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Ele disse, ela disse: O direito ao nascer.

| Desfavor | | 20 comentários em Ele disse, ela disse: O direito ao nascer.

Mine too!Nomes fazem parte de nossa idéia sobre o que é uma sociedade. Uma reputação pessoal é construída com base na diferenciação entre um ser humano e seus pares. Sally e Somir começaram a discutir sobre a importância da escolha desse nome pelos pais depois de rirem juntos de alguns terríveis que escutaram por aí.

Enquanto ela defende a liberdade de expressão descamisada, ele pleiteia um controle maior sobre essas decisões. E se você não estiver a fim de discutir o assunto, pode pelo menos comentar com alguns nomes ridículos que já ouviu por aí.

Tema de hoje: Os cartórios devem registrar QUALQUER nome que os pais decidirem?

SOMIR

Não. Eu sou um grande defensor das liberdades pessoais, mas cabe lembrar que o direito de uma pessoa acaba onde o de outra começa. Não se tem uma sociedade evoluída e democrática se gente ignorante tem muita liberdade de atrapalhar o desenvolvimento das próximas gerações.

Espero que todos aqui concordem que uma sociedade livre não é aquela que permite qualquer porcaria. Não temos a liberdade de matar outra pessoa quando der na nossa telha, não temos a liberdade de roubar dinheiro e propriedades de outras pessoas… Tudo tem seu limite.

Todas as atitudes que podem vir a piorar (ou extinguir) a qualidade de vida própria ou alheia são vistas de forma negativa. Oras, certas linhas-guia são essenciais para que as coisas funcionem. E espera-se dos cidadãos que eles participem, na medida do possível, da manutenção da qualidade de vida de seus semelhantes. O Estado somos nós.

Você pode ser preso se encontrar um suicida e incentivá-lo a dar cabo de suas intenções, por exemplo. Deixar ou incentivar que algo de ruim aconteça para outra pessoa também é previsto como uma forma de ser um mau membro da sociedade.

Não, não estou dizendo que uma pessoa deva ser proibida de dar um nome ridículo para os próprios filhos, mas que um cartório pode ter o direito (e a decência) de evitar que uma pessoa desequilibrada nomeie sua filha de “Bucetilde” (existe), concordo plenamente.

Nomes oficiais não podem ser mudados ao bel-prazer do agraciado. Espera-se que uma pessoa mantenha o mesmo por sua vida toda, afinal, é bem mais fácil viver numa sociedade onde as pessoas podem ser encontradas e confrontadas por algo errado que venham a fazer. Usar nome falso é crime, tamanha a importância dessa diferenciação pessoal.

E se você achou que eu ia ficar só nessa argumentação agradável, prazer, Tiago Somir.
Vamos começar com a noção de que existem sim nomes OBVIAMENTE malignos e vexatórios. Tem pais que dão nome chulo e ofensivo por raiva da criança. Um escrivão que barra “Filhadaputílson da Silva” não está impondo seus gostos, está evitando uma crueldade clara perpetrada por gente ruim. Não vai evitar uma criação horrível, mas pelo menos fora de casa essa criança não vai ser tão humilhada.

Tem gente escrota mesmo nesse mundo. As leis ajudam a controlá-las.

A questão dos nomes obviamente humilhantes depende do bom-senso de cada um. Mas existem casos flagrantes de estupidez ou inocência dos pais. Se os cartórios pudessem se recusar a registrar um nome, a pessoa teria que procurar outro ou mesmo exigir o direito legal de fazê-lo. Boa sorte para que os pobres (é sempre pobre) consigam convencer um juiz que chamar o varão de “Borboleta de Souza” não é uma péssima idéia.

Gente ignorante não manda nesse mundo por um motivo. Não é todo mundo que tem o discernimento MÍNIMO para entender o valor e a importância de um nome no desenvolvimento de um cidadão.

Uma pessoa brega, mas que tenha desenvolvido seu intelecto de forma razoável, vai tacar alguns Y’s no nome do filho: Pode até ficar feio, mas não vai ser humilhante.

Uma pessoa ignorante vai chamar o filho de “Uóshito” (existe), “Cleydireison” (existe), “Ismaile” (existe), “Deusimar” (existe…) e coisas horríveis assim. Ok, não são nomes chulos ou obviamente humilhantes… Mas são nomes de POBRE!

E, cacete, isso faz diferença. Quase todo mundo que inventa esses nomes estúpidos não se importa muito com o pleno desenvolvimento da cria. E nem é colocar em xeque o amor desses pais pelos filhos, é duvidar que essas pessoas enxerguem seus rebentos como cidadãos desse mundo. Pessoas que vão fazer parte da sociedade e ter sucesso na vida.

Quem chama filho desses nomes de pobre parece que só enxerga um número. É tanta certeza que não vai dar em nada na vida que resolvem diferenciar a criança logo no nascimento, porque depois não tem mais jeito, porque vai estudar pouco, trabalhar muito e ter mais um monte de filhos que nem eles. Esses nomes “diferentes” são uma declaração de DESISTÊNCIA de um futuro de sucesso por parte dos pais.

Até acho que não é por mal, mas faz mal. A única combinação possível entre nome de pobre e bom futuro financeiro acontece no Futebol. Não temos “Maicons” liderando multinacionais…

Nome de pobre é uma desvantagem psicológica que acompanha a criança desde o começo do seu desenvolvimento. O mundo não é um lugar de compreensão, amor e aceitação das diferenças. Neguinho vai sofrer preconceito e vai ser visto como classe baixa MESMO. O “Francislei” vai gerar duas vezes mais dúvidas sobre sua capacidade de gerenciamento do que o “Eduardo”, por exemplo. Mesmo que milhões de pobres se chamem “Eduardo” e apenas dezenas se chamem “Francislei”.

Enquanto essa gente que quer inventar nome não for capaz de entender que gerar um CIDADÃO exige colocá-lo em condições parecidas com seus concorrentes diretos, os cartórios devem ter o poder de questionar o bom-senso dos pais semi (ou totalmente) analfabetos que enfiam nomes diferentes nos filhos por maldade, ignorância ou mesmo o ruim e velho derrotismo antecipado brasileiro.

Que pelo menos o escrivão seja obrigado a dizer para os pais: “Seu filho pode ser especial por conta própria, basta que vocês ajudem.”

Para dizer que meus pais erraram por não me batizar como Adolph Hitler, para reclamar que seu nome é de pobre e você não se sente inferiorizado por saber que nunca vai ser rico, ou mesmo para reclamar que Emílio não é lá algo muito agradável para os ouvidos: somir@desfavor.com

SALLY

Depois de comentar com o Somir que uma pessoa conhecida teve gêmeas e decidiu chamá-las de Jabulani e Vuvuzela, surgiu o debate: os cartórios podem se recusar a registrar o nome de uma criança que entendam inadequado, ridículo ou vexatório? Os pais tem o direito de colocar o nome que desejarem nos filhos? Os cartórios tem que ser obrigados a registrar qualquer nome que os pais pretendam?

Eu sei que um nome bizarro pode ter conseqüências ruins na vida de uma criança, mas ainda assim, eu acho que os pais tem o sagrado direito de escolher o nome que querem dar a seus filhos – ainda que seja Jabulani e Vuvuzela. Em um mundo ideal, onde todos os seres humanos tem bom senso, poderíamos até permitir que um cartório faça uma filtragem de nomes tendo em vista o melhor interesse da criança, mas infelizmente este mundo ideal não é o Brasil. Se falta bom senso aos pais, nada garante que não falte aos responsáveis pelo cartório.

Dar tanto poder a um cartório é pedir para que ocorram arbitrariedades. É um assunto subjetivo demais! Quando falamos de exemplos extremados como Jabulani e Vuvuzela fica fácil achar que deve existir essa proibição, mas se a gente pensar em exemplos menos grotescos, vai surgir uma enorme zona cinzenta que suscitaria horas de discussão sobre o que é um nome ridículo. Acabaria prevalecendo o gosto pessoal do responsável pelo cartório.

“Mas Sally, já pensou uma criança crescendo com um nome escrotérrimo? Já pensou ela sendo sacaneada na escola? Já pensou o trauma que essa situação vai gerar?”. Já, já pensei. E você já pensou que mesmo que o cartório não registre o nome bizarro, os pais podem chamar a criança assim e ninguém vai poder fazer nada contra isso? Eu conheço dois casos de pessoas que tem nome “normal” na identidade porém sempre foram chamados por nomes bizarros em casa. Além disso, um pai que olha para um bebê e diz “Tem cara de “Último Prazer do Casal Silva” com certeza causará uma penca de traumas nessa criança por outras vias que não seja o nome.

Existe uma frase que eu sempre repito: Quem guardará os guardiões? (Quis custodiet ipsos custodes? – É Sócrates, não é Dan Brown). Quando damos muito poder para que outra pessoa nos proteja, quem vai nos proteger dessa pessoa? Acredito que no cômputo geral, o dano é menor se não dermos tanto poder a um cartório, deixando algumas crianças com um nome escroto do que permitir que estranhos decidam o nome que podemos dar a nossos filhos.

Se a pessoa não tem bom senso nem mesmo para escolher o nome, então o nome da criança é o menor dos problemas… Além disso, um nome pode ser trocado judicialmente caso incomode à pessoa. Eu sei que o trauma de uma infância com um nome escroto é terrível, mas mesmo assim, eu prefiro a democracia.

Outra coisa: quem garante que a pessoa não vá gostar do nome escroto? Eu conheço pessoas que tem nomes escotérrimos e adoram o próprio nome! Bom gosto e bom senso são tão relativos…

“Mas Sally, casos grotescos devem ser barrados!”. Pois é, quem é que vai me dizer o que é um caso grotesco? Quem vai guardar os guardiões? Novamente eu repito, isso é muito subjetivo. O que pode ser grotesco para você, pode não ser para mim ou para o funcionário do cartório. Não tem como padronizar. Daí ficaríamos sujeitos à vontade de cada funcionário de cada cartório: alguns cartórios registrariam alguns nomes e outros não. Olha a zona! Vai por mim que muita gente acha seu nome feio…

Se o Estado começar a interferir nesse tipo de escolha personalíssima vai entrar por um caminho perigoso. Hoje te diz que nome você pode dar ao seu filho, amanhã vai dizer se você pode ou não ter filhos. Tenho medo desse tipo de intervenção.

Ainda que a razão de ser dessa proibição seja proteger a criança, acho que causaria um mal terrível à sociedade. Dar permissão para que o Estado intervenha em escolhas pessoais é abrir uma porta perigosa. Vamos combinar que todo mundo tem traumas de infância e todos nós sobrevivemos a eles, um nome escrotinho não é o fim do mundo. Muito me admira a Madame aqui de cima, que sempre defendeu a intervenção estatal mínima, deixando que se vete a escolha de nomes.

Em um país onde houvesse educação de qualidade, saúde eficiente, igualdade social, cultura disponível e tantos outros recursos, esta discussão poderia até ser pertinente, mas no Brasil, onde muita gente não tem o básico do básico, nem cabe focar num detalhe desses. Antes de sofrer porque se chama “1 2 3 de Oliveira 4” vai sofrer porque não tem comida no prato, não tem escola e não tem hospital.

Existem mecanismos para permitir a troca de nome caso a pessoa não goste ou se sinta constrangida com ele, isto basta. Aliás, em um país onde a pessoa nasce com nome de Riroca e ingressa com um processo de mudança de nome para se chamar ZAMBELÊ, não há a menor possibilidade de se querer vetar nomes estranhos.

É cultural o povo colocar nome de personagem de novela, de ator internacional, misturar sílabas do nome do pai/avô com sílaba do nome da mãe/avó e ainda dar nomes internacionais com grafia nacional. O pobre vai ficar puto da vida se não puder colocar aqueles nomes cheios de consoantes nos filhos, preferencialmente terminados em “aine” ou “ene”. Ex: Gyslaynne ou Julhyenne. Eu acho escroto? Pra caralho. Mas as pessoas tem o sagrado direito de serem bregas .

Para dizer que você se chama Jocleverson e adora, para dizer que não está nem aí para o nome dos outros e que quer mais detalhes do caso Bruno para não ter que ficar lendo jornal e para me chamar de Ném: sally@desfavor.com


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