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Desfavor da semana: Sem rumo.

| Desfavor | | 22 comentários em Desfavor da semana: Sem rumo.

Que coisa mais moderna!São Paulo, 21/09/2010:

“A Linha 3 – Vermelha, que vai da estação Palmeiras/Barra Funda, na zona oeste, até a Corinthians/Itaquera, na zona leste, ficou parada das 7h50 até as 10h30. Usuários se acumularam nas estações e houve tumulto dentro e fora dos vagões. Pelo menos 150 mil pessoas foram prejudicadas.”
FONTE

No dia seguinte, realizou-se o “Dia Mundial Sem Carro”, manifestação eco(chato)lógica totalmente compatível com um país como o nosso… claro…

Desfavor da semana.

SOMIR

O tema de hoje parece um tanto quanto confuso, mas este nó desato agora: O que aconteceu no metrô paulistano foi sim um tremendo desfavor, mas por ter ocorrido no exato dia anterior de um movimento contra os carros por um transporte público melhor escancara a nossa vocação nacional de comer mortadela e arrotar peru.

Infra-estrutura é coisa de gringo otário. Aqui é Brasil, meu povo! A falha séria que causou o incidente no metrô de São Paulo é emblemática pelo fato dos linhas da capital paulista serem uma espécie de “menina dos olhos” do sistema de transporte público nacional: Relativamente organizadas e bem mantidas na maior parte do tempo. Num país que depende quase que exclusivamente de ônibus sucateados transitando por ruas esburacadas, o metrô é uma espécie de baranga arrumadinha no final da festa.

O que não evita o susto ao acordar do seu lado pela manhã. A realidade do incidente prova que o sistema funciona acima de sua capacidade, constantemente. Especialmente nos horários de rush. As outras opções são tão ruins (principalmente com os preços exorbitantes dos táxis tupiniquins) que o povo se acotovela MESMO nos vagões. Entre 15 minutos de aperto no vagão ou duas horas e meia de aperto num ônibus, há de se concordar que fica fácil escolher.

E os donos da festa, ao invés de facilitarem a entrada de outras menos barangas no local, preferem enfiar ainda mais perfume e maquiagem na última/única opção. Os onipresentes candidatos do PSDB daqui fazem questão de colocar como prioridade a inauguração de mais trocentas linhas de metrô, para manter mais gente por mais tempo nos vagões. Brilhante! Não que eu seja contra novas linhas, mas é claramente obra eleitoreira.

Foda-se que o cidadão paulistano médio não consiga VIVER sem um carro, foda-se que atravessar a cidade no trânsito demore mais do que fazer uma viagem até o Rio de Janeiro: Campanhas eleitorais precisam de obras. “Maluf que fez”.

O povo, sem alternativas aos carros ou às linhas do metrô, se acumula nos mesmos lugares até dar a inevitável merda. Receita clara de desastre, mas que é convenientemente ignorada até a hora de “procurar os responsáveis”. Parece que já estão dando um jeito: Os responsáveis pelo problema são os que depredaram o patrimônio do metrô depois de viver uma experiência de frustração e início de pânico em massa. O que com certeza não é um comportamento previsível, imagine só. Os nossos cidadãos, todos suíços, deveriam rir do problema, pegar suas bicicletas e voltar para seus chalés na montanha… (Eu ainda acho babaquice essa coisa de “quebra-quebra”, mas não deixo de perceber que não foi de graça…)

Com certeza cidades como São Paulo, que crescem desordenadamente sem um pingo de planejamento, e seus políticos, que acham que política de transporte público é construir rotatórias para interligar rodovias, não são responsáveis. A cara-de-pau para tirar o próprio da reta é tanta que já estão levantando a lebre de que os problemas no metrô paulistano fazem parte de uma conspiração petista. José Serra, aproveitando o momento, já soltou comentários sobre isso. Sorte que eu já o considerava opção por exclusão, não me decepcionei.

Para quem deveria se responsabilizar, pode ser tudo, menos o óbvio: São Paulo não comporta sua população há décadas. Fica a impressão que todo mundo já desistiu e estão só torcendo para os problemas serem controláveis até a próxima gestão.

Este é um país sem base, um país que cada vez mais se assemelha ao “novo rico”, emergente com cultura e mentalidade de pobre. E quando se tenta mudar qualquer sem um mínimo de estrutura, temos situações tragicômicas como o tal do “Dia Mundial Sem Carro” logo depois de uma falha séria num dos maiores meios de transporte público da maior cidade do Brasil.

Convenhamos: O cidadão quase sempre mora longe pra caralho de onde trabalha e vive em cidades que só inauguram asfalto! Uma cidade brasileira média não cresce, entra em metástase: Cada pobre expulso dos centros constrói seu barraco para um lado, e com o passar do tempo, para arranjar um votinhos, neguinho “urbaniza” a área (em cima de lixão, se vacilar) e está tudo certo!

O cara vai pegar sua bicicleta e ir trabalhar a 50 km de distância num trajeto onde corre sério risco de virar pizza de asfalto? Vai pegar ônibus ou metrô ultra lotados? Sem cuidado com o básico de permitir opções ao carro, essa história de vilanizar o automóvel não passa de conversinha de ecochato que não entende que não está na Europa ou quer mesmo é fazer pose, pose que não se sustenta na vida real.

Do mesmo jeito que vai acontecer quando dois grandes eventos esportivos ocorrerem por aqui. E já fica minha previsão: Não vamos aprender nada (como nação). Emergente é uma merda mesmo…

Ah sim… não é sobre transporte, mas tem a ver: CHUPA, AMORIM! Foi puxar saco do Irã na ONU e tomou na orelha a declaração super responsável do Ahmadinejad alguns dias depois. Hahahaha! Só não foi Desfavor da Semana porque a Sally disse que eu já gastei minha cota semestral de assuntos iranianos.

Para dizer que o meu texto te moveu, para dizer que metrô é coisa de pobre no mundo todo, menos no Brasil, ou mesmo para dizer que trabalha em casa e aderiu ao movimento: somir@desfavor.com

SALLY

Se você acha que vocabulário chulo mina minha credibilidade ou desmerece meus textos, vá ler outra coisa. Sei escrever erudito quando preciso (e o faço todo santo dia no trabalho) mas aqui a intenção é ser informal, expressar indignação legítima. Portanto vou logo avisando, estou com a macaca e que o texto está cheio de palavrões. Se não gostar, NÃO LEIA, se ler, NÃO ME ENCHA O SACO COM ISSO. Vamos ao que interessa.

O Sitema de Transporte Público do Brasil é, na maior parte das cidades, uma vergonha. Como se isso fosse pouco, as autoridades parecem querer piorar a situação. É essa mania que brasileiro tem de importar cultura, que só nos gera problema. Graças a esse hábito babaca pessoas se sujeitam a andar de terno em pleno verão escaldante, pessoas tem que se vestir de Papai Noel em pleno dezembro, jogar algodão na árvore de natal para fingir que é neve e pessoas tacam formol no couro cabeludo porque o bacana é ter cabelo liso. Pois bem, mais uma macaquice nossa: importar ato ecológico de gringo. Esta semana tivemos um dia onde se recomendou não utilizar o carro, em nome da natureza. Porque aviões, indústrias e gado em larga escala são apenas um detalhe, é o seu carrinho que está poluindo o mundo!

Ok, pode até ser um protesto válido em um país civilizado com um sistema de transporte público decente. Que não é o caso da maior parte das cidades brasileiras. Vamos todos usar o transporte público para trabalhar, ele é suficiente para suprir a demanda… NOT! Chupa essa manga, às vésperas do dia sem carro o metrô de São Paulo sofreu uma pane, ao que tudo indica, graças à superlotação, fodendo com a vida de meio mundo. Sentiram a incompatibilidade deste ato ecológico com a atual realidade brasileira? Parece até castigo divino.

Não sei muito bem o que aconteceu. Inicialmente a versão oficial era de que uma blusa tinha ficado presa numa das portas e isso gerou a pane (wat). Eu não tenho muito conhecimento técnico, mas isso me parece um tanto quanto sem noção. Em seguida, surgiu outra versão: em determinado trajeto, os trens costumam parar em uma curva e com o excesso de passageiros somado à inclinação do trem nesta curva, o peso dos passageiros foi jogado todo na porta. Essa pressão teria acionado um dispositivo que avisa quando as portas estão abertas, que impede a movimentação do trem. Olha, quando o assunto está dentro da minha jurisdição, como foi o atropelamento do filho da Cissa Guimarães, eu dou detalhes, conto fofocas e procuro os bastidores, mas como isso aconteceu muito longe de mim, me atenho a narrar o que foi dito sobre o caso e dar uma rápida pincelada no sistema de transporte coletivo do Rio de Janeiro. Não sei que merda aconteceu, só sei que prova que o sistema de transporte público é uma merda.

Não sei de quem foi a culpa, só sei que, se em um dia qualquer o cidadão não pode contar com o transporte público porque ele já está abarrotado, imagina a MERDA que vai dar se as pessoas aderirem a essa campanha IDIOTA, IMBECIL, SEM NOÇÃO de utilizar o transporte público para trabalhar e deixar o carro em casa! Vai fazer ecologia às custas do bem estar do povo? Vai tomar no cu. Mais alto, para ver se todo mundo escuta: VAI TOMAR NO CUUUU!

Quer pagar de país de primeiro mundo e fazer ato ecológico? Dá transporte decente. No Rio de Janeiro o transporte público é uma BOSTA. Tenta pegar um metrô nos horários de pico e veja o que te acontece! Porque não há punição? Adivinha quem é a advogada do Metrô do Rio de Janeiro? A esposa do Governador! Isso ninguém conta, né? A Tia Sally conta, com o maior prazer. O Metrô do Rio é VERGONHOSO. Não falo apenas de um transporte ruim, falo em VERGONHOSO, a ponto de uma amiga minha estar em um vagão lotado, exclusivo para mulheres (cheio de homens porque ninguém fiscaliza) e sentir um negócio quente na sua perna. Quando ela olhou, simplesmente um sujeito que estava ao lado dela tinha se masturbado e ejaculado nela. E ela nem sequer conseguiu sair do vagão, tamanha a superlotação. E ainda querem que a gente faça dia sem carro? ACORDEM PARA A VIDA!

Não vejo a hora de chegar logo Copa do Mundo e Olimpíadas, para esta republiqueta das bananas passar uma mega-vergonha internacional. Porque neguinho só faz as coisas aos 48 do segundo tempo (não por incompetência e sim por corrupção, já que se a obra atrasar, pode fazer a compra de materiais e pagar os serviços sem licitação, porque vira obra emergencial, daí pode gastar o quanto quiser sem prestar contas e superfaturar à vontade). Não vai ter como melhorar o transporte em poucos meses. Talvez ao passar uma vergonha internacional a coisa melhore.

Não decidiram privatizar o transporte, para ver se com um particular administrando a coisa melhorava? POIS BEM, PIOROU. Bacana, “venderam”, lucraram e o povo se fodeu mais ainda. FETRANSPOR, SUPERVIA E BARCAS S/A, parabéns para vocês, conseguiram transformar a vida do cidadão carioca que utiliza seus serviços em um INFERNO. Atraso, luperlotação, condições de risco. Marcello Alencar e Fernando Henrique Cardoso, obrigada pelas privatizações, viu? Porque se antes era ruim e ineficaz, ao menos não era tão era tão caro. Agora é caro e ineficaz. Como eles se sentiriam se a filha deles levasse uma gozada na perna de um passageiro de um transporte público? Quando o metrô do Rio foi privatizado, a passagem custava R$0,35. Isso aí, você não leu errado: R$0,35. Hoje é a tarifa mais cara do Brasil: R$2,80. Com esperma de brinde. Sabem a quem pertence a principal empresa titular da concessão do Metrô do Rio? BANCO OPORTUNITY, aquele do Daniel Dantas, aquela pessoa suuuper honesta. Curiosamente, apesar da ficha suja, e da ineficiência na prestação de serviços, Sergio Cabral renovou a concessão por mais vinte anos. Já contei quem é a advogada no Metrô, né? BRASIL-IL-IL-IL! Depois querem que eu não fale mal do país! Se eu receber MAIS UM e-mail me criticando por falar mal do Brasil vou mandar tomar no cu.

Da mesma forma que o Poder Público deveria nos proporcionar um sistema de saúde eficiente e não o faz, nos obrigando a ter que pagar plano de saúde ou esperar horas em uma fila por um péssimo atendimento, também nos obriga a usar carro para ir trabalhar, porque nos proporciona um sistema de transporte público sem conforto, sem segurança, insalubre e ineficaz. Impossível se programar e chegar na hora durante uma semana seguida contando com transporte público. Conheço pessoas sérias que perderam o emprego em função dos atrasos nos transportes públicos, mesmo se programando para sair com duas horas de antecedência de casa. Daí esses mesmos filhos duma puta arrombada que tem a obrigação de nos prestar este serviço e não o fazem vem nos pedir para que deixemos nossos carros na garagem em nome da mãe natureza. Mas olha, eu quero é que todos se fodam é muito.

Imagina um trabalhador que passa por um INFERNO DIÁRIO ao longo de anos, penando no transporte coletivo, se vendo trancado em um vagão de metrô, em um calor insuportável, sabendo que vai chegar atrasado no trabalho pela milésima vez, etc etc. Bate uma revolta. Esse descaso ao longo de ANOS causa revolta. Daí neguinho depreda a porra do vagão e é chamado de “vândalo” e de vítima vira algoz. Me poupem! Eu sei que não é certo depredar, mas porra, eu compreendo perfeitamente quem o fez. Vocês não sabem o INFERNO que é ter que se sujeitar a transporte público todos os dias. Qual é a saída para este problema? O GALEÃO. AEROPORTO DJÁ!

Para perguntar se eu estou de TPM, para dizer que agora que eu voltei a responder os e-mails vai me entupir de spam ou ainda para dizer que carro não resolve o problema porque a falta de planejamento urbano adequado faz do trânsito um inferno tão ruim quanto: sally@desfavor.com


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