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Ele disse, ela disse: A beleza do mérito.

| Desfavor | | 14 comentários em Ele disse, ela disse: A beleza do mérito.

Aproveitei e baixei o vídeo... Bacana!

A beleza abre muitas portas nessa vida, não estamos aqui para discutir essa afirmação. Mas a partir dela, surge uma questão que mais uma vez se desenrolou após uma opinião de Somir que deixou Sally indignada.

Ele diz que não é demérito usar a beleza para subir na vida, mesmo que a pessoa só tenha beleza a oferecer nessa vida. Ela considera a idéia horrível. Leitores e leitoras, não façam cara feia: Participem.

Tema de hoje: Subir na vida usando a própria beleza é um demérito?

A vida é uma competição, quer queiramos, quer não. E não é o que possamos chamar de competição justa. Algumas pessoas tem muito mais vantagens na disputa do que outras.

Quando pensamos em subir na vida, riqueza, estabilidade e reconhecimento tendem a ser a tríade que garantem a satisfação pessoal. O prêmio desta competição. (Claro, pode-se dar vários significados pessoais para cada um desses conceitos, a riqueza de um pode ser completamente diferente da riqueza de outro…)

Mas o importante é que de alguma forma, estamos todos tentando vencer na vida. Ao mesmo tempo. E para tanto, temos que deixar vários perdedores (momentâneos) para trás. Nessa série de disputas com outras pessoas, ou usamos nossas melhores armas, ou ficamos pelo caminho.

Falando assim, até parece que eu sou defensor de fazer qualquer coisa para vencer. Mas não é o caso. Tenho ASCO de gente desonesta e metida a esperta. Pra mim, o grande demérito é subir na vida sem ética e sem caráter (burrice social: “não cague onde come”). Por exemplo, quando alguém sabota o trabalho de um colega de profissão para conseguir uma promoção, quando alguém toma para si o crédito de um trabalho que não fez…

Agora, quando duas pessoas disputam alguma coisa utilizando apenas as próprias qualidades, sem sabotagem, existe uma honestidade natural na competição.

Eu nunca vivi a situação de ganhar uma disputa profissional por beleza, inclusive já perdi algumas oportunidades por não fazer o estilo engomadinho-viadinho-quero-dar-pro-Steve-Jobs que parece tão popular atualmente na minha área. Já recusei emprego porque me pediram para fazer a barba (Porra, se fosse cozinheiro ou garçom, vá lá… Mas publicitário? Enfia as regras da multinacional no cu!).

Eu poderia estar aqui reclamando que é injustiça que minha capacidade profissional esteja subjugada à minha aparência numa disputa com outra pessoa. Mas… Eu que não faço a menor questão de ESMAGAR um concorrente intelectualmente inferior. Ei, esse é o MEU jogo. Foi onde eu me preparei, foi onde eu busquei minha vantagem profissional. Uma pessoa bonita e mais cuidadosa com a aparência pode não ter tido tempo para acumular a mesma quantidade de informações que eu, e muito menos para ter a mesma capacidade de transformar essas informações em boas idéias.

Uma pessoa bonita e burra também pode achar uma injustiça que um largado como eu bata ela numa disputa. Ela passa a vida achando que precisa vencer na base da aparência e de repente descobre que tem que disputar em outra categoria? Não deixa de ser uma sacanagem com ela. Melhor para quem vence.

Agora, imaginemos que eu esteja disputando com uma pessoa equivalente intelectualmente e mais bonita… Oras, é justo que a pessoa mais bonita vença. De alguma forma ela conseguiu conciliar duas grandes qualidades na vida. E foi de forma honesta, qualidades próprias, sem sabotagem.

Porque beleza não é uma qualidade vazia, mesmo no mercado de trabalho. Essa pessoa bela tem mais facilidade de atrair e se relacionar com outras pessoas, tende a ser um pouco mais segura e ainda por cima deixa o ambiente de trabalho mais agradável. Somos humanos. Gostamos de beleza, qual o problema?

Eu sei, eu sei… Se uma pessoa que só tem beleza vence uma disputa com outra que SÓ não tem isso, fica um gosto amargo de injustiça, mais ou menos como os esforços da pessoa mais bem preparada não valessem de nada. Mas essa idéia nem sempre é verdade…

Para começo de conversa, em algumas profissões a beleza é o objeto de trabalho. Em outras profissões, é um acessório tão útil que simplesmente não faz sentido querer ser julgado apenas pela capacidade intelectual ou esforço. Quem precisa atrair outras pessoas para realizar seu trabalho ou tem beleza ou tem um carisma que compense.

Uma característica das pessoas bonitas é que… torna-se difícil perceber algo além disso enquanto você não a conhece bem. Beleza define tanto uma pessoa que vira o bode expiatório das pessoas que não conseguem competir. Veja bem, logo depois de fazer sua entrevista, você percebe que a próxima candidata é uma estonteante loira, muito bem vestida e arrumada. Alguns dias depois, sai o resultado: Ela foi contratada. Qual a primeira coisa que vem à cabeça de quem não conseguiu o emprego?

Pois é. Ninguém imagina que o currículo dela era o melhor de todos, ninguém imagina que ela foi a única a convencer o entrevistador que realmente queria a vaga, ninguém imagina que ela tinha pedido o menor salário… Não. Ela venceu a disputa porque era bonita. Gente bonita não PRECISA ser menos qualificada. Só que essa é uma idéia tão confortável para quem se sente inferiorizado que ninguém questiona. Até imagino que pessoas bonitas fiquem irritadas com essa generalização automática, mas com a ENORME vantagem que tem, estão reclamando de barriga cheia. (Vê se a Sally escolheria ficar feia para ser mais reconhecida pela inteligência?)

Será que tanta gente assim perde oportunidade na vida SÓ porque a concorrência era mais bonita? Não sei quanto a vocês, mas eu não vou me esconder atrás disso não.

E mesmo nos casos onde nada mais além da atração gerada por uma pessoa bonita vira o definidor de seu sucesso profissional, é injusto querer que pessoas bonitas e burras não façam nada da vida. A pessoa não pode nascer de novo e começar da estaca zero. Sem contar que viveu uma vida de vantagens oriundas dessa característica. Burrice MESMO seria não aproveitar. (Beleza acaba…)

Se você for como eu, aposto que nem gostaria de trabalhar num lugar onde a beleza vale mais do que a capacidade profissional. O chefe que contrata um bando de gostosas só por esse motivo não é do tipo que vai te promover pelo bom trabalho mesmo…

Não é demérito vencer na vida pela beleza. Demérito é achar que é sempre culpa dos outros.

Para dizer que a minha idéia é tão bonita quanto eu, para dizer que imaginava que as opiniões seriam justamente as inversas hoje, ou mesmo para reclamar que bonito mesmo foi ter ficado sem postar no sábado: somir@desfavor.com


Acontece. Muitas vezes acontece e a gente deixa acontecer, porque vamos combinar, quem é que não gosta de dinheiro, sucesso, reconhecimento e poder? Mas isso não quer dizer que seja legal, que seja bonito nem que seja digno. É uma merda. Saber que você subiu usando beleza é uma merda.

Todo mundo faz, cada qual no seu limite ético pessoal. Tem gente que sorri para conseguir um documento mais rápido em um cartório, tem gente que dá o rabo para conseguir uma promoção mais rápido em sua empresa. Mas não importa qual o limite que você impõe, é sempre uma coisa pouco nobre. Eu eventualmente faço, mas tenha a clara consciência que é menos bacana do que subir exclusivamente pelo mérito profissional.

Madame não acha nada de mais subir usando a beleza. Eu acho. Eu acredito que a beleza só entra em cena quando faltam outros atributos. Porque se você é o melhor naquilo que você faz, ninguém vai se valer de beleza para justificar nada, nem mesmo como critério de desempate. Beleza pode até ser um plus, mas jamais será determinante para porra nenhuma se você se esforçou o suficiente para ser o melhor.

Vamos fazer uma distinção: uma coisa é conseguir uma deferência eventual por causa da beleza (o que não deixa de ser uma merda, mas é uma merda menos grave). Outra coisa é SUBIR USANDO BELEZA. Nada como metáforas para ilustrar: uma coisa é sorrir para o barman e ganhar um drink de graça, outra coisa é saber que você só entrou na festa porque era mais bonita do que a outra convidada que estava na fila com você, e que acabou barrada em detrimento da sua entrada.

A gente sabe que na vida real não dá para ser o melhor em tudo que faz. Todos nós temos pontos fracos, deficiências. Infelizmente, em alguns casos, a beleza nos ajuda a driblar estas deficiências, tornando-as menos aparente ou compensando sua existência. Tentador? Sem dúvida. Mas também traiçoeiro, porque quem sobre na vida usando a beleza está arriscado a cair tão rápido quanto subiu, porque sempre vai ter uma pessoa mais bonita tentando subir. Chato né? Um saco que existam pessoas mais bonitas do que a gente.

É aquela velha frase que eu sempre fico repetindo: beleza só é relevante para crescimento profissional quando você não tem mais nada a oferecer. Como eu disse, usar um truquezinho (vulgo “isca”) de sedução aqui, outro ali, para eventualmente conseguir alguma coisa já é uma merda, quem dirá subir na carreira usando beleza.

Vamos pensar em grandes profissionais notoriamente reconhecidos? Alguém por acaso parou para pensar no quanto Meryl Streep é feia? Eu acho ela horrenda. Entretanto, é muito bem sucedida em sua profissão, que diga-se de passagem, costuma exigir beleza. Ganhadora de Oscar e de muitos outros prêmios, é uma excelente atriz. E subiu por mérito. Sim, eu acho que ela tem mais mérito do que uma Sharon Stone da vida, que encontrou portas abertas por causa de sua beleza. Meryl subiu mesmo tendo cara de urubu caído do ninho. Quando você é muito bom do que faz, sobre mesmo sem beleza.

“Mas Sally, e se você for bom E bonito? Qual o problema nisso?”. Se você for bom mesmo, melhor que todo mundo, indiscutivelmente fuderoso, a beleza não vai fazer a menor diferença e você não vai subir usando a beleza. Se, em algum momento a beleza fizer diferença, é porque você não é bom o bastante para, por si só, garantir seu sucesso profissional. Já disse e repito: beleza como critério de desempate é derrota moral.

Infelizmente o mundo tá cheio de gente doida para pegar um atalho. Porque o caminho padrão é muito longo e demanda muito esforço. Então, as pessoas arrumam as piores desculpas para si mesmas, numa espécie de auto-perdão, e justificam o fato de subir por causa da beleza como uma coisa normal. É aquele papo corrupto de “todo mundo faz, então eu também vou fazer”, como se o erro dos demais apagasse o nosso.

Daí temos profissionais medíocres, que não estudam, não se atualizam e não se dedicam à sua profissão porque sabem que existe esse “atalho”. Em resposta, temos uma desconfiança das pessoas no geral com profissionais bonitos ou que dedicam seu tempo a cuidar da aparência. E quem se fode são pessoas como eu, que dedicam 90% do seu tempo ao trabalho e estudo e 10% ao corpo e ganham presunção do inverso (sim, eu dedico 0% à minha vida pessoal, encalhada pride).

Vou além: em mulher, nem fica tão feio, mas em homem… Ver que um homem subiu na carreira usando a beleza me provoca um nojo profundo. Acho uma coisa meio prostituto, meio “muleque piranha”. Nojo mesmo. Se eu soubesse que o Somir foi escolhido para um trabalho, em detrimento de outra pessoa, apenas por ser mais bonito, eu ia falar um monte no ouvido dele. E ficaria muito desapontada.

E sim, eu ficaria ofendida se soubesse que eu fui escolhida para algum tipo de promoção em função de beleza. Eu acho um insulto que alguém pense que o que eu tenho de melhor a oferecer é a minha beleza. Além disso, não me sentiria segura no cargo, pois amanhã ou depois poderia aparecer outra mais bonita do que eu. Canalhice é muito bom quando nós somos os beneficiados, o problema é que quase sempre acaba sendo uma via de mão dupla.

Não sou samambaia nem bibelô para enfeitar ambiente de trabalho. Se não me reconhecem pela minha competência profissional, talvez eu não queira trabalhar com essas pessoas. Não acho inofensivo subir na carreira usando a beleza, acho um atestado de incompetência e fortes indícios de uma pessoa golpista.

Sinceramente? Subir na vida usando a beleza (ainda que não seja usando só a beleza e sim também a beleza), está muito, muito, muito próximo da prostituição. Não precisa fazer sexo em troca de dinheiro para ser prostituta(o), o conceito é bem mais amplo.

Para dizer que se eu não fosse bonita eu não estaria aqui, para dizer que se eu não tivesse dado para o dono não estaria aqui e para dizer que eu vivo em um mundo imaginário dos ursinhos carinhosos: sally@desfavor.com


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