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Somir Surtado: Gordalização.

| Somir | | 10 comentários em Somir Surtado: Gordalização.

Gostosa! A batata-frita...

Escala de nerdice: Super-size.

Sei lá se essa notícia saiu em algum desses sites nacionais que reúnem os absurdos desse mundo, mas fuçando pela internet me deparei com esse exemplo de ser humano chamada Donna Simpson. Uma americana que está tentando bater o recorde mundial de… BANHA! Sim, Donna quer ser reconhecida como a mulher mais gorda do mundo.

E para tanto, nada de preguiça. Com uma conta semanal de U$ 750,00 só para comprar a comida que consome, ela ainda toma cuidado para não se colocar em nenhuma situação onde possa perder essas valiosas calorias. Claro que o fato de pesar 273 quilos atualmente já ajuda bastante. Uma pessoa assim não consegue andar mais que poucos metros antes de desabar sob o próprio peso.

Imagino que algumas tarefas, como limpar a própria bunda, devam ser terceirizadas. Alguém tem que alcançar aquela montanha de gordura esmerdeada… Talvez Donna ainda consiga, com algum sofrimento. Mas quando chegar no seu objetivo (e eu reclamando de mulheres sem metas na vida) de pesar sexys 450 quilos… Sei não.

O marido (sério) de Donna é o maior incentivador de tal projeto. E a maior prova de que ele não está de pura sacanagem com a mulher é o fato de do casal ter uma filha. Pelo menos UMA vez o cidadão conseguiu achar o buraco e mandar ver. Essas coisas se reproduzem, até porque com esse peso uma mulher não consegue fechar as pernas…

O caso em si nem é o pior para mim. Gente louca e irresponsável tem em tudo quanto é lugar. Eu mesmo sou um retardado quando se fala de manutenção de uma vida saudável. É sim nojento que uma mulher corra em direção a uma vida de doenças e mais doenças tendo uma filha para criar, mas sobre isso eu já falei várias vezes.

Como esta coluna está se especializando em assuntos nerds, eu preciso destacar um fato dessa história, um que define o grande problema dessa era da comunicação.

Para manter seus exorbitantes gastos com alimentação, Donna mantém um site onde homens pagam para assisti-la…

Comendo fast-food.

Eu não estou inventando. Existe toda uma classe de homens cujo maior fetiche é encher mulheres de comida e vê-las engordando. São os “feeders”. Não se sinta mal se é a primeira vez que você ouve falar disso, eu deixei metade da minha crença na espécie humana despedaçada em diversos sites de fetiches alternativos por aí.

Somos uma espécie perturbada, com certeza.

De qualquer forma, não bastasse Donna e seu marido serem dois desperdícios de oxigênio, ainda vivemos num mundo onde eles podem ser reconhecidos e incentivados. O fenômeno das celebridades instantâneas só veio à tona de verdade quando a tecnologia da comunicação finalmente permitiu que qualquer babaca tivesse sua platéia (oi!).

Imaginemos o caso de Donna há algumas décadas atrás. Primeiro que essa história de recordes mundiais ainda era baseada em dedicação, talento e esforço. Hoje em dia tem mulheres disputando qual o maior implante de silicone do mundo… Se eu não me engano a cretina que tem a coroa atualmente é brasileira. (Orgulho, hein?)

Ninguém ia pensar numa disputa para GANHAR o título de maior bola disforme de gordura nojenta do mundo. Essas pessoas eram simplesmente aberrações de circo e infartos ambulantes. Donna seria categorizada como o que realmente é: Uma balofa. Mesmo que o marido tivesse o parafuso a menos que gera esse fetiche maluco (não é gostar de mulher mais cheinha, eu também gosto, é se sentir mais atraído por mulheres morbidamente obesas do que por quaisquer outras), ele nem poderia sair por aí alardeando isso.

Sem a defesa de saber que faz parte de um grupo maior, o “feeder” teria que se manter discreto ou ser segregado completamente da sociedade na qual vivia. (Claro, hoje em dias as pessoas em geral não acham isso positivo, mas ele tem o conforto de não precisar abandonar qualquer forma de socialização caso a história se espalhe.)

A mulher não estaria disputando o recorde mundial, a mulher seria apenas uma cretina que pariu uma filha e está tentando se matar antes de vê-la se formar no ensino médio. O marido seria o filho da puta que estaria ajudando tudo isso a acontecer.

Com menos compreensão da diversidade de pessoas no mundo, as pessoas tinham menos medo de apontar o dedo na cara de um cretino e dizer exatamente o que eles eram.

Sim, estar conectado com o mundo, receber mais informação e conhecer pessoas muito diferentes tem o seu lado positivo na diminuição do preconceito e da ignorância. Mas ao mesmo tempo cria uma área cinza perigosa onde se torna difícil reconhecer onde acaba a intolerância e onde começa o bom senso.

Por mais que as pessoas tenham o direito de fazer suas escolhas, isso não as exime da possibilidade de estarem fazendo algo incrivelmente estúpido. Talvez seja uma das “dores do crescimento” dessas gerações que viram o mundo diminuir consideravelmente durante suas vidas. É como se tentássemos globalizar nossas opiniões para não ficarmos para trás.

Erre a mão e compreensão soa como complacência.

Eu entendo que muita gente nesse mundo sinta-se desesperada com a noção de que não vai deixar nada que possa ser lembrado quando morrerem. Eu entendo o valor da aceitação.

Mas não dá para entender porque uma pessoa vai querer deixar como legado o corpo mais morbidamente obeso do mundo. É de uma falta de perspectiva impressionante. E esse tipo de estupidez não é algo novo, o fato disso finalmente poder ser reconhecido por muitas outras pessoas em pouco tempo que torna essa união entre limitação intelectual e visibilidade perigosa.

Em grande parte, as pessoas com um mínimo de bom senso ainda vão estar olhando para a aberração de circo, assim como faziam no passado. Mas as que só não seguiam esses caminhos insanos por falta de oportunidade vão enxergar ali um modelo de sucesso.

Vários malucos homicidas usaram essa idéia de gravar o nome na história como motivação para seus crimes. Esse número incrível de tiroteios em escolas nos últimos anos não é culpa dos videogames violentos ou dos “bullies”… O problema é que agora tem platéia.

A pessoa que desiste de buscar a glória pessoal pelo esforço ou talento genuíno acaba numa encruzilhada, cujos caminhos levam ao ostracismo completo ou à busca de fama a qualquer custo. O caminho da fama a qualquer custo finalmente está aberto para a maioria das pessoas. Não só pela internet… Uma notícia corre o mundo por vários meios de comunicação em questão de segundos.

O mundo está pequeno demais e as pessoas ainda não parecem à vontade para apontar que o diferente pode sim ser uma coisa horrível. E sem esse mecanismo tradicional de parar maluco antes que ele exagere, logo surge outra balofa dizendo que vai chegar a 500 quilos e esmagar o futuro recorde de Donna.

Porque essa reportagem pode fazer alguém pesquisar sobre o assunto e descobrir uma chance de ser menos anônimo nesse mundo, uma chance que nem sonharia ter antes disso. Uma mulher muito acima do seu peso ideal pode passar anos se matando para entrar em forma ou pode começar a comer mais e achar uma comunidade de homens que vão masturbar-se vendo-a comer batata frita pela internet. Nem sei se ela ficaria satisfeita exatamente com a parte das homenagens anônimas, mas a atenção… Ah, a atenção…

Não parece um absurdo que uma pessoa busque um recorde que não é a recompensa em si? Parece e é. Tentar entender o lado dessa pessoa é ignorar o fato de que ela está buscando atenção de uma forma doentia. Pessoas diferentes pensam diferente, o que não evita que essas pessoas diferentes sejam TOTAIS E COMPLETAS CRETINAS.

Um pouco de intolerância não mata. Cada vez que uma Donna fica famosa, a humanidade fica mais burra. Não digo que devemos censurar a internet ou algo assim, digo que botar o dedo na ferida e criticar os outros é uma forma de auto-regulação eficiente. Essa baboseira de “politicamente correto” ainda vai desabar sob o peso (há) do monstro que está criando.

Esses sites para ver gorda enchendo o rabo de comida só estão por aí por falta de trolls! Aceitação meu ovo! Isso é falta de gente perguntando para ela se ela vomita com o cheiro da própria bosta gordurosa.

Para dizer que eu atraso para esconder meus textos vagabundos das críticas, para dizer que toda mulher bate esse recorde quando se olha no espelho, ou mesmo para dizer que o verdadeiro ultraje é que Donna não esteja encalhada: somir@desfavor.com


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