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Desfavor Explica: RPG!

| Somir | | 29 comentários em Desfavor Explica: RPG!

TROLOLOLOLOLOLOLendo as reclamações das histéricas que acharam o texto de ontem chato, não tive dúvidas… Era a hora deste texto! Let’s roll, bitches!

Uma das minhas maiores preocupações neste texto é vencer os preconceitos que pairam sobre o jogo. Ok, é mesmo uma nerdice, mas quem disse que isso necessariamente significa atividade enfadonha para pessoas escapistas? Há pouco tempo atrás, ficar o dia todo em redes sociais na internet era visto da mesma forma… (SPOILER: Ainda é ridículo, mas não se pentelha mais quem o faz.)

HISTÓRIA

Interpretar papéis é uma constante na história da humanidade. Temos essa capacidade incrível de conseguir nos imaginar no lugar de outros seres em realidades completamente diferentes das nossas. O desenvolvimento do cérebro humano e sua capacidade de abstração passou, e muito, pelo treinamento dessa habilidade pelas expressões artísticas.

Teste de Resistência contra o Sono: Falha crítica.

Tá, tá… O RPG está intimamente ligado ao teatro (além de nerd é viado? putz…) e a ficção em geral. Já existiam relatos de atividades bem parecidas com o RPG na Europa do Século XVI, onde grupos de artistas nômades faziam teatro de improviso para ganhar a vida. Eles tinham personagens e cenários pré-definidos, mas a história e os diálogos se desenvolviam na hora da apresentação.

Ao mesmo tempo que o teatro de improviso se desenvolvia de um lado, os jogos de tabuleiro baseados em dados, cartas e quaisquer outros elementos de aleatoriedade iam se popularizando. Se você já jogou Detetive, War ou até mesmo Monopólio, já participou de formas simplificadas do RPG.

O que faltava era juntar as duas coisas de vez.

E é aí que entram dois dos maiores ídolos nerds da história: Dave Arneson e Gary Gigax. Nos anos 60, os dois se uniram para escrever a primeira edição de Dungeons & Dragons, a marca mais conhecida no mundo dos RPGs até hoje. Eles se basearam na época medieval porque suas referências eram jogos de guerra (neguinho se vestia de cavaleiro medieval e saia brincando de lutinha… a mulherada ia à loucura!) que eles e outros nerds jogavam na época.

Arneson e Gigax achavam que estavam criando mais um joguinho para algumas outras “almas gêmeas” espalhadas pelo país, mas não demorou muito para que se percebesse o TAMANHO da classe nerd espalhada pelo mundo. Dungeons & Dragons se tornou um sucesso muito além do imaginado depois de ser publicado em 1974.

E como isso funcionava?

ELEMENTOS

Funcionava basicamente do mesmo jeito que funciona até hoje: Um cenário, regras, personagens, mestre, jogadores, aleatoriedade e muita merda na cabeça.

Cenário: Não estamos falando apenas do plano de fundo de uma cena, estamos considerando a realidade na qual os jogadores vão ter que “acreditar” enquanto estão jogando. Passado, presente e futuro: Tem cenário para todo tipo de nerd. Dungeons & Dragons ficou famoso trabalhando com uma época medieval onde magia e monstros dividem espaço com os humanos (A Elfa vai ver sua beleza interior…) Já Vampiros (outro RPG famoso) resolveu colocar suas personagens na época atual, mas com 100% mais viadagens góticas (pleonasmo!).

Regras: Nem todo mundo sabe brincar. Se deixar uma pessoa como a Sally, por exemplo, jogar um jogo desses sem nenhuma regra, ela vai dizer que explodiu o mundo com uma bomba atômica na primeira chance e ir fazer outra coisa da vida. As regras são o que efetivamente transforma o RPG num jogo. Para simular a realidade naquele cenário, precisa-se saber quando algo funcionou ou não. Alguns RPGs preferem regras simples demais (“role um dado para saber se seu anão tetraplégico venceu a corrida contra Usain Boltomir”), outros gostam mesmo é de complicar (“role dezesseis dados para saber a consistência do que você acabou de cagar”).

Personagens: Povoando o cenário, várias categorias de seres que deveriam se adaptar a virtualmente qualquer gosto dos jogadores. Claro que por ser um jogo de forte apelo nerd, só nessa podemos ter várias subcategorias de personagens possíveis. Variando por raça (Orcs são mais fortes e menos inteligentes? Racistas!), sexo (Mulheres diferentes de homens de alguma forma? Machistas!), profissão (Talentos iguais para todos os que trabalham numa mesma profissão? Comunistas!) e por aí vai… E sim, homem que joga interpretando mulher costuma ser viado.

Mestre: O mestre de uma sessão de RPG é quem define o resultado de tudo o que não se baseia em aleatoriedade. Também chamado de narrador, porque é efetivamente quem tem o papel de fazer a história avançar, o mestre quase sempre cria a “aventura” em questão (afinal, seria meio chato se todo mundo soubesse o que vai acontecer antes de jogar…). Não é tarefa para qualquer um, pode ser bem chato para quem não tem tara por controle e manipulação (Oi!).

Jogadores: O jogo pode variar completamente de acordo com a personalidade e “nerdice” dos jogadores envolvidos. Enquanto jogadores mais sérios (losers) rendem histórias mais profundas, rivalizando com bons livros de ficção, são mesmo os palhaços e os malucos que tornam o jogo em si divertido. Apelando para o público mais “normal”: Você vai querer se enforcar de tédio e frustração se jogar com um grupo de pessoas que tratam RPG como uma coisa séria, mas vai entender a graça do jogo se “perder o cabaço nerd” com um grupo de pessoas bem humoradas e criativas. Eu sei porque já joguei com grupos dos dois extremos e achei os sérios um enorme pé-no-saco. E olha que de normal eu não tenho quase nada…

Aleatoriedade: Tem dado em casa? A maioria dos RPGs são baseados nos resultados dos dados. Mas não se preocupe, a quantidade de contas não exige matemática avançada… A não ser que você tenha dificuldades em definir se seis é maior que cinco, os dados vão ser apenas um elemento de suspense (e risadas, se der tudo errado) na jogatina. Na prática você narra o que pretende fazer dada a situação e os dados te dizem se isso funcionou ou não. Os sistemas costumam ser baseados em escalas: Digamos que você quer que seu elfo drogado jogue um garfo no inimigo. Um acerto perfeito faria você acertar o garfo na jugular dele, matando-o na hora. Um acerto comum pegaria em qualquer parte desprotegida dele, ao critério do mestre. Um erro comum te faria jogar o garfo longe. Um erro crítico te deixaria preso dentro de um elevador ameaçando se matar… É tudo criado na hora, de acordo com os resultados das jogadas e a imaginação de mestre e jogadores.

Merda na cabeça: E aqui, o principal… Se você vai jogar RPG para fazer pose de fodão, está OBVIAMENTE no lugar errado. São as idéias cretinas e a imaginação doentia que fazem uma história ser única. E é um trabalho conjunto: Se o mestre não viaja na maionese, o jogo fica previsível e repetitivo. Se os jogadores não perderem a linha, o mesmo. Nada como um maluco cismando que vai xingar aquele Ogro de três metros de altura para adicionar um pouco de surpresa no jogo. E por incrível que pareça, ninguém ganha o jogo. O jogador que está preocupado com isso não vai entender lhufas e ainda vai atrapalhar os outros. O único objetivo é se divertir. (RPG bêbado é quase tão bom quanto Poker bêbado…)

TIPOS

Existem variações nos sistemas, mas a base de um RPG é que você toma decisões não-aleatórias para resolver situações aleatórias. (Foi mal, Dawkins…)

Atualmente, temos três grandes grupos de modalidades de RPG:

Mesa: É o mais famoso no imaginário popular. Um grupo de pessoas se reúne numa mesa, munido de livros, papéis, dados e foras dados por mulheres que convidaram para sair no dia.

Exemplo de sessão:

Mestre: Vocês encontraram um dragão.

Jogador: Dentro do esgoto?

Mestre: Anh… Um dragão do esgoto.

Jogador: Tem certeza que não é um rato?

Mestre: O Dragão do Esgoto acabou de te contaminar com Leptospirose!

LARP: Sigla para Live Action Role Playing, a versão mais hardcore (e por hardcore eu quero dizer nerd) do RPG. Quem joga assim veste o personagem… literalmente. Ao invés de narrar suas ações, eles realmente as executam.

Exemplo de sessão:

Jogador: Ah é? Basta eu dar um salto mortal e eu salvo a donzela!

*outros jogadores se entreolham*

Jogador: Minha armadura é muito pesada e… eu só… vou… andar até ali.

Virtual: Desde os japoneses (onde todos os homens parecem mulheres e todas as mulheres parecem crianças) até os ocidentais (onde todos os homens são musculosos e todas as mulheres peitudas), temos um mercado de games de RPG que só aumenta a cada ano. Na média são baseados em extenuantes tarefas repetitivas que geram resultados minúsculos. Crack virtual. (Farmville = RPG)

Exemplo de sessão:

*click* *click* *click* *click* *click*
*subindo de nível*
*click* *click* *click* *click* *click*
*subindo de nível*
*click* *click* *click* *click* *click*
*virando o Rafael Pilha*

ELISTISMO

É compreensível que tanta gente ache que jogar RPG é algo chato e relegado apenas aos seres ignorados pela sociedade em geral, afinal, acham chato qualquer coisa que exija algo a mais do que “estar ali” para apreciar. Ir para uma balada e encher a cara é sinônimo de status. Jogar um jogo que exige cultura, criatividade e bom humor é coisa de otário.

Eu tenho uma regra, personalíssima: Se dada atividade pode ser feita DA MESMA FORMA por um chimpanzé treinado, não é motivo de orgulho. Mas ei… eu sou eu. Nerd.

Jogadores de RPG podem ser completos babacas sem vida, jogadores de RPG podem ser pessoas divertidas e bem humoradas. A ironia é que as pessoas que tem preconceito com RPG são justamente aquelas que definem uma pessoa por causa de um joguinho…

Para apontar e rir, para dizer que eu consegui ser mais preconceituoso do que quem não gosta, ou mesmo para dizer que achou o assunto chato e uh-uh-ah-ah-AAAHHH!: somir@desfavor.com


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