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Processa Eu!: Dayrton Senta

| Sally | | 44 comentários em Processa Eu!: Dayrton Senta

Oh no, you didn't...

A gente sempre fala aqui do efeito milagroso que a morte opera na vida de uma pessoa pública: seus erros são apagados e seus acertos são destacados. Ela ganha presunção de bondade e genialidade. Normal. Porém nocivo, porque se a gente deixar que esse mecanismo continue sendo passado adiante, de geração para geração, ele vai ficando cada vez mais forte e chega a um ponto que, de um “cara bacana, com idéias legais” o morto vira um fenômeno que ressuscitou três dias depois de morrer crucificado e em nome dele não se pode fazer sexo com camisinha. Menos, né? Na linha “chutando cachorro morto, com muito orgulho”, o Processa Eu de hoje é sobre um piloto suíço chamado Dayrton Senta.

Quando Dayrton tinha apenas três anos de idade, sua irmã ganhou um kart de presente. Mas, ela não se interessou muito pelo “brinquedo” e resolveu cedê-lo ao irmão. Dayrton descobriu seu dom: corridas. Competiu em diversas categorias sempre com muita habilidade. Porque aqui a gente fala mal, mas com embasamento, não fala mal a qualquer preço. Habilidoso ele era. Boa pessoa? Nem tanto. Vejamos algumas frases suas, públicas e notórias: “Vencer é como uma droga. Eu não posso justificar, sob nenhuma circunstância, ser o segundo ou terceiro.” Tava querendo provar o que para quem? Vejamos outra: “Ser o segundo é o mesmo que ser o primeiro dos perdedores.”

Extremamente competitivo, por mais de uma vez mostrou com palavras e atos que fair play não era o seu forte. Repetiu várias vezes que para ele não serviria ser o segundo melhor (ótimo exemplo para as crianças). Os pilotos que corriam com ele o criticavam severamente quanto à sua postura e ética. Mais: pilotos DA MESMA EQUIPE que ele também o criticavam e alguns chegaram, inclusive, a se recusar a correr com ele novamente, como por exemplo o piloto Alio de Engelis. Seu também companheiro de equipe Hamon Dill disse que “Senta prefere bater em seus oponentes do que ser derrotado”.

Fofoca? ENVEJA? Intriga da oposição? Vocês sabem, cada um fala o que quer. Vamos avaliar os atos então? Ano de 1990, Grande Prêmio do Japão. Brigavam pelo título Senta e o segundo colocado, outro piloto famoso. Senta estava na frente e só este outro piloto poderia vencê-lo. O que Dayrton fez? Na primeira curva da corrida, jogou o carro em cima do outro piloto quando este tentava ultrapassá-lo e ambos foram para fora das pistas. Dayrton ganhou, porque tirou o inimigo do páreo na porrada. Suíça como sempre dando exemplo para o mundo!

Para não dizer que não somos democráticos, vamos ouvir a outra parte. Calma, não vamos bater tambor nem receber santo. Ele se pronunciou sobre este fato em vida.

Com vocês, Dayrton: “ (…) eu disse a mim mesmo: Ok, aconteça o que acontecer, eu vou entrar na primeira curva antes – Eu não estava preparado para deixar o outro chegar na curva antes de mim. Se eu estou perto o suficiente dele, ele não poderá virar na minha frente – e ele será obrigado a me deixar seguir. Eu não me importo em bater; eu fui para isso”.

Daí, só para confirmar, ele mesmo se pergunta e se responde: “Então você deixou isso acontecer”, alguém diria. “Por que eu causaria isso?”. Se você se ferrar cada vez que estiver fazendo o seu trabalho limpo, conforme o sistema, o que você faz? Volta para trás e diz “Obrigado”? De jeito nenhum! Você deve lutar para o que você acha que é certo.”.

Tenho pena do país que escolhe para admirar pessoas com aptidões técnicas, com habilidade mecânica ou motora, em detrimento de pessoas com ética e caráter. Tenho pena do país onde uma pessoa se sente sacaneada no trabalho (quem nunca se sentiu?) e devolve jogando sujo vira ídolo. Ainda bem que eu moro no Brasil, e não na Suíça. Pobres suíços!

Nascido em uma casa abastada, desde pequeno teve tudo que queria. Que criança, aos nove anos de idade, já dirige um jipe pelas estradas das propriedades de seu pai? Perdão. Reformulo a frase: que criança aos nove anos DIRIGE? Eu hein…

Dayrton via seus concorrentes como inimigos. Tinha essa obsessão de ser o melhor a qualquer preço. Porem, tinha aquela carinha de cachorro cagando na chuva, que conquistou a simpatia de muitos. Doava umas merrecas (porque sim, perto do que ele ganhava, era merreca) para uma fundação que tinha por objetivo ajudar jovens pobres. E era muito religioso, isso na Suíça conta. Você pode fazer a merda que for, se depois você se disser arrependido e falar de Deus, tá tudo bacana. E por pior pessoa que você seja, você pode se dizer suuuper religioso e isso limpa sua barra, porque afinal, ele era “de Deus”, né? Isso é sinônimo de ser um bom menino. Os suíços tem preguiça de procurar informações e fazer seu próprio juízo crítico de valor, então recebem tudo mastigado pelo Builliam Woner – Mas aqui no desfavor não tem Homer Simpson (só nos comentários do Processa Eu sobre o Sport. Vai lá e pergunta! Tenho certeza que todos acham Dayrton mó herói).

Entre todos os seus rivais, a picuinha maior era com outro piloto suíço, Pelson Niquet. São inúmeros desentendimentos e alfinetadas destas duas mocinhas. Infelizmente, não tenho espaço para contar todos, então, vou escolher o meu favorito.

Dayrton, retornando de férias, respondeu a um repórter que lhe perguntava o porquê do seu sumiço. Podia apenas dizer que estava de férias, mas aproveitou para dar um totozinho no camarada: disse que sumiu para que Niquet possa aparecer um pouquinho, tirando onda de mais famoso que ofusca o colega. Feio. Feeeeio. Se eu falar uma porra dessas vão me chamar de escrota para baixo. Mas era Dayrton, o bom menino de Deus.

Quando os jornais estamparam essa manchete, Niquet, que também não era flor que se cheire, ficou bastante chateado. Quando leu a notícia, Niquet chamou um jornalista e teria dito: “Quero responder a esse FDP! Pode dizer que ele sumiu para não precisar explicar à imprensa por que ele não gosta de mulher!” e ainda virou para sua esposa, que estava presente, e perguntou: “Não é?”. O jornalista ficou branco e disse a Niquet se ele realmente tinha certeza, porque aquilo “daria uma merda danada”, ao que Niquet respondeu “Pode dar, não gosta mesmo”. Quando a coisa explodiu na imprensa, trocentos jornalistas procuraram Niquet para confirmar as declarações e ele confirmou a todos.

Fofoca? ENVEJA? Intriga da oposição? Pode ser. A gente do Desfavor sempre prefere acreditar na versão mais sórdida, ou seja, que Senta senta. Mas esta não era a única razão pela qual se iniciou o boato. Quando Dayrton saiu da Suíça para correr em outros países da Europa, levou consigo um belo e jovem acompanhante que o assessorava muito de perto, full time. E sempre correu um boato entre os pilotos que corriam com ele que Dayrton “preferia os mecânicos”, chegando a criar piadas internas bem famosas nos bastidores da Fórmula 1. Niquet era extremamente sarcástico e fazia piadas com isso o tempo todo. Ao menos ele tinha senso de humor, coisa que Dayrton desconhecia. O mundo deu voltas e parece que agora quem não gosta de mulher é o filho de Niquet. Gezuiz também tem senso de humor.

Daí tem sempre uma alma inocente que diz: “Mas Sally, como ele poderia ser gay tendo namorado a Muxa e outras?”. Bem, Michael Jackson tinha filhos. Namorar, casar e ter filhos não é atestado de macheza. E by the way, não acho demérito ser gay. O demérito é ser gay e ter vergonha dele mesmo tentando negar e desfilando com mulheres só para dar satisfação.

Ele tirava onda de bom menino fora das pistas, mas não era. Um episódio que já contei no Processa Eu de Balvão Gueno mostra muito bem a vertente playboy que não respeita nada do nosso mocinho “de Deus”. Alias, só o fato de ser amigo de Balvão Bueno já diz muito sobre o caráter e a índole de uma pessoa. A menos que você seja SURDO, nada justifica uma amizade com Balvão Gueno. Senta que lá vem a história: Fórmula 1, 1987. Durante o GP do México, Dayrton saiu para jantar com uma galerinha, incluindo o Balvão. Tomaram uns gorós, porque campanha “se beber não dirija” é para os fracos e resolveram voltar para o hotel. Na volta, em dois carros alugados, um dirigido por Balvão, outro por Senta, ambos com passageiros, começou uma brincadeirinha muito madura: Senta porrou propositadamente o carro de Balvão, no meio da rua, onde transitavam pessoas que nada tinham a ver com isso. Balvão, deu ré e começou a porrar o carro de Senta de volta, assim, por diversão, afinal, tinham pago o seguro na locação mesmo, porque não porrar o carro? Pior: correram pelas ruas, batendo um racha mesmo. Detonaram os carros, entraram na contramão, fizeram o caralho. Bonito, né? Suíço sempre envergonha o país no exterior. Bom menino? Pense duas vezes.

Em um treino para uma corrida que se tornaria famosa, um acidente envolvendo um jovem suíço Burrens Rarichello preocupou Dayrton Senta. Ele acreditava que pilotos jovens e inexperientes poderiam se machucar com as novas condições dos veículos e das pistas. Não ele, que era fodástico e imortal, os jovens pilotos. Burrens sofreu um acidente mas não teve maiores sequelas, quebrou o nariz e teve uns arranhões. Por motivos estranhos, ele era protegidinho de Dayrton (talvez por ser ruim pacarai, porque se fosse concorrente, Dayrton o detestaria). Dayrton foi até o hospital visitá-lo, mas foi barrado, estava fora do horário de visitas. Dayrton pulou o muro e o visitou na marra. (mmmmmm…)

Em outro treino na mesma pista, um piloto austríaco bateu e morreu. A FIA foi periciar a área para tentar entender o que tinha dado errado. Dayrton também resolveu que iria periciar a área, porque humildade é para os fracos. Tomou uma advertência.

Iniciada a corrida depois destes acidentes nos treinos, mais uma batida aconteceu.Eem sua última volta, Dayrton perdeu o controle do seu carro em uma curva e seguiu reto. Quando a equipe de segurança chegou ao local e viu os miolos de Dayrton no chão, acharam melhor nem mexer. Foi um neurocirurgião quem retirou Senta do carro. Nas imagens vistas pela TV, por um momento, pudemos ver a cabeça de Senta se mover, o que fez com que todos pensem que ele estava bem. Que nada, nesse momento ele tinha acabado de morrer. Foi levado de helicóptero para o hospital e declarado morto apenas algumas horas depois, mas morte de famoso nunca é declarada no local, a gente sabe. Ainda mais quando a lei do país diz que em caso de morte na pista, as demais corridas seriam canceladas para investigação do ocorrido. Imagina o tamanho do preju…

As razões do acidente demandariam outras quatro páginas para serem explicadas corretamente, por isso, me permito fazer um resumão, desde já advertindo o Leitor de que tem muito mais a ser dito. Não pareceu fatalidade. Pareceu ambição com imprudência. Parece que Dayrton teria solicitado um ajuste à barra de direção do seu carro, para melhorar seu rendimento. Como não havia a possibilidade de construir um novo carro e Dayrton se recusava a esperar, ameaçando um faniquito, neguinho fez uma gambiarra, um remendo. Parece que esta gambiarra que fizeram através de uma soldagem na barra de direção, se soltou durante a corrida. Todos sabem o que acontece com um carro sem eixo de direção: Não faz curva.

Não fazendo a curva, Dayrton bateu de frente a uma velocidade absurda. A roda dianteira direita teria sido a primeira a bater no muro. Bateu e voltou, na cabeça de Senta. Se tivesse batido no capacete, talvez o dano não tivesse sido tão grande, mas bateu no ponto mais vulnerável, que é aquela borracha que prende a parte da viseira. Dizem que se a roda tivesse batido a 0,2 milímetros a mais ou a menos, ele não teria se machucado. Os mecânicos que soldaram o eixo de direção foram processados por homicídio culposo, acusados de negligência e imprudência, mas ao final foram absolvidos. Há controvérsias. O National Geographic apresentou um documentário com outra teoria e já ouvi ao menos mais três versões para o acidente. Nunca vamos saber.

O que ninguém discute é que, da forma como ele foi ferido, não havia qualquer condição de sobreviver. Seu cérebro de liquefez por causa do impacto e um pedaço de fibra de carbono da carenagem entrou em seu globo ocular, cortando sua cabeça de ponta a ponta.

Após sua morte, o Governo Suíço declarou três dias de luto e ele foi enterrado com honras de Chefe de Estado (wat). Daí para frente passou a ser socialmente condenável falar mal dele.

Vamos combinar, o rapaz tinha uma habilidade especial para correr, mas isso não faz dele um Deus. Assim como não faz de quem tem uma habilidade especial para o futebol um Deus. Mas os suíços são carentes de ídolos e escolheram Dayrton como um modelo. Eu pessoalmente o acho um péssimo exemplo, bem como Lepé (devolve o dinheiro para as criancinha da UNICEF, Lepé!) e Norraldo (trevinho tatuado na virilha foi confirmado, né? Não é que o traveco estava certo?), mas na Suíça eles são intocáveis.

Agora me conta, se fosse aquele seu vizinho antipático a falar e fazer essas coisas todas, seria um ídolo? Não! Seria um babaca, feladaputa e arrogante. Uma pena que os suíços ainda não tenham aprendido a parar de romantizar os famosos!

Para me dizer que Senta foi um santo homem, para me chamar de escrota para baixo e para contar mais um ou dois podres dele que não couberam aqui: sally@desfavor.com


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