa informação sempre está escrita na hora de comprar. Se você vir um computador ou laptop com mais de 4GB de RAM sem ter “64bits” escrito em algum lugar, corra.

RAM é medida em tamanho do corredor por onde a secretária passa (é bom ter espaço), que são os GB; mas também é medida em frequência, que é a velocidade com a qual ela corre. Como também é questão de número que aumenta de acordo com a velocidade, basta lembrar que o outro número também conta. (Memória RAM é bem mais complexa, e não sei se faz alguma diferença criar analogias para isso…)

Importante: Como HD e RAM costumam ser medidos em GB, lembre-se de uma regra simples para diferenciar a contagem. Se tem três dígitos é HD, se tem um ou dois, é RAM. 500GB só pode ser HD, 12GB só pode ser RAM. (TB SÓ pode ser HD).

Cinco páginas, eu vou levar bronca de mim mesmo.
E sim, vou escrever mais uma coluna, independentemente do interesse gerado. Achei bacana.

Para discutir analogias malucas com informações técnicas malas que está na cara que eu também sei, mas achei que não acrescentariam porra nenhuma ao texto voltado para leigos, ou mesmo para dizer que nemleu: somir@desfavor.com


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