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Desfavor Convidado: Jornada de trabalho.

| Desfavor | | 18 comentários em Desfavor Convidado: Jornada de trabalho.

Essa gentalha? Quando morrer descansa.

Quer ter seu texto publicado aqui? Sério? É cada uma que me aparece… Mande seu texto para desfavor@desfavor.com e seja você também um desfavor convidado.

Manifesto pela redução da jornada de trabalho.

A jornada de trabalho no Brasil é de desgastantes e desumanas 45 horas semanais. Eu digo desgastante e desumana porque trabalho cronometradamente 45 horas semanais (maldito ponto biométrico!), sei do que estou falando. Esta é a lei. É justa? NÃO! 45 horas? 45 horas pro trabalhador assalariado comum. Como é de conhecimento geral, os honoráveis (bandidos) de Brasília trabalham (trabalham?) de terça a quinta-feira (geral nem se move).

Você trabalha pra viver ou vive pra trabalhar? Rotina do brasileiro hipotético (super real) qualquer: acorda entre 5 e 7 da manha, demora de meia a 2 horas pra chegar ao trabalho, trabalha de 8 a 9 horas por dia com mais uma hora de almoço, gasta de meia a 2 horas pra voltar pra casa. Por cima, já foram 13 preciosas horas do dia. Tem também as coisas corriqueiras imprescindíveis a qualquer pessoa: tomar café da manhã, tomar banho, jantar, se vestir e escovar os dentes, incluo na conta 2 horas para estas atividades, chegamos a 15 horas. Agora uma parte crucial e motivadora: o sono, sobraram 9 horas.

Gastar 8 horas com sono é luxo, não conheço nenhum trabalhador que o faça, se você não considera o sono importante é porque nunca esteve numa situação de cansaço e estafa física e mental, que bom pra você! Com certeza não é o caso do brasileiro médio. Suponhamos que sejam usadas 6 horas pra dormir. Sobraram 3 horas pra pessoa ter uma vida, míseras 3 horas. Este é o tempo que você tem pra conversar com sua família, arrumar a casa, lavar a roupa, cozinhar, ler, fazer academia, estudar ou qualquer outra coisa básica e corriqueira que as pessoas precisam fazer.

Vida social? HAHAHA se vira aí. Fique amigo do cobrador do ônibus e das pessoas que trabalham com você, é… aquela gentalha falsa dos amigos secretos, de má-vontade quando precisa te passar informações importantes, das fofocas e chás de fralda.

O que eu vejo (vivo) no dia a dia: a pessoa já chega cansada ao trabalho, trabalha que nem uma maria-mole, podem acontecer erros devido ao cansaço e stress, sem falar nos problemas de saúde. Uma medida diária de cansaço, stress e desconforto te levará a doenças como úlcera, gastrite e câncer, tudo isso antes dos 45.

“Ah, que exagero! não é bem assim.” É assim sim. A pessoa não tem tempo para ela, não consegue fazer as coisas que gostaria de fazer. Vai dizer que você acha digno fazer as unhas na hora do almoço, dormir no ônibus e andar pelos corredores da empresa parecendo um zumbi?

Se a jornada de trabalho diminuísse para 30 horas semanais as pessoas poderiam ter uma existência melhor. O empresariado quase enfarta diante de tamanha audácia! Lá do último andar do prédio, em sua sala espaçosa na qual ele chega as 10 da manhã e sai a hora que bem entende isto soa um verdadeiro absurdo: “Pra que eles precisam ter uma vida? com a migalha que recebem não sobra nem pra uma garrafa de Vauve Clicquot. Rá rá rá! Insolentes.”

O verdadeiro absurdo para o patronado é ter que pagar 13º, remunerar férias, contribuir para fundos de previdência e dar assistência em caso de acidente “Ah! Que audácia! Nunca pisaram num iate e querem férias!”. Eles juram que oferecem muito e a pessoa deve se sentir abençoada por se empregada deles. A realidade é que quando dão um benefício cortam outro. Se a empresa é rigorosa com o horário e paga horas extras não paga vale refeição, lá se vai mais um degrau na escala de dignidade humana: além de andar constantemente cansado, o cidadão tem que comer comida requentada na marmita.

Tive um professor que trabalhou anos em ministérios estratégicos e contava histórias de diretores de multi nacionais que, segundo ele, desistiam de vir para o Brasil por causa dos altos custos trabalhistas “Essa gentalha do terceiro mundo está pensando o quê?!”

Devemos nos contentar com as migalhas que temos e lamentar a perda de alguma indústria que ao invés de vir pra cá foi poluir e explorar na Ásia? De forma alguma. O país está mudando pra melhor (não porra, eu não sou fã de Vossa Majestadi Silva I), as empresas lucram absurdos, se expandem, o governo está abrindo as pernas, digo, as fronteiras para empresas estrangeiras adquirirem participação em fatias expressivas de setores estratégicos (pré-sal, transporte, telefonia oi?!) e o retorno para a população, cadê?! Temos terra em abundância, energia disponível e mão de obra (desde mão de obra barata para chão de fábrica até mão de obra altamente especializada). O valor dos custos trabalhistas compensa estas e outras vantagens (jeitinho brasileiro né!). Chega de pensar pequeno.

Quando ninguém tinha nada, lá nos 60 ou 70 era aceitável que a humildade tomasse conta e os trabalhadores se sentissem gratos por qualquer salário de fome em troca de ser explorado diariamente. Hoje não é mais.

Em época de crise internacional as vendas de carros de luxo, helicópteros e outros artigos cobiçados (vai abrir a primeira loja da Chanel por aqui!) não param de crescer. É pedir muito que o trabalhador possa desfrutar de mais horas de sono, que possa descansar e ter uma vida própria?! NÃO É.

“Mas as empresas não podem perder produção, mimimi” Que façam turnos, isso ajudaria inclusive a diminuir o desemprego. Eu e você, que trabalhamos em escritório e lemos o Desfavor diariamente sabemos que não se gastam as 8 (ou 9) horas de trabalho trabalhando ininterruptamente. Foi mal chefe, é verdade. Nós ficamos enrolando no café, banheiro ou xerox, ficamos de conversinha fiada com as pessoas em volta, lendo emails engraçados (ou sem graça) inúteis, saímos para comprar alguma bobagem no mercadinho da esquina, ficamos lendo tirinha na internet e os que tem acesso ficam até no youtube. Isso sim é um absurdo, desvirtuar o horário de trabalho porque este é o único horário que temos. “Isso é muito errado mocinha! Você tem o dever de fazer o que é paga pra fazer” Perdão, não serei uma bitolada que vive pra trabalhar. Preciso acompanhar o que acontece no mundo, preciso parar e pensar de forma crítica, preciso fazer algo além do modo automático, e olha só… não tenho tempo depois do expediente.

Falo por pelo menos 70% das pessoas quando digo que em 6 horas daria pra fazer todo o trabalho e ainda ler notícias e um ou outro blog, se você é parte dos outros 30% sinta-se escravizado e indignado. Obrigar a pessoa a trabalhar (permanecer no ambiente de trabalho) durante 8 (ou 9) horas diárias é uma exploração desnecessária. O empresário ainda diminuiria custos como energia elétrica, água e suprimentos de consumo.

“Mimimi não pode parar a empresa às 2 da tarde” Faz turno! O pessoal que não funciona bem acordando absurdamente cedo (oeeee!) ficaria muito feliz em assumir o segundo tempo.

“Em países da Ásia as pessoas trabalham 16 horas por dia e nos da África nem tem onde trabalhar. Você deveria parar de resmungar e ficar muito feliz por ter um emprego” Olha, vou te contar uma novidade que pode revolucionar sua forma de pensar: Aqui é a América! Para de ser Zé Povinho que se contenta em se nivelar por baixo. Nós merecemos mais, nós podemos ter mais.

A economia vai bem, obrigada. Agora só falta o trabalhador.

Para me dizer que é bem nascido e desconhece isso tudo, que jamais vai concordar com essa bobagem que te lembra a baboseira comunista, que essa apatia e canseira em excesso só pode ser lombriga ou que se descobrirem meu nome e cpf eu nunca mais arrumo emprego, deixe um comentário, rá!

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