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Sally Surtada: Penso, logo desisto.

| Sally | | 76 comentários em Sally Surtada: Penso, logo desisto.

O que nos faz tão burras de insistir em um homem que claramente não é aquilo que procuramos? O que nos torna mais burras ainda de perder tempo tentando mudar esse homem? Porque racionalmente sabemos que formatar um homem é um jogo fadado ao fracasso mas quando estamos apaixonadas algo nos impele a fazê-lo? O erro pode ser com base em expectativas irreais ou com base em expectativas reais, não importa. O erro é o mesmo.

Eu acredito que seja possível e viável uma relação onde o homem não é exatamente o que você quer, desde que VOCÊ se adapte, afinal, não podemos mudar aos outros, mas podemos mudar a nós mesmos. Mas nós nunca queremos mudar. Nós insistimos em tentar mudar o infeliz que está ao nosso lado, porque achamos que nosso jeito de ser, de pensar e de gostar é o único aceitável, é o único verdadeiro e é o único que satisfaz. Vide a hedionda frase: “Se ele gostasse de mim, faria isso, isso e aquilo”.

Tentar mudar a essência de um homem é derrota na certa, até mesmo quando ganhamos. Explico. Se você não consegue, fica frustrada e o relacionamento cedo ou tarde acaba. Se você, consegue, quem fica frustrado é ele, e o relacionamento cedo ou tarde acaba também. E geralmente com chifre, nesse caso.

Um homem faz, inicialmente, uma série de coisas para impressionar uma mulher. Na fase da conquista, eles fazem tudo aquilo que acreditam que possa nos agradar (e cá entre nós, é uma fórmula bem facinha). Passada a fase da conquista, o ritual muda, ou ao menos diminui de intensidade. Isso gera em muitas mulheres a idéia falsa de que ele não gosta mais dela, porque não faz mais aquelas papagaiadas do começo da relação. Na verdade, ele gosta de você, só que agora, ele está sendo ele mesmo. Observe bem o que ele é de verdade, sem o frenesi da conquista e avalie se isso te basta. Se não bastar, em vez de cobrar, vá embora.

Mas, algumas mulheres não se conformam. Querem de volta a qualquer preço aquele homem em fase de conquista. Cobram, xingam, brigam, choram. Não dá certo. Se for um homem normal, enche o saco e vai embora. Se for um homem que goste muito dela, ou que goste muito pouco de si mesmo, não vai ter coragem de bater no peito e dizer “Minha Cara, eu sou assim, é o máximo que eu posso te dar, vai pegar ou largar?”. Em vez disso, vai repetir os rituais de começo de relacionamento de uma forma quase que mecânica apenas para evitar aborrecimento. Fico chocada com as coisas que homens são capazes de fazer para evitar aborrecimentos.

Um belo dia, ele se cansa de viver essa situação (porque, convenhamos, cansa ter que fazer coisas nada espontâneas só para a outra pessoa não te encher o saco) e vai embora. Ou te trai. Ou ambos. E nessa hora a mulher chora, grita e diz que ele é um canalha, que “do nada” ele fez isso com ela, afinal “estava tudo tão bem”. Não, não foi do nada. Estava tudo tão bem para ela, mas para ele estava um saco. Ele não foi aceito como ele é, as erradas somos nós, que em vez de mudar DE pessoa, tentamos mudar A pessoa. (créditos: Carrie)

Mulheres medem amor pelas formas mais bizarras. Onde está escrito que se ele te ama tem que te acompanhar a todos os lados? Quando vejo aqueles homens de saco cheio em shopping, em salão ou em filmes mela-cueca sinto pena. Pobres homens castrados. É por essas e outras que acabam ficando frouxos. A namorada faz deles uma “amiguinha”, só falta colocar um laço de fita rosa na sua cabeça.

Homem existe para ser uma coisa: NOSSO HOMEM. Para o resto, temos pai, mãe, amigos, amigas, primos, primas, vizinha e quem mais quisermos. Você faz sexo com sua manicure? Não, né? Então não faça as mãos com seu macho, vá ao salão com uma amiga ou se for o caso, vá sozinha. O mundo não acaba. Essas expectativas irreais nos fazem querer formatar homem e levam ao fracasso de uma relação.

Mas não. Nããããããoooo. A gente tenta mudá-los. Quer que eles gostem das mesmas coisas que nós gostamos, queremos que eles queiram estar do nosso lado 24hs por dia, queremos que eles demonstrem seu afeto da forma como nós o demonstramos a eles. Daí criamos esses homens-bicha dos quais nós mesmas reclamamos tanto. Não dá para ter um poeta na sala e um macho viril na cama. Mais fácil pedir para seu amigo gay ler poesias para você.

Existe uma situação pior ainda: quando a expectativa é real, quando a mudança pretendida não é fruto de uma ilusão. Não existe homem que após dez anos de namoro seja romântico como no primeiro dia, mas existem homens que adoram passar o sábado em casa com você vendo um DVD. Nesse caso, tentar formatar o cidadão é ainda mais grave. Por exemplo, gente que pega aquele homem super social, que vive cercado de amigos, extrovertido e badalador e quer transformá-lo em um homem caseiro que passa o final de semana vendo DVD com a namorada. Você não vai conseguir. E se conseguir, vai quebrar o seu brinquedo, porque ele vai ficar tão infeliz, que não há amor que segure essa relação.

Se um homem baladeiro não te faz feliz, parta para outra. Ou então, mude você e aceite o fato dele ser baladeiro, sem querer castrá-lo dizendo o que ele pode ou não pode fazer. Mude você.

Mas a gente sempre investe. Sempre. Eu sempre digo: eu sou mais inteligente solteira. Quando estamos apaixonadas não lemos as placas de “Pare”. Sempre achamos que a pessoa vai mudar sem qualquer conseqüência mais grave para a relação. Achamos que vamos mostrar um mundo “melhor” e que a pessoa vai adorar entrar no nosso mundinho de DVD sábado à noite.

Todas nós temos em mente nossas necessidades em um parceiro. O básico, pelo menos. Algumas são negociáveis, outras não. Não caia no erro de negociar o inegociável, desista desse homem se ele te sujeita a negociar o inegociável. E isso não faz dele necessariamente uma pessoa má, apenas uma pessoa incompatível com você.

Qual é o objetivo de ficar em uma relação onde você tem que lutar diariamente para que uma pessoa mude? É ofensivo para com a pessoa, que se sente extremamente rejeitada e é uma perda de tempo para você! Tudo bem, você pode dizer “eu tento porque eu gosto muito dele”. Vocês sabem o que eu penso, gostar apenas não basta. Se a pessoa não te faz feliz, de que adianta gostar dela? Melhor sentar e esquecer, porque sim, todo mundo pode ser esquecido.

Sinceramente, cada um vive como quer. Se a mulher quer ser uma vadia, uma freira, uma maluca, uma dona de casa, uma corna ou o que mais for, RESPEITO, desde que essa escolha faça a pessoa feliz. O que eu não respeito é uma escolha onde a pessoa se coloca em uma situação de infelicidade extrema (e ainda alardeia isso). Isso não é escolha, é ser refém de carência.

Numa dessas postagens do blog, Somir falou uma frase certa: mulheres namoram o namoro. Por isso não abrem mão de homens visivelmente incompatíveis com elas. Seu apaixonamento é pela relação, pelos projetos, pelos planos. Não gostam do homem, gostam de gostar do homem, salvo raras exceções.

Por isso, venho aqui fazer um apelo: Pense, e quando for o caso, DESISTA. Não há vergonha em desistir de um homem (é até engraçado, eles ficam correndo atrás de você). Uma pessoa não precisa ser MÁ, SEM CARÁTER OU ESCROTA para que você tenha que desistir dela. Pode ser uma ótima pessoa, porém, incompatível com você.

Não tente mudar a essência de um homem. Não o prive dos seus prazeres, dos seus hobbies, dos seus amigos. SE ELE QUISER, ele vai mudar automaticamente. Mudar porque a mulher pediu (ou pior, exigiu), não tem o menor valor! E quase sempre é temporário. Mais cedo ou mais tarde ele volta para suas raízes.

E vamos parar com essa lenga lenga de achar que porque se gosta da pessoa tem que ficar ao lado dela. Se o jeito de ser, as escolhas ou a pessoa em si te fazem mal, não adianta porra nenhuma gostar dela. Sejamos corajosas para primeiro, admitir que aquela pessoa é incompatível conosco, e segundo, romper com essa relação que nos faz sofrer e encarar a dor da perda, jogar fora os planos e recomeçar do zero, em nome de um futuro melhor.

Quando se tenta formatar um homem, o sofrimento pode ser infinito: dias, meses, anos… Quando se admite que aquele homem, apesar de ser uma ótima pessoa, não te dá o que você precisa para ser feliz, o sofrimento do término é enorme, mas tem data para acabar.

Não percam tempo de suas vidas. Não insistam em uma relação onde você tem que lutar constantemente para que seu homem se comporte da forma como você quer. Tem muito peixe no mar, se o que você pescou não te agrada, jogue de volta (sempre vai servir para alguém) e pesque outro. Tem gente para todos os gostos neste mundo.

Graças a essa paranóia de formatação masculina, temos que lidar com aqueles homens transtornados, que em primeiros encontros tem um TOC (transtorno obsessivo compulsivo) tão grande em nos agradar que mentem sem parar, se contradizem e são mais falsos que uma nota de três. Chega.

Você, Cueca, não seja imbecilóide e se mostre como você realmente é, desde o começo. Se ela não gostar, ótimo, ninguém perde tempo (apesar de que, você perde a sua foda…). E você, Amiga Calcinha, não crie expectativas irreais e aprenda quais são os defeitos e qualidades negociáveis e inegociáveis no sexo oposto, para saber bem o que procura e saber bem o que recusar. Quem não sabe o que procura, não o reconhece quando o encontra. Sejamos todos um pouco mais objetivos, assim quem sabe essa baixaria que está o mundo dos relacionamentos é menos frustrante para todos nós…

Para me dizer que eu não luto pelos meus relacionamentos e desisto muito fácil (citando o Somir como exemplo), para me dizer que seu namorado faz mil demonstrações românticas espontaneamente mesmo depois de anos com você e para me dizer que eu sou azeda: sally@desfavor.com

SALLY SURTOU: Toda semana uma das colunas originalmente postadas no antigo blog da Sally será trazida de vez para o desfavor. Hoje com “Acredita, Otária!”. Clique aqui e leia.


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