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Flertando com o desastre: Os intocáveis.

| Sally | | 60 comentários em Flertando com o desastre: Os intocáveis.

Ah, você lembra do filme, vai...

Cada vez mais existem grupos sociais que, sendo minorias ou não, promovem uma histeria de “não me toque” com argumentos vitimizados e chantagistas. Eu poderia fazer um Flertando com o Desastre sobre cada um deles em específico, mas como já tratei do assunto mais de uma vez aqui, no fórum e no Orkut, não creio que valha a pena.

O primeiro grande grupo, e talvez o mais polêmico, é o dos deficientes físicos. “Mas Sally, você não tem coração? Tá dizendo que deficiente é tudo escroto? Sally, você vai pro inferno!”. Não, não estou dizendo isso. Estou dizendo que quem SE UTILIZA de sua deficiência para se dar bem ou abusar é um filho da puta e merece tratamento igual ao de quem não tem deficiência. Ser deficiente físico não te autoriza a qualquer coisa. Não é um GreenCard para relações sociais. Ou melhor, não deveria ser, porque hoje em dia acaba sendo.

Não importa a atrocidade que aconteça, ai de quem levantar a voz com um deficiente físico “Coitaaaado, que horrrrrrrorrrrr, brigando com um deficieeeeente”. Canalhas também sofrem de deficiências físicas, vai desculpar. E tem muitos que justamente por serem deficientes acabam abusando, afinal, tem a certeza de que a sociedade vai passar a mão na cabeça.

Uma vez um sujeito sem pernas que pedia esmolas em cima de um skate levantou a minha saia no meio da rua. Adivinha se eu não lhe enfiei uma bolsada? Adivinha se os transeuntes não disseram “Coitaaado! Ele é deficieeeente!”. Quer dizer, Deficientes do Meu Brasil, venham ver a bunda da Tia Sally, porque se você tem uma deficiência, tem o direito de levantar a roupa dos outros! Não. MAS NÃO MESMO.

Outro grupo que tem membros que abusam são os idosos. E como tem velho safado e filho da puta… Sim, os canalhas também envelhecem. Se teve condições de fazer a merda, não é tão “idoso indefeso” assim. Passarinho que come pedra sabe o cu que tem. Tem que assumir as conseqüências dos atos. Ou alguém aqui deixaria de tomar satisfações se um idoso passasse a mão na sua bunda? (vale para homens e mulheres).

Como acontece com os demais grupos, basta levantar a voz para um idoso que todos se voltam contra você. Presunção absoluta de bondade e caráter se você tem mais de 60 anos. E ai de quem ousar peitar um idoso abusado, já enchem a boca para falar de “Estatuto do Idoso” e começam a gritar que é crime. Parece aqueles pivetes que assaltam com uma faca no seu pescoço e quando o policial pega começa a gritar que não pode fazer nada com ele porque é “De Menor”. Podiam criar logo o termo “De Maior”, em referência a idosos intocáveis!

E por falar em pivete, criança é outra raça que tem autorização social para fazer qualquer merda. Se os pais não repreenderem (coisa cada vez mais comum), ai de quem der um pio! “Tadeeeenho, é só uma criaaaaança!”. Eu também já fui criança e não era mal educada.

Querem um exemplo de como criança pode tudo? Um vez estava eu no metrô, com um sobretudo de veludo novinho. Uma criança se aproximou e começou a assoar nariz no meu sobretudo de veludo novinho. Cutuquei a mãe, que estava no banco do lado lendo um jornal (nem aí para o filho). A mãe abaixou o jornal por um segundo e miou “Joaãããão Vííííítor, não faz isso não que a mamããããe fica triiiiste” e continuou a ler o jornal. O pequeno delinqüente juvenil João Vítor continuou descarregando suas catotas no meu casaco novo. Eu mesma tentei mandar João Vítor parar, mas ele me ignorou e continuou assoando seu nariz. Chegou a um ponto em que eu empurrei João Vítor e, no que ele caiu de bunda no chão e começou a chorar, o metrô todo se voltou contra mim: “Aaaaai que horrrrrorrrr! Covaaaarrrdeee! Empurrando uma criaaaança!”. Inclusive a mamãe relapsa, que saiu da sua inércia contemplativa e veio me falar desaforos.

Criança não sabe o que faz? Sabe sim. E se não sabe, tem que ensinar. Esse papo de “criaturas inocentes abençoadas” é bastante relativo. Tem algumas que são criaturas demoníacas, manipuladoras e chantagistas. Que porra é essa que criança pode tudo só porque é criança? Só porque não faz com maldade pode fazer qualquer merda?

Temos também outro grupo recente de Intocáveis. Os gordos. Sim, os gordos. Podemos fazer piada com qualquer característica física de alguém, as pessoas costumam levar numa boa. Neguinho se chama de careca, de baixinho e de outras coisas. Aliás, todo mundo sacaneia o meu tamanho e eu nunca me importei com isso. Agora, experimenta dizer para um gordo que ele é gordo! (se for gorda, pior ainda). Ataque de Preta Gil, ameaça processar e tudo!

Ser gordo é uma característica física elegível (porque sim, é possível emagrecer, apesar de muitos gordos fazerem parecer que não é). Ser baixo é uma característica física não elegível. Supostamente, deveria se menos “sacenável”. Entretanto, sacaneiam pessoas com características físicas não elegíveis sem qualquer problema, mas falar de gordo não pode! Quem chama gordo de gordo é uma pessoa fútil, babaca, superficial, que só liga para aparência, escravo da ditadura social da magreza e piores. Quem chama uma pessoa baixa de anã é um brincalhão. Então tá. Parabéns para os gordos, ao não permitirem que se brinque com seu peso, estão se equiparando a deficientes físicos.

Outro grupo que tem membros que adoram ser intocáveis, por mais que neguem, são os negros. Apesar de que, vem melhorando, ao contrário dos demais citados, que só pioram sua mania de perseguição. Somos todos iguais, eles repetem. Experimenta sair com uma camisa escrito 100% branco (Deja? Oi?) ou Orgulho em ser branco ou White is Beautiful para ver o que te acontece. Se te chamarem de branquelo azedo, ta bacana, se você reclamar é um pentelho. Chama alguém de “crioulo azul” e você vai ver a merda que dá. E para alguns, TUDO é racismo. Contrariar a vontade de alguém, só porque é negro, é racismo. Vai tomar no meio do cu preto, faz favor…

Tem um preconceito cultural histórico contra negros? Tem, tem sim. Mas não justifica as atitudes de ALGUNS representantes da raça. Somir escreveu um texto excelente sobre o assunto em uma das primeiras postagens do blog e outro há pouco tempo. Leiam, vale a pena. Acaba que com essa atitude os próprios negros provocam sua discriminação. Chegamos a um ponto onde é socialmente reprovável falar que “a coisa tá preta”.

O que dizer dos judeus? Esses também tem representantes na categoria dos Intocáveis. Ninguém aqui nega o horror do Holocausto, mas porra, não pode fazer uma piadinha chamando judeu de pão duro? Qual é! Eu ouço piadas sobre argentinos o tempo todo e jamais me importei com elas, muito pelo contrário, acho a maior graça. Não vejo porque o tabu de brincar com etnia. Aliás, tem texto sobre eles também, salvo engano, um Flertando com o Desastre meu.

E por falar em tabu geográfico, não entendo porque não podemos nos referir aos Nordestinos com qualificações de sua terra natal (Paraíba, Baiano e etc). É pejorativo? Todo mundo chuta carioca e paulista numa boa e ninguém sai em nossa defesa. Na hora de chamar um loiro ou um ruivo de “russinho” ou “alemão” ninguém se ofende. Percebem na cabeça DE QUEM está o preconceito?

Mas o grupo que mais me preocupa são as mulheres, porque pertenço a ele. Mulheres estão se tornando mais um grupo dos Intocáveis. É histeria legal colocando no papel que não pode falar mal de mulher ou leis tão repressivas que não se pode mais nem flertar no local de trabalho. Mulheres que usam o Estado como uma figura paterna e correm para ele em socorro cada vez que levam uma sacaneada masculina, chorando por indenização por danos morais (esquecendo quantas vezes já fizeram alguém sofrer). Se continuar assim, homens vão começar a nos tratar como intocáveis. A todas nós, não apenas às histéricas que de fato o são.

Recentemente venho sentindo um certo cheiro de “Intocáveis” com os torcedores do Vasco. Quando alguém faz alguma piada, sempre tem um que cutuca e sussurra “Não fala assim com o cara, ele é vascaíno” (BACALHAAAAAU CAIU PARA A SEGUNDONA! NÃO CANSO DE SACANEAAAR!). Isso me fez refletir e chegar a uma conclusão.

O que move essa aura de “intocabilidade” (eu sei que a palavra não existe, porra) é PENA. Pena pura. E aquela pena ruim, a pena da menos valia. “Coitada da pessoa, vamos deixar ela ter ALGUMA compensação da vida, afinal, ela é deficiente física”. Como se já não bastam aquelas vagas BACANAS nos melhores lugares do estacionamento shoping?. Viram? Eu não senti pena. Eu fiz uma piada com deficientes, porque acho eles tão dignos, fortes e capazes de lidar com piadas quanto eu, fisicamente normal (porém mentalmente perturbada, namorei o Somir! Alooooooooouuu!).

Temos pena de deficientes, crianças, idosos, doentes, negros, judeus, gordos e tantos outros grupos socialmente intocáveis. Temos pena porque somos socialmente obrigados, porque se quebrarmos com a ordem estabelecida ainda saímos como “os escrotos” do evento. Poucas pessoas seguram o rojão de sair como “o escroto” de um evento público e notório (Somir adora, mas não vem ao caso). Na verdade, seria muito mais digno para todos estes grupos se pudéssemos fazer piada com eles, como fazemos com o resto das pessoas. Aí sim poderíamos dizer que eles levam uma vida normal.

Deve ser um fardo pesado de carregar não poder ser objeto de piada, de humor. Deve ser terrível perceber que por mais que você faça coisas escrotas e socialmente reprováveis, sua aparência, situação ou etnia provoca tanta PENA que as pessoas preferem entubar o desaforo a te falar umas verdades. Talvez em um primeiro momento possa parecer até uma malandragem, um “me dei bem”, mas imagino que a longo prazo seja muito deprimente.

Fico muito feliz que as pessoas POSSAM me dizer, para o bem ou para o mal, que eu sou anã, que eu sou argentina filha da puta, que eu sou advogada filha da puta, que eu tenho uma cicatriz horrível na minha barriga ou qualquer outro defeito físico que queiram me imputar (até porque, geralmente quem abre a boca para falar é mulher, e mulher moooito mais feia! Hahaha), porque ao jogar essas coisas na minha cara, está mostrando que me acha forte o suficiente para não sofrer uma condenação social por fazê-lo. É o tipo de ofensa que quase que me agrada. Convenhamos, se o pior que tem para falar de mim são atributos físicos, eu devo ser uma pessoa muito da legal! Hahahaha

E nesse ponto eu tenho que bater palmas para os gays. Porque eles são minoria, são excluídos, são marginalizados e mesmo assim, não se vitimizam! Chama um gay de viado ou viadinho e periga ele rir da sua cara e ainda dizer “Sou mesmo, e você com isso? Sou muito feliz!”. Palmas para todos os gays, minha eterna admiração (eu tenho uma teoria que eu sou um traveco em um corpo de mulher, mas o Somir não gosta de ouvir muito sobre ela).

Para me dizer que eu sou uma preconceituosa filha da puta, para me fazer ofensas físicas infantilóides na linha dã, você tem tal parte do corpo feia, dããã e para contar experiências de como você peitou um Intocável e como foi execrado socialmente por isso: sally@desfavor.com


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