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Siago Tomir: Na Churrascaria

| Sally | , | 39 comentários em Siago Tomir: Na Churrascaria

Quem mandou convidar?Siago Tomir come bastante. Ao olhar para o prato de Siago Tomir você se pergunta se é uma tigela onde vão alimentar um puma no zoológico. Sim, Siago Tomir come muita carne. Somado a esse fato, de vez em quando baixa nele um espírito de pobre de querer “dar prejuízo” quando vai a um rodízio. Parece que reforça sua masculinidade comer até alguém oferecer um Licor de Cacau Xavier para ele achando que ele está com vermes.

Ciente disto, eu fui burra o bastante para programar uma ida a uma churrascaria rodízio. Eu sei, eu sei, erro primário. Era um sábado. Acordamos e Siago Tomir nem sequer tomou café da manhã. Ele estava se preparando para o grande evento onde comeria mais carne que um tigre asiático. Esse era o momento de ter sabedoria de abortar a missão, mas não, eu tenho essa mania de bater palmas para maluco dançar.

Podem me chamar de burra. Mesmo ciente deste descontrole alimentar, a imbecilóide aqui achou que seria uma boa idéia levar Siago Tomir para uma churrascaria. Pior, a imbecilóide aqui ainda ficou soltando frases de incentivo durante o percurso da minha casa até a churrascaria, desfavores como “É para comer que nem gente grande, hein?” ou ainda “Se eu comer mais do que você vou te chamar de faixa-branca”. Eu posso ser muito imbecil algumas vezes.

Chegando na churrascaria, sentamos em uma mesa com uma bela vista para o Pão de Açúcar e começamos a comer. Já comecei a ficar preocupada quando ele foi no bufê comer feijoada. FUCKIN´ FEIJOADA como entrada indica que o almoço vai acabar mal. Mas me calei, porque encher o saco de homem é papel de mãe, e não de namorada.

Começamos a comer. A freqüência dos garçons era frenética. Em vez de recusar os dez tipos diferentes de carnes que apareciam por segundo, Siago Tomir se sentia obrigado a comer de tudo. Um misto de dever de macho com gula exacerbada. Já viram a família Simpsons jantando? Era algo muito similar. E eu lá, no meu sushizinho, comendo uma que outra picanha.

Pouco tempo depois vejo que Siago Tomir já começa a se reclinar de forma estranha na cadeira. Sabe aquela inclinadinha que a gente dá quando está estufado, que te deixa semi-deitado? Ousei perguntar se ele não achava melhor parar de comer e ele apenas fez que “não” com a cabeça, pois estava com ¼ de vaca dentro da boca.

Continuou seguindo seu ritual de encher o rabo de carne e tomar aquela porcaria tóxica chamada Coca-Cola para “ajudar da digestão”. Mas a julgar pela quantidade de carne que ele estava comendo, nem se bebesse diabo verde ele conseguiria dar conta daquilo tudo. Percebo que Siago Tomir começa a suar e me calo. Faço questão de dizer aqui que a Coca-Cola que ele estava bebendo era Coca Zero, tá? Porque farofa, batata frita e a gordura lateral da picanha pode, mas a Coca tem que ser zero. Hipocrisia, a gente se vê por aqui.

Depois de mais de duas horas sentados comendo, percebo que Siago Tomir apresenta dificuldades respiratórias, provavelmente porque seu estômago expandiu de tal maneira que comprimiu seus pulmões. Tento fazer minha cara mais simpática e pergunto se ele está bem. Siago Tomir faz que “sim” com a cabeça enquanto mastiga um baby beef.

Após três horas, Siago Tomir apresenta os primeiros sinais de fadiga. Já recusava algumas carnes e mastigava 237 vezes antes de engolir, parecia um ruminante. Eu até tinha uma esperança que ele fosse parar, mas aqueles garçons foderam com o meu plano. Vendo que Siago Tomir estava devagar quase parando, um deles se aproximou, ofereceu uma carne e quando Siago recusou, perguntou se ele tinha alguma carne de sua preferência que ele pudesse encaminhar à mesa. Fudeu, com F maiúsculo. Porque gula é um dos pecados de Siago Tomir.

Siago Tomir disse que a carne de sua preferência era uma picanha gratinada com um queijo que eu não lembro o nome. Fudeu. A carne passava de dez em dez segundos na mesa. Em determinado momento, senti um olhar de desespero de Siago Tomir, como quem queria recusar mas não podia. Algo mais forte do que ele o obrigava a comer a carne: seu espírito de pobre de querer dar prejuízo somado à sua gula infinita.

Antevendo o pior, ousei dar a minha humilde opinião: “Acho que talvez seja melhor você parar, você vai acabar passando mal”. Siago fez cara de ofendido e me cutucou tal qual Cesar Millan fazendo “Tssst!” para que eu me recolha à minha insignificância. Entreguei para Deus, o que vindo de um ateu é o mesmo que pensar “se fode aí então, feladaputa”.

Quando finalmente Siago estava em um estado de empanturramento que o incapacitava de falar e andar, ele decidiu que talvez fosse mesmo hora de parar. Com a carne. Porque sim, ele comeu uma sobremesa. Dividimos um pavê de bombom que veio em uma tigela que mais parecia um balde. Há testemunhas. Tenho quase certeza que um grupo de turistas japoneses que estava na mesa ao lado, na verdade tirava fotos de Siago e não do Pão de Açúcar. Não se espantem se dentro de algum tempo surgir um filme japonês chamado “O Mosntro Carnívoro” com uma versão estilizada de Siago Tomir como protagonista. Eu já tive um fila de mais de 80kg e Siago Tomir come mais carne do que ele.

Terminada a orgia gastronômica com o desfecho inacreditável de Siago Tomir raspando a tigela de pavê, um dos garçons se aproximou e fez uma pergunta singela: “Mais uma Coca-Cola, Senhor?”. É uma pergunta simples, que pode ser respondida com “Sim, por favor” ou “Não obrigada”, desde que você não tenha comido duas toneladas de carne e essas duas toneladas não tenham subido para seu cérebro. Siago Tomir ficou em silêncio olhando para o horizonte por uns 30 segundos e depois deu a seguinte resposta ao garçom: “Não sei”.

A cara do garçom foi impagável. Nunca, em anos de treinamento ele deve ter sido preparado para uma resposta dessas. Eu ri e disse “Aposto que você nunca ouviu uma resposta dessas, né?” e o garçom sorriu e se retirou com aquele olhar de pena que a gente costuma destinar a bêbado ou a maluco. Siago Tomir deixa cair a cabeça sobre a mesa.

Diante da condição de perda total do meu parceiro, pedimos a conta. Siago Tomir mal abria os olhos. Sabe aquela sonolência que a gente sente depois do almoço, que se chama “maré alcalina”? Pois é. True Facts About Siago Tomir: Siago Tomir não tem maré alcalina, tem Tsunami alcalina. Depois de pagar a conta, a atitude normal é que as pessoas se levantem e deixem o recinto. Mas Siago Tomir não parecia estar em condições de se levantar. Eu me levantei e disse “Vamoooos?” e ele me olhou com cara de cachorro cagando na chuva e disse “Calma aí…”. Pensei em chamar uma ambulância, se bem que no caso estava mais para reboque mesmo. Siago Tomir respirava ofegante com metade do corpo esparramado na mesa, sob olhar curioso dos japoneses, que continuavam fotografando supostamente o Pão de Açúcar.

Passaram-se uns dez minutos quando o garçom voltou e perguntou se queríamos mais alguma coisa, o que todo mundo sabe que é um eufemismo para “Já comeram, agora vaza que tem gente na fila” (e tinha mesmo). Siago Tomir, em um exemplo de superação, levanta vagarosamente da mesa. Começa a dar passos lentos, parecia o Tiranossauro Rex do Jurassic Park andando. Segurei ele pela cintura porque juro, tive medo que ele caísse no meio do restaurante.

Continuamos andando em direção à saída. Na minha cabeça eu praticamente podia ouvir a música tema do filme “Carruagens de fogo”. Eu já estava até ficando com pena dele, quando na curva final para deixar o restaurante ele olha com um olhar de cobiça para uma picanha que passa no espeto. Dei um tapa na nuca dele e o joguei dentro do carro. Passei o resto da tarde escutando o mantra “Saaaaally, estou passando maaaaaal” e quando oferecia um remédio digestivo ele dizia “Não cabe mais naaaaada, Saaaaally”. Passou o resto do dia repetindo que estava passando mal e que nunca mais comeria carne na vida.

Depois de permanecer aproximadamente 12h na mesma posição, prostrado no sofá como se fosse um saco de batatas, achei que ele tinha aprendido alguma coisa com toda esta experiência. Que nada, no dia seguinte estava se empanturrando de carne novamente na hora do almoço. Quando ofereceram carne e ele aceitou, olhei surpresa para ele, ao que ele me sorriu um sorriso maroto a La Rafael Pilha na delegacia e disse “A gente é assim, convidou porque quis”. Só matando.

Para dizer que quer que eu escreva mais Siago Tomir, para dizer que vai usar esse bordão escroto de “a gente é assim, convidou porque quis” ou ainda para dizer que macho que é macho sai da churrascaria passando mal: sally@desfavor.com


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