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Flertando com o desastre: All we need is hate…

| Somir | | 21 comentários em Flertando com o desastre: All we need is hate…

FFFFFUUUUUUUUUUUUU-Acabo de ler que Omega, mais conhecido como o chimpanzé fumante do Líbano, vai ser transferido aqui para o Brasil para ter melhores condições de vida. Além de demonstrar que o Líbano REALMENTE está na merda, a notícia ainda me fez pensar numa questão intrigante:

Se Omega não fosse fumante, a comoção seria tão grande? Tudo bem que o bicho vivia numa cela apertada, era sedentário e foi batizado com um nome horrível (qualquer macho preferiria ser Alfa), mas foram as imagens dele fumando que arrepiaram os ecochatos pelo mundo. Não era mais um caso de pobres maltratando animais, era uma afronta!

Omega vem para o Brasil para ter mais espaço, algumas árvores para trepar (se bem que cigarro causa impotência; eu nunca compro desses, mas duvido que o chimpanzé pode se dar ao luxo de escolher…) e principalmente um ambiente onde será forçado a largar o vício! Como colega fumante, posso garantir que a abstinência será uma forma de tortura ainda pior do que as condições de vida que levava no Líbano…

Se os “tratadores” libaneses dessem doces para o macaco, seriam taxados de irresponsáveis. Como deram cigarros, viraram MONSTROS! Não podemos esquecer também de outro caso, o daquele moleque feio pra diabo que fumava feito uma chaminé que fez sucesso na mídia recentemente. O mundo também se indignou com as pessoas HORRÍVEIS que permitiram o vício do pequeno tabagista.

Muito se engana quem pensa que esse texto é sobre o direito à doce nicotina de Omega ou do pirralho feioso. Comecei a pensar na proporção que a fúria popular toma atualmente com qualquer assunto relacionado aos cigarros… E tem algo aí que não encaixa. Parece muito fogo para pouca fumaça.

Sei na pele o que é a indignação exagerada dos chatos anti-cigarro. Basta acender um perto deles que suas expressões se alteram: Parece que levaram uma trolha de trinta centímetros no rabo… Eu consigo notar o prazer quase sexual que antecede a famosa frase “Vai fumar aquiiiii?”.

Normalmente eu respondo baforando a fumaça na cara da pessoa. Sou civilizado e não fumo em locais onde não é permitido. Tenho a segurança que estou irritando uma pessoa chata, e isso me diverte muito. Mas boa parte dos outros companheiros e companheiras de vício não tem essa tara pela provocação e acabam passando por situações mais desagradáveis.

E vejam bem, não é nem questão de apontar uma perseguição. Estão me julgando por algo que eu escolhi fazer e que REALMENTE é uma babaquice. E para ser honesto, fumaça de cigarro pra mim é que nem peido. Só a minha é encarável… Até que entendo a confrontação. O que sempre me deixa confuso é a intensidade desmedida. O tabagismo alheio deve ser algo terrível para elas…

Só que… não é. Aposto que as pessoas que ficam pentelhando a fumaça alheia não passam suas horas livres em casa alimentando o ódio anti-tabagista em suas mentes. Não é como se elas realmente tivessem em si toda essa indignação.

Mas na hora de abrir o bico em público, o sangue ferve e o cidadão (ou cidadã) que costuma ser educado com todo mundo acha natural ser extremamente deselegante (eufemismo para cretino) com alguém baseado apenas no fato de que essa pessoa fuma.

E da onde vem toda essa passionalidade? Ah, agora sim chegamos no ponto deste texto: Os chatos anti-cigarro agem de forma raivosa porque tem a liberação social para odiar! Num mundo tão engessado com regras de conduta social hipocritamente aceitáveis, sobra pouco espaço para uma necessidade BÁSICA do ser humano: Extravasar sua fúria diária.

É triste que tenhamos chegado ao ponto de poder odiar apenas o que nos permitem odiar, mas é o nosso ponto atual. Uma pessoa saudável como eu (excluindo os pulmões) queima boa parte do stress diário sendo ranzinza e reclamando das outras pessoas. Não vou negar que fecha algumas (muitas) portas, mas tudo o que mantiver minha gastrite como gastrite ao invés de úlcera é bem vindo.

O cidadão que se esforça para ser aceito pela maioria acaba engolindo muitos sapos. A vida irrita. Boa parte das pessoas ao seu redor fazem coisas que te deixam fulo, mas para manter todos os discursinhos politicamente corretos em dia, é necessária uma dose cavalar de silêncio forçado. Você odeia alguém ou algum grupo definido pelas escolhas que fazem, mas não pode externar por uma série de convenções sociais sobre que grupos devem permanecer intocados pelas críticas.

E pode ter certeza que muita gente acaba se protegendo de críticas por suas escolhas atrás de um escudo de características pessoais que não escolheram. (Para bom entendedor, uma frase complexa basta.)

A pessoa fica com toda aquela raiva acumulada, presa atrás de uma máscara de docilidade (falsa pra caralho), consumindo-a por dentro. Ela só precisa de UMA oportunidade.

*acendendo um cigarro*

“VAI FUMAR AQUIIII? SE VOCÊ É IMBECIL DE QUERER SE MATAR, EU NÃO SOU! TÍPICO DE FUMANTE NÃO SE IMPORTAR COM MAIS NINGUÉM, VOCÊ SABIA QUE A FUMAÇA DO SEU CIGARRO PODE CAUSAR DOENÇAS NOS OUTROS? TOMARA QUE VOCÊ TENHA UM CÂNCER DO TAMANHO DE UMA JACA!”

Imagino que a pessoa deve ficar muito mais leve depois de soltar uma dessas. Melhor que me deseje um câncer que saia atirando por aí, mas… Temos um problema nessa história: A fúria está muito mal direcionada. O fumante médio está cagando e andando para esses papinhos. Não vai fazer ninguém parar e o chiliquento sabe disso.

Enquanto isso, as outras pessoas que ajudaram a montar essa raiva saem impunes. Imagine só se o playboyzinho babaca SEMPRE fosse perseguido e ameaçado quando desse uma fechada no trânsito? Imagine só se aquela vadia burra do trabalho fosse confrontada sobre seu plano de carreira no sofá? Imagine só se aquela merda de igreja evangélica da esquina fosse processada por excesso de barulho? Imagine só se mais mulheres ouvissem a verdade sobre sua carência sufocante? Imagine só se mais homens soubessem que o clitóris não é decoração?

Imagine!

Um pouco mais de honestidade agressiva faria bem para todos nós. Enquanto tivermos poucas pessoas dispostas a falar umas verdades na cara umas das outras, vamos ter poucas chances de evolução pessoal. Só que ainda ficamos esperando oportunidades para atacar alvos “permitidos”.

É aquela porcaria de mentalidade do sacrifício. Alguém tem que sofrer pelos pecados alheios. E quanto mais gente concordar com a descrição da bruxa da vez, melhor. A válvula de escape fica mais fácil de ser utilizada.

Evidente que os fumantes são apenas um exemplo light. Pode se perceber o mesmo tipo de raiva mal direcionada em várias outras situações onde o prazer de apontar o dedo e criticar é tão grande que passa por cima de qualquer medida de merecimento. A fúria acumulada por uma vida NORMAL, sufocada, vai toda em direção ao que se permite ser odiado. Histeria punitiva (sabe aquele povo que quer linchar qualquer ladrão de galinha?) se constrói assim. A pessoa mal sabe porque está batendo no bandido, mas se disseram que é bandido, tá valendo!

E esse tipo de concentração de desaprovação é usado indiscriminadamente como “viseira” para o povão, que não vai enxergar nada além do que é conveniente para que está o guiando. Definir vilões específicos para os problemas gerais de uma população funciona que é uma beleza para conquistar e manter o poder.

Escuto muito esse papinho de que precisamos ser mais tolerantes e bondosos para resolver os nossos problemas. Embora exista uma verdade aí, ela é usada para contar uma mentira: O que se quer é que sejamos tolerantes e bondosos com os grupos que representam o poder, mas sejamos absolutamente cruéis com quem é pintado como alvo.

Se todos nós ficarmos mais azedos e reagirmos mais rápido ao que nos ofende, essa armadilha de controle cai por terra. É só prestar atenção ao que se torna cada vez mais popular: Todo mundo é humilde e politicamente correto. Demonstrações saudáveis de revolta e indignação acabam taxadas como algo negativo.

Negativo mesmo é levar um milhão de trolhas quietinho e resolver se indignar por tudo quando um Zé Ruela qualquer acende um cigarro.

Se a sua raiva está condicionada à aceitação popular, você vai continuar sendo uma confortável e maleável estatística. O mundo precisa de mais ódio honesto e bem direcionado.

O pior é que eu aposto que vai aparecer alguém nos comentários fazendo pregação anti-tabagismo. Não vai deixar de ser uma confirmação…

Para dizer que faz sua parte odiando a humanidade como um todo, para reclamar e me deixar orgulhoso, ou mesmo para dizer que este sim foi um texto pentelho: somir@desfavor.com


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