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Flertando com o desastre: Mortalmente eficiente.

| Somir | | 278 comentários em Flertando com o desastre: Mortalmente eficiente.

watA vida humana pode ser incrivelmente frágil às vezes. Pessoas já morreram pelos motivos mais banais imagináveis, seja por burrice, distração ou o bom e velho azar. Mas é curioso como os suicidas tendem a ter uma taxa de sucesso tão baixa… Ok, é meio que um padrão na vida deles, mas… Convenhamos que deveria ser ridiculamente fácil se matar com a liberdade de fazê-lo.

A questão é que o corpo humano está programado com vários “mata-burro” para evitar que seus detentores estúpidos estraguem o processo evolutivo. Não importa o que sua mente abstrata está conjecturando, seus instintos e defesas naturais ainda querem que você dure o suficiente para se reproduzir, de preferência várias vezes.

Boa parte dos métodos tradicionais dos candidatos ao suicídio esbarra nessa resiliência do organismo contra problemas habituais. Só me resta imaginar que o que realmente falta na vida dessas pessoas é conhecimento. Conhecimento é poder. Conhecimento é não tomar meia dúzia de aspirinas e esperar pela morte certa…

Era para ser um Desfavor Explica sobre as formas que o corpo é capaz de combater até seu dono tentando se matar, mas como essas informações podem ser usadas para facilitar a vida, quer dizer… a morte de alguns ineptos, vai como Flertando com o Desastre.

Ei, não é só porque o cidadão ou cidadã está desiludido com a vida que vai ficar livre de críticas. Ninguém gosta de quem faz as coisas pela metade. O desfavor não RECOMENDA o suicídio, mas também não aplaude incompetência.

Vamos fazer um tour pelos métodos tradicionais e ver como as coisas podem dar errado para um suicida que dormiu nas aulas de física, química e biologia. E, claro, para não perder o lado desfavor das coisas, vamos comentar também sobre o resultado estético final no caso de sucesso.

AUTO-ENFORCAMENTO

Começo com essa porque é emblemática. A figura da pessoa inerte balançando suavemente numa corda amarrada ao seu pescoço já é clichê para a cultura popular do suicídio. É uma das formas mais comuns por ser simples de se arranjar e bastante eficiente. Normalmente quem se enforca não está para brincadeira, sendo essa a segunda forma de suicídio mais comum dentro das cadeias. (Logo depois de dizer em alto e bom tom que acha Corinthians ou Flamengo uma merda…)

Como te mata: Na modalidade “caseira”, é raríssimo que se quebre a coluna ou mesmo perca a cabeça como nos enforcamentos profissionais. É uma coisa mais lenta e agonizante. Bacana, né? A pessoa não morre exatamente por não conseguir mais respirar, o corte do fornecimento de sangue para o cérebro através da compressão de artérias no pescoço dá conta do recado, já que é bem mais complicado fechar a traquéia.

Cagadas prováveis: Tendo uma superfície resistente para prender a corda e um nó razoável, não é para ter erro. Mas como essa modalidade tende a te apagar primeiro por causa do baixo fluxo de sangue e oxigênio no cérebro, você só vai descobrir que algo deu errado quando acordar horas depois, provavelmente com alguma sequela escrota e gente que não vai mais te deixar em paz. Loser. Existem relatos de presos que ficaram com o coração batendo uns quinze minutos depois do cérebro ter passado do ponto sem volta. Se te pegarem próximo dessa fase, boa sorte com sua vida de vegetal, ou pior ainda… semi-vegetal… O cérebro desliga primeiro as partes supérfluas.

Que cena bonita: Auto-enforcamento é uma medida desesperada, principalmente se considerarmos o legado do suicida. O rosto tende a ficar azulado, a língua salta para fora, a posição final é um convite para o relaxamento dos intestinos e da bexiga te deixarem parecendo um extra num filme da Veronica Moser. Analogia pertinente considerando que ainda existe a possibilidade de entrar para a eternidade de pau duro. Dependendo do trauma na coluna, uma ereção pós-morte pode ser desencadeada pela pressão no cerebelo. E se você é mulher, o resultado não é tão vistoso, mas aquele tradicional “inchaço” vai ser acompanhado de uma saudável dose de sangue. Menstruação on-demand.

OVERDOSE

O Pilha está aí para comprovar, não é um método eficiente. Eu sei que muita gente morre disso, mas se comparado com a quantidade de pessoas que tentam (querendo ou não), pode apostar que tem muita desinformação nesse meio. Como o próprio nome diz, overdose nada mais é do que ingerir, injetar, aspirar ou enfiar em algum buraco do seu corpo uma quantidade abusiva de uma substância.

Como te mata: São inúmeras possibilidades considerando as inúmeras substâncias possíveis aqui. Para ficar com uma famosa, o álcool te mata quando o fígado já está saturado e nem o seu sistema respiratório sabe mais o que está fazendo. Mais ou menos 0.400 miligramas de álcool por cada 100ml de sangue. É pinga pra caralho! Mas já foram registrados casos de bebuns com mais de 1.5mg/dL. Se cremassem o safado, ficaria aceso um ano.

Cagadas prováveis: Você acha que seu corpo é um banana que nem você? Ele vai brigar até a morte contra o envenenamento. A maioria das pessoas que erra ao tentar se matar por overdose não entende o conceito básico de substância ativa. Por mais que aquele comprimido pareça enorme, só uma pequena fração dele tem a substância que realmente vai interagir com o seu organismo. Encher o rabo de pílulas aleatórias dificilmente vai te envenenar com a intensidade que você imagina. E se o seu corpo não estiver totalmente sobrecarregado, vai se livrar dessas porcarias, por um buraco ou outro. Seu estômago tem várias substâncias X-9, que vão delatar para o cérebro quando algo que não deveria estar lá acabou de chegar. E aí, meus caros desfavores, é DEFCÓLON 1! Ou vomita ou caga, não tem meio termo. (Até porque não dá pra sair pelo umbigo…)

Quem quer abandonar essa existência através da overdose tem que saber o que pode matar (SPOILER: Se está na sua casa, provavelmente vai te dar caganeira, existem muitos regulamentos sobre o que pode ser comercializado ou não… Nem veneno de rato é confiável hoje em dia.), o quanto dessa substância é uma dose fatal (e tem que exagerar daí, alguns corpos aguentam mais do que outros, além do fator de diluição da substância ativa…), e principalmente entender que a não ser que você seja 100X mais anti-social que eu (meu ídalo!), alguém pode dar pela sua ausência ou te visitar antes que seja tarde demais. E pode apostar que a maioria dos hospitais é capaz de reverter sua mais recente falha na vida.

Que cena bonita: Digamos que você conseguiu, grandes chances de ser encontrado numa bela poça de vômito ressecado enquanto seu gato saboreia a iguaria que um dia já foi sua bochecha. E eu devo avisar que a não ser que você seja um músico ou ator medíocre, ninguém vai achar bonito. Eu já falei sobre estar todo cagado e mijado, né? Pois é.

QUEDA LIVRE

A quantidade de gente que consegue errar um conceito simples como se jogar de um lugar alto é prova de que o ser humano médio tem merda na cabeça. Pulando de uma ponte, de um prédio ou de um precipício, tem sempre o caso da anta que nem para se matar mais vai servir.

Como te mata: Trauma. Porra, se você já tropeçou e caiu, sabe como isso não pode fazer bem para um ser humano. Agora, a questão é o tamanho e o tipo do impacto necessário para se fazer o serviço bem feito. Uma boa pancada tem que ser capaz de destruir órgãos vitais ou artérias importantes mesmo com toda a proteção dos ossos, músculos e tecidos ao redor deles. Suicidas sortudos podem morrer até numa queda de dois metros. Seja como for, é só se lembrar do mantra: A cabeça primeiro.

Cagadas prováveis: Milhares de pessoas estão aí para te contar a história de como escaparam de quedas que pareciam inescapáveis. Para morrer numa queda, não basta só pular de sua janela, é necessário planejamento. Nosso corpo consegue absorver MUITO impacto dadas as condições certas. E os instintos, esses estraga-prazeres-suicidas, podem desempenhar um papel decisivo na sua sobrevivência… Se você pular de um lugar muito baixo, a tendência é que se quebre todo, mas fique vivo para pagar as contas do hospital. Se você pular de um lugar muito alto, é provável que seu corpo se posicione para bater os pés no chão primeiro, inconscientemente. E isso faz diferença… E sabe quando você se encolhe de medo? Dobrar os joelhos caindo com o pé primeiro diminui a força da pancada nos órgãos vitais ao ponto de salvar até paraquedista com problemas técnicos. E se você quer números, o ideal é tentar uma queda de mais de 75 metros.

E não se esqueça da superfície de aterrissagem. O certo é concreto. Água pode até ser terrível dependendo da altura que se cai, mas ela VAI ceder depois do choque inicial. Se não for a cabeça ou o peito tomando essa pancada, o risco de sobreviver é grande demais, grande demais para um suicida, é claro!

Suicídio por queda é uma máquina de fazer para e tetraplégicos. Quero ver conseguir pular de uma janela numa cadeira de rodas.

Que cena bonita: Como frequentemente se faz isso em locais públicos, seu corpo vai estar à vista de muitos curiosos. Suas roupas não foram feitas para quedas desse tamanho, pode apostar que vai acabar com alguma “falha de vestuário” potencialmente ridícula em conjunto com seus membros dobrados em posições surpreendentes. Cagado, mijado… você já sabe. E, por favor, cole uma plaquinha com “Ai!” na sua mão. Eu sempre quis ver isso.

CORTANDO OS PULSOS

Vem cá… você acha que um organismo tão voltado para a auto-proteção iria mesmo deixar uma artéria potencialmente fatal arreganhada assim nos pulsos impunemente? Cortar os pulsos é uma cena dramática, mas basicamente é só isso.

Como te mata: Surpresa, não mata! Teste nas crianças, pode confiar. Ok, talvez não valha a pena testar nas crianças, mas a questão é que o clássico de cortar só os pulsos só vai te matar se você tiver alguma forma de evitar que o sangue pare de jorrar. E como eu estou dizendo até agora, não é como se seu organismo fosse ficar parado esperando. Para morrer mesmo, precisa seguir os dizeres: Não atravesse a rua, desça a avenida. Tem que cortar de cima a baixo na parte interna no antebraço para realmente bater as botas. Aí não fecha tão fácil. Outras áreas assassinas: Pescoço e parte interna das coxas (veja bem para quem sai abrindo as pernas por aí!). O sangue sai, não volta, game over. Mas TEM que ser artéria.

Fato babaca: Se cortar o pênis, sangra pra caralho (ha, só queria escrever isso) e é bem capaz de matar o ex-dono. Área muito irrigada.

Cagadas prováveis: Parar sangramentos é algo que seu corpo faz desde… sempre. Se o corte não for grande demais, as plaquetas do sangue vão se empilhar no vazamento até que a situação volte ao normal. A famosa “casquinha de ferida”. E se o corte for grande demais, sangue é o tipo da coisa que dispara tudo quanto é alarme nas nossas mentes. Se demorar demais para apagar, você corre o risco de entrar em pânico e pedir ajuda. E se alguém vir isso, boas chances de você conseguir socorro médico. Não vai ser um dos seus momentos mais gloriosos.

Que cena bonita: Sangue para tudo quanto é lado e a pecha de emo-gótico-viadinho(a) como legado. Sério, além de ser uma porquice (já tentou tirar sangue de tecidos como o banco do seu carro? Eu… não… ahem…), é vergonhoso. Cagado, mijado, vomitado… o de sempre.

ARMA DE FOGO

Você duvida que tem gente que não consegue se matar direito nem com uma porra de um revólver apontado para a cabeça? Não deveria. Ficou por último porque atualmente é o método mais comum de suicídio. E também porque é o que faz a maior merdalheira quando funciona.

Como te mata: Bom, uma bala atravessando algum órgão vital não é algo a se ignorar. E não é EXATAMENTE a área do projétil que faz o grande estrago, é o efeito estendido dela nos tecidos adjacentes que efetivamente mata. A bala empurra o que estiver no caminho, danificando uma área muito maior que seu diâmetro na passagem. Desde que, é claro, ela tenha força para fazer essa viagem e SAIR do outro lado. Pois bem, crianças, não é só onde se atira, é o que se atira.

Cagadas prováveis: Calibres baixos tem o péssimo hábito de não sair pelo outro lado. E sem a explosão da saída e a subsequente ejeção de material que deveria ficar dentro do corpo, os estragos são mitigados ao ponto de ter gente vivendo até hoje com balas dentro do corpo. E se o tiro for na cabeça, grandes chances de não pegar uma área vital e te deixar parecendo o Flávio Silvino. E já adianto que baleiês não é um idioma que te dá muitas vantagens na vida.

Aquele três-oitão comprado numa esquina escura pode fazer o barato sair caro. Se não der para usar uma arma de macho-chô, vai correr um risco. O segredo é não tirar o potencial da bala logo na saída. Se apontar para o crânio, é uma camada de osso duro de furar logo na saída do projétil. A área “mole” de acesso direto ao cérebro é logo abaixo do queixo. Dentro da boca também tem essa vantagem, mas não é um lugar muito bom para achar o ângulo certo. O tiro lateral, usando o ponto fraco da têmpora, pode até ser mais dramático, mas tira sua garantia de sucesso. O desfavor não quer que você se mate, mas tem ainda mais receio de te ver retardado por aí. Custa não foder a vida de outras pessoas?

Que cena bonita: Se atravessou, boas chances de você ter feito uma pintura na parede logo atrás. Vai ter sangue, caco de crânio e pedaços de miolos para tudo quanto é lado. E morte traumática assim ainda pode dar a tríade merda, mijo e ereção/menstruação. Morrer com certeza não é uma coisa digna.

Bom, espero que tenha sido informativo. Existem vários outros métodos não cobertos por este texto, mas eu já estourei o limite de páginas. Se tiverem interesse, eu completo na sexta.

E boa sorte na sua vida.

Para dizer que processo é pouco, dessa vez eu vou é preso, para reclamar que eu tirei todo o glamour do seu suicídio futuro, ou mesmo para dizer que só volta nessa budega quando pararmos de falar de morte: somir@desfavor.com


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