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Flertando com o desastre: Você não precisa de religião.

| Sally | | 32 comentários em Flertando com o desastre: Você não precisa de religião.

Really...Por anos e anos os religiosos tentaram me catequizar, me provar que o seu Deus era a única resposta, o único e verdadeiro. Aturei muita merda calada. Hoje dou a volta por cima e venho eu catequizar vocês, religiosos: LARGUEM SUAS RELIGIÕES. Isso não leva a nada. Você pode até pensar que precisa disso, mas você não precisa disso. Você pode conversar com Deus sem qualquer classificação religiosa, ritual, rezas prontas ou regrinhas e restrições.

O que é Deus para você? Muitas pessoas confundem a crença no paranormal ou em fenômenos que não sabemos explicar como explicação ou justificativa para crença religiosa. Quando me perguntam se acredito em Deus, responde que não ouso duvidar da existência de forças, energias, fenômenos ou eventos para os quais não temos explicação (e pode ser que um dia tenhamos), minha recusa é justamente em divinizá-los por não possuir explicação para eles. Costumo fazer uma analogia sobre meus pensamentos religiosos com a Lindamar: não sei quem é, o que é, onde está e a que veio, mas me faz bem, me diverte e me acrescenta, então, não preciso de maiores explicações, simplesmente continuo interagindo e aproveitando ao máximo sua presença.

Mas no geral, os seres humanos tem uma necessidade doentia de buscar explicações para tudo, não conseguem manter a mente em aberto. Daí surgem religiões bizarras, criadas com o único propósito de fornecer alguma explicação a qual a pessoa possa se apegar. E é justamente contra esta “explicação a qualquer preço” que eu me volto. Custa muito ter a sua fezinha silenciosa, seguindo aqueles rituais que te façam sentir bem, sem ter que amarrar tudo em um nó cego de dogmas, regras e verdades absolutas? Acredito que quando se fala com Deus e se busca força através dele estamos na verdade falando com nós mesmos e essa “força” que vem da fé vem de dentro de nós mesmos. Tenha fé em você, isso basta.

Mas o ser humano costuma preferir ter fé em algo desconhecido do que nele mesmo. Prefere atribuir força e sucesso a terceiros. Isso é que eu chamo de baixa estima! Em vez de aceitar o desconhecido como aquilo que na verdade é – algo desconhecido, é preciso apelar para explicá-lo. É assim desde que o mundo é mundo: Divinizar o que não se pode explicar é um hábito bem antigo da raça humana. Desde os tempos das cavernas nossos ancestrais praticam esta tática de auto-conforto: um raio cai em uma árvore e a árvore pega fogo. O homem das cavernas não entende como aquilo acontece. O homem das cavernas não pode ficar sem explicação, então, o homem das cavernas diviniza o fenômeno e o atribui a Deus. Nada fica sem resposta, o que não encontra explicação lógica ou racional, é imediatamente classificado como obra do divino, aplacando a angústia humana em ter que lidar com um vazio no lugar da resposta. Pronto, explicou-se o inexplicável, afinal, Zodraz é imortal e invisível.

Passaram-se os séculos e pouca coisa mudou. Algo que a ciência ou a lógica não explicam imediatamente ganha a roupagem de “milagre” ou qualquer termo semelhante. Pode ser um doente grave que se cura sem que os médicos entendam o porque, pode ser uma santa de gesso que chora ou qualquer outro fenômeno sem explicação. Sim, provavelmente com a evolução do pensamento científico e da tecnologia, um dia, este mesmo fenômeno terá uma explicação racional, da mesma forma que aprendemos que raios não são obras de Deus. Mas… o ponto central do texto é: supondo que nunca tenhamos esta explicação racional… isso nos dá o direito de, por exclusão, afirmar que se trata de obra de Deus? Porque merda precisamos disso?

Porque não conseguimos viver com estas lacunas, com a cabeça aberta, sem essa tara por buscar uma explicação? Existem coisas que simplesmente não se podem controlar, que não obedecem regras nem lógica. Mas o ser humano teima em achar que tudo tem um porque, que ele é muito especial e que cada folha que cai de uma árvore tem uma razão de ser. Daí surge um segundo problema: A vaidade humana faz doer demais a idéia de que ao morrer tudo termina. Como pode você perder para sempre aquele ente querido? Como pode VOCÊ, esta maravilha do mundo, se esvair com a morte? Você é maravilhoso demais para acabar assim, TEM QUE TER alguma coisa depois! Aceitar que a morte é um ponto final é aceitar que somos um grão de areia, um cocozinho insgnificante no universo – e somos, mas dói ser um cocozinho insignificante, afinal, a gente se acha tão especial! Já pensou se todo mundo acreditar que morreu e acabou? Que tem que viver tudo agora, porque depois não tem segunda chance? Fodeu. Precisamos consertar isso, porque se as pessoas acreditarem que a vida é aqui e agora e esta é a primeira e última chance, não serão mais tão subservientes e tão passivas.

Para organizar a explicação do inexplicável e trazer um pouco de conforto a esta raça insegura que é o ser humano e garantir um pouco mais de paz social com uma recompensa futura, organizaram o inexplicável em diversas religiões, com regras próprias e com público alvo determinado. Quase que uma jogada de marketing. O objetivo de todas é o mesmo: preencher o vazio, porque o ser humano não sabe lidar bem com lacunas e abstração e dar uma segurada no gênio filho da puta que temos, atribuindo alguma recompensa futura caso nos portemos de modo a não destruir uns aos outros. E tudo saiu do controle, no mesmo esquema daquele mito onde comer manga e beber leite fazia mal à saúde, criado para impedir que os escravos tomem leite, que por anos e anos de repetição acabou virando verdade e em pouco tempo todos estavam acreditando nele, inclusive seus criadores. Assim estamos, rendidos a um mecanismo de defesa e contenção social que saiu do controle de seus criadores.

O pior é que foram espertos. Sacaram que a carência e o medo é da natureza humana e criaram religiões para agradar a todos os públicos. É impressionante como o perfil de cada indivíduo influencia na sua fé e na escolha da sua religião. Pessoas mais agitadas, mais carnais, mas práticas, tendem a ser adeptas de religiões mais ativas, com cânticos, festas e menos formalidade. Pessoas mais reprimidas, introvertidas e introspectivas tendem a adotar religiões de rituais solitários. Pessoas mais polêmicas tendem a adotar religiões mais radicais. Mesmo que o indivíduo tenha sido nascido e criado em uma determinada religião, ele fatalmente acaba migrando para outra com a qual tenha mais afinidade. Quem nunca viu um católico do cu riscado que acaba indo parar no candomblé? Ou um macumbeiro mais introspectivo virando espírita kardecista?

Religiões e seus rituais são produtos vendidos nas mais diversas roupagens que se adequam ao perfil de seus consumidores. Fornecem um mínimo de paz de espírito aos adeptos, suporte emocional para passar por momentos difíceis e a esperança de uma vida melhor, ainda que por mágica, ainda que na outra vida. Por isso pessoas se filiam a religiões sem cumprir seus ditames (alguém já viu um católico que não faça sexo antes do casamento, que não faça sexo sem camisinha ou que não use anticoncepcionais?). As pessoas querem é este conforto imediato, esta muleta emocional. Muitas vezes nem sequer conhecem direito a religião da qual se dizem praticantes. Mal nasce a criança já tão dando na mão do padre para batizar, quem se importa se não concordam e não seguem na prática os ditames daquela religião? Tem que batizar, afinal, é status. Afinal, vai que existe mesmo o tal do inferno? Vai que você tem que peitar a sociedade e dizer “Olha, não batizei meu filho porque não concordo com os anos e anos de mortes e torturas da Igreja Católica nem com seus atuais dogmas: eu uso camisinha, eu uso métodos contraceptivos e eu faço sexo antes do casamento, e você?”. Não pode. O bacana é fazer na hipocrisia, sem peitar ninguém, porque poucos neste mundo nascem com culhões. A maior parte prefere andar com a maioria, sem ser alvo de críticas nem ir de encontro com o consenso geral. É mais fácil assim.

Uma frase que Somir e eu sempre gostamos de repetir é: DEUS É UM AMIGO IMAGINÁRIO PARA ADULTOS. Da mesma forma como crianças criam seus amigos imaginários de acordo com suas fantasias (pode ser um cowboy, um astronauta etc), o ser humano cria uma figura com a qual conversa quando está na merda, com base nas suas fantasias: Deus pode ser um ente disciplinador rigoroso, uma espécie de pai, um amigo, um irmão ou qualquer outro papel que se deseje imputar, basta averiguar onde está o vazio emocional na cabeça de quem o chama. O que não quer dizer que, por ser imaginário, não traga um conforto real. Pode sim trazer benefícios. Se ficasse só nesse papino reto você-Deus, Deus-você, eu entenderia. O problema é que estes benefícios acabam esmagados pela religião e por tudo que ela implica.

Supondo que exista uma força, uma energia, um “algo não explicado” similar ao que se denomina como Deus (e vejam bem, eu cogito sua existência, mas não nos termos que a religião tenta vender), Ele deve estar muito envergonhado com as regras bobas que as religiões impõe aos tolos seres humanos. E não falo só do catolicismo não! As mais inofensivas religiões tem restrições, até mesmo os pacatos Hare Krishnas estão proibidos de comer chocolate e tomar café eventualmente. Não me entra na cabeça que um eventual “Deus” concorde com isso. Muito pelo contrário. Minha teoria e que ele está batendo com a mão na própria testa e pensando “Minhas criaturinhas… tão burrinhas! Como podem engolir tanta babaquice em Meu nome!”. Prestem atenção nos sinais! Vira e mexe desaba o teto de uma igreja… Vira e mexe uma massa religiosa se fode. Isso nos inspirou a criar uma nova coluna do Desfavor, para imortalizar a semana 666, uma coluna chamada ONDE ESTÁ O SEU DEUS? Aguardem, em breve.

Será que o ser humano tem medo dele mesmo e por isso precisa se inserir voluntariamente em religiões que o obriguem a se auto-controlar? Precisa se enganar com a promessa de um futuro melhor para seguir regras éticas e morais que não teria caráter para seguir se soubesse que não existe qualquer recompensa para isso, que seria mais do que sua obrigação? Você seria bom, ético e correto se tivesse a certeza que com a morte tudo acaba? Porque só assim tem valor…

Para aqueles que acham que religião é questão de fé, eu faço uma pergunta: PORQUE escolhemos ter fé em determinadas religiões e em outras não? Já parou para pensar que essa religião que você segue só te desperta essa empatia toda por causa de alguma carência sua, algum medo mal resolvido, algum temor com o qual você não sabe lidar sozinho? Porque não ter a sua fé silenciosa naquilo que você chama de Deus, sem necessidade da presepada institucionalizada, da baixaria que é a religião?

Igrejas são publicitários que em vez de vender produtos com valor econômico, vendem (ou trocam) sentimentos. E tem para todos os tipos de consumidor: aquela pessoa que curte uma culpa e uma repressão tem um prato cheio no catolicismo, por exemplo. É religião que não acaba mais, atendendo aos mais diversos grupos de seres humanos. O sentimento que eles vendem é verdadeiro, porque a pessoa de fato se beneficia e acaba obtendo um conforto, mas… A QUE PREÇO? Acreditem, é possível obter o mesmo conforto pelo caminho difícil, você com você mesmo, sem ter que seguir regras e ditames. Se bastar é mérito e não defeito, e sim, é possível ainda que tentem te convencer de que não é.

Quero frisar novamente aqui (porque sempre tem quem não entenda) que não estou negando a possibilidade da existência de um “Deus”, o que nego e acredito não ter a menor possibilidade é a existência de um “Deus” nos modelos expostos por qualquer uma das religiões que existem. São homens capitalizando em cima da divindade ou do poder alheio. Ninguém fala em nome de Deus, ninguém tem autoridade para te dizer os rituais que Deus quer e muito menos te cobrar ou te perdoar. Não divinizemos outro ser humano, que por mais que se ache grandesbosta, é nada mais do que isso, outro ser humano.

Respeito quem acredita em Deus. Dependendo do conceito, até eu mesma posso acreditar. O que eu não respeito são pessoas que atribuem a meia dúzia de Zé Ruelas poderes para falar por Ele e se prestam a praticar rituais que em nada lhes conferem bem estar e se privam de uma série de prazeres na vida porque acham que Deus quer assim. Prefiro o clichê de “olhe para dentro de você, reflita, fale com Deus e ouça o que ele quer” do que ter que ouvir um Zé Buceta que se acha o escolhido, o emissário, te dando lição sobre o que Deus gosta e o que Deus não gosta. (se um dia Ele passar por aqui, certeza que vai pisotear todas as igrejas, numa vibe meio Godzila, ele deve estar putão com isso que andam fazendo).

Por mais que a religião traga algum conforto, não podemos esquecer do quanto ela limita e empobrece as pessoas. É possível ficar apenas com o lado bom, ter fé e buscar forças, sem pegar o lado podre, a religião. O conceito de religião está ultrapassado, a vida moderna não comporta mais essas presepadas. Uma pessoa verdadeiramente livre não precisa de uma força superior para sentir bem estar e superar adversidades, ela encontra esta força dentro dela (se quiser chamar de Deus, ok, mas sempre esteve e sempre estará lá, dentro de você, sem necessidade de religião), sem precisar rezar palavras determinadas, seguir dogmas ou rituais babacas. Você pode encontrar o bem estar que supostamente só de acharia em uma religião dentro você mesmo e ter o prazer de só prestar contas a você mesmo e viver a sua vida da forma como melhor lhe aprouver. E a melhor parte é: Deus não vai ficar puto com você, Deus vai ficar orgulhoso.

Atentem para o fato de que eu não estou pedindo para que não acreditem em Deus. Só estou pedindo para cortar os intermediários. Seu padre, pastor, xamã, pai de santo ou quem quer que seja NÃO tem autoridade para falar por Ele. Você pode falar diretamente com Ele, você não precisa dessa gente, desses rituais, desses templos. Não terceirize sua fé. Sua fé por si basta, você não precisa de velas, rezas, missas, dízimo ou qualquer outro ritual.

Lembra quando você aprendeu a andar de bicicleta com aquelas rodinhas laterais ajudando? Lembra quando alguém lhe disse que era hora de tirar as rodinhas e andar sem elas? Dá um cagasso. Você sabe que pode e que provavelmente vai cair. Mas também dá todo um orgulho quando você tira e fica no seleto grupo daqueles que sabem andar de bicicleta sem rodinhas (no meio de crianças, é um grupo seleto). Tire suas rodinhas e jogue fora rituais religiosos, encontre esta paz dentro de você. Dá orgulho, eu prometo.

Para dizer que agora eu me igualei a aquelas malas que querem catequizar os outros, para dizer que mal pode esperar pelo primeiro ONDE ESTÁ O SEU DEUS ou ainda para dizer que o texto faz sentido mas enfiaram tanto essa merda de religião na sua cabeça que agora você não consegue se livrar dela: sally@desfavor.com


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