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Ele disse, ela disse: Obrigação festiva.

| Desfavor | | 23 comentários em Ele disse, ela disse: Obrigação festiva.

Toma aqui!Na grande maioria dos ambientes de trabalho existem pequenos rituais que envolvem os colegas de profissão. E não estamos falando de reclamar pelas costas… Amigo oculto, chá-de-bebê e outros menos cotados são formas de socialização onerosa que nem sempre respeitam a vontade de participação dos convidados.

Afinal, é questão de educação participar… certo? Sally e Somir discordam.

Tema de hoje: E falta de educação não participar desses eventos no trabalho?

SOMIR

Não. Falta de educação é chantagear outras pessoas. O clima criado ao redor dessas situações no trabalho é explorado por quem quer vantagens financeiras ou mesmo aplacar sua insegurança.

Eu acho a maioria desses pequenos rituais sociais um verdadeiro pé-no-saco. Nasci sem o chip da atuação social. No final das contas, situações assim nada mais são do que a representação de seu papel num script escrito muito antes de você nascer. Poderia ser você ou qualquer outra pessoa.

E eu nem fico ofendido com não ser tão especial assim naquela situação, mas considerando que eu com certeza acharia coisas melhores para fazer (como observar a grama crescer), é uma sacanagem que eu tenha que dispor do meu tempo e do meu dinheiro para agradar pessoas que não estão nem aí para me agradar (afinal, me chamaram para uma situação assim…).

“Mas Somir, todo mundo faz essas coisas, não adianta reclamar e esperar que entendam…”

Verdade, eu não quero convencer as outras pessoas que socialização forçada é a fonte de grande parte dos problemas da humanidade, mas não podemos abrir as pernas para qualquer opinião da maioria. Tem coisas que estão erradas…

E eu nem estou dizendo que um amigo secreto ou um chá-de-bebê são coisas erradas, se tudo ocorrer entre amigos MESMO, pode ser um momento bem divertido. O que me incomoda é esse povo que se ofende profundamente se você não finge que quer ser amigo deles. O mesmo que te taxa de escroto anti-social assim que ouve um “não” para seus programas de índio…

Temos (como sociedade) essa mania HORRÍVEL de tratar educação básica como medida de quanto gostamos ou não de uma pessoa. Neguinho só se sente obrigado a fazer sua OBRIGAÇÃO de ser civilizado com quem puxa seu saco e diz que sua merda é cheirosa.

Facilita a vida fingir que gosta dos outros, mas eu sou conhecido por não gostar de facilitar. Educação e convivência civilizada dependem de como você escolhe viver essa vida, e não como recompensas para quem diz que gosta de você ou do que você faz.

Eu não sou amigo de todo mundo, nem quero ser. O que não quer dizer que eu odeio todo mundo que não me interessa manter por perto. Sejamos honestos: Tem gente que por mais que pareça “boa gente”, não tem em si características que te animem a manter uma amizade. Fica como colega, conhecido, contato… Uma pessoa segura de si sabe que é natural não ser agradável para qualquer um.

Mas é dose encontrar uma pessoa segura. O de praxe é encarar gente mala que se ofende profundamente se você disser que não quer ir no churrasco com pagode em sua casa no final-de-semana. Tem que fingir que gosta das mesmas coisas que ela para não virar inimigo? Eu hein… eu quero é distância desse povo.

Foda-se que a maioria ache falta de educação não participar desses eventos, eu sei que é uma bobagem e que eles é que estão fazendo a coisa errada se me culparem por isso.

Em Roma, não se precisa fazer como os romanos. Imagine-se numa sociedade onde as pessoas só tomam banho uma vez por mês… Vai ficar fedido e correr o risco de doenças só para ficar de bem com o povinho porco? O papel da pessoa que conhece o jeito mais evoluído de fazer as coisas é não ceder.

Novamente, não é o hábito de trocar presentes baratos ou pedir doações para seus bebês (e EU com isso?) que me incomoda, é a obrigaçãozinha social mala de aceitar qualquer encheção de saco em troca da bondade alheia.

Tratar de forma justa uma pessoa não é um “mimo”, é obrigação. Nem me venham com essa história de que EU estou sendo mal educado. Eu posso estar sendo anti-social, mas a distância entre os dois pontos é maior do que se imagina. O anti-social pelo menos tem a decência de não te obrigar a conviver com ele.

Mas é claro, é impossível dizer para as pessoas que sua suposta educação e bom senso social nada mais são do que um joguinho sem vergonha para ver quem ganha mais tapinhas nas costas.

Educação? Esse povo quer é confete!

Que comprem o próprio.

Para me dizer que eu só estou com inveja porque nunca sou convidado, para reclamar que extorque emocionalmente as outras pessoas porque é uma pessoa de luz, ou mesmo para me desejar boa sorte na minha vida amarga e solitária: somir@desfavor.com

SALLY

Pessoas anti-sociais como Somir e eu detestam esta época do ano. Alegria demais, confraternização demais, hipocrisia demais. Quando surgem obrigações sociais em família ou entre amigos, fica mais fácil dizer como nos sentimos, mas quando esta demanda nasce no local de trabalho a coisa se complica. Por mais pau no cu que eu ache essas merdas de amigo oculto, chá de bebê e outras formas socialmente aceitáveis de me extorquir tempo e dinheiro, eu também acho que quando se trata de ambiente de trabalho, é antipático e mal educado não participar.

Tem gente que parece que só faz filho para ganhar fralda. Quando vem aquela listinha escrota para comprar fraldas dá vontade de dizer “Puta que pariu, hein? Vou fazer também um chá de camisinha para ver se você para de fazer filho!”. Mas é falta de educação fazê-lo, e gera mal estar. Palavra de quem já o fez. As consequências e o chororô que se segue não compensam a alegria de ser sincericida.

Existem normas sociais implícitas que devem ser respeitadas pela única razão de que um bando de filhos da puta as seguem por interesses próprios mesquinhos camuflados de boas intenções e te fazem parecer um escroto se você discordar. Aquela pessoa que tem o desplante de defender o quinto chá de bebê de um funcionário dizendo que se sente bem ajudando ao próximo na verdade quer é dar um intervalo de uma horinha no seu trabalho para ir fazer uma farofada de entregar fralda e comer bolo brega e salgadinho gorduroso. Hipócrita. Mas infelizmente existem situações onde ninguém sai ganhando, lose/lose: se você joga a merda da hipocrisia no ventilador, é um mal educado escroto filho da puta, se você se rende e participa do circo é um hipócrita de merda.

Mesmo que você seja anti-social e odeie seus colegas de trabalho com motivos justos, tem que participar daquele amigo oculto pau no cu todo final de ano, caso contrário é mal educado. Vejam bem, eu não tenho nada contra quem não participa e encara de peito aberto a fama de mal educado do caralho (muito pelo contrário, admiro demais). Porém, fica mal visto sim. As coisas são como elas são, e não como eu gostaria que elas fossem.

Por mais que eu odeie tudo isso, e no geral nutra um desprezo saudável pela maior parte dos meus colegas de trabalho, eu admito que é rude não participar de uma merda dessas. Faz parte do pacote de trabalhar em grupo. Da mesma forma que eu acho um cu sujo e mal lavado ter que chegar de manhã morrendo de sono e dar bom dia para as pessoas de cada sala pela qual eu passo (e minha vontade é não dar bom dia para ninguém), eu sei que é mal educado não fazê-lo.

Grosseria ou desfeita em um ambiente que exige uma convivência pacífica entre as pessoas é falta de educação. Criar um climão entre pessoas que tem que se ver oito horas todos os dias obrigatoriamente é sim falta de educação, não só com a pessoa magoada como também com toda a equipe e pode chegar a prejudicar o trabalho do grupo. Todos os dias somos obrigados a fazer uma série de coisas que não gostamos muito ou que não estamos com vontade de fazer em nome de uma convivência pacífica, esta é só mais uma delas.

Magoar um colega de trabalho de forma desnecessária é rude e é falta de educação. O sacrifício de participar de uma merda dessas atividades grupais é relativamente pequeno quando comparado ao mal estar que se cria ao bater de frente e dizer que não quer participar dessa palhaçada. Existem certas recusas que, apenas por serem recusas, magoam. Hipocrisia social é necessária em alguns casos e se ilude quem pensa que pode viver sem ela. Sinceridade tem limite, quando esbarra na educação, a pessoa deixa de ser sincera e passa a ser escrota, babaca e mal educada.

“Mas Sally, as pessoas não deveriam se magoar porque você não quer participar de uma atividade grupal babaca!”. Concordo plenamente, mas repito, as coisas são como elas são e não como eu gostaria que elas fossem. Infelizmente as pessoas no geral são carentes, infantilóides e despreparadas para lidar com rejeição e frustração em qualquer nível, dependendo da aprovação de pessoas que os cercam para se sentirem inteiros e suprem suas carências nos ambientes mais impróprios, como o de trabalho. É assim que as coisas são, certo ou errado, é assim. Então, ciente de que você vai provocar um tremendo mal estar, mágoa e climão, é mal educado se recusar a entrar em uma babaquice que vai demandar muito pouco de você. É o clássico pagar para não se aborrecer.

Querer peitar convenções sociais é desgastante e contraproducente. Devemos escolher as nossas brigas, cada vez mais defendo a idéia de só brigar quando vale muito a pena. E vale a pena brigar e se indispor por causa de um ritualzinho babaca de ambiente de trabalho? Melhor ligar o foda-se e participar trollando e debochando discretamente do que magoar e criar inimizades, o que te faz inevitavelmente um mal educado do caralho.

Não participar de um ritual simples que não demanda muito de você e optar por criar um constrangimento e um mal estar, além de falta de educação é uma escolha burra. Não é bom fazer inimigos, a gente nunca sabe o dia de amanhã. Guardem suas lutas para algo realmente significativo.

Por mais idiota que seja, as pessoas tem o sagrado direito de serem idiotas e ridículas. Pense em algo que é importante para você, realmente importante. Agora pense que este algo pode ser proporcionado com facilidade a você por colegas de trabalho, bastando um pouquinho de boa vontade e meia horinha do seu dia. Agora pense em um colega de trabalho que se recusa a te dar isso que é realmente importante porque acha uma babaquice. Não, a sensação não é boa. Dizer que algo que a outra pessoa gosta é na verdade uma babaquice é extremamente mal educado. A sociedade não está preparada para a sinceridade alheia. Só porque você acha que a mágoa do outro não tem motivo justo vai sair magoando a pessoa? Só respeita aquilo com que você concorda? Não tem como, essas festinhas são merdas necessárias…

Para dizer que prefere que a pessoa não participe do que ela participar de má vontade te chamando de pau no cu pelas suas costas, para dizer que participar de palhaçada tudo bem, mas pagar por ela nem fodendo ou ainda para dizer que a esta altura pouca diferença faz porque todos os seus colegas de trabalho já te acham um escroto mesmo: sally@desfavor.com


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