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Somir Surtado: Blá blá blá blá blá…

| Somir | | 21 comentários em Somir Surtado: Blá blá blá blá blá…

Cale-se!

É fato aceitado universalmente que mulheres falam muito mais que homens. Alguns estudos sugerem diferença de milhares de palavras a mais por dia por parte das mulheres. Mas… mulheres realmente tem tanta coisa a mais para falar mesmo?

Convenhamos que ninguém consegue só falar de assuntos profundos o dia todo. A maior parte das nossas conversas diárias não vão muito mais além do que pequenos elementos do cotidiano e comportamento de pessoas próximas. Até porque seria horrível conviver com alguém que não parece estar vivendo no mesmo mundo que você.

Só que as mulheres falam mais. E essa diferença não é oriunda de mais assuntos possíveis. É questão de construção de idéias.

Conversa de “malandra” FAZ curva. A mente feminina, tão atenta a detalhes, motivações e fontes, consegue inflacionar qualquer sequência lógica com uma infinidade de informações, que embora não sejam irrelevantes, não corroboram com a relação entre causa e efeito do que estão analisando.

“Hã?”

Pensemos num exemplo, o carro do chefe de uma empresa onde trabalham Zé e Maria Ruela foi roubado em pleno estacionamento. Ao chegarem em casa, ambos resolvem falar sobre o assunto com seus respectivos cônjuges:

Zé Ruela:Roubaram o carro do meu chefe no estacionamento da empresa hoje.” *abrindo a geladeira*

Maria Ruela: “Sabe o Fulano? (O homem não sabe e pergunta quem é) Ele é o chefe lá da empresa, aquele que brigou com a Beltrana ano passado. (O homem não lembra, mas sorri e concorda.) Ela quase pediu demissão depois daquilo, coitada. Também, todo mundo sabia que ele era um grosso. Eu já te falei da vez que ele gritou comigo, né? Na frente do Sincrano. (O homem acaba soltando um comentário sobre o chefe dela ser um viado, para demonstrar solidariedade.) Foi o que o Sincrano disse também, mas eu acho que não, porque ele é casado e tem até um filhinho. Aquele menininho loiro da festa de final-de-ano, lembra? (O homem não lembra, mas acena a cabeça concordando.) Então, ele estava todo exibido com o carro novo que comprou, acho que era importado… Que marca é aquela das quatro bolinhas? (O homem chuta “Audi”, mesmo sabendo que são aros e não bolas… Não vale a pena discutir sobre isso.) Audi? Era um todo preto, ele sempre colocava o carro antigo na vaga coberta, mas começou a colocar na vaga da frente da entrada. Deve se sentir diminuído depois que veio aquele auditor da capital e mudou… (O homem fez o que podia, agora vai entrar em modo de sorrir e concordar, sem fazer mais perguntas. Meia hora depois a mulher acaba mencionando “por cima” que o carro foi roubado…)

O que importa nesse exemplo é o interesse de quem ouve. A mulher de Zé Ruela escutou a informação nova. O marido de Maria Ruela também. Não é justo dizer que o homem não estava interessado em partilhar daquela conversa. Em ambos os casos.

Falo por experiência própria: Não é que os homens fiquem entediados porque não se importam com o que a mulher tem a dizer. Não é o que se diz, é como se diz. A mente masculina fica esperando conclusões, propósitos e ligações diretas entre os fatos. É realmente um sofrimento tentar manter toda aquela informação extra tipicamente feminina represada para acompanhá-la.

O “gargalo” mental masculino é menor. A informação chega e tem que ser processada logo. Comece a entulhar a mente dele com nomes, opiniões alheias, detalhes e escapadelas do propósito inicial e ele VAI começar a acenar a cabeça em silêncio. Chega uma hora onde dá tanto trabalho para se manter atento que não dá mais para participar.

O assunto pode não ter ficado chato, mas acompanhá-lo sim. Se você é mulher e não consegue “vivenciar” essa idéia, imagine duas pessoas falando sem parar com você ao mesmo tempo.

Já conheci várias mulheres que se gabam de falar pouco e ainda tiram onda sacaneando as mulheres “normais”. Mentira deslavada. Uma mulher só vai ser realmente sucinta na sua comunicação quando conseguirem fazer transplante de cérebro. A mente feminina não consegue fazer isso.

E justamente essas mulheres que acham que não falam demais que acabam enlouquecendo mais os homens. Não tem a ver com a quantidade de vezes no dia em que você abre a boca para falar, tem a ver com a forma de tratar informações.

Nossa querida Maria Ruela vai sempre falar como mulher. E se por um acaso ela não expurgar a quantidade colossal de idéias desprovidas de maiores propósitos que passeiam por sua mente todos os dias, vai acabar perdendo a noção do que realmente importa. Mulheres são seres detalhistas, oras!

Esse falatório todo fica armazenado em algum lugar. E quando a mulher em questão se sente totalmente livre para falar por achar que é “diferente” e que raramente pentelha seus homens, ela dispara monólogos monstruosos julgando que está apenas vociferando o que já foi filtrado por sua mente.

Atenção: O “filtro” feminino é diferente do masculino. Você sempre vai falar demais para um homem, leitora. E você não é um cretino por ficar de saco cheio de ouvir uma mulher falar, leitor.

Eu mesmo vivia me sentindo um desses cretinos por nunca lembrar de detalhes do que mulheres me diziam. Por começar a pensar na escalação do Corinthians de 1995 enquanto alguma pobre coitada abria seu coração para mim, por olhar para a televisão enquanto uma namorada me contava seu dia…

Mas é aí que eu lembro que no começo de cada conversa eu sempre estava atento. E que em pontos-chave eu acabava respondendo e formando uma idéia mais clara sobre o assunto em questão.

(Eu tenho uma certa vantagem nesse aspecto, contanto. Consigo remontar muito rápido a idéia geral baseado em palavras perdidas no meio do caminho. Quase sempre eu acerto. Já me disseram várias vezes que eu era um ótimo ouvinte… “Ronaldo, Silvinho, Batata, Célio Silva…”)

E depois dessa revelação de que minha mente aceitava uma quantidade de informações extras muito menor do que uma mulher que eu fui percebendo outras coisas.

Já perceberam que homem (em média) não gosta muito de falar ao telefone, mas no começo de um namoro consegue se pendurar por horas na linha com uma mulher? Será que depois de um tempo o homem enjoa da mulher? Será que era só para deixá-la mais propensa a dar para ele?

Vejam só… A questão cai de novo na forma como homens e mulheres tratam conversas. No começo do namoro, toda e qualquer informação que homem conseguir absorver pode e será usada em seu favor. Há um interesse genuíno em agarrar o máximo de detalhes, fatos e opiniões possíveis dela. E não é só para comê-la, (embora isso não seja demérito, vai dizer que não te envaidece a idéia de quem alguém te ache sexualmente desejável?) o homem está mesmo na fase de dar aquele “algo a mais” para provar para a mulher que ele é mesmo uma excelente escolha. Não considero falsidade, considero conquista.

Mas com o tempo, torna-se impossível para um homem manter o mesmo ritmo de atenção. Ele estava mesmo se esforçando para que você gostasse dele. Em qualquer relação isso acontece. Todo mundo tem sua vida e não pode vivê-la em função de agradar outra pessoa. (Pelo menos em tese…)

É absolutamente natural que um homem diminua sua capacidade de concentração na forma feminina de se expressar com o passar do tempo. O Zé Ruela continua interessado na mulher, mas cada vez mais dentro de seus próprios parâmetros. Ele vai lembrar de fatos importantes, mas não tem a menor idéia do que você falou para sua amiga naquele churrasco do ano passado… Isso não cabe na mente dele.

Divirtam-se com a atenção “feminina” que vocês recebem no começo de uma relação, mas esperar que ela se mantenha com o seguimento do namoro é “plantar morango e esperar que nasça abacaxi”, para parafrasear Sally.

Claro que existem os verdadeiros cretinos que não se importam mesmo com suas mulheres e as verdadeiras chatas que não param de falar e exigem atenção total e irrestrita. Mas… para que falar sobre essas pessoas? Quem está ao lado de uma delas por escolha tem mais é que sofrer mesmo.

Estou falando daquelas relações onde mesmo ficando furioso ou furiosa com a outra parte por causa dessas coisas, ainda se percebem qualidades e interesses verdadeiros.

A maioria das relações.

E não paramos por aqui. Eu sempre achei as mulheres terrivelmente mais fúteis que os homens. Não mudei exatamente de opinião, mas… Tem algo aí que pode ser explicado por essa diferença de mentes entre homens e mulheres.

Do ponto-de-vista masculino (Masculino mesmo! Não esses novos homens viadinhos fofoqueiros que estão tomando conta do mundo…) as mulheres fofocam demais. Esse interesse exacerbado pela vida alheia sempre me pareceu incapacidade completa de pensar em assuntos mais complexos.

Não deixa de ser em vários casos.

Mas como eu posso falar disso se minha mente me afasta desse tipo de referência de importância de pessoas? Mulheres vivem dando nomes aos bois. Vejam o exemplo no começo do texto. Homens tendem a definir pessoas pelas suas funções. (Comportamento de grupo de caça e defesa de território.) Mesmo que digamos o nome da pessoa, na nossa mente o habitual é definir o que essa pessoa faz e qual a importância dela para o assunto em questão.

Me parece (E eu nunca tive um cérebro feminino para garantir isso…) que as mulheres definem pessoas de acordo com o que elas são, e não com o que elas fazem. Quando Fulana menciona Sincrana, ela não está colocando essa pessoa em perspectiva de função e sim mencionando mesmo a pessoa. O que ela é, o que ela pensa, o que ela significa.

Quando eu tenho a informação de que Belo Dolabella casou-se com Preta Piovani no castelo de Chantilly com Cerejas, eu só enxergo duas pessoas que não me fazem a menor diferença na vida fazendo uma coisa absolutamente banal.

Talvez, e apenas talvez… Uma mulher enxergue as personalidades dessas pessoas em relação aos significados daquele evento e consiga (por ter muito mais empatia que um homem) se enxergar ali. Nesse momento, o assunto se torna relevante para ela. Quando ela enxerga as pessoas.

Mas aí, caros e caras leitoras, voltamos à estaca zero. Mesmo entendendo como pode ser possível que mulheres se interessem por coisas assim, não deixa de ser… Chato pra caralho. (Ha)

A culpa é de alguém? Não. Pode-se diminuir esse abismo? Basta saber com quem você está falando.

Para dizer que eu não traí o movimento hoje, para reclamar que eu nunca presto atenção em você ou mesmo para mentir que é mulher e não fala demais: somir@desfavor.com


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