Skip to main content

Flertando com o desastre: Assexuados.

| Sally | | 198 comentários em Flertando com o desastre: Assexuados.

Não me chama de boneca!

Esta semana vi uma entrevista que me chocou e me fez pensar. Pensei, ou ao menos tentei, e não achei respostas, então, trago o tema a debate aqui, para tentar chegar a uma conclusão com a ajuda de vocês. No Flertando com o Desastre de hoje, vou falar sobre os Assexuados.

Vem surgindo um grupo de pessoas que não tem a menor vontade de fazer sexo e também não tem a menor vontade de ter vontade de fazer sexo. São chamados de Assexuados. Dizem que vivem muito bem, obrigado, sem fazer sexo e que sexo é hipervalorizado por nossa sociedade.

A princípio, os médicos classificaram esse comportamento como uma doença chamada Desordem do Desejo Sexual Inativo (Hypoactive Sexual Desire Disorder) e recomendavam tratamentos à base de hormônios e outros remédios. Entretanto, um número crescente de pessoas vem recusado o tratamento alegando que está muito melhor sem sexo, que sexo acaba escravizando e que sua vida tem outras coisas boas pelas quais elas podem se realizar.

Na entrevista, a mulher se defendia dizendo que a escolha de não fazer sexo era personalíssima, que apenas afetava a ela e não prejudicava ninguém e mesmo assim, todos se voltavam contra ela, tentando convencê-la de que isso era uma loucura. Ainda segundo a moça, mesmo amigos seus que costumavam respeitar escolhas pessoais controversas, como uso de drogas ou traição, não respeitaram essa escolha que ela fez de ser assexuada.

Perguntas: será que todas as pessoas que são ou optam ser indiferentes ao sexo tem alguma desordem bioquímica ou psicológica? Será que quem não liga para sexo é necessariamente anormal? Será que quem não quer fazer sexo tem que ser tratado clinicamente como uma pessoa portadora de um distúrbio? Alguém tem a pretensão de responder? Porque eu não tenho resposta.

Faz pouco tempo se dava aos homossexuais o mesmo tratamento que se está dando hoje aos Assexuados. Eram tidos como pessoas doentes, que tinham algum distúrbio a ser corrigido, usando inclusive o argumento cruel de que o natural é o ser humano procriar em nome de perpetuação da espécie. Mas, com o tempo, aprendemos a respeitar a escolha sexual, ainda que ela seja diferente da nossa. Seria a coisa correta a fazer com os Assexuados? Não fazer sexo apenas mais uma preferência sexual?

Será que existe vocação legítima para ser Assexuado ou isto é fruto de uma disfunção bioquímica ou algum trauma de origem psíquica? A decisão de não fazer sexo estaria inserida na possibilidade de escolha de alguém? Ao renunciar ao sexo, se estaria renunciando também à possibilidade de manter uma relação afetiva com alguém?

A sexualidade humana tem DE TUDO. E para quem duvida, basta pedir para o Somir enviar uns vídeos que ele tem naquele computador sinistro dele. Tem de tudo MESMO. Não me espanta que existam assexuados e me choca menos uma pessoa assexuada do que uma pessoa que come o cocô do parceiro, fresquinho, assim que ele sai do fiofó. E olha que comer cocô é uma das coisas mais lights que tem nesses vídeos bizarros que circulam por aí!

Mas, há quem pense diferente. Segundo o, psicólogo e diretor do Centro de Saúde Sexual e Medicina na Universidade Johns Hopkins “É um pouco como as pessoas dizerem que não têm apetite por comida, sexo é um desejo natural, tão natural quanto o desejo por alimentos e água para sobreviver. É um pouco difícil considerar essas pessoas como normais”. Essa é a parte chata deste tema: as opiniões de ambos os lados fazem sentido.

Parte dos Assexuados respondem dizendo que lidam com sua sexualidade de outra forma. Por exemplo, se masturbam. Só não querem fazer sexo com outras pessoas. Outra parte diz que não sente a menor vontade de porra nenhuma e isso não faz deles uma aberração ou uma anormalidade. O curioso é que eles se dizem interessados em envolvimentos emocionais profundos, relações longas e duradouras, e até mesmo em criar filhos, claro, que eles não tenham que fazer. Eu pergunto: como conciliar as necessidades emocionais com a falta de necessidade física? Será que os Assexuados estão condenados a só se relacionarem com outros Assexuados?

Na China, por exemplo, há um site de relacionamentos destinado apenas a Assexuados, chamado “Casamento para Assexuados”. Tem mais de dez mil pessoas inscritas. O criador disfarça com a velha tática do amigo, dizendo que a idéia surgiu com a intenção de ajudar “um amigo” que ficou sexualmente incapacitado após um acidente, de forma irreversível. Ok, temos mais um grupo que pode ser relacionar com os Assexuados, além dos próprios Assexuados: pessoas que sofreram algum acidente e perderam sua capacidade sexual. É mais barato que tomar Viagra todo dia.

Também há grupos de homens com disfunção erétil que procuram parceiras Assexuadas! Eu jurava que era trollagem, mas era verdade. Eles dizem que estão cansados de fazer tratamentos, de que o sexo seja um esforço. Em um depoimento bizarro, um broxa me confessou que a única razão pela qual tomavam “agulhadas no pênis” (sim, eu tive que ouvir isso) era para conseguir ter uma relação afetiva. Mas, com a difusão dos Assexuados, é possível manter uma relação afetiva sem sexo, coisa que lhes é plenamente satisfatória. Olha aí! Mais um grupo que pode se relacionar com os Assexuados! Eles estão melhores do que eu, que só tenho um grupo alvo: heterossexuais.

Para minha surpresa, existem mais de mil comunidades sobre Assexuados no Orkut. Claro que muitas delas envolvem piadas. Também existem fóruns a respeito, e todo tipo de comunidade virtual. Uma coisa me chamou a atenção: em todos os pontos de encontro virtual os Assexuados se mostram muito sozinhos e querem muito um parceiro do sexo oposto, igualmente assexuado, com o qual não tenham a obrigação/compromisso de fazer sexo. Entrei em vários lugares camuflada e fiz a mesma pergunta: Se não fazem sexo, que diferença faz que seja um parceiro do sexo oposto? Não bastaria que fosse um ser humano bacana?

Fui terrivelmente xingada em alguns lugares e em outros concordaram comigo. Mas no geral me deram pedradas. Um deles até mandou um “Tá achando que só porque eu não faço sexo eu sou viado?”. Gente, deu um nó na minha mente! Alguém desata? Um relacionamento sem qualquer cunho sexual pode ser considerado homossexual? Namorar assexuadamente alguém não é o que chamamos comumente de amizade? Meu neurônio… meu único neurônio, está ofegante em um canto da minha caixa craniana, não posso mais desenvolver esta controvérsia.

Na minha “pesquisa” (cof! cof! trollagem), constatei que a maior reclamação deles em relação à sociedade é a não aceitação, mas não no que diz respeito ao preconceito, e sim a tentar convencê-los a fazer sexo. Ninguém chega para um homem gay e diz “Poxa, Fulano, vai lá, come uma bucetinha, é gostoso, você vai ver!”. Podem até dar porrada, podem excluí-lo do convívio social, podem discriminar, mas não tentam entrar no mérito da escolha. E esta é a grande mágoa dos Assexuados. Eles dizem que querem ser deixados em paz, que preferem a marginalização e o preconceito do que pessoas tentando ensiná-los o que fazer com sua vida íntima.

Alguns reclamam do termo, dizem que não são assexuados, já que eles tem pênis ou vagina. Dizem que o termo correto é Assexual e não Assexuado. Quando a discussão está no nível da terminologia politicamente correta a ser adotada, é sinal que o grupo veio para ficar!

Outra polêmica que debati (bati boca) diz respeito a pessoas que se descobrem assexuadas quando já estão em um relacionamento. Sim, os Assexuados também saem do armário, é possível, segundo eles, que um dia “caia a ficha” e você, mesmo tendo feito sexo toda sua vida, perceba que não gosta muito daquilo e que fica melhor sem. Todos os Assexuados com os quais conversei (e não foram poucos) disseram que, se o parceiro ou a parceira amar de verdade, fica a seu lado, mesmo sem sexo. Ousei perguntar se eles liberariam parceiros para fazer sexo com outras pessoas e todos foram categóricos ao dizer que não, que não toleram infidelidade.

Isso me fez refletir. Se você ama uma pessoa, se você está em uma relação maravilhosa com uma pessoa e se um dia essa pessoa vem te dizer que se descobriu Assexuada e não quer mais fazer sexo mas quer continuar com você, o que você faz?

Os Assexuados dizem que tem representantes famosos. Dizem que personalidades como Bach, Kant, Chopin e outros seriam comprovadamente Assexuados. Não tenho como concordar ou discordar, me faltam fontes.

Foi muito difícil chegar a uma conclusão neste texto, e a tentação de acabá-lo em aberto foi muito grande. Mas, acho que tenho o dever de me posicionar, o mínimo que posso fazer é emitir uma opinião, ainda que idiota. Pois bem, acho que existem pessoas Assexuadas sim, mas também existem pessoas que se dizem Assexuadas, que se acham Assexuadas e que tiram onda de Assexuadas (três coisas diferentes).

Enquanto não trouxer sofrimento e frustração para a pessoa, não vejo porque ela não possa viver sem sexo, quer viva. Mas se isso traz algum tipo de sofrimento, deixa de ser escolha e passa a ser um problema.

Não tenho a pretensão de classificar aquilo que me é estranho ou diferente como errado ou anormal. Não tenho a arrogância de pressupor que, porque eu não entendo, não devo aceitar. Eu, pessoalmente, acho que sexo bem feito é um prazer do qual ninguém deveria abdicar, entretanto, não vou ficar por aí tentando convencer ninguém.

Para me dizer que não existe essa coisa de gente Assexuada, para me dizer que é um Assexuado e para me perguntar o quão baixo se pode descer nos comentários desta postagem: sally@desfavor.com


Comments (198)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: