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Siago Tomir: Aquela da pick-up.

| Sally | | 25 comentários em Siago Tomir: Aquela da pick-up.

Civilizado!

Como vocês sabem, na semana passada a Madame que divide o blog comigo postou às pressas uma conversa nossa no msn sem revisar e acabou postando mais do que deveria. Em resposta, esta semana será recheada de Siagos Tomires. Semana que vem volto à programação normal.

Não sei se eu já comentei, mas Siago Tomir é nervosinho ao volante. Se você acha que o seu namorado é estressado no trânsito, bem, você não conhece Siago Tomir. E se o seu namorado é de fato estressado no trânsito, recomendo que não o deixe ler esta postagem, porque periga dele achar o máximo e resolver imitar.

Quando conheci Siago Tomir ele já era estressadinho no trânsito. Mas era um estresse “normal”, se é que se pode dizer que atitudes como abaixar o vidro e xingar o outro motorista sejam normais. É que quando eu conheci Siago Tomir ele era um recém formado sem muito dinheiro no bolso, com um carro modesto. Com o tempo, Siago Tomir foi crescendo em sua profissão e ganhando mais. Qual é a primeira coisa que gente descompensada faz quando começa a ganhar dinheiro? Exatamente, compra um carro acima de seu poder aquisitivo.

Um belo dia, Siago Tomir decidiu que queria um carro pelo qual ele não podia pagar e decidiu que iria contar com o ovo no cu da galinha, apostando que ganharia cada vez mais no futuro. Comprou a porra do carro era uma PickUp daquelas que chamam bastante a atenção. Evidente que isto não foi previamente discutido comigo, imagina, quem era eu além da reles noiva dele. Apareceu com o carro do nada, e ainda teve a cara de pau de dizer que tinha uma surpresa para mim. Para mim? Pois é, Siago Tomir é esse tipo de pessoa odiosa que quando quer uma coisa compra e tenta fazer parecer que comprou pensando em você.

Tava lá, o carro gigante. O troço parecia mais uma nave espacial. Quando ameacei abrir a boca, ele veio com aqueles argumentos nojentos que todo homem costuma ter na ponta da língua: “eu dirijo muito, todos os dias, tenho que ter um carro confortável”, “eu passo muitas horas no trânsito, eu preciso deste carro” ou ainda “eu não me meto nas suas roupas e sapatos, não se meta no meu carro”. Seria inútil argumentar, mais fácil ele me devolver para os meus pais do que devolver o carro para a loja. Fiquei quieta e apenas lancei um olhar de censura, que foi ignorado.

O curioso foi quando Siago Tomir saiu logo depois e deixou o carro em um mecânico, alegando que iria fazer uma revisão para ver se o carro estava ok. Achei estranho ele primeiro comprar para só depois levar no mecânico para verificar o estado do carro, mas calei minha boca porque eu entendo de carro o mesmo que entendo de física quântica. O carro ficou uns dias fora, o que também me chamou a atenção, porque até onde eu sabia, revisão se faz de um dia para o outro. Continuei quieta. Um dia ele apareceu com o carro e um olhar maligno muito preocupante.

Sally: Qual foi a merda que você fez?
Siago: Porque você sempre espera o pior de mim?
Sally: Porque você sempre faz as piores merdas!
Siago: O carro só voltou hoje porque ele só ficou pronto hoje
Sally: Pronto?
Siago: Sally, você quer detalhes técnicos? Você nem sabe onde fica o motor!

Fiquei quieta novamente porque sabia quem de nós dois seria devolvido se eu desse um faniquito. Um tempo depois a primeira prestação do carro bateu e praticamente limpou a conta de Siago Tomir. Fiquei assustada.

Siago: Fudeu
Sally: Você comprou o carro à vista?
Siago: Não pensei que fosse ficar tão caro
Sally: Você não sabia o valor da prestação quando comprou?
Siago: O problema não é a prestação do carro, o que está me matando é o seguro
Sally: O seguro?
Siago: Sim, o seguro
Sally: Aqui? Em Campinas? O seguro é tão caro?
Siago: Deste carro é
Sally: Porque?
Siago: Sally, você quer o que? Detalhes técnicos? Fiz o seguro que eu achei melhor, você não entende nada de carro! VOCÊ QUER SE METER EM TUDO!

O argumento procedia. Eu não entendia e não entendo nada de carros. Calei a minha boca. Mas não me convenceu. Sabe quando você sente uma voz lá no fundo sussurrando que tem algo errado? Aquela intuição não saiu da minha cabeça, mas eu a ignorei. Ninguém grita assim por nada, havia um motivo oculto para essa irritação. Na primeira viagem que fizemos juntos eu descobri a verdade.

Sally: Lá vem…
Siago: *palavrões
Sally: Siago, fica calmo…
Siago: CALMO COMO! VOCÊ VIU O QUE ELE FEZ?
Sally: Vi, Siago
Siago: ELE ME FECHOU! ELE ME FECHOU!
Sally: Tá, Siago, deixa isso pra lá…
Siago: *palavrões
Sally: aff
Siago: *palavrões
Sally: O que você está fazendo?

Somir emparelhou com o carro, abaixou o vidro e começou a soltar uma série de ofensas que nem eu em meus piores Sally Surtada tive coragem de dizer.

Sally: PARA SIAGO! Você não sabe se ele está armado!
Siago: CAGUEI!
Sally: MAS EU NÃO! NÃO QUERO LEVAR UM TIRO! Faz isso quando estiver sozinho no carro!
Siago: VOCÊ VIU O QUE ELE FEZ? VOCÊ VIU O QUE ELE FEZ?
Sally: * abaixando no banco

Infelizmente, o motorista do carro que fechou Siago também não era muito calmo e ao ouvir os xingamentos, olhou para Siago e disse “Vai se foder, seu merda” e ficou rindo. Siago começou a seguir o carro, chegando cada vez mais perto até quase encostar:

Sally: PAAAARA! SIAAAAGO! PAAARA!
Siago: *rindo
Sally: SIAGO, SEU RETROVISOR! VOCÊ VAI…
Siago: ELE VAI!

Um estalo depois, o retrovisor do motorista que xingou Siago ficou no chão. Siago acelerou e foi embora rindo e mostrando o dedo médio para o motorista.

Quando minha taquicardia passou, comecei a raciocinar. Algo não batia. Como pode um homem que compra o seu carro sonho de consumo e está ralando para pagar porrar outro carro na maior tranqüilidade? É como se uma mulher usasse um sapato Christian Louboutin para esmagar uma barata cascuda. Enquanto dava esporro em Siago, fui tentando juntar as peças.

Sally: QUAL É O SEU PROBLEMA?
Siago: No momento? Falta de dinheiro, e o seu?
Sally: Tá ficando maluco?
Siago: Sempre fui, só reparou agora?
Sally: Arriscar danificar o carro que você acabou de comprar? Tá maluco?
Siago: Não
Sally: Você podia ter perdido o retrovisor e estragado a nossa viagem!
Siago: Não
Sally: Ah, agora você vai dizer que consegue dirigir sem retrovisor?
Siago: Consigo, eu não sou mulher. Mas não era sobre isso que eu estava falando
Sally: Sobre o que você estava falando?
Siago: Eu não ia perder o meu retrovisor
Sally: Como você pode ter tanta certeza?

Siago Tomir tem um sorriso de canto de boca que ele usa quando fez merda. Ficou sorrindo e fazendo ar de mistério até confessar que na verdade tinha levado o carro em um mecânico para mandar soldar os retrovisores e o pára-choque com algum metal fundido que eu não vou lembrar qual: ferro, aço, sei lá, alguma coisa que deixava o retrovisor e o pára-choque mais resistentes. Assim, cada vez que ele, O Justiceiro do Trânsito, achava que alguém merecia, arrancava o retrovisor ou então arrastava a pessoa dez metros à frente ou para trás, amassando o outro carro e deixando o seu intacto. Siago Tomir tinha transformado o carro dele em uma máquina mortífera.

Sally: Sério…
Siago: Sim?
Sally: Sério… eu não acredito que você fez isso. Vai dar merda!
Siago: Não fica aparente, não tem como ninguém saber
Sally: Você acha que pode arrancar o retrovisor dos outros como punição?
Siago: Acho
Sally: Você acha que quem dirige mal ou devagar tem que ser punido?
Siago: Acho
Sally: Sabe como se chama isso que você fez:
Siago: Solid Granite Car
Sally: Hã?
Siago: Nunca jogou Carmaggedon não?

Assim foi a nossa viagem. Cada vez que alguém irritava Siago perdia o retrovisor. Se isto fosse tudo, eu até poderia tentar relevar, mas a loucura dele não parou por aí. Na volta ele teve um desentendimento com outro motorista e começou a segui-lo. O motorista fechou Siago e parou o carro na sua frente, no sinal amarelo.

Siago: * um olho só latejando
Sally: PARA COM ISSO AGORA!
Siago: *metendo a pata na buzina
Sally: Para de buzinar! Sinal amarelo indica que é para parar!
Siago: Só se for lá no Rio de Janeiro!
Sally: Sinal amarelo é o que?
Siago: “Acelere, porque vai fechar”
Sally: Quer respeitar o sinal?
Siago: É um sinal de pedestre e não tem ninguém para atravessar!

Antes que eu pudesse perceber, Siago Tomir acelerou e saiu empurrando o carro da frente até o cruzamento. Arrastou o carro até metade do cruzamento, botou a mão para fora da janela e mostrou o dedo médio. O motorista do carro saiu assustado. Eu estava encolhida no banco pedindo para ele sair dali rápido, mas Siago não parecia preocupado.

Foi quando o motorista pegou uma pedra e jogou no carro de Siago. Bateu no vidro de trás e trincou tudo. Siago Tomir hiperventilava. Se eu soubesse rezar, eu tinha rezado nesse momento. A última coisa que lembro foi Siago gritando para eu me segurar no banco.

Siago deu ré em cima do carro do sujeito que tacou a pedra. Depois andou alguns metros para frente e deu nova ré. O diálogo que se segue foi no meio dessa brincadeira de bate-bate:

Sally: PAAAARAAAAAA!
Siago: Ele vai aprender…
Sally: A gente vai ser preso!
Siago: Estamos no meio do nada, sem testemunhas
*batida
Sally: Por mais que seu carro esteja soldado, essas batidas vão prejudicar o carro! PARA!
Siago: Caguei
Sally: Hã?
*batida
Siago: CAGUEI

Se ele tivesse dito que valia a pena ou coisa do tipo eu nem estranharia tanto. Mas ouvir ele dizer que cagou para o seu brinquedo mais caro era demais.

Sally: Você caga pro seu carro novo?
Siago: Não, eu cago para estragar meu carro novo!
Sally: Hã?
*batida
Motorista do carro batido: Seu idiota! Tá fodendo com o seu carro!
Siago: TÔ MESMO, EU PAGO SEGURO TOTAL É PRA ISSO MESMO! AMANHÃ EU PEGO UM NOVINHO! E VOCÊ?
*batida
Sally: Siago, você não vai ter dinheiro para pagar a franquia do conserto deste carro! Para de porrar o carro novo AGORA!
Siago: Franquia? HÁ
*batida
Siago: Meu seguro é caro, mas eu não pago NADA, se der perda total no meu carro no dia seguinte eles me dão um carro novo!
Sally: PARA SIAGO!
Motorista do carro batido: Seu idiota! Você também vai ter prejuízo!
Siago: EU PAGO CARO PARA PODER BATER O QUANTO EU QUISER! EU BATO MESMO! EU BATO O QUANTO EU QUISER E AMANHÃ EU TENHO UM CARRO NOVO!

Vendo o transtorno mental de Siago, o motorista puxou o celular. Acredito que estivesse ligando para a polícia. Siago continuou porrando o carro de ré até que ele fique próximo a um canal. Ele me olhou e sorriu. Acelerou e porrou o carro pela última vez jogando-o dentro do canal. O dono foi atrás, desesperado e Siago arrancou e fomos embora.

Sally: Você pode ser preso!
Siago: Não é você quem sempre diz que crime de trânsito nunca dá em nada?
Sally: Mas isso que você fez foi grave demais!
Siago: Ótimo, vamos ver se você é uma boa advogada!
Sally: Se ele anotou a sua placa, ele vai te achar!
Siago: Não anotou! Ele estava muito preocupado correndo atrás do carro quando a gente foi embora!
Sally: Ele pode ter anotado antes!
Siago: Enquanto eu porrava o carro dele? Duvido!
Sally: E se anotou:
Siago: Se eu for preso, eu vou FELIZ, porque ele teve o que ele mereceu!
Sally: E por acaso você acha que a seguradora vai cobrir danos propositais ao veículo?
Siago: Acho. Acho que vai cobrir tudo porque eu paguei para isso
Sally: Você pagou PARA PODER SAIR BATENDO EM QUEM QUISER?
Siago: Qual parte você não entendeu?

Fiquei vários dias sem falar com Siago Tomir, apenas respondendo a e-mail e mensagens com a mesma frase: “venda o carro e conversamos”. Chegamos a um acordo razoável, mas assim que nosso relacionamento terminou, ele voltou a andar com máquinas mortíferas. Se um dia você for propositalmente porrado por um carro com placa de Campinas, diga olá para Siago.

Para achar bonitinho/bacana/compreensível mais uma merda enorme que Siago fez, para reforçar o comportamento negativo exaltando os erros de Siago ou ainda para justificar o injustificável: sally@desfavor.com


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