Skip to main content

Sally Surtada: Aconteceu…

| Sally | | 33 comentários em Sally Surtada: Aconteceu…

Relaxa, mulher, aqui é tranquilo!“Aconteceu”. Uma palavra que resume toda a covardia e auto-perdão de um ser humano que não quer se responsabilizar por suas cagadas. Eu ODEIO essa expressão: “aconteceu”. ACONTECEU É O CARALHO, ACONTECEU PORQUE VOCÊ DEIXOU ACONTECER. Desídia, falta de cuidado, irresponsabilidade, excesso de confiança, escrotidão… podem existir mil motivos para o “aconteceu”, e todos implicam na responsabilização dos envolvidos. Gente que usa o “aconteceu” como se fosse um fenômeno da natureza inevitável, imprevisível ou instransponível merece um chute no cu.

Vamos tomar como exemplo o namorado de uma amiga sua. Nenhuma pessoa de caráter planeja ou pretende se envolver com o namorado da amiga. Uma pessoa que zela pela amizade tem o cuidado e o respeito de se manter a uma distância razoável do namorado da amiga, justamente para se assegurar de que nada possa vir a acontecer. Pessoas que tomam este cuidado preventivo são pessoas humildes e vividas, que sabem não ser possível controlar 100% os sentimentos e que sabem que, na essência, o ser humano é uma merda. Precisamos nos policiar constantemente para “nos salvar de nós mesmos”.

Mas sempre tem uma pessoinha arrogante, que acha que sabe tudo, que tem o controle de tudo ou que sequer consegue pensar mais para frente e fazer projeções de possíveis catástrofes (essa gente meio hippie que só quer saber de viver o momento) que não toma qualquer precaução. Daí não estipula limites, achando que isso jamais vai acontecer, afinal, esta pessoa sabe tudo e tem controle de tudo. Fodástica. Até que um dia acontece. Não necessariamente com o namorado da amiga. Acontece algum envolvimento extremamente antiético e prejudicial: com uma pessoa casada que assim pretende continuar, com um chefe que mistura as coisas e prejudica profissionalmente ou qualquer outra situação que não deveria ter acontecido. Mas “aconteceu”.

E neste momento do “aconteceu”, a pessoa muitas vezes não tem a auto-crítica de pensar qual é a sua parcela de culpa na história. Porque quando a gente se fode na vida, geralmente temos a nossa parcela de culpa na história. Não. A pessoa suspira e diz “Aconteceu”, como quem diz “não tinha nada que eu pudesse fazer para evitar”. Isso é mentira. Uma paixão ou um amor não surgem do nada, do dia para a noite. Surgem com o convívio e a proximidade. Pequenos atos aparentemente inofensivos como pegar carona com a pessoa, bater um papinho de dez minutos todos os dias na saída da aula, conversar rotineiramente no MSN e outros podem terminar em uma lambança.

E por “lambança”, nem mesmo quero dizer que você efetivamente consume alguma coisa. Você pode nem ao menos ter interesse na pessoa, mas por não ter mantido a distância desejável, a pessoa pode acabar se apaixonando por você. Olha que bonito, o namorado da sua amiga terminando com ela alegando estar apaixonado por você. Esse tipo de coisa não “aconteceu”, esse tipo de coisa é CULPA SUA, que foi uma merda de amiga e não soube se distanciar o suficiente para se assegurar que o namorado dela não tivesse subsídios para se encantar por você. Foi você quem não leu as placas de “Pare”. E não foi por inocência ou ingenuidade, não adianta tentar romantizar. Foi por um egoísmo filho da puta de não se dar ao trabalho de pensar nas consequencias, porque aquilo estava te trazendo algum benefício e/ou por uma arrogância do caralho, se achar que tem controle de tudo.

Podem me chamar de paranóica, mas eu não fico sozinha com namorado de amiga minha. E “namorado” é termo genérico para qualquer homem com o qual ela esteja envolvida, desde marido até um peguete qualquer. Não fico mesmo. Por exemplo, se estou na mesma casa e a namorada vai dormir, eu não fica na sala com o namorado dela. Paranóica? Pode ser, na dúvida, e por respeito a minha amiga e a um eventual namorado meu, não faria isso. Não pegaria carona com o namorado de uma amiga minha sem que ela estivesse no carro. Não sairia sozinha com o namorado de uma amiga minha nem que fosse para ajudá-lo a escolher um presente para ela.

Eu sei que muitas mulheres cometem este erro de não colocar limites, mas vocês devem concordar comigo que é um erro predominantemente masculino. Desde o dia que aprende a cagar no troninho, homem passa a achar que tem controle de tudo. E não tem. Também acham que são mais bem resolvidos que nós emocionalmente do que as mulheres. E não são. São os primeiros a serem sacaneados, manipulados e a fazer merdas gigantes. Mas não adianta, enquanto o caldo não entorna, eles continuam ali flertando com o desastre. E discutem com você que aquilo não tem o menor problema. Porque nada nunca tem o menor problema para homem, desde que eles estejam fazendo (quando a gente faz sempre tem problema). Eles sabem tudo, eles tem tudo sob controle e qualquer tentativa de aviso nos coloca no papel da paranóica histérica controladora.

Até que o caldo entorna. E quando você mete o dedo na cara do Zé Ruela e diz “Não disse? Não te avisei?” ele faz cara de cachorro cagando na chuva e solta o nefasto “Aconteceu, ué? O que que eu posso fazer? Essas coisas a gente não escolhe”. Só matando. A menos que você seja uma adolescente de 13 anos apaixonada pelo Justin Bieber sem nem ao menos conhecê-lo, ninguém se envolve com outra pessoa se não for cruzada uma barreira de intimidade e contato frequente indesejável. E não se trata de um inocente erro de cálculo, porque no meio do caminho com certeza várias pessoas devem ter reclamado do rumo que aquela suposta “amizade” estava tomando. Se trata de falta de consideração, egoísmo e arrogância de não escutar o outro e não se colocar no lugar dos outros.

Você, Amigo Cueca, que está torcendo esse seu nariz cabeludo para o que eu estou falando, me conte como se sentiria se outro amigo seu contasse que fez sexo com a sua mãe porque “aconteceu”. Fazer sexo com alguém não é uma coisa que simplesmente “acontece”. Ninguém chega na casa dos outros, olha para a dona da casa tira a roupa e pula na cama, a menos que exista um precedente mínimo de intimidade e proximidade. E se um amigo seu contasse que comeu a sua irmã mais nova porque “aconteceu”? Dói quando é com a gente, né? E se um amigo seu falasse que está apaixonado pela sua namorada e que eles chegaram a se beijar, mas que não foi nada planejado, apenas “aconteceu”?

Nojento esse argumento. É a mesma coisa que fazer sexo por meses sem camisinha e fazer cara de espanto quando descobre que está grávida, dizendo “Não me culpe, eu não planejei isto! aconteceu!”. EVIDENTE QUE IA ACONTECER. Não planejou mas também não evitou, né? A omissão é a mentira do covarde. Se alguém acha que omitir é menos grave que mentir, pense duas vezes. Ao menos é preciso culhões para mentir. Omitir é baixo, covarde e babaca. Omitir fatos ou se omitir diante de situações que deveriam ter sido conduzidas de outra forma é, no mínimo, tão reprovável quanto mentir. Eu acho ainda pior! Mas homem acha que tudo bem se omitir. Eles batem no peito cheios de orgulho e dizem “Eu não menti, eu omiti”. Até o dia que escutarem “Eu não menti, eu apenas omiti que era HIV positivo” depois de comer mil vezes a mesma mulher sem camisinha. Talvez aí eles entendam quão baixo nível pode ser uma omissão.

Porque vocês acham que existem tantos filmes, novelas e livros tratando de romances proibidos, inconvenientes ou pecaminosos? A arte imita a vida. O proibido exerce um fascínio incontrolável no ser humano. Mas ainda tem gente boba nesse mundo, que se auto-perdoa acreditando na baboseira de que se o seu relacionamento for amor verdadeiro, pode fazer o que quiser que nunca vai trair nem se envolver com mais ninguém. Tia Sally tem uma novidade para te contar: é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo. É possível amar uma pessoa e estar apaixonado pela outra. É possível estar apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo. TODO TIPO DE COMBINAÇÃO é possível em matéria de ser humano. Por isso, não descuide do seu relacionamento achando que porque é amor de verdade está blindado para o mundo externo, porque não está. O ser humano é uma merda promíscua por natureza. Lutamos (bem, alguns de nós) contra isso, mas quando a gente menos espera, tem uma recaída.

Se você se aproximou de alguém, ou deixou que alguém se aproxime de você, o suficiente para estabelecer um vínculo que pode gerar intimidade a ponto de virar algo a mais, então você já errou. Mesmo que no fim das contas não dê merda. Já errou porque colocou seu relacionamento em risco (ou a carreira, ou a família ou qualquer que seja o bem que está em jogo). Mas homens não sabem ler os sinais.

Perguntem ao Somir. Um dia você bate um papinho com uma pessoa no MSN. Foi bem divertido e como a pessoa não flertou com você, você não vê problema em conversar em um outro dia. Sim, porque na cabeça simplória de homem, a coisa é pão pão, queijo queijo: “Conversei com ela + ela não deu em cima de mim = posso conversar com ela outras vezes”. Tolinhos. Quando vai ver, está conversando com a mulher regularmente no MSN e inclusive sente falta quando ela eventualmente não comparece para a conversa no horário habitual. E nem assim conseguem ler as placas de “Pare”. Na mente simplória continua marretando a frase “Ela não está dando em cima de mim e eu não estou dando em cima dela, então isso aqui não tem problema algum”. Desculpa, mas esse excesso de racionalidade masculina emburrece. Partem de premissas erradas e chegam a conclusões muito equivocadas. Tecla SAP: IDIOTAS!

Anota aí outra dica que a Tia Sally vai te dar, Amigo Cueca. Anota na mãozinha e lê todos os dias quando levantar da cama, antes de sair de casa: MULHERES INTELIGENTES, QUANDO QUEREM CONSEGUIR UM HOMEM COMPROMETIDO, NÃO FLERTAM. Porque nós sabemos que, salvo se o sujeito for um galinha fdp (e quem quer um galinha fdp?), o flerte vai afastá-lo de nós. Mulheres inteligentes, quando querem um homem comprometido, apenas conversam, se aproximam, são agradáveis, ATÉ O SUJEITO SE APEGAR A ELA. Porque sim, homem se apega. Homem gosta de atenção e por mais que tenha bastante atenção de sua namorada e que esteja feliz com ela, caso ele se habitue a receber atenção de uma outra TAMBÉM, vai sentir falta quando não a tiver mais.

Homens se dizem super frios e acham que mulher é que se envolve fácil. Eles acham que isso nunca vai acontecer com eles. Discordo. Até acho que homem tenha uma resistência inicial para se apegar, mas quando cai, cai de quatro muito pior do que qualquer mulher. Costumo dizer que o homem é como uma maçã do amor: se quebrar a casquinha dura que tem por fora, entra fácil fácil. Então, cientes de que são uns molóides por dentro, façam o favor de proteger esta casquinha dura, para o bem de todos. E não adianta estabelecer limites onde VOCÊ acha que é seguro, porque geralmente homens erram. Escute o que os outros tem a dizer, escute com atenção. Não seja arrogante. Quem vê de fora vê melhor e vai poder te ajudar a estabelecer limites.

Homens ou mulheres que usam o argumento “Aconteceu” tentando fazer parecer que o ocorrido independia de sua vontade ou se suas escolhas merecem um joinha e seu eterno desprezo. São pessoas hipócritas, baixo nível. São eternas vítimas: são vítimas das circunstâncias, vítimas de outras pessoas, vítimas do destino. Nunca tem culpa de nada e nunca se responsabilizam. Tenho asco de gente assim.

Para os Cuecas, o mesmo recado de sempre: fidelidade não é só não beijar outras bocas. Fidelidade começa muito antes, com POSTURA E DISTANCIAMENTO do sexo oposto. Não acredito em fidelidade sem esse caráter preventivo. Mais cedo ou mais tarde vai dar merda se esta ética preventiva não for respeitada. E quando isso acontecer, não ousem se auto-perdoar e dizer que “aconteceu”. Digam “Foi mal, EU deixei acontecer”.

Para dizer que me odeia por eu ter retirado sua capacidade de se auto-perdoar, para dizer que eu só falo essas coisas porque não sei o que é amor de verdade e para dizer que este Sally Surtada não foi surtado o suficiente: sally@desfavor.com


Comments (33)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: