Flertando com o desastre: O Dia do Julgamento!
| Somir | Flertando com o desastre | 23 comentários em Flertando com o desastre: O Dia do Julgamento!
Você já se arrependeu? Eu também não, mas aparentemente ainda temos tempo. Dia 21 de maio deste ano começa o Julgamento! Gezuiz descerá à Terra com seu caderninho de anotações divino e vai decidir se você foi um bom ou mau menino. Ou menina. Mas se eu fosse mulher não teria muitas esperanças, a religião cristã tende a jogar a culpa de tudo nelas.
E se você está achando que eu sou maluco, devo te informar que não sou apenas eu que estou dizendo, a informação é quente e foi retirada diretamente da Bíblia através de complexos cálculos matemáticos que não fazem o menor sentido. Pelo menos é o que diz um grupo de lunáticos americanos que cravou a data sem a menor sombra de dúvida. E isso gerou uma razoável atenção não só de fanáticos como da mídia sem nada melhor para comentar.
Se você quiser se divertir, aqui vai o link que te explica melhor. Mas eu te aconselho a fazer como eu e esperar para vê-la dia 22. Vai ser mais engraçado.
Evidente que eu não vou sequer me dar ao trabalho de discutir os buracos na teoria, seria bater palma para maluco dançar. Mas esses assuntos de Dia do Julgamento e Fim do Mundo sempre rendem uma análise mais complexa sobre a fascinante habilidade humana de não fazer a porra do menor sentido.
Tem muita gente nesse mundo que realmente acredita que um dia desses sua divindade preferida vai fazer uma entrada triunfal pelos céus para punir os infiéis e premiar as ovelhinhas obedientes. E não estou falando apenas de quem vai passar o dia 21 todo na expectativa, até mesmo pessoas um pouco mais racionais (nesse caso, até um poste é mais racional) nutrem essa idéia de Dia de Julgamento.
E não é só a baboseira típica da religião, é uma das fundações dela: A TARA que o ser humano tem por ser julgado. Somos seres sociais com a noção, mesmo que inconsciente, que nossa percepção da realidade não passa de uma ilusão. De uma certa forma, o olhar externo é o que valida nossa existência. Sem a opinião alheia, você é a árvore que caiu no meio da floresta. E ninguém parece gostar da idéia de que ninguém vai ouvir o som…
A idéia de divindade observando e julgando nossas ações é o que protege a maioria absoluta da humanidade do pensamento enlouquecedor sobre o propósito da nossa existência. Talvez não seja verdade para você como indivíduo, mas para o grupo como um todo existir é ser julgado. E é muito por isso que religião demora tanto para sumir, mesmo com o aumento exponencial do conhecimento médio do ser humano. A divindade que julga é o dedo tapando o buraco na represa.
Só que a humanidade não está tão preocupada assim com questões filosóficas. Não é apenas a segurança de ter um parâmetro externo para validar sua existência, é muito mais a vontade de buscar a felicidade em forma de vantagem e recompensa (SPOILER: O sentido da vida é gostar dela.).
A pessoa acredita que esse julgamento “maior” vai favorecê-la. Ela quer ser julgada desde que seja considerada inocente. Cada maluco religioso que espera o “fim dos tempos” o faz para ser salvo enquanto outros sofrem punições horríveis. O ser que tudo pode e tudo sabe está obrigado a julgar suas criaturas de acordo com um conjunto de regras arbitrário o suficiente para ser questionado por uma criança.
Mas não é a lógica que interessa. A lógica não permitiria nem a existência de tal “juiz” para começo de conversa. O que realmente está em jogo aqui é uma razão para que um ser humano possa segregar outro. A jogada é transformar as idéias desconexas no cerne de cada religião em base de comparação entre duas ou mais pessoas.
O Dia do Julgamento é o dia em que as pessoas esperam receber uma sentença inapelável de que são melhores do que os outros. O ser humano precisa de parâmetro externo. Não basta acreditar que é melhor, alguém tem que chancelar.
A ironia aqui é que a mera expectativa de um julgamento cósmico sobre quem é bom ou ruim é de um egoísmo e crueldade que jamais teriam lugar num Paraíso. Se é essa gente que vai subir, GRAÇAS A DEUS que eu sou um dos que fica. Imagina só passar a eternidade com um bando de gente com complexo de superioridade sem nenhuma qualidade para bancá-lo?
E se eu falo de crueldade, é pela idéia de que muitos dos condenados jamais tiveram chance de se adequar às regras incoerentes pelas quais esse julgamento se pautaria. Se baixasse um ser mágico dizendo que essa existência era um teste e somente quem enxergasse além da estupidez da religião humana poderia receber a recompensa de felicidade eterna, eu ficaria furioso com ele. Seria absurdamente injusto considerando que quase todo mundo nesse planeta nasce em berço pobre e dificilmente tem acesso ao estudo. Se a pessoa nasce condenada, não é julgamento!
Aliás, é de doer que eu, ateu convicto, tenha mais fé nesse deus do que a maioria dos seus seguidores. Porque eu, mesmo aceitando sua existência por pura diversão argumentativa, o coloco num patamar de inteligência e ética incrivelmente mais elevado do que a ovelha média. Parece que as pessoas imaginam a Terra como uma espécie de cassino cósmico onde seu deus aposta utilizando almas como fichas. O Dia do Julgamento seria o momento onde ele decidiria que ganhou (ou perdeu) o suficiente e voltaria ao caixa para descontar o que conseguiu acumular.
Se o ser infalível fizer seu julgamento em QUALQUER dia que não for o que ele tiver conquistado TODAS as almas possíveis, ele não é infalível. Ou admitiu a derrota ou ficou com medo de perder o que já conquistou. Não deveria mais ser surpreendente, mas não deixa de me impressionar como esses deuses são reflexos perfeitos dos seres que os inventaram. O ser mais poderoso do universo tendo crise de insegurança e botando para foder a maior parte dos seus filhos queridos só para não dar o braço a torcer. É de uma mesquinharia e falta de caráter nauseante. Eu tenho padrões mais elevados até para escolher colegas… Ô povinho para se contentar com pouco.
Mas como seu deus é um babaca, as pessoas ganham passe livre para serem, elas mesmas, tão ou mais babacas quanto. Deus é desculpa para segregar e se sentir superior. Impossibilitados de expressar essa opinião por repressão social (falar vale mais do que agir) ou pela incapacidade de dar sustentação (sua maior qualidade é ser humilde? parabéns, você não tem qualidades… anta!), buscam refúgio na suposta concordância de um ser imaginário.
Caralho… o que foi que deu errado? A mente humana é capaz de muito mais do que uma asneira egoísta dessas.
Bom, essa foi uma pergunta retórica. Eu sei o que deu errado: A mente humana é capaz de muito mais que uma asneira egoísta dessas. A necessidade de aprovação externa está presente na maioria dos seres vivos que se reproduzem sexualmente. Um besouro também compete com seus iguais dentro de uma série de parâmetros pré-definidos para ser visto como o melhor de todos. Isso não é tão especial assim.
O que fizemos com essa necessidade é que é impressionante, e às vezes, horripilante. Criamos toda uma indústria de parâmetros de julgamento. O gorila precisa ser mais forte, o pavão precisa ser mais bonito, o pinguim precisa ser mais resiliente… Mas o ser humano cria novos parâmetros para ser julgado a cada dia que passa. O mercado comporta mais do que meia dúzia de julgamentos baseados apenas em pré-disposições genéticas.
A grande jogada é criar quantos padrões de julgamento quanto forem necessários para todo mundo poder ganhar alguma coisa. TODA a indústria de supérfluos é baseada nisso. “Você se sente uma merda? Nós criamos uma nova categoria para julgar pessoas onde você vai ser o melhor!”
É isso que vende carro esportivo, é isso que vende roupa de grife. A noção de se adequar a um conjunto de regras que te permitem ser julgado de forma mais favorável que outro ser humano. É por isso que eu digo e repito tantas vezes que publicidade te vende problemas. Cada produto que te mostram como a oitava maravilha do mundo nada mais é do que um novo conjunto de regras pelas quais você vai ser julgado. Ter o produto é ser julgado de forma favorável.
A publicidade e a religião não jogam nesse campo à toa. O que ambas desejam é fazer pessoas acreditarem que precisam convencê-las a serem inocentadas. E, Gezuiz, como o povo abraça a causa.
Por incrível que pareça, o cara que compra um carrão para se sentir mais jovem e o que vai à igreja para se salvar no Dia do Julgamento estão fazendo a mesma coisa: Falando o que juiz quer ouvir.
O julgamento é o fetiche humano mais comum. Quase qualquer atividade que envolva o conceito atrai atenção. Seres humanos definindo padrões de aceitação para outros seres humanos (seja um show de calouros com jurados ou um reality show com votação pública… é o julgamento que vende).
Um dos esquemas mais bem planejados nesse sentido (não à toa um dos mais antigos) é o que o exemplo do texto de hoje trata. Para entrar no rol de beneficiados pelo julgamento religioso, basta acreditar no que ela prega. E se quiser ser inocentado no último minuto, independentemente do crime, basta se arrepender. E muito mais do que a graça de ser salvo, é a graça de saber que outros vão ser culpados. Essa é a verdade inconveniente que poucos religiosos vão ter coragem de assumir.
Se todo mundo é especial, não tem nada demais nisso. Pode acreditar que no fundo das almas puras que esperam a salvação está o desejo de ver outros indo para o inferno sofrer pela eternidade. Esse povo que acha o máximo dizer que Jesus voltará para julgar as pessoas quer mesmo é ver o circo pegar fogo por acharem que apostaram no número certo. Igualzinho o deus apostador no qual acreditam.
Até porque se forem se concentrar nas possíveis benesses de estar do “lado certo”, a coisa começa a ficar difícil de apreciar. Num paraíso, todo mundo é feliz pela eternidade. Todos são iguais. Essa mesma humanidade que SE CONSTRUIU em volta do conceito de vender parâmetros de julgamento, contentando-se com igualdade? Faz-me rir.
E se o ser mágico que toma conta desse paraíso apelar tirando a humanidade de seus beneficiados, vai estar admitindo erro no projeto inicial. Se precisamos ficar dopados para apreciar o paraíso, que merda de paraíso é esse? Bacana mesmo é ver os outros se fodendo.
Religião depende 99% do inferno e 1% do paraíso. E no final das contas, é isso que vende. O Dia do Julgamento vai continuar chegando vez após vez, ele é ÓTIMO para os negócios.
Pior é a imprensa dando trela pra esse babaca. Agora ele ta prevendo pra outubro.
Muita falta de assunto pra publicar.
Dar atenção pra ele é o que voces chamam de bater palma pra maluco dançar.
Esqueci? Acho que peguei a sua fantasia de Peter Pan por engano!
E o mundo não acabou, mais uma propaganda enganosa.
Hoje é dia 22, na verdade o mundo acabou, estamos todos mortos, só que o garotinho do Sexto Sentido não está com coragem de nos dizer.
O que eu acho mais engraçado de toda essa situação não é nem a previsão do pastor alucinado, mas sim presenciar pessoas também religiosas metendo o pau no velhinho.
Como se a "loucura" deles não se equiparasse a do pastor, haha.
Afinal, prever que um ser imaginário voltará a terra em um determinado dia é completamente imbecil, enquanto acreditar que existe esse tal ser imaginário, e que ele nos observa/influencia a todo instante é totalmente plausível.
"E muito mais do que a graça de ser salvo, é a graça de saber que outros vão ser culpados".
E assistir de camarote o sofrimento que esses culpados terão que passar, por toda a eternidade…Que lindo!
Suellen
Somir, como você sabiamente fez notar, eu não compreendi a mensagem que você quis passar com o texto.
Enquanto eu considerava que você estava criticando o Cristianismo pela necessidade de validação que ele imputia nas pessoas, na verdade, você argumentava que a religião (com o exemplo da religião cristã) era gerada pelo desejo de ser validado do ser humano e como esse desejo tornou-se místico.
Abrindo a mente pra compreender o seu ponto, eu percebo que é bem impressionante o número de atividades em que nos envolvemos em busca dessa validação. Não só num âmbito pessoal, até num âmbito de espécie. Arrisco a dizer que essa mística de que alguém nos aprovará já se embrenhou de tal forma no nosso pensamento que, a maioria dos desejos pessoais das pessoas é fruto disso.
Bom, pra concluir, fica o pedido para a inserção de imagens e infográficos para os próximos textos. :P
E o Bush vai pro céu?!
É por isso que toda criança começa a sua vidinha naturalmente atéia para depois ser bombardeada de religiões. Tenho uma sobrinha de 4 anos que na páscoa perguntou o que significava. A mãe respondeu "didaticamente" : "é o dia que papai do céu morreu."
A minha sobrinha então gritou e pulou de alegria: "eba! Então não vai nascer e nem morrer mais ninguém!"
Simples assim hehehehehe
A propósito: parece que vi george w. Bush no desenho indo pro céu rsrsrs
será que arrepender é tão fácil assim? tenho para mim que arrepender é dolorido, muito dolorido …
"É por isso (entre outros motivos) que eu leio o Desfavor. Texto exemplar, Somir. Foda mesmo."
Obrigado pelo julgamento positivo!
"Preciso usar terno no julgamento?"
Considerando o que o juiz já te viu vestir nessa vida, não vai ser um terno que vai resolver.
P.S.: Você esqueceu sua fantasia de Robin Hood aqui.
"Sendo assim, eu não acredito nessa de que eles precisam de validação externa. Acho que essa pode ter sido a "motiviação original", quando o Catolicismo pegou mas, atualmente, é o misto da preguiça com a lavagem cerebral."
Não discordo da sua análise sobre os religiosos de mentirinha, a maioria da população deste planeta.
Mas no seu contexto a religião já é a ramificação da base da qual eu falo no texto. Usei a religião cristã como um exemplo do misticismo que nasceu dessa necessidade de validação externa.
Não sei se fica claro, mas a humanidade tende a agir feito a criança que berra para a mãe olhar o que ela está fazendo.
Independentemente de religião.
O curioso é como nossa evolução social nos levou a cada vez mais explorar essa necessidade. Ninguém se torna imune a uma compulsão tão básica como essa. O vício é o mesmo, as drogas que mudam.
O que eu argumento, como sempre, é a quantidade de efeitos colaterais que o misticismo carrega consigo.
"Cadê a postagem do dia 18?"
Relaxa, era postagem minha.
Queima em nome do Senhor G-zuiz!
Como eu não tenho poder ou linguagem argumentativa me limito a dizer apenas: Muito bom, é caso de se pensar no assunto rs.
Cadê a postagem do dia 18?
Celinaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!
Me encaixo na terceira categoria, dos perfis do Rorschach, com a ressalva que não acredito em céu/inferno, e se eles existissem, não mudaria minhas atitudes pra poder alcançar o tal paraíso. Isso é hipocrisia. Será que Deus, onipotente, não veria a malandragem?
Prefiro ser como eu sou, cultivando bons sentimentos se assim eu quiser, não por medo da morte ou do castigo divino.
Na verdade, acho q a maioria das pessoas, assim como eu, gostaria de se desvencilhar dos dogmas religiosos incutidos em nós desde o nascimento, porém é difícil. Por isso nos tornamos religiosos preguiçosos, assim, forjamos uma religiosidade mínima pra acalmar a família católica(ou protestante), mas no fundo, não queremos participar de nenhuma religião castradora e hipócrita. Se eu acreditasse em fantasminhas que se comunicam do além, com certeza eu seria Espírita, uma religião que acredito ser ponderada e um pouco mais coerente com o que seria um comportamento cristão (não julgar, não destruir o corpo com drogas lícitas ou ilícitas, fazer caridade e ajudar o próximo, exercitar o perdão, cultivar bons sentimentos, não ter preconceito com homossexuais, nem com outras religiões).
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Apache/1.3.33 Server at http://www.may-212011.com Port 80
Ih…acho que o link já foi pro inferno, ou talvez arrebatado!
Ignorância + arrogância + universo umbigo = neo-ateísta = "Somir" = Daniel Fraga = Daniel Sottomayor = etc., etc., etc.
Ameinnn!!!
É por isso (entre outros motivos) que eu leio o Desfavor. Texto exemplar, Somir. Foda mesmo.
Preciso usar terno no julgamento?
Eu acho que hoje, essa questão de "ser julgado para validar sua existência", nem se aplica mais na religião. O povo nasce e antes de conseguir falar já é metralhado pela religião. Desde criança já tem a certeza de que o tal Julgamento Final vai mesmo acontecer. E é até reconfortante acreditar nisso.Eu posso ser bonzinho e vou pro céu e posso ser mauzinho e me arrepender no final que vou pro céu do mesmo jeito. Win-win!
Eu concordo com você na questão de que precisamos de validação externa, mas acho que na religião esse ponto já se diluiu há muito tempo. O Cristianismo é a religião dos preguiçosos. Não importa quanta merda se faça, é só rezar o que o padre pedir e pronto, tá tudo tranquilo, afinal, o "home" já sofreu por todos.
Eu acredito que existam 3 perfis de cristãos na civilização ocidental atual: – o fanático católico, aquele que ainda crê na Igreja Católica, que vai à missa e tenta seguir o dogma da congregação; – o fanático Evangélico/Protestante, que é aquele que não gosta do catolicismo, mas segue exatamente a mesma religião, só que repaginada. Em termos chulos, é o pivete que não gosta dos Beatles, mas curte um Restart; – por fim, o preguiçoso, que representa a grande maioria. Não compactua com o passado criminoso da Igreja Católica, não compactua com os escândalos sexuais da mesma, mas também não compactua com a gritaria e chatice dos evangélicos. Em suma: acredita em Deus, vai se arrepender no "fim", mas não tá muito com vontade de ir na Igreja.
Sendo assim, eu não acredito nessa de que eles precisam de validação externa. Acho que essa pode ter sido a "motiviação original", quando o Catolicismo pegou mas, atualmente, é o misto da preguiça com a lavagem cerebral.