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Flertando com o desastre: Eu, ditador.

| Somir | | 18 comentários em Flertando com o desastre: Eu, ditador.

Grusshudr Ashwash Ull!!!

 ATENÇÃO: ESTE TEXTO É INTOLERANTE.

Volta e meia me pego “discursando” sobre o meu utópico cargo de ditador do mundo. Até pelo caminho mais debochado que pego ao falar sobre o assunto, apresento soluções ridiculamente simplistas (e muitas vezes de fazer Hitler me chamar de monstro…) para resolver todos os problemas da humanidade. Algumas delas:


– Lei anti-reprodução: Considerando que a humanidade já atingiu o estágio de metástase no planeta que habita, faz sentido combater a reprodução humana. PRINCIPALMENTE em economias emergentes. Milhões podem viver com o padrão de vida esbanjador, bilhões não. Agora que a merda está feita e 90% da pobralhada mundial quer viver o “ideal ocidental” de riqueza, quanto mais dinheiro na mão dos desprivilegiados, pior.

A lei anti-reprodução cobraria uma taxa astronômica de qualquer pessoa que quisesse ter um filho. Mas sem essa frescura de “educar”. Quem não respeitasse a lei teria os filhos ilegais doados para uma usina de bio-combustível (ou ração animal, já que crianças não contém tantos hormônios em sua carne).

Sim, só os ricos poderiam pagar as taxas na maior parte das vezes, mas eles são tão poucos que a população diminuiria drasticamente.

O problema da previdência social com tanta gente envelhecendo seria resolvido com a segunda grande medida do meu governo do mal.


– Primeira Guerra Geriátrica Mundial: Ao invés de mandar para o exército os poucos jovens desse novo mundo, mandaríamos os idosos. Nenhum menor de 60 anos de idade poderia participar das forças armadas de um país.

O serviço militar, obviamente obrigatório sob pena de execução dos desertores, prepararia a velha geração para lutar pela melhora da vida de seu país. O plano é simples: Nesse admirável mundo novo, as nações teriam governantes (leais ao ditador mundial) e lutariam entre si pela distribuição dos recursos. Os países vitoriosos nas guerras poderiam receber toda a verba destinada ao país conquistado, porém, sem poder tomar o poder de verdade.

Sim, brilhante, eu sei. O mundo se manteria em guerra constante (o que sempre dá um ânimo na economia) e apenas os idosos poderiam lutar. Pelas dificuldades comuns à idade, dificilmente as batalhas escalariam a ponto de trazer risco ao resto do povo. Major Gagá não conseguiria cometer crimes comuns de guerra como pilhar uma cidade e estuprar as mulheres do povo conquistado. É guerra, mas é meia-bomba.

E pelo fato de um país nunca poder conquistar o outro, uma derrota seria apenas um atraso momentâneo na economia local. Afinal, o país conquistador também teria que se proteger e não colocar todo o exército num mesmo lugar. As dificuldades financeiras causadas pela perda do repasse de verbas mundiais seria compensada pelo alívio no sistema de previdência social, e o povo se une mais contra um inimigo comum.

E imaginem só o aumento do ânimo da população! Vovô não “deixaria de acordar” um dia desses, vovô teria morrido lutando pela pátria! Deixam de custar aos cofres públicos e ainda viram heróis? As pessoas vão se preparar para sua última etapa da vida, pela glória. Ou se matar logo antes disso. Ninguém perde.

Você deve estar imaginando que nem todas as nações me apoiariam, certo?


– Nação Empresa: Chega de política, chega de amadorismo. Todos os países seriam transformados em empresas e suas ações colocadas na bolsa. Qualquer cargo que antes era público agora vai depender de uma análise criteriosa de currículo, inclusive o de presidente. Ou, CEO Nacional.

A missão da empresa ainda vai ser o desenvolvimento do país em questão, mas dessa vez vai ter que fazer de verdade. (Ou vai todo mundo pro olho da rua…)

Acabaríamos com essa palhaçada de indicação política. Nunca mais uma pessoa que nunca trabalhou na área poderia ser chefe de ministério, por exemplo. Se a nação empresa sabe o que é bom para ela, e ela vai saber agora que é uma empresa séria, vai colocar no controle uma pessoa bem-vista pelo ditador mundial. Qualquer babaca recém-formado em marketing poderia dar essa dica: Não seja mal-visto por quem regula e controla o mercado.

Partidos políticos? Nunca mais. Formação de partido seria considerada formação de quadrilha. Honestidade, finalmente. Ninguém mais gastaria com campanhas para convencer a massa semi-analfabeta a votar, a partir do momento da inauguração do estado-empresa, todo mundo ia ralar para conseguir a melhor formação e a melhor experiência profissional para conseguir uma boquinha. E obviamente os salários seriam exemplares.

Mas vocês ainda devem estar achando que isso vai ser uma desgraça do ponto de vista social, certo?

Errado!

– Populismo profissional: Como garantir que os serviços básicos à população serão de boa qualidade? Simples: Todos os empregados pela nação empresa serão OBRIGADOS a usar apenas serviços oferecidos pela nação empresa. Plano de saúde particular? Não para o presidente. Carro oficial? Não, vai ter que usar ônibus ou metrô. Medo de bandido? Se vira, porque só pode chamar a polícia, nada de segurança particular. Tem que mandar filho pra escola? Adivinha só…

Garanto que a qualidade desses serviços vai melhorar de forma substancial, em pouquíssimo tempo.

Mas qual a graça de uma ditadura se você não pode impor sua visão do mundo?

– Regulamentação religiosa: Proibir religião é uma burrice sem tamanho, já que seria um incentivo à vitimização das pessoas que se acham especiais por terem amigos imaginários. Só aumentaria o tamanho do monstro.

Mas já que as crenças irracionais não podem ser eliminadas, que pelo menos sejam forçadas a seguir seus próprios preceitos benevolentes. Ninguém poderia lucrar UM CENTAVO que fosse com religião. Imposto de 100% sobre o lucro, e auditorias fiscais sérias constantemente no pé das igrejas. Acúmulo de capital? Sem chance.

Se fizerem direito e só ajudarem os necessitados, acaba qualquer problema deste ditador mundial com o assunto. O investimento em educação e a diminuição considerável da população miserável no mundo resolvem a parte do misticismo insano em pouco tempo. (Claro que quando a fonte de lucro fácil secar, boa parte dos abnegados servidores de *insira divindade aqui* vai debandar para outras atividades…)

E sim, o Vaticano seria desfeito, derretido e convertido em verba para compra de camisinhas e coquetéis anti-AIDS para a África.

Os campos de concentração mística também estão garantidos.

Ok. Eu sou um maluco que planeja o que vai fazer quando virar ditador do mundo. Não que eu tivesse uma reputação de sanidade a defender…

Mas há um ponto neste texto, além do óbvio que é a humanidade que perde não tendo um déspota esclarecido como o que lhes escreve. Assim como eu, tantas outras pessoas parecem ter na ponta da língua a resposta para todos os problemas. E normalmente são ditatoriais.

A verdade é que todas as pessoas não podem ser felizes ao mesmo tempo. Não existem vantagens pessoais sem custos. Não existe sociedade igualitária sem que todos estejam igualmente insatisfeitos. Tente resolver QUALQUER problema social agradando a maioria de forma consistente e duradoura e perceba que simplesmente não é possível.

Muita gente se ofende quando eu digo que a única vantagem da democracia é não deixar gente muita estúpida ter muito poder. Quando se diz que “democracia é uma merda, mas é a menor merda de todas”, é sobre isso que se fala. Problemas que afetam a maioria não vão ser resolvidos agradando a maioria. É por isso que nenhum regime democrático consegue resolver questões sociais de acordo com as promessas de seus líderes antes das eleições. Esses líderes pouco ou quase nada fazem, nem sempre por incompetência, mas pelos problemas óbvios de não ter poder real.

(Claro, poderiam não parecer orgulhosos de sua estupidez e descaso com as leis e a ética como nossos governantes, mas… na verdade nem quem quer muito mudar um país democrático consegue mesmo…)

Parece então que eu estou advogando a ditadura como melhor regime para resolver os problemas de um povo. E estou mesmo, mas com uma condição: Que seja eu o ditador. E para perceber o problema do sistema ditatorial, basta perceber que esse “eu” vale para qualquer pessoa que diga a frase. Todos nós seríamos ótimos ditadores mundiais em nossos mundos.

Democracia só existe para que “eu” não decida sozinho o que é melhor para o mundo. Infelizmente não existe saída rápida e nenhum déspota é esclarecido o suficiente para consolidar suas mudanças na mente da maioria. Aliás, grande parte é semi-retardada. Eles não chegam ao poder à toa: As pessoas que mais entendem como o mundo funciona abominam a idéia de poder absoluto, mesmo que isso signifique abdicar de uma eventual chance de ser esse poder.

Estou escrevendo isso por um motivo importante: Por mais que você tenha vontade de enforcar o Serra com as tripas da Dilma acompanhando a campanha eleitoral, assim como eu, pelo menos é uma merda de uma democracia!

Para dizer que votaria em mim para ditador, para concordar que o “Populismo Profissional” deveria ser aplicado de verdade, ou mesmo para dizer que já está ficando de saco cheio desses meus textos que mudam de sentido do nada: somir@desfavor.com


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