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Ele disse, ela disse: Liberdade genérica.

| Desfavor | | 36 comentários em Ele disse, ela disse: Liberdade genérica.

Isso é maquiaaaaagem?!Novamente os “pais teóricos” discutem aqui no desfavor. Desta vez, Sally e Somir discordam sobre a tradicional mania dos pais de permitir aos filhos homens mais liberdade do que para as filhas. Enquanto ela acha isso um absurdo, ele enxerga méritos na prática.

Os leitores tem a liberdade de tomar o lado que mais lhe convier, independentemente do sexo.

Tema de hoje: Filhos devem ser criados mais livres do que filhas?

SOMIR

Sim. Muito embora eu ache que a definição do tema foi uma manobra golpista de minha CARA. Não é como se eu quisesse tolher o direito à liberdade de um ser humano… Mesmo com a derrota pra lá de previsível, não caio sem lutar.

Existe uma diferença importante entre conceito idealista e aplicação prática. Sim, as pessoas tem o direito à sua liberdade de ir e vir, mas existem várias regras (escritas ou não) que garantem que essa liberdade não se torne um problema. Se todo mundo fizesse tudo o que quisesse, o mundo simplesmente não funcionaria mais, e isso passa muito bem como senso comum: Você é livre, desde que isso funcione bem para a sociedade em geral.

E para uma sociedade funcionar bem, crianças e adolescentes precisam ser preparados para a vida adulta , mesmo que isso nem sempre seja o curso mais agradável para o “projeto de gente” em questão. É justamente por isso que os pais tem muito poder (inclusive legal) para mandar e desmandar em seus rebentos. Uma criação saudável passa, MUITAS VEZES, por limitações da liberdade do filho ou filha.

Por isso, nem se atrevam a vir com essa papinho hippie de “deixar solto”, pais frouxos geram filhos cretinos do mesmo que jeito que os excessivamente austeros. Precisa botar limite.

Pois bem, além disso, existe outro fator que também influi no conceito idealista de liberdade: Somos diferentes. Muito embora compartilhemos alguns direitos básicos, nem mesmo a lei se presta a tratar todo mundo exatamente do mesmo jeito. Alguns grupos precisam de tratamento diferenciado.

E se estamos falando de diferenças, vamos logo à maior da humanidade: Os sexos. É a maior porque gera os dois maiores grupos distintos. Nessa era do politicamente correto, estou chegando ao extremo de preparar o terreno antes de dizer que é natural que homens e mulheres pensem, ajam e necessitem de forma diferente. Pois é justamente essa a verdade: Somos diferentes. Idéias teóricas sobre liberdade não se sobrepõem à prática.

Falei sobre a necessidade de preparar um filho para a vida adulta, mesmo que isso incorra em limitações à sua liberdade. Alguém aqui (que não esteja queimando um sutiã) tem coragem de me dizer que a vida adulta masculina é exatamente igual á feminina? Então porque caralhos criar um homem e uma mulher exatamente do mesmo jeito?

De forma alguma estou advogando deixar uma filha acorrentada no pé da cama, mas é de uma inocência INCRÍVEL achar que a mesma criação não geraria resultados diferentes num homem e uma mulher. Vou até reforçar: SOMOS DIFERENTES.

É tão ofensivo mesmo dizer isso? Porque não parece ofender a nenhuma mulher a noção de ser O MAIOR GRUPO HUMANO EXISTENTE e ainda pensar, agir e se apontar como uma minoria de coitadinhas.

“Eu sou uma mulher, quero ter tudo o que os homens tem e não quero que eles tenham o que eu tenho.”

Não se vê cartazes em passeatas feministas exigindo mais responsabilidades, não? (O útero não fica nas mulheres à toa: É a melhor chance evolutiva de uma criança ter ambos os pais.)

Se a sua filha vai ser incentivada socialmente a correr dos problemas e chorar pelos cantos, faz muito sentido antecipar problemas. Eu não estou falando apenas de evitar situações desagradáveis para uma pessoa que você ama, estou falando de preparar uma pessoa para a vida adulta. O que incorre numa série de responsabilidades.

O filho homem vai receber uma pressão para se virar e “assumir suas broncas” sob o risco de passar vergonha e ser menos atraente para o resto da sociedade. Aprontar e resolver os problemas com menor intervenção dos pais vai fazer bem pela criação dele. Crie um filho bundão e ele vai se foder a vida toda. Ninguém vai pegar ele para criar.

Agora, quando estamos falando de mulheres, é mais aceitável correr para o papai. Aliás, é quase um padrão. Sem contar o bônus de uma carinha bonita ser garantia de fazer um homem assumir o papel de papai alguns anos depois. Fez merda? Alguém resolve! O que impede uma garota de se sentir invencível aprontando e tendo sempre quem limpe sua barra?

Isso é importantíssimo: Se os pais se recusarem a tratar a filha como uma incapaz, ALGUÉM VAI. Para um filha é muito melhor ensinar que é para se manter longe de problemas. Mostra uma forma diferente de se tornar um adulto funcional.

Vocês acham o quê? Que mulher morre muito menos em acidentes violentos por pura sorte? Elas tem uma tendência natural para evitar riscos que é reforçada durante a criação. (Amadurece mais cedo? Só se for o corpo! O resto é reflexo direto desse comportamento de evitar riscos…)

Se quer achar que meu texto é machista e eu odeio mulher, divirta-se. Um homem vai se meter em mais problemas, pois se arrisca muito mais. Faz sentido dar mais liberdade e prepará-lo para a inevitável necessidade de resolvê-los. Uma mulher pode facilmente se tornar ainda mais dependente com muita liberdade, pela forma como funcionamos em sociedade.

E a cereja do bolo: Liberdade sexual. Um homem com apoio total para pegar quantas mulheres quiser ainda vai tomar muito mais foras do que acertar. Uma mulher com o mesmo apoio tem o mundo masculino aos seus pés. Homem precisa de mais apoio mesmo. Homem precisa de inúmeros artifícios para conseguir sexo, mulher precisa de uma buceta.

Pode até soar horrível, mas o tratamento diferenciado nesse aspecto nada mais é do que ensinar o valioso conceito de oferta e demanda. Gostaria apenas de terminar o texto com uma frase muito bonita:

“Se uma chave abre várias fechaduras, ela é uma chave-mestra. Se uma fechadura é aberta por várias chaves, ela é uma merda de uma fechadura…” – Gênio desconhecido.

Para dizer que eu sou um porco machista, para dizer que eu estou preso no século passado, ou mesmo para comentar qualquer uma dessas merdas que entregam que você não consegue entender o que lê: somir@desfavor.com

SALLY

No intuito de evitar que a MADAME acima me faça parecer uma imbecil e faça parecer seus argumentos coerentes, me sinto no direito de apresentar alguns esclarecimentos preliminares. Estamos falando daqueles casos onde é possível uma igualdade de tratamento sem que isso coloque a filha em risco. Não estou falando em situações que envolvam trabalhos braçais ou deixar sua filha freqüentar sozinha um beco escuro de madrugada. Estamos falando em “dar liberdade” sem comprometer a integridade ou colocar a filha em risco.

Dito isso, SIM, é machismo dar mais liberdade ao filho homem do que à filha mulher. Talvez esta distinção se justificasse décadas atrás, mas hoje em dia é uma conduta jurássica que acaba mais por prejudicar do que por proteger a filha. Aliás, acho um barato esse discurso de que os pais fazem esta distinção para “proteger” a filha, porque não é para proteger porra nenhuma, é por motivos egoísticos como se recusar a perceber que a Princesinha do Papai cresceu e está dando. Machismo puro, quem faz isso não pensa na felicidade da filha.

Geralmente essa distinção de tratamento costuma estar ligada a atos de cunho sexual. Se o filho pega geral, é o orgulho do Papai, que ajuda até a pagar o motel para ele comer as vadias, ou libera a casa. Se for a filha, leva esporro e fica de castigo. Escolha uma postura: ou libera todo mundo para a putaria ou não libera ninguém. Hipócrita encorajar a putaria em um filho e repreender em outro. O mesmo vale para o filho que quer dormir na casa da namorada (ou trazer a namorada para dormir em casa) e a filha que pretende o mesmo. A decisão deve ser uniforme.

Nos anos 50 eu até admitia que um pai julgasse estar protegendo a filha fazendo isso. Hoje, é certo que está prejudicando. Vai criar uma retardada superprotegida que além de ser ridicularizada em seu meio social, estará completamente despreparada quando, mais cedo ou mais tarde, tiver que encarar um cueca. Li uma vez uma frase da Madonna que traduz muito bem o que eu penso sobre o assunto. Quando perguntada se deixaria a filha fazer isto ou aquilo com o namorado, ela disse o seguinte: “Minha filha vai fazer o que quiser, pois eu vou ensiná-la a se respeitar, assim, não terei que lhe ensinar nada sobre os homens”. Palmas para a Material Girl.

Proibir a filha mulher de fazer algo, pelo único fato de ser mulher, é, no mínimo, não confiar na educação que deu para sua filha. Se você passou os valores corretos, no final das contas, mesmo que dê uns tropeços, ela vai se sair bem. Se você não passou os valores corretos, bem, sinto lhe informar que não adianta nada prender, porque ela vai fazer merda em qualquer lugar: fumar maconha no banheiro do colégio, dar naquele cantinho escuro na festinha no play e etc. Então, por qualquer ângulo que se veja, apertar uma coleira na sua filha pelo fato dela ser mulher, é sim prejudicial.

Pais não criam filhos para eles, criam para o mundo. Não devem criar pensando em poupá-los do sofrimento, porque o sofrimento chega mais cedo ou mais tarde para todos nós. Devem criar os filhos ensinando-os a se levantar, caso caiam. Só tem medo de cair quem não sabe levantar. Então, não existe razão para criar proibições para sua filha pelo simples fato dela ser mulher. Se ela for magoada, sofrer ou cair, bem, se ela foi bem criada, ela vai saber se levantar. E se não foi, vai se levantar do mesmo jeito, aos trancos e barrancos e vai aprender uma lição muito mais valiosa do que mil palavras.

A sociedade é machista? Foda-se. A sociedade também é hipócrita, corrupta e injusta e nem por isso queremos passar esses valores para nossos filhos, certo? Acredito que prender uma filha não só não traga nada de bom como ainda pode trazer um efeito rebote negativo caso ela tenha um irmão que pode muito mais do que ela. Periga ela se revoltar e começar a fazer por conta própria, nas costas dos pais, por se sentir injustiçada. Nada pior do que ser uma boa filha e ainda assim ser proibida de fazer algumas coisas, como se tivesse presunção de irresponsável, sem nunca ter dado motivos para isso.

Pense na mensagem contraditória que se passa para uma filha quando se permite que o filho faça uma série de coisa e ela não “porque ela é menina”. Ela vai sentir que mulheres são mais frágeis, desamparadas, indefesas. Quando cair no mundo lá fora, ela vai descobrir que na vida real mulher tem que ralar tanto quanto ou mais do que homem e que não tem dessa colher de chá de ser mais protegida. Ela só vai ter essa proteção toda em caso de naufrágio, quando vai poder subir primeiro do que homem no bote salva-vidas (e nem disso estou muito certa). O mundo é selvagem e competitivo, mulher tem que estar preparada.

Além disso, se a gente parar para usar o bom senso vai ver que o mais plausível seria proibir o FILHO HOMEM de fazer certas coisas. Porque meninas amadurecem mais cedo e geralmente são mais responsáveis do que meninos da mesma idade. É mais provável que seu filho homem faça uma burrada do tipo dar perda total no carro bêbado ou engravidar uma mocinha doida para dar o golpe da barriga do que a filha mulher. Sexo frágil é o caralho, no dia em que homem depilar a virilha com cera quente sem chorar e sem gritar eu deixo eles terem o estigma de sexo forte. Bando de babacas…

É aquele argumento que eu já aprofundei no Flertando com o Desastre “A moral do medo” (26/05/2010): não tem valor ser correto porque não tem outra opção ou por medo, ser correto só tem valor verdadeiro quando a pessoa o é por escolha livre. Se por um acaso um dia eu tiver uma filha, quero que ela não seja piranha porque ela QUIS não ser piranha, e não porque eu tive que prendê-la em casa e controlá-la ou amedrontá-la para que isso não aconteça.

De mais a mais, se por um acaso um dia eu tiver uma filha e ela quiser ser uma piranha, lamentarei profundamente e será um desgosto enorme, mas terei que conviver com isso. Filhos não são propriedade dos pais e nem sempre (na verdade, quase nunca) seguem os caminhos que os pais consideram os melhores. Cabe aos pais orientar e não colocar os filhos em cárcere privado.

Somir sempre fala (meio brincando, meio sério) que se tiver um filho vai ser pegador e se tiver uma filha ela vai para um convento. Ridículo. Não é pensando no bem estar da filha que homens falam esse tipo de coisa, é pensando no seu orgulho de Papai Macho Alfa ferido de ter uma filha que dá para geral. Curioso que nessas horas eles nunca se lembram do quanto fizeram coisas com AS FILHAS DOS OUTROS, né? Hipocrisia, não passe adiante!

Tratar seus filhos em condições de igualdade COERENTES e COMPATÍVEIS com a situação e idade de ambos é dizer à sua filha mulher “Não, você não é menos do que um homem, você não precisa sempre de um homem te dizendo o que fazer e sim, você é forte e inteligente o suficiente para se virar sozinha e eu confio em você”. Quem sabe assim paramos de criar essas mulheres histéricas que saem da barra da calça do papai para a barra da calça do namorado e acham que vão morrer se ficarem sem homem. Deixar sua filha tomar umas porradas da vida e aprender com erros práticos é um gesto de carinho!

Para dizer que por mais que ache que eu tenho razão em tese, na prática só consegue concordar com o Somir, para dizer que não quer lições de como criar uma filha de uma pessoa que dança axé ou ainda para dizer que este assunto é incômodo demais e que vai passar aqui amanhã: sally@desfavor.com


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