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Flertando com o desastre: Pequena paz.

| Sally | | 49 comentários em Flertando com o desastre: Pequena paz.

Eu não fui um eeeerrooooo!Se você gosta de crianças, parabéns, você é uma pessoa muito mais espiritualizada e tolerante do que eu e suas chances de ser feliz são muito maiores do que as minhas. Parabéns mesmo, de coração. Eu não gosto de crianças.

Eu te respeito por gostar de crianças, você pode me respeitar por não gostar de crianças? Adoraria que as pessoas pudessem respeitar isso e que a parcela da população (que não é tão pequena) que não gosta de crianças pudesse falar abertamente no assunto, sem ser taxado de pessoa sem caráter, escrota ou satanista.

Vejam bem, crianças me incomodam. Nada contra se você quer ter dez filhos, se acha crianças lindas, criaturas de luz e abençoadas. Eu não tenho nada contra as crianças em si, elas apenas me irritam e me incomodam. Não faço campanha contra quem quer ter filhos nem os acho inferiores por causa disso, só quero distância das crianças. Já disse que elas me incomodam? Elas me incomodam mais do que cães e gatos, por exemplo.

Considerando o incômodo que crianças podem provocar, ainda mais as crianças brasileiras (que, como regra geral, são especialmente mal educadas) e considerando também que não sou só eu, que muitas pessoas se sentem incomodadas com elas, não me parece uma idéia absurda que algumas áreas de lazer sejam divididas em áreas onde se permitam crianças e áreas para uso exclusivo de adultos. Explicarei melhor, mas preciso que você abra sua mente e tire o ódio que está sentindo de mim do seu coração para que possa entender.

Ter filhos implica em renúncias. Provavelmente você, leitora que tem filhos, tem alegrias que eu jamais vou sequer sonhar em ter caso desove um pequeno anticristo buceta afora. Em compensação, da mesma forma que proporciona alegrias, também acarreta em restrições. Infelizmente as pessoas não entendem isso. Pessoas tendem a querer o bônus sem ter que pagar o ônus e acham que podem fazer os mesmos programas de uma pessoa sem filhos com uma criança debaixo do braço.

Por mais que meu pensamento soe egoísta, acredito que acabe por beneficiar as próprias crianças também. Vamos combinar que alguns lugares não são adequados para crianças, até mesmo porque ELAS detestam e se aborrecem. Os pais não querem abrir mão de freqüenta-los e acabam indo com a criança junto. Se estes locais tivessem áreas onde se permitem crianças e áreas onde não se permitem crianças tudo seria mais simples para todos nós.

Restaurantes, por exemplo. Lembro que quando meu pais me levavam a restaurantes, um deles comia enquanto o outro brincava comigo, me dava comida e me mantinha quieta. Quando um deles acabava de comer, trocavam: o outro comia enquanto o que já estava alimentado cuidava de mim, continuava me dando comida, brincava e me mantinha quieta. Se houvesse uma área só para pessoas com crianças eles não precisariam fazer este malabarismo com medo de incomodar as outras pessoas.

Tudo bem que isso não é o que se costuma vez hoje em dia. Crianças levadas a churrascaria rodízio, jogadas na cadeirinha ou no carrinho enquanto os pais comem por horas é uma cena comum. Evidente que essa criança vai se aborrecer e abrir o berreiro. Daí a mãe olha de ladinho e fala “João Vítor, fica quietinho que a mamãe tá comendo…” enquanto a criança continua berrando, tacando coisas no chão e fazendo todo tipo de inconveniência. A realidade atual é essa. A mamãe não para o que está fazendo para calar a boca do seu pimpolho, porque “agora a mamãe não pode, a mamãe ta comendo”. aff

A realidade é essa. O incômodo que crianças geral é enorme e não é injusto ou desproporcional adotar providêcias. Não estou pedindo que proíbam a entrada de crianças em restaurantes, isso não seria democrático. Estou pedindo que reservem uma área separada para quem não quer aturar tudo aquilo que implica uma criança mal educada. “Mas Sally, não seria mais fácil se os pais educassem seus filhos?”. Sabemos que isso não vai acontecer, e não temos como obrigar que pais eduquem seus filhos, mas temos como obrigá-los a levar seus filhos mal educados para longe de nossas mesas.

Além disso, crianças educadas também podem incomodar. Um milhão de desculpas a todos os pais do mundo, mas VOZES de criança são extremamente irritantes. Elas falam alto, de um jeito irritante, falam coisas chatas de um jeito chato. Crianças cantam músicas sacais, idiotas e repetitivas à exaustão e eu vou te dizer que eu estou no humor de ficar ouvindo isso depois de 12h de trabalho. Crianças cutucam, choram, cagam nas calças, tem melecas escorrendo pelo nariz. Em resumo, são tudo que eu quero distância quando estou me alimentando. Você não vai ver muitas pessoas com culhões de verbalizar isso, mas muita gente concorda comigo.

Não vejo prejuízo em criar duas áreas, como se fazia com fumantes e não fumantes: crianças ou não-crianças. Assim todos ficam felizes. Porque crianças são chatas mas são espertinhas, elas sabem, elas sentem quando estão sendo hostilizadas ou rejeitadas. Com esta separação por áreas seus pais poupariam seus pimpolhos de pessoas como eu, que lançam olhares assassinos para crianças que fazem barulho e comentam em voz alta coisas como “Se é para ter filho e não educar, costura logo a buceta dessa vagabunda que está sentada ali deixando o filho gritar com arame farpado”. Já vi pessoas irem além: vão na mesa onde está a criança em questão e dão esporro nos pais e às vezes até na própria criança. Isso não é bom para ninguém.

E cinema? E quando inventam de levar criança de colo em cinema? E quando inventam de levar criança de colo em cinema em filme legendado e ficar lendo as legendas? CUSTA estipular que depois das 22h não pode entrar criança, ao menos em ALGUMAS salas? Custa criar UMA ÚNICA sala que seja onde não pode criança? Não é proibir criança de entrar no cinema, é limitar um pequeno número de salas onde só podem entrar adultos! É uma norma que nem deveria ser necessária se os pais tivessem bom senso! Quando eu vejo mães entrando com crianças de colo, começo uma contagem regressiva em voz alta depois do apagar das luzes, porque eu sei que a criança vai começar a chorar quando tudo ficar escuro e aquele som ensurdecedor do filme começar. Não tem erro, em menos de dez segundos começa a choradeira. E tem mãe que não sai da sala não, tá?

E quando você pega seu suado dinheirinho, viaja para um chalé ou uma pousada afastada, no meio do nada, para descansar e ao lado tem pais com um bebê que chora a noite toda? Não é justo. Vai me desculpar mas não é justo. Deveria ter uma área livre disso. Silêncio é pressuposto desse tipo de programa e sem silêncio e sossego ele não se justifica. O bebê não tem culpa, bebês choram. É uma das únicas coisas que eles sabem fazer. A culpa é dos pais que não se mancam. Já que as pessoas não tem o semancol de presumir que seu filhote incomoda a todo mundo menos a elas, a situação tem que ser normatizada. Cria duas áreas, uma para crianças e a outra para pessoas sem crianças.

E vamos combinar que não estamos apenas falando de bebês aqui. Existem muitas crianças e até mesmo pré-adolescentes que são tão ou mais inconvenientes que bebês. Brincam aos berros, correm, acordam os outros, gritam, enfim… fazem tudo o que o brasileiro acha que uma criança “normal” faz. Adoro a frase “Que que tem, ele é criança!” como ser o fato de ser criança justificasse tudo. Eu fui criança e nem por isso fazia certas coisas. Daí você está lá, tentando descansar nas suas únicas férias no ano todo, enquanto tem que ver uma criança chamando a mãe de filha da puta aos berros e cuspindo nela. Ninguém merece.

Já que eu tive um cuidado absurdo por toda a minha vida para não engravidar (e paguei um preço caro por isso, muito caro por essa escolha), eu mereço usufruir do lado bom da minha escolha e ter PAZ, e poder dormir até duas da tarde se quiser, ter silêncio, ter sossego. Eu e todas as outras pessoas que não estão com vontade de conviver com criança merecemos uma área separada. Tivemos o ônus de não ter filhos, MERECEMOS O BÔNUS, PORRA!

“Mas Sally, estaria segregando as crianças, seria crime de preconceito!”. Cale a boca e estude antes de falar da lei. Se quer levar para o lado da “segregação”, então pense que estaríamos segregando que NÃO tem filhos. Pode deixar a área para crianças como a área principal, com tapete vermelho e toda pompa e faz um puxadinho sem luxo para quem não quer crianças, não tem problema. Eu só quero um ambiente livre dessas criaturas chatas pra caralho. Aceite, você ama seu filho, eu acho ele um porre. E isso não me faz má pessoa.

Repito o que eu sempre digo aqui: filhos são como peidos, você só aguenta os seus – e olhe lá. Não me falem em preconceito ou segregação, quem tem preconceito são os PAIS. Nesta república das bananas tupiniquim, sob o comando de Voça Magestadi Çilava I, que recompensa cada filho feito com uma bolsa-esmola, parece desaforo não ter filho. Quem é segregado e discriminado é quem opta por não ter filhos. Você ganha presunção de ser frio, insensível, má pessoa, emocionalmente comprometido e outros. Tente ser argentino, ateu e não ter filhos no Brasil e daí a gente senta para discutir segregação e preconceito, ok?

Uma vez, expondo esta idéia se áreas separadas para crianças, uma pessoa muito frustrada (sim, eu sei que você está lendo, e eu sei que você está infeliz e SIM, eu estou rindo disso) soltou a seguinte pérola: “Vai me punir? E eu por acaso tenho culpa de ter filhos?”. SIM, tem sim. Ora, a cegonha não traz um filho de surpresa na sua casa, faz filho quem quer. Não quer ter filhos? Faz que nem eu, se entope de hormônio, fode teu corpo, aumenta suas chances de ter câncer e todos os demais ônus que isso acarreta. Daí você dificilmente vai ter filho. Pague o preço e não tenha se não quiser. Filho não é destino, é escolha. Ter filho por medo de se arrepender mais tarde ou por pressão social é covardia e SACANAGEM com a criança. Áreas separadas não são “punição” para quem teve filho, são a preservação de um direito de quem não teve. Não há prejuízo para quem tem filhos, a pessoa não será barrada, apenas terá uma restrição de área.

Nesse ponto a gente entra naquele tema muito bem abordado pelo Somir no último Desfavor da Semana (02/10/2010): ninguém quer ser o otário por último. Em uma analogia com trote da faculdade: o último que se fodeu quer que o próximo se foda. O fundo do poço é mais suportável se não for solitário. Eu vejo MUITOS pais de SACO CHEIO dos seus filhos, porém repetindo que eles são a melhor coisa da sua vida e que ta tudo lindo, tudo ótimo, porque simplesmente não conseguem admitir (talvez por filho ser uma coisa irreversível, talvez pelo medo da reprovação social) que a tarefa é muito mais árdua do que imaginaram e muito frustrante em alguns momentos. Muitos pais tem uma inveja secreta de quem é livre e pode dormir até a hora que quiser e fazem questão de deixar seus filhos incomodarem essas pessoas felizes. Não são todos, mas que eles existem… ahhh existem.

Quem for bem resolvido consegue ver de cara que a idéia de ambientes com criança e sem criança é benéfico para todo mundo, inclusive para as crianças. Isso estimularia os centros de lazer a investir na infraestrutura das áreas para criança e elas teriam mais liberdade para fazer o que querem. Os pais teriam mais liberdade de deixar seus filhos mais à vontade, porque saberiam que seus vizinhos de mesa estão ali por escolha, não sentiriam constrangimento de ter que manter seus filhos em silêncio para não incomodar os outros (se é que alguém se preocupa com isso) e as pessoas sem filhos teriam a paz e o sossego que tanto merecem.

Quem me conhece sabe que eu não choro em público. Uma das únicas vezes que não me contive e chorei em público foi por um evento envolvendo o incômodo provocado por uma criança. Certa vez eu jantava em um lugar muito formal em Buenos Aires com um grupo de brasileiros. Na mesa ao lado havia um casal com uma criança de uns dois ou três anos. No meio do jantar a criança começou a fazer um escarcéu e os pais não se deram ao trabalho de tomar uma atitude.

Não deu outra: passados alguns minutos o gerente do local se aproximou e os convidou a se retirar, pagando um semi-esporro que restaurante NÃO É lugar para criança e que eles estavam incomodando os presentes. Foram imediatamente escoltados até a porta, tendo inclusive que pagar a conta do lado de fora, sob olhar de reprovação de TODOS os presentes, que até bateram palmas. Exceto os brasileiros, que ficaram indignados. Nessa hora, ao ver o sentimentalismo barato para parecerem boas pessoas, permeado por frases ignorantes do tipo “Gente, que que tem, é só uma criança” meus olhos se enchem de lágrimas e eu efetivamente chorei em público naquela noite, ao pensar O QUE MERDA eu estou fazendo aqui, se meus valores são todos de lá. Chorei ao pensar “eu pertenço a este país, aqui as pessoas me entendem e pensam como eu” e chorei por pensar que teria que voltar para cá e aturar trocentos remelentos chiando nas mais diversas áreas de lazer. Eu sou mais sofisticada do que isso, eu mereço MAIS do que isso. Eu e todos os demais que se sentem incomodados com crianças mal educadas. Só que a solução não é mudar de país, é mudar O PAÍS. Áreas restritas para crianças djá!

Por isso hoje eu vim aqui bater no peito e dizer: NÃO, EU NÃO ESTOU ERRADA, NÃO, EU NÃO ESTOU MALUCA, nós, que nos sentimos incomodados por crianças, merecemos ter o DIREITO DE EVITÁ-LAS, sobretudo nas áreas de lazer onde sua presença por si já é inconveniente. Isso não me faz má pessoa como muitos querem fazer parecer. Não me faz intolerante. A verdade inconveniente é que isso é um DIREITO e que os errados são os pais das crianças, seja por não educá-las, seja por levá-las a ambientes inapropriados por não querer abrir mão dos hábitos dos tempos em que não tinham filhos.

Quando uma pessoa incomoda outra com atos inconvenientes em áreas de lazer não hesitamos em criticar e até mesmo pedir para que a pessoa seja expulsa. Mas com crianças ficamos frouxos, por medo da reprovação social. “Mas Sally, a criança não tem culpa!”. Concordo. MAS OS PAIS TEM, e são eles que devem ser retirados ou colocados em uma área própria para quem está com crianças. Pelo amor de Deus, não estou pedindo para alimentar leões com bebezinhos, estou pedindo para que me seja facultado não ser forçada a conviver com um incômodo. Por mais que te doa, seu filho querido maravilhoso que VOCÊ acha lindo, pode sim ser um incômodo para outras pessoas!

Eu ia comentar de um episódio onde uma criança cagou nas fraldas na mesa do lado, espalhando cheiro de merda no ambiente e a mãe disse “Agora estou comendo, quando EU acabar de comer eu troco a fralda”, que me obrigou a jantar cheirando merda da prole alheia, mas acabou meu espaço, estou na quinta página…

Só para concluir, muita gente vai me xingar, sabe porque? Porque vai doer. E só aquilo que é muito verdadeiro dói e incomoda. Tenha pena de mim o quanto quiser, isso não apaga o fato de que a maior parte das pessoas que sai sem crianças (tendo filhos ou não) se sente profundamente incomodada com o filho dos outros. Não é uma ofensa a você ou a seu filho, é um sagrado direito de quem quer PAZ E SOSSEGO.

Para dizer que filho dá trabalho mas se justifica porque você tem medo de ficar sozinho na velhice, para dizer que não te surpreende ver que eu continuo uma escrota sem coração ou ainda para perguntar se esta é a “semana aborto” no Desfavor: sally@desfavor.com


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